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Uma parte dos silos de grãos danificados do porto de Beirute desmoronou após um incêndio neste domingo, a poucos dias do segundo aniversário da explosão devastadora na capital libanesa.

Jornalistas da AFP no local viram uma nuvem de poeira cobrir a área após o colapso das duas torres de grãos.

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O fogo começou há mais de duas semanas na parte mais danificada dos silos do porto.

Especialistas e autoridades consideram que foi declarado devido à fermentação dos restos de cereais armazenados e às altas temperaturas.

Essas estruturas absorveram parte da onda de choque da explosão devastadora em 4 de agosto de 2020 no porto de Beirute, que matou 200 pessoas e feriu mais de 6.500, destruindo bairros inteiros do oeste da cidade.

A explosão de dois anos atrás ocorreu em um armazém contendo centenas de toneladas de nitrato de amônio.

Vários ministros alertaram os habitantes esta semana sobre as precauções a serem tomadas em caso de colapso dos silos, como evacuar a área e usar máscaras.

Em abril, o governo havia ordenado a demolição dos silos, mas a decisão foi suspensa devido à oposição de parentes das vítimas da explosão de 2020, que queriam transformá-los em um lugar de memória.

A investigação das causas desta explosão está paralisada há meses devido à obstrução da classe política libanesa, que ONGs e familiares das vítimas acusam de querer fugir à responsabilidade.

A explosão de 4 de agosto no porto de Beirute foi causada por 500 toneladas de nitrato de amônio, disse nesta terça-feira (29) Hassan Diab, o primeiro-ministro do Líbano, citando os resultados de uma investigação da Polícia Federal dos Estados Unidos (FBI)

No dia da tragédia, que deixou mais de 200 mortos e 6.500 feridos, Diab afirmou que durante anos foram armazenadas 2.750 toneladas de nitrato de amônio "sem medidas de precaução" em um armazém do porto.

No entanto, os especialistas estimavam que era a quantidade deste produto de alto risco que pegou fogo era menor.

Apesar de as autoridades libanesas terem rejeitado os pedidos de uma investigação internacional, permitiram que investigadores franceses e do FBI (EUA) participassem nas investigações preliminares no local.

"O relatório do FBI revelou que a quantidade que explodiu foi só de 500 toneladas", disse Hassan Diab em uma reunião com jornalistas. Mas "para onde foram as outras 2.200 toneladas?", questionou.

A AFP não pôde verificar o conteúdo do relatório do FBI.

A investigação continua estagnada quase cinco meses após a explosão, que traumatizou a nação e devastou distritos inteiros da capital.

A opinião pública, indignada, continua esperando para saber como essa tragédia aconteceu e exige que os responsáveis sejam punidos.

Muitos líderes, incluindo o presidente Michel Aoun e o primeiro-ministro, foram alertados oficialmente sobre o perigo que representava a presença de nitrato de amônio no porto.

Diab e mais três ministros foram acusados em 10 de dezembro de "negligência e de provocar centenas de mortes".

Um incêndio atingiu nesta nesta terça-feira (15) um prédio em fase de construção na região central de Beirute, no Líbano. Em fotos e vídeos divulgados nas redes sociais, é possível ver uma grande coluna de fumaça preta saindo da construção.

A polícia libanesa está investigando as possíveis causas do incêndio, que ainda são desconhecidas. Horas depois das primeiras chamas, o incêndio foi controlado pelos bombeiros, segundo as autoridades locais.

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As chamas se espalharam por um prédio que estava em fase final de construção. O edifício é conhecido por ter sido projetado pelo estúdio da famosa arquiteta iraquiana-britânica Zaha Hadid, que morreu em 2016.

Esse foi o terceiro incêndio em um curto espaço no tempo que atinge a capital libanesa, devastada no dia 4 de agosto por uma explosão no porto que matou cerca de 200 pessoas e deixou por volta de sete mil feridos. 

