Quem diria que uma crise de saúde possibilitasse o autoconhecimento e apresentasse novas perspectivas? Muito antes da pandemia da Covid-19, a vida de João Stanganelli, de 64 anos, sofreu uma reviravolta após um infarto. Sem se abater, aprendeu no repouso as habilidades do crochê com a esposa Marilena e reverteu a condição em um projeto pessoal de representatividade. Hoje, o artesão é um exemplo de ‘empreendedorismo de superação’ e exporta suas peças para o mundo.
Morador de Bragança Paulista, município do interior de São Paulo, João trabalhava no setor culinário e cumpria viagens pelo Brasil até sofrer o infarto em 2016. Portador do vitiligo, ele se entregou à agulha de crochê durante a recuperação e conta que a clareza das instruções da esposa fez com que aprendesse rapidamente os pontos de linha.
##RECOMENDA##O artesão lembra que logo cansou de reproduzir peças genéricas e idealizou um presente especial para a neta se sentir próxima enquanto estivessem distantes. "Queria fazer alguma coisa que marcasse e me representasse, e aí surgiu a Vitilinda. Eu fiz essa boneca e apanhei. Levei cinco dias para fazer uma bonequinha, que hoje a gente faz rapidamente [aproximadamente em um dia]", relembra ao LeiaJá.
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O amor por cada etapa do processo de criação e o cuidado em fazer um produto com identidade, diferente da tradição do mercado, trouxe reconhecimento para as manchas da boneca Vitilinda e, consequentemente, uma enxurrada de encomendas. A variedade dos pedidos estimulou o lado empreendedor de João, que se preparou para ampliar os horizontes e abordar a representatividade em suas obras. "A minha boneca tem personalidade mesmo porque a gente procura fazer como a pessoa é. Tem gente que só tem uma mancha no rosto, só nos braços ou nos pés [...] Ela é personalizada em cima de uma foto que a pessoa manda e, dentro dos limites do crochê, a gente tenta aproximar ao máximo", explica.
Com muita determinação, João estudou abordagens além do nicho dermatológico e hoje confecciona bonecas cadeirantes, traqueostomizadas, com alopecia, limitações visuais e toda a infinidade de possibilidades que a imaginação e a crochetagem podem reproduzir. "O mundo tem que ter isonomia e ser igualitário", reitera.
Como aproveitar o tempo livre?
O talento tornou-se um negócio lucrativo e já lhe rendeu experiências e agradecimentos inimagináveis. Analisando a trajetória e os motivos que o fizeram entrar no crochê, o faz concordar que 'após a tempestade, vem a bonança' e a pandemia deve ser encarada como oportunidade.
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"Esse espaço que a vida está nos concedendo é interessante para pensar em fazer coisas que você achava que não poderia. É um momento para você extravasar toda sua criatividade e procurar novas formas. Esse momento acaba sendo muito rico", aconselhou.
Embora confesse que a paralisação decorrente da Covid-19 desacelerou as vendas, João garante que as agulhas seguem a todo vapor e usa o tempo como ócio criativo para planejar novas criações. "Tá tudo parado. Eu tenho bonecas prontas para mandar para Alemanha e Estados Unidos, até já estão pagas, mas ainda tô esperando abrir os Correios internacional. Mesmo assim a gente não parou de trabalhar, diminuiu bastante, mas não deixamos", ressalta ao destacar que pretende investir no ateliê para ampliar a produção.