Tópicos | Esgotamento profissional

Exaustão, dificuldades para se concentrar e lembrar das coisas, irritação, ansiedade e desmotivação. Esses são alguns dos sintomas que alguns profissionais podem desenvolver e que são um alerta para o diagnóstico de Síndrome de Burnout.

No Brasil, 72% das pessoas sofrem estresse no trabalho, segundo a Associação Internacional de Manejo do Estresse (Isma). Entre elas, 32% sofrem com a Síndrome Burnout. Em agosto, a jornalista Izabella Camargo, ex-Globo, foi diagnosticada com a doença, porém, desde 2014 ela sentia alguns sintomas de esgotamento físico e mental.

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A doença costuma atingir profissionais que atuam diretamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como por exemplo, policiais, bombeiros, profissionais de saúde, professores, entre outros. "Os principais sintomas da Síndrome de Burnout são esgotamento emocional, redução da realização pessoal no trabalho, insônia, taquicardia, tristeza permanente, falta de vigor, apatia social e despersonalização do profissional", explica a psicóloga especialista em saúde mental Andrea Chaves.

A síndrome tem os sintomas muito parecidos com a depressão. "Dúvidas sobre a definição diagnóstica de Síndrome de Burnout, suas diferenças e correlações com a depressão ainda estão em estudo", esclarece Andrea.

A enfermeira Thays Nadja de Oliveira, 37 anos, também foi diagnosticada com a doença no ano passado. Alguns de seus sintomas foram insônia, tristeza, cansaço, ansiedade e irritabilidade. "Eu fui ajudada pelos meus amigos. Eles insistiram e me fizeram entender que precisava de ajuda", conta.

Ela começou o tratamento em outubro do ano passado com medicações e acompanhamentos psiquiátricos. Desde então ela se sente muito mais disposta, animada e consegue dormir bem. "Antes do tratamento, eu estava irreconhecível, não tinha ânimo e vontade de fazer nada. Não me alimentava bem. Parei com as atividades que me davam prazer. Só queria ficar isolada", lembra Thays.

Thays de Oliveira faz tratamento da Síndrome de Burnout | Foto: Acervo Pessoal 

Segundo a especialista Andrea Chaves, algumas das maneiras de prevenir a doença é praticar atividades de lazer com os amigos e familiares, evitar contato com pessoas negativas, fazer atividades físicas regulares e evitar o consumo de bebidas alcoólicas, tabaco e outras drogas. "Condutas saudáveis evitam o desenvolvimento da doença, assim como ajudam a tratar sinais e sintomas logo no inicio", orienta.

O tratamento para pessoas com Síndrome de Burnout é feito com auxílio psicoterápico e de médicos especializados, jamais é recomendado a automedicação. "Se necessário, o especialista indicará intervenção medicamentosa adequada. Além disso, o ideal é que hajam iniciativas de manejo do ambiente opressor nas empresas sempre proporcionando o bem-estar dos funcionários", conclui Andrea.

Cansaço sem fim, irritação, choros compulsivos e desinteresse. As horas dentro de sala de aula passavam arrastadas, o amor pela profissão já não era o mesmo e acordar para ir trabalhar era cada vez mais difícil.

Aconselhada pela direção da escola estadual Tabajara, em Olinda, Região Metropolitana do Recife, a professora (que não quis ser identificada), L.M, 52 anos, procurou um médico e foi diagnosticada com depressão. Após sete meses de readaptação junto a tratamentos psicológicos, ela voltou à escola e hoje trabalha prestando apoio à biblioteca. “Não sinto a mínima vontade de voltar a ensinar. Já estou há três anos afastada da sala de aula e isso contribuiu para eu me sentir melhor. Devolveu a minha paz interior, porque não há mais tanta pressão em cima de mim”, conta. “Meu objetivo agora é esperar o tempo certo para a chegada da minha aposentadoria”, completa L.M.

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A educadora, que exerceu o cargo durante 30 anos, explica que a depressão foi desencadeada, especialmente, pelo desinteresse dos estudantes dentro de sala e pela falta do reconhecimento do seu trabalho. “A indisciplina e a falta de interesse dos alunos fizeram com que eu começasse a ver que todo o meu esforço em educá-los era em vão. Fora que eles mediam forças comigo, quando eu ia repreendê-los por mau comportamento. Com o passar do tempo, fui ficando saturada, não tinha vontade de abrir o livro para iniciar um novo assunto e, quando eu ia escrever no quadro, vinha vontade de chorar. Comecei a ir à escola sem motivação nenhuma, pois já estava me sentindo um nada”, desabafa a professora.

