Um professor chamado Odomiro Fonseca relatou um episódio pelo qual teria passado, na manhã dessa segunda- feira (13), no Terminal de Integração de Camaragibe, com o objetivo de alertar a população. De acordo com o cidadão, ele foi abordado por uma senhora que o convidou a assinar um suposto abaixo-assinado que tinha como finalidade diminuir o valor das passagens do transporte público. No entanto quando estava quase assinando conseguiu ler uma frase bem pequena que revelava o motivo real: um procedimento de coleta de assinaturas para apoiar a criação do Partido da Evolução Democrática (PED).
Odomiro, em entrevista ao LeiaJá, relatou detalhes do acontecimento. “Eu estava indo para São Lourenço da Mata e, por volta das 9h40, quando estava no Terminal de Camaragibe, um grupo vestindo a blusa do partido começou a chamar as pessoas na fila recolhendo assinaturas dizendo que estavam lutando para diminuição do preço das passagens. No caso, uma senhora, pode parecer preconceituoso o que vou dizer, mas que o corte do cabelo e roupa, lembrava muito o pessoal evangélico, que fica pregando nesses lugares, chegou junto de mim e perguntou se eu queria assinar para abaixar o preço da passagem. Pedia o meu nome, o da minha mãe e o CPF. Só que quando eu fui assinar, tinha umas letrinhas bem pequenas escritas: abaixo-assinado para criação do Partido da Evolução Democrática. Quando eu questionei, ela disse que eu assinava se quisesse, mas isso já foi na hora que estava subindo no ônibus”, contou.
##RECOMENDA##
O professor lamentou o ocorrido e declarou que estão abusando da boa-fé das pessoas. “Eu mesmo estava quase assinando quando tive o cuidado de olhar em cima do papel. Não sei se é um partido evangélico, mas achei extremamente baixo o modo que eles abordaram as pessoas enganando. Eu acho que é muito fácil encontrar esse grupo em outros terminais onde o pessoal assina na correria sem olhar porque todo mundo quer que o preço da passagem diminua. Acho que caberia uma apuração porque é crime estar enganando as pessoas. Vou até na polícia, se for o caso, para dizer o que aconteceu”, lamentou.
Por meio do Facebook, uma internauta chamada Emily Padilha também contou que foi abordada no terminal. “Ontem, no Terminal Integrado de Camaragibe, entre 8h30/9h, um grupo de pessoas fardadas e com pranchetas estavam abordando os usuários do TI informando estarem recolhendo assinaturas contra o aumento das tarifas do transporte público e para a redução das mesmas. Porém, quando fui assinar, li em um local na parte de cima da folha dizendo que era para apoiar junto ao tribunal eleitoral a criação de mais um partido. Questionei e, daí sim, o representante esclareceu que, de fato, a finalidade era essa e que uma das lutas que apoiam é a redução das tarifas e concluiu que são contrários as reformas de Temer”, relatou.
Ela contou, que mesmo após deduzir a “mentira”, assinou. “Deduzo que a mentira deve-se ao fato, de que com o atual cenário político, muitos não apoiam a criação de mais partidos, compreensível. Exatamente por isso, essas pessoas não deviam usar uma abordagem dessa. Mesmo assim assinei, afinal apoie o REDE de Marina mas, na abordagem, diziam do que se tratava. Enfim, embora limitada a política partidária é uma via de luta", declarou.
PED se defende
O LeiaJá também entrou em contato com o presidente nacional do PED, Gilson Lima. Ele assegurou que não é possível fiscalizar completamente os mais de 400 coletadores de assinaturas distribuídos pelos estados, mas garantiu que todos eles passaram por uma seleção na qual um dos maiores compromissos defendidos é exatamente a proibição de qualquer falsificação e que foram instruídos para falarem a verdade.
Gilson afirmou que será identificado quem agiu de má-fé e que serão tomadas as medidas necessárias. “É um universo muito grande [de colaboradores] e a gente nunca teve um questionamento, mas vamos tomar as medidas cabíveis”.
Ele ainda falou que, caso não fosse prezado pela ética e transparência, o grupo não andaria uniformizado e com crachás conforme o próprio denunciante disse. “Então, não há como burlar uma pessoa com a camiseta expondo o nome do partido. Queremos assinaturas de apoio de quem, de fato, querem construir o partido. O que aconteceu não foi, de forma alguma, instrução nossa”, frisou.
De acordo com o presidente, as assinaturas para a criação do PED começaram a ser recolhidas a partir do dia 10 de outubro de 2016. Em Pernambuco, mais de 50 mil pessoas assinaram em apoio. “Já é algo bem avançado. Somos um partido de centro, porque a gente vê o discurso da direita sendo utilizado pela esquerda e o discurso da esquerda sendo utilizado pela direita. Nós queremos envolver o povo, queremos um futuro melhor e facilitar a vida da população proporcionando mais dignidade e segurança pública. Um partido que vai surgir com cautela sem um quadro viciado. Essa é a nossa preocupação e estamos fazendo isso na tranquilidade para possivelmente disputar na eleição de 2020”, ressaltou.
Posição do TSE
Sobre o assunto, em nota, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) explicou que o órgão deferiu o Requerimento de Registro de Órgão Partidário em Formação no dia 9 de ouutbro deste ano. O tribunal também ressaltou que, até o momento, não recebeu nenhuma denúncia relativa à coleta de assinatura pelo PED.
Alertou ainda que, caso sejam feitos registros oficiais ao tribunal, serão devidamente apurados os “eventuais indícios de má-fé no procedimento de coleta de assinaturas para apoiamento à criação de partido político”.
Por sua vez, a Procuradoria Regional Eleitoral em Pernambuco salientou que o fato narrado pode configurar, em tese, crime de falsidade ideológica para fins eleitorais, previsto no Código Eleitoral. "A competência para investigação é do promotor eleitoral do local do fato. Esta Procuradoria já havia identificado essa mesma denúncia nas redes sociais, motivo pelo qual encaminhou ao promotor eleitoral de Camaragibe para adoção de providências. Para informações sobre o andamento da investigação, sugiro procurar a assessoria de comunicação do Ministério Público de Pernambuco, ao qual os promotores são vinculados", expôs.