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Da Ansa

Um grande incêndio atinge nesta quinta-feira (10) o porto de Beirute, no Líbano, informa a mídia local. O fogo está concentrado em uma área já destruída pelas explosões do dia 4 de agosto e diversas equipes do corpo de bombeiros estão tentando controlar as chamas.

Nas imagens divulgadas nas redes sociais, é possível ver uma enorme coluna de fumaça preta subindo em estruturas que desabaram no início de agosto. Segundo as primeiras informações, os galpões atingidos armazenavam pneus e óleo para motores.

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As explosões do dia 4 de agosto na capital libanesa destruíram uma enorme área próxima ao porto e deixaram cerca de 200 mortos e sete mil feridos. Além disso, todos os prédios e residências próximas ao local ficaram completamente destruídos com o impacto do desastre.

Além do incêndio, naquele dia, o armazenamento incorreto de 2.750 toneladas de nitrato de amônio potencializou as explosões, causando danos na casa dos US$ 15 bilhões. O porto de Beirute era o principal do país e a porta de entrada de cerca de 70% dos alimentos que chegavam ao Líbano.

Da Ansa

Na fornalha em chamas de uma fábrica de vidro no Líbano, um trabalhador recolhe grandes pás de vidro quebrado. Toneladas de vidro pulverizado pela explosão no porto de Beirute serão recicladas para a produção de jarras e garrafas.

Uma vez derretido nesta fábrica na cidade de Trípoli, o vidro será transformado nesses utensílios, graças a uma iniciativa lançada por associações e voluntários encarregados de limpar os entulhos após a explosão de 4 de agosto, que devastou bairros inteiros na capital do Líbano. Naquele dia, janelas e vitrines explodiram em milhares de pedaços por toda a cidade.

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“Decidimos que uma parte de todo esse vidro pulverizado (...) vai para as indústrias locais para servir de matéria-prima”, explica Ziad Abi Chaker, um ativista ambiental que dirige a empresa de reciclagem Cedar Environmental e se mobilizou junto com outros voluntários da sociedade civil libanesa.

Um mês após a tragédia que causou mais de 190 mortos e 6.500 feridos, caminhões carregados com cacos de vidro coletados nos bairros devastados continuam fornecendo material para empresas familiares em Trípoli.

Reciclar 24 horas por dia

"Trabalhamos 24 horas por dia", disse à AFP Wissam Hammoud, vice-presidente da United Glass Production Company (Uniglass), uma empresa de vidro fundada por seu avô em Trípoli. “Aqui temos os vidros da explosão de Beirute”, continua o jovem, enquanto aponta para os altos montes que se acumulam no pátio e são selecionados pelos trabalhadores.

Com as mãos protegidas por luvas de borracha, os funcionários separam o vidro das pedras e da areia, antes de levá-lo ao forno. A pasta elástica resultante é então usada por um soprador de vidro para dar forma a jarras ou garrafas de gargalo comprido e estreito, típicas do artesanato libanês.

No total, as duas fábricas de Trípoli já receberam cerca de 58 toneladas de vidro, segundo Abi Chaker, que, com recursos adequados, espera poder enviar até 250 toneladas. De acordo com suas estimativas, a explosão teria estilhaçado mais de 5 mil toneladas de vidro.

O objetivo é que todo esse material não acabe nos aterros sanitários do país. Por décadas, as autoridades libanesas falharam em adotar políticas eficazes de gestão de resíduos. Apesar de várias tentativas população, a reciclagem só é aplicada a 10% do tratamento de resíduos, segundo estatísticas oficiais.

Escombros

Nos bairros destruídos Mar Mikhael, Gemmayzeh ou Karantina, os voluntários continuam a limpar os escombros e varrer pequenos pedaços de vidro do chão de cozinhas e quartos abandonados, onde fazem uma primeira seleção para isolar o vidro.