A educadora também enfatiza a ausência da participação dos pais como fator agravante do mau comportamento dos alunos: “A escola tem o papel de dar continuidade à educação, que já deve vir de casa com os princípios básicos ensinados pelos pais. Educação vem de berço, como já diz o ditado. Se ele não tem o mínimo de educação em casa, não devemos esperar que, na escola, seja diferente”.

Casos parecidos

Histórias como a da professora L.M se repetem em escolas de todo o país. O problema, porém, não é mensurável e muitos professores não dão aula atualmente pelo mesmo diagnóstico. São doenças como estresse, depressão, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, insônia, arritmia cardíaca, hipertensão, entre outros problemas que os afastam do cotidiano da sala de aula.

A professora Ceci Barbosa, 72 anos, que trabalhou na função há 40 anos, é mais um exemplo, entre tantos outros, que experimentou sintomas de doenças associadas ao esgotamento profissional. “A falta de respeito por parte dos alunos e o desinteresse me fizeram desacreditar na profissão. Eles tratam o professor da maneira que bem entendem. Não é mais como antigamente, em que os educadores eram vistos como uma autoridade em sala de aula. Hoje tudo está pelo avesso e não se sabe, realmente, qual o papel do professor nas instituições de ensino. Não tenho mais estímulo nenhum em voltar à sala de aula. Cansei”, ressalta.

“Além disso, à noite, quando faltava energia, os alunos se aproveitavam para jogar bancas, lixeiras e outros objetos para o alto. Eu ficava perto da porta para correr, qualquer coisa, pois não ia esperar ser atingida”, relembra Ceci. Ela, como a professora L.M, também trabalha dando apoio à biblioteca e participando, também, de projetos educacionais da escola. “Por conta dos estresses, vivo à base de remédio e calmante, que controlam a minha depressão, diabetes, colesterol, pressão e insônia. Como você pode ver, hoje sou uma pessoa doente”.

Ceci conta também que faltou apoio da Secretaria de Educação. "Na época, meu tratamento foi todo particular e os medicamentos, que eu continuo tomando, são caros. Isso é um descaso com nossa classe”, relata.

Segundo a assessoria da Secretaria de Educação do Estado (SEE), são oferecidos aos professores da rede estadual, através do Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos do Estado de Pernambuco (Sassepe) - plano de saúde semi-particular optativo - prestação de serviços de assistência à saúde, estendido também aos dependentes do professor.

Além disso, a Secretaria de Educação informa que o docente tem à disposição o Núcleo de Atenção ao Servidor (NAS), que conta com uma equipe fonoaudiólogos, psicológicos e assistentes sociais em todas as 17 Gerências Regionais de Educação (GRE).

Adoecimento também é consequência dos baixos salários e falta de condições adequadas de trabalho

De acordo com a vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), Antonieta Trindade, “a solução não é individual, visto que a cada dia os problemas tornam-se mais coletivos. Esse é um indicativo que demonstra a necessidade dos estados e municípios pensarem políticas públicas que enfrentem o problema”, acredita.

“Além do desinteresse dos alunos, na maioria dos casos, o adoecimento é consequência dos baixos salários, da falta de condições adequadas de trabalho, da superlotação das turmas e do baixo resultado de aprendizagem dos estudantes”, aponta Antonieta.

Sobre a mudança de função do professor para um outro cargo, a vice-presidente opina: “Mudar de cargo não resolve o problema, pois os readaptados não são preparados para desempenhar novas funções pedagógicas na escola. No Estado, a secretaria de educação atendeu a nossa reivindicação e criou núcleos de assistência ao servidor em todas as gerências regionais, mas ainda falta um melhor entendimento por parte da Perícia Médica do Estado, que , na maioria das vezes, trata o servidor doente como alguém que simplesmente não quer trabalhar”.

Conforme Antonieta Trindade, no mês de agosto, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), órgão que a vice-presidente também representa, realizará um seminário de âmbito nacional, que contará com a presença de diversos especialistas para aprofundar o tema e consolidar propostas a serem encaminhadas na pauta dos trabalhadores em todos os estados e municípios.







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