Nesta terça-feira (6), os americanos votarão nas eleições de meio de mandato, definindo a renovação da Câmara, de um terço do Senado e de 36 dos 50 governadores. Para além de uma disputa interna, a votação é considerada um referendo de aprovação - ou reprovação - do governo de Donald Trump. Na reta final, o presidente intensificou sua participação na campanha do partido para conter uma onda democrata.
Hoje, as duas Casas são comandadas pelos republicanos, mas o partido corre o risco de perder a maioria na Câmara dos Deputados - no Senado, a situação é mais confortável. "As eleições presidenciais costumam ser um olhar para o futuro, enquanto as de meio de mandato são um referendo do passado", afirma Gary Nordlinger, da Escola de Gestão Política da George Washington University. O fator Trump é levado em conta por seis em cada dez americanos, segundo pesquisa do Pew Research. Segundo o instituto, 37% dos eleitores dizem que a eleição será um voto contra Trump, enquanto 23% consideram votar em favor do presidente.
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Trump tem trabalhado como cabo eleitoral em uma agenda marcada por viagens para defender até críticos dentro do partido, como Ted Cruz, do Texas. Os americanos renovarão todos os deputados - que têm mandato de dois anos nos EUA - e 35 dos 100 senadores.
Trump admitiu a possibilidade de perder a maioria na Câmara dos Deputados na sexta-feira. "Pode acontecer, pode acontecer. Nós estamos indo muito bem no Senado, mas pode acontecer", disse Trump, em campanha na Virginia Ocidental. Os democratas precisam conquistar 23 cadeiras a mais do que os republicanos para conseguir a maioria da Câmara.
À CNN, a deputada democrata Nancy Pelosi se disse confiante no último fim de semana antes da disputa. "Até outro dia, eu diria que 'se as eleições fossem hoje, nós poderíamos ganhar'. Agora, o que estou dizendo é 'nós vamos ganhar'."
Manter a maioria no Senado dá segurança ao mandato de Trump, já que um eventual pedido de impeachment precisaria da aprovação dos senadores, após análise na Câmara. No entanto, perder a maior parte da Câmara para a oposição não é boa notícia, já que os democratas passarão a assumir as comissões na Casa e comandariam investigações contra o republicano - que está na mira da Justiça em razão de um possível conluio com os russos para interferir na campanha eleitoral de 2016.
Obstáculos
Mais do que convencer os eleitores a votar em seu partido, Trump trabalha para engajar os republicanos a votar - já que o voto nos EUA não é obrigatório. Dois acontecimentos recentes jogaram pressão em cima do presidente americano.
Primeiro, o ataque a uma sinagoga em Pittsburgh, na Pensilvânia. Por fim, o envio de pacotes com explosivos a alvos ligados aos democratas. Ambos fizeram Trump responder a acusações de que seu discurso de ódio leva a ações de uma sociedade polarizada. Para Nordlinger, isso não deve impulsionar a oposição. "Os democratas que se importam com isso já votariam de todo o jeito", afirma.
Outros acontecimentos, no entanto, deram força ao republicano, como o avanço da caravana de cerca de 7 mil imigrantes da América Central em direção aos Estados Unidos. Trump endureceu o discurso, usando sua conta no Twitter, contra a imigração ilegal - sua principal plataforma de campanha desde que se lançou à presidência.
Discurso 'roubado'
O discurso de proteção de minorias, tradicionalmente usado pelos democratas, agora virou plataforma dos republicanos. Em maio, o cabeleireiro Brandon Straka, em Nova York, postou um vídeo em suas redes sociais lançando o movimento "Walk Away" - para reunir ex-simpatizantes democratas e minorias insatisfeitas com o partido.
"O Partido Democrata dá como certo que possui as minorias raciais, sexuais e religiosas", disse Straka, que, de lá para cá, começou a ser convidado frequente da Fox News - canal de TV pró-Trump - e possui mais de 97 mil seguidores no Twitter. Há uma semana, o movimento ganhou um apoiador de peso: o próprio presidente Donald Trump, que deu parabéns a Straka por "começar algo tão especial".
No dia 27 de outubro, Straka e seu grupo fizeram uma marcha em Washington. No discurso na Freedom Plaza - a 200 metros do Trump Hotel, Straka, que é gay, conclamou as minorias a abandonarem os democratas. "Quem somos? Somos americanos negros, hispânicos, héteros ou homossexuais. Somos americanos e não vamos nos dividir."
Na sua camiseta preta lia-se: "Não sou racista, não sou intolerante, não sou homofóbico, não sou democrata". Straka foi aplaudido - exceto quando assumiu que votou em Hillary Clinton para presidente em 2016.
O palanque foi dividido com mulheres e negros, sob o mesmo mantra da unificação de minorias contra os democratas e a saudação a Trump como representante de todos os americanos. "Não quero ser identificado por minha cor, idade ou gênero. Quero ser identificado como americano", disse Brendley Dilley, no palco.
O discurso comum é que democratas usam as minorias como plataforma política e seria mentira que Trump não respeite imigrantes, negros e gays. Tammy Gore, que assistia aos discursos, disse que os democratas causaram a divisão da sociedade. "Eles não se interessam pelas pessoas. Eles se interessam pelo poder." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.