“Temos montanhas de entulho acumulados em Beirute”, alerta Anthony Abdel Karim, um dos voluntários encarregados de coordenar a coleta dos vidros. “Tem vidro, entulho e metal, que se misturam ao lixo orgânico. Não é algo saudável”, acrescenta. “No Líbano, não há reciclagem digna dessa designação”.

Há algumas semanas, ele lançou sua própria iniciativa de reciclagem, chamada Annine Fadye (garrafa vazia, em árabe). Abdel Karim, profissional do setor de serviços em uma cidade conhecida por sua vida noturna, se envolveu com a difícil questão da reciclagem ao ver a grande quantidade de garrafas vazias geradas nas noites de festa.

O vidro enviado a Trípoli "é apenas a parte visível do iceberg", diz Abdel Karim. Também existem fragmentos que não podem ser reciclados. Para eles, talvez seja necessário encontrar outra fórmula, talvez triturá-los com cimento ou outros materiais. “Precisamos de tempo, isso é algo que sabemos”, reconhece o jovem voluntário.

Os serviços de resgate encerraram as operações de busca nos escombros de um prédio desabado em Beirute, no Líbano, sem encontrar vítimas, informou uma autoridade neste domingo (6), depois que surgiram informações essa semana sobre um possível sobrevivente.

Uma equipe de socorristas chilenos do grupo humanitário Topos Chile, que auxilia nos esforços de resgate na capital libanesa, anunciou na quarta-feira (2) ter detectado batimentos cardíacos fracos sob os escombros de um edifício, usando um cão farejador e scanners térmicos.

A notícia aumentou a esperança de encontrar um sobrevivente da trágica explosão no porto de Beirute, que destruiu bairros inteiros em 4 de agosto e deixou pelo menos 191 mortos e mais de 6.500 feridos.

Com o passar dos dias, porém, a esperança foi se dissipando. "Não há mais nada", respondeu à AFP o diretor de operações de Defesa Civil libanesa George Abou Moussa no domingo quando questionado se as buscas continuariam no local. "Não havia nem vivos nem mortos" sob os escombros, disse ele.

No dia anterior, Francesco Lermanda, que comanda a equipe chilena, já havia indicado que não havia encontrado "nenhum sinal de vida".

O governador de Beirute, Marwan Abboud, havia afirmado anteriormente que poderia haver um ou dois corpos e até mesmo um sobrevivente.

Essa informação, um mês após a explosão colossal causada por centenas de toneladas de nitrato de amônio armazenadas no porto sem medidas de segurança, causou polêmica entre grande parte da opinião pública.

"Eu não sabia que precisava tanto de um milagre. Deus, por favor, dê a Beirute o milagre que ela merece", disse o diretor de cinema Selim Mourad no Facebook na sexta-feira.

As autoridades libanesas emitiram ordens de prisão para 25 suspeitos acusados pela grande explosão no porto de Beirute, informou uma fonte judicial à AFP quatro semanas após a tragédia. Até agora, as autoridades judiciais emitiram mandados de prisão para 21 suspeitos ligados à explosão de 4 de agosto, que matou pelo menos 188 pessoas, feriu mais de 6.500 e devastou bairros inteiros da capital libanesa.

Nesta terça-feira, o juiz instrução responsável pela investigação, Fadi Sawan, emitiu mandados de prisão para quatro novos suspeitos após o interrogatório, segundo uma fonte judicial. Segundo a fonte, seriam o chefe dos serviços de inteligência militar do porto, um oficial de segurança do estado e dois membros da segurança geral.

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A explosão, que abalou a capital libanesa, havia sido explicada pelas autoridades como causada pelo armazenamento por seis anos sem as devidas medidas de segurança de uma enorme quantidade de nitrato de amônio em um armazém no porto de Beirute.

No entanto, as circunstâncias exatas da explosão ainda não são conhecidas.

Segundo fontes de segurança, determinados trabalhos de soldadura realizados no armazém provocaram um incêndio que, por sua vez, provocou a explosão.

