Um juiz decidiu, nesta sexta-feira (31), que um júri deverá determinar se a emissora conservadora Fox News cometeu difamação ao apoiar a falsa alegação de Donald Trump de que teria perdido as eleições de 2020 nos Estados Unidos porque as máquinas de votação eletrônica estavam fraudadas.
O juiz Eric Davis, de um tribunal do estado de Delaware, desconsiderou dois recursos da emissora e admitiu, parcialmente, para trâmites um terceiro da empresa Dominion, fabricante das máquinas de votação, que processou a Fox News em 2021 por difamação e reivindica 1,6 bilhão de dólares (R$ 8,1 bilhões, na cotação atual) por danos à sua imagem.
"As provas apresentadas neste procedimento civil mostram que está claro que nenhuma das afirmações relacionadas com a Dominion sobre as eleições de 2020 são corretas", escreveu o juiz em sua decisão de 130 páginas.
O julgamento contra a Fox News se iniciará em meados de abril. A Dominion deverá comprovar que a emissora agiu de má fé, o que, segundo os especialistas, não será fácil.
Em um comunicado, a Fox assegura que "continuará defendendo ferozmente os direitos da liberdade de expressão e a liberdade de imprensa" e menciona o "direito absoluto dos meios de comunicação para cobrir as notícias".
A emissora sempre defendeu, em nome da liberdade de expressão, que era legítimo dar a palavra ao campo de Trump, que acaba de ser indiciado em Nova York por um caso de compra de silêncio de uma atriz pornô em 2016.
Depois das eleições de novembro de 2020, o ex-presidente repetiu que as máquinas utilizadas na votação eletrônica continham um software para desviar os votos para o democrata Joe Biden, cuja vitória ele jamais reconheceu.
Contudo, ao longo das audiências, nas quais inclusive compareceu o dono da emissora, o magnata midiático Rupert Murdoch, ficou evidente que apresentadores e comentaristas da emissora apoiaram a tese de Trump, mesmo não acreditando nele, para manter a audiência.
"Realmente, estamos muito perto de poder ignorar Trump", escreveu o apresentador da emissora e firme apoiador dos republicanos Tucker Carlson aos membros de sua equipe, em 4 de janeiro de 2021, dois dias antes do ataque ao Capitólio por milhares de partidários do magnata.
Os documentos revelaram que, em novembro de 2020, no seio da emissora preferida dos americanos conservadores, ninguém acreditava, nem sequer Murdoch, na teoria da eleição presidencial "roubada" pelos democratas.
"Em retrospectiva, eu gostaria que tivéssemos sido mais contundentes em denunciá-lo", declarou Murdoch.
Mas, na tela da TV, não apenas Carlson, mas também Sean Hannity, María Bartiromo e Laura Ingraham defenderam as teorias de Trump com afinco.