Diante da espera angustiante de parentes, as equipes de resgate procuravam, nesta sexta-feira (7), sobreviventes entre os escombros do porto de Beirute, depois que vários diretores do terminal foram detidos após as explosões que deixaram mais de 150 mortos.
A tragédia provocou a revolta da população do Líbano, que em outubro de 2019 iniciou um grande movimento de protesto contra a classe política.
A indignação é cada vez maior com um governo que não consegue justificar a presença de nitrato de amônio, um químico altamente inflamável, no porto sem medidas de prevenção, como admitiu o próprio primeiro-ministro.
Perto da área das explosões, ao lado dos silos gigantes de cereais destruídos, socorristas franceses, italianos, alemães e de outras nacionalidades coordenam os esforços.
"Espero que me digam que tiraram você com vida dos escombros, habibi (meu amor)", escreveu no Twitter Emilie Hasrouty, irmã de um funcionário do porto de 39 anos, desaparecido nos silos.
Na manhã desta sexta-feira, quatro corpos foram recuperados pelos socorristas no porto, praticamente destruído pelas explosões de terça-feira, que deixaram mais de 5.000 feridos e centenas de milhares de desabrigados nos bairros próximos, o que intensifica a raiva da população contra os políticos, acusados de incompetência e corrupção.
A ajuda internacional começou a chegar a Beirute, visitada na quinta-feira pelo presidente francês Emmanuel Macron, que pediu uma investigação internacional sobre a explosão provocada, segundo as autoridades, por um incêndio em um depósito que armazenava 2.700 toneladas de nitrato de amônio há seis anos.
Macron se reuniu com as autoridades libanesas e políticos, incluindo membros do Hezbollah, e representantes da sociedade civil. Ele pediu uma mudança profunda no país e anunciou uma conferência de ajuda de doadores para arrecadar recursos para o Líbano, que enfrenta uma grave crise econômica.
A videoconferência acontecerá no domingo, anunciou a Comissão Europeia, ao confirmar sua participação. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, visitará o Líbano no sábado.
As agências da ONU fizeram um apelo urgente à solidariedade internacional e já liberaram nove milhões de dólares de fundos humanitários da organização.
- "Tudo foi pulverizado" -
Ao contrário de um terremoto, na catástrofe do porto, "o epicentro está a poucos metros de nós, enquanto em um terremoto fica a centenas de metros de profundidade", declarou à AFP o coronel Vincent Tissier, que dirige uma equipe de 55 membros da segurança civil francesa.
"As coisas tendem a cair em camadas por andares. Aqui, tudo foi pulverizado".
Os socorristas russos, que se movimentam com dificuldades, procuram sobreviventes enquanto máquinas retiram contêineres destruídos.
As equipes da defesa civil libanesa observam com ansiedade um cão que deu a volta em uma cratera provocada pela queda de um guindaste. Uma calma angustiante reina no porto, quebrada apenas pelo som das máquinas que retiram os escombros, grandes montes de ferros retorcidos.
- Hospital de campanha russo -
Em uma capital com cenário apocalíptico - as autoridades não anunciaram nenhum dispositivo para ajudar os cidadãos -, centenas de libaneses estão mobilizados em uma enorme onda de solidariedade, para prosseguir com as operações de retirada dos escombros ou ajudar os desabrigados.
Vários países enviaram material médico e hospitais de campanha. A União Europeia liberou 33 milhões de euros em caráter de emergência e o exército dos Estados Unidos enviou três carregamentos com água, alimentos e medicamentos.
Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita também prometeram ajuda. Na grande cidade esportiva de Beirute, a Rússia instalou um hospital de campanha, que já começou a receber pacientes - os hospitais da capital estão em colapso.
- 16 funcionários detidos -
Na quinta-feira à noite, as forças de segurança usaram gás lacrimogêneo no centro da cidade para dispersar dezenas de manifestantes revoltados com a incompetência e a corrupção das autoridades.
Nas redes sociais, um protesto contra o governo foi convocado para sábado com o lema "Enforquem eles".
As autoridades libanesas afirmam que o depósito explodiu após um incêndio. As autoridades do porto, os serviços de Alfândega e parte das forças de segurança sabiam da presença de produtos químicos perigosos armazenados, mas trocam acusações sobre a responsabilidade.
Além do nitrato de amônio, o procurador militar citou a presença de "materiais altamente inflamáveis de combustão lenta".
Dezesseis funcionários do porto e da autoridade portuária foram detidos no âmbito da investigação.