Desde que a explosão de agosto destruiu estruturas da casa de sua família em Beirute, Basam Basila tem resistido à pressão de um proprietário de um edifício próximo que tenta comprar esse imóvel histórico, passado de pai para filho.

"Ele quer que eu venda a casa para demolir" e construir outro prédio, conta o homem de 68 anos, em sua casa no bairro de Monot. A explosão, causada por uma grande quantidade de nitrato de amônio armazenada no porto de Beirute, causou 188 mortes e devastou áreas inteiras da capital libanesa, aguçando o apetite dos tubarões imobiliários.

De acordo com o último balanço das autoridades neste sábado, sete pessoas ainda estão desaparecidas há mais de três semanas após a gigantesca explosão.

Como Basila, outros habitantes das ruas atingidas - especialmente nos bairros de Mar Mikhael, Gemmayzé e Monot - e autoridades locais lamentam a ganância de quem quer se "aproveitar" da tragédia para prosperar nos negócios.

O mesmo possível comprador, que comprou o andar térreo da casa na esperança de adquirir o restante, já havia feito uma oferta tentadora a Basila. "Ele me disse 'você vai acabar cedendo'", relata o motorista de táxi.

Para incentivá-lo a sair, o investidor agora se abstém - segundo ele - de "recuperar o andar térreo", fragilizado pela explosão. Mas "eu nasci nesta casa e meu pai nasceu nela (...) Não posso morar em outro lugar", ressalta Basila, que critica o Estado: "Sem ajuda não dá para restaurar nada!".

Dos 576 edifícios históricos de Beirute inspecionados pelo Ministério da Cultura, 44 têm risco de desabamento e 41 estão expostos ao risco de desabamento parcial.

Após a explosão, quando os cidadãos vieram relatar os danos em suas casas, Bechara Ghulam, o prefeito do distrito de Rmeil, no norte de Beirute, contou ter recebido a visita de um desses "corretores", que se propôs a comprar os imóveis para pessoas físicas que não queriam se identificar.

"Ele mostrou sua vontade de comprar casas danificadas pela explosão e sua disposição para 'pagar qualquer quantia' que os proprietários quisessem". "Eu respondi que não venderíamos", explicou Ghulam.

A tentação é forte em um contexto de grave crise econômica no Líbano, que vive uma desvalorização da libra libanesa, uma inflação galopante e uma escassez de dólares. Muitos libaneses vivem na pobreza.

Órgãos políticos e religiosos alertaram contra esses "abutres" rondando a capital libanesa, e os ministérios da Cultura e da Economia proibiram a venda de propriedades danificadas até que o trabalho de restauração seja concluído.

Em Beirute, dias após a fatídica explosão de 4 de agosto, grupos de manifestantes indignados ergueram forcas fictícias com silhuetas de papelão representando os principais líderes, com a corda em volta do pescoço, incluindo o chefe do Hezbollah, outrora considerado intocável.

Essa cena inédita derrubou um velho tabu e foi seguida pela acusação, por parte de um tribunal internacional, de um membro do Hezbollah no assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri, há quinze anos. Um novo golpe para o partido xiita aliado do Irã e da Síria.

"Nas horas que se seguiram à explosão, muitos acusaram o Hezbollah", afirma Fares al Halabi, um organizador das manifestações em massa contra o governo em outubro passado.

Muitos libaneses viram nesta explosão, que devastou bairros inteiros da capital e matou pelo menos 181 pessoas, uma prova flagrante de que a corrupção mata e responsabilizaram seus líderes pela tragédia.

Um sentimento de raiva que se fez presente nas redes sociais, como demonstrado em uma imagem da grande fumaça provocada pela explosão, em forma de cogumelo, coberta com um turbante preto com a mensagem "Sabemos que foi você", em alusão ao chefe do Hezbollah, Hasán Nasralá.

Vários libaneses consideram que a responsabilidade da explosão deve recair em todos os partidos no poder, principalmente no Hezbollah, que domina a vida política.

Alguns acusam o movimento xiita de ter guardado a enorme quantidade de nitrato de amônio que causou a catástrofe, e que estava armazenada no porto, para usá-la na guerra da Síria, onde apoia o governo. Uma acusação que o Hezbollah negou firmemente.

Caem os tabus

A tragédia ocorreu em meio a um Líbano afundado em uma grave crise política, econômica e social, e acentuou a rejeição das ruas aos líderes e ao Hezbollah, que também está na mira da justiça internacional.

Na terça-feira, o Tribunal Especial para o Líbano (TSL), com sede em Haia, declarou culpado um suposto membro do partido, Salim Ayash, pelo atentado que matou Rafic Hariri em 2005.

A investigação não estabeleceu nenhum vínculo direto com os líderes do Hezbollah ou com o governo sírio, mas reconheceu o caráter "político" do crime. Depois disso, o lema "Hezbollah terrorista" não demorou a se espalhar pela rede libanesa.

Um partido "como qualquer outro"

O envolvimento do Hezbollah no conflito sírio, oficialmente desde 2013, também manchou a imagem do movimento, construída durante décadas como "resistência" contra Israel.

No entanto, ao se envolver com a política libanesa, o Hezbollah se expôs ao risco de ser responsabilizado pelas decisões do Estado, das quais a explosão de 4 de agosto é um exemplo palpável.

Por muitos anos, "o Hezbollah conseguiu se apresentar como um partido anti-establishment", lembrou Naji Abou Khalil, militante do Bloco Nacional, partido que participou nos protestos.

Segundo ele, hoje o Hezbollah é visto mais como um "partido como qualquer outro" do que como um partido da resistência.

Primeiro veio a fumaça branca, seguida por uma explosão laranja e, pouco depois, uma nuvem preta. Essas são as últimas imagens de Rony Mecattaf antes de acordar com apenas um olho e uma Beirute destruída pela explosão.

"Perdi toda a visão lateral e talvez a imagem de mim mesmo. Quando me olho no espelho, não vejo a percepção que tinha de mim com os dois olhos", afirma este psicoterapeuta de 59 anos.

A explosão brutal de 4 de agosto no porto da capital libanesa causou pelo menos 177 mortes e mais de 6.500 feridos, a maioria deles por cacos de vidro.

Dessas pessoas, pelo menos 400 sofreram lesões oculares, mais de 50 precisaram de cirurgia e ao menos 15 ficaram com apenas um olho, segundo dados dos hospitais da região de Beirute.

Dez dias após a tragédia, Mecattaf ainda enxuga o sangue que às vezes emana de uma grande cicatriz que atravessa verticalmente sua pálpebra direita.

- "Intervenções angelicais" -

Mecattaf estava na varanda de um amigo, com vista para o porto, quando a explosão o jogou para a porta de entrada como "um grão de poeira". Ele ainda não sabe se foi a porta ou um pedaço de vidro que mutilou seu olho.

Seus médicos afirmaram que poderia ter sido simplesmente a onda da explosão, o que tornaria difícil repará-lo.

Ele sobreviveu graças a uma "série de intervenções angelicais" nas horas seguintes ao drama, com a ajuda de desconhecidos que o levaram a dois hospitais - já que o primeiro estava completamente danificado pela explosão.

"A cidade era uma visão do inferno", lembra Mecattaf, que finalmente conseguiu ser operado em Sidon, no sul do Líbano, graças a um amigo. Mas, após duas horas de esforços, os médicos não conseguiram salvar seu olho.

- "Meio cego" -

Em um hospital ao norte de Beirute, Maroun Dagher faz sua revisão semanal. Para este cientista da computação de 34 anos, a explosão "mudou tudo".

Seu rosto ficou colado a uma janela em uma rua muito próxima do porto e um caco de vidro de dois centímetros perfurou seu olho esquerdo.

Nos primeiros dias após a explosão, a dor "era apenas física". Mas a agonia não parou por aí. Alguns dias depois, ele soube que sua visão provavelmente foi afetada de forma permanente.

"Tenho sonhos em que consigo ver tudo, mas depois acordo", conta. "Nesse momento sinto emoções ruins [...] Você simplesmente acorda meio cego", lamenta.

- "O lugar mais seguro" -

Makhoul al Hamad, de 43 anos, vivia na cidade de Manbij, no norte da Síria. Este operário, que mora em Beirute desde 1995, achava que seu bairro, Mar Mikhael, era "o lugar mais seguro do Líbano" e definitivamente mais seguro do que seu país em guerra.

Por esse motivo, em 2016 ele levou a esposa e quatro filhos para Beirute, entre eles sua filha Sama, nascida em Manbij.

Sama estava sentada a poucos metros de uma janela no dia da explosão. Cacos de vidro atravessaram seu olho e a menina de cinco anos começou a sangrar absurdamente.

Uma semana depois, no telhado de sua casa danificada, Sama sorri com o olho coberto por uma bandagem. Ao longe, é possível ver o porto, praticamente devastado.

Sua retina foi rompida e os médicos disseram aos pais que seria necessário uma cirurgia restauradora no exterior. Mas eles não têm condições de bancar.

"Teria preferido que todo o sofrimento [...] recaísse sobre mim, se isso permitisse salvar Sama", confessa Hamad enquanto abraça a filha.

Os hospitais de Beirute estão praticamente saturados com a chegada de pacientes de Covid-19, o que somado às consequências da explosão de 4 de agosto na capital leva o Líbano "à beira do abismo", afirmou o ex-ministro de Saúde Hamad Hassan, que renunciou ao cargo recentemente.

O número de casos positivos aumentou de maneira significativa nas últimas semanas e no domingo (16) o país registrou o recorde, com 439 contágios, o que eleva a 8.881 o total de diagnosticados com a Covid-19. O balanço registra ainda 103 mortes.

"Os hospitais públicos e privados da capital dispõem de uma capacidade de atendimento muito limitada, em número de leitos de UTI ou de respiradores", advertiu o ex-ministro Hassan.

"Estamos à beira do abismo, não podemos permitir o luxo de perder mais tempo", completou, antes de defender um novo confinamento de duas semanas.

"Na capital, as UTIs e os serviços responsáveis pela luta contra a epidemia nos hospitais públicos estão lotados", afirmou.

De acordo com o ex-ministro, quatro hospitais de Beirute que atendiam pacientes do novo coronavírus ficaram "fora de serviço" depois da gigantesca explosão no porto.

O governo libanês determinou um novo confinamento durante o verão, mas a medida foi revogada após a explosão.

O Líbano conseguiu conter com certa eficiência a propagação do coronavírus depois de adotar um confinamento estrito em março, mas os contágios voltaram a aumentar no início do verão, após a suspensão progressiva das restrições.

O número três da diplomacia dos Estados Unidos, David Hale, pediu neste sábado uma investigação "transparente" sobre a explosão do porto de Beirute, onde funcionários do FBI são aguardados para auxiliar as autoridades libanesas na questão.

"Devemos garantir que aconteça uma investigação transparente, completa e confiável", afirmou Hale durante uma visita ao porto da capital do Líbano.

"Não podemos recuar e voltar a uma época em que qualquer coisa poderia entrar pelo porto ou atravessar as fronteiras do Líbano", destacou em uma entrevista aos jornalistas.

No dia 4 de agosto um incêndio provocou uma forte explosão em um depósito do porto onde estavam armazenadas, segundo as autoridades, 2.750 toneladas de nitrato de amônio há seis anos, "sem medidas de proteção", como admitiu o primeiro-ministro Hassan Diab, que depois renunciou ao cargo.

A tragédia destruiu bairros inteiros de Beirute, com um balanço de pelo menos 177 mortos e 6.500 feridos.

As autoridades estavam a par, há anos, da presença das toneladas de nitrato de amônio, como admitiram algumas autoridades e fontes das forças de segurança.

O governo e a classe política do Líbano rejeitam uma investigação internacional, apesar das vozes no país e no exterior que defendem a medida.

David Hale anunciou na quinta-feira que a Polícia Federal (FBI) dos Estados Unidos deve se unir aos investigadores "a convite" das autoridades libanesas.

Ao mesmo tempo, a justiça da França abriu uma investigação: dois franceses morreram na tragédia.

O poderoso e influente movimento xiita libanês Hezbollah é acusado com frequência de ter suas entradas no porto de Beirute e administrar uma rede de contrabando na fronteira com a Síria, país vizinho que está em guerra.

Após a explosão, algumas pessoas acusaram o Hezbollah, considerado uma "organização terrorista" pelo governo dos Estados Unidos, de armazenar armas no porto, algo que o líder do movimento, Hassan Nasrallah, negou com veemência.

Hale pediu neste sábado às autoridades que retomem o controle da situação.

O FBI se unirá a outros especialistas internacionais que já estão no país, alguns deles procedentes da França.

As autoridades libanesas também abriram uma investigação, apesar das críticas sobre a credibilidade de seus resultados.

O FBI trabalhará com investigadores libaneses e internacionais para esclarecer as causas da explosão que devastou o porto de Beirute na semana passada, anunciou David Hale, número três na diplomacia americana, nesta quinta-feira na capital libanesa.

"Quero anunciar que o FBI vai juntar forças com investigadores libaneses e estrangeiros muito em breve, depois de receber um convite do Líbano" para tentar esclarecer as causas da explosão que matou mais de 171 pessoas e deixou pelo menos 6.500 feridos, anunciou o oficial, ao visitar as áreas destruídas.

As autoridades libanesas anunciaram o início de uma investigação sobre a explosão causada por toneladas de nitrato de amônio armazenadas em um armazém no porto da capital.

O presidente Michel Aoun se opôs, entretanto, a uma investigação internacional.

As autoridades francesas também abriram uma investigação devido à presença de vítimas francesas e forneceram apoio logístico ao Líbano para esclarecer as causas da deflagração.

Hale, que se encontrará com líderes libaneses e representantes da sociedade civil na sexta-feira, também lembrou que Washington apoia a formação de um governo "que responda à vontade de seu povo e esteja verdadeiramente comprometido e aja para adotar reformas".

A explosão acentuou a agitação popular em relação a uma classe política acusada de corrupção e incompetência e forçou a renúncia na segunda-feira do executivo presidido por Hassan Diab.

No último dia 4 de agosto, o mundo acompanhou com perplexidade às imagens da explosão na região portuária de Beirute, capital do Líbano. O acidente causado pelo armazenamento de 2,75 mil toneladas de nitrato de amônio (NH4NO3), matou 160 pessoas, deixou mais de 5 mil feridos e desabrigou a população que vivia em um raio de 10 km do local da tragédia.

De acordo com as autoridades libanesas, o nitrato de amônio estava estocado há mais de seis anos no porto de Beirute. O produto, utilizado na composição de insumos agrícolas, inseticidas e aplicado na confecção de explosivos, é considerado seguro, mas pode se tornar ameaça se não armazenado de maneira correta, como explica o químico e pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas João Paulo Amorim de Lacerda.

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“O nitrato de amônio é uma substância estável em condições normais, ou seja, temperatura e pressão ambiente. O risco existe quando se mistura com outras substâncias químicas como compostos orgânicos, ácidos, alguns metais, liberando muito calor e gases que, dentro de um espaço confinado, podem levar às explosões”, destaca o especialista.

No mercado brasileiro, o produto representa 3% do que o país utiliza como fertilizantes na agricultura. Dados da consultoria especializada em agronegócio StoneX mostram que foram importadas cerca de 1,2 milhão de toneladas de nitrato de amônio em 2019.

Entretanto, com o incidente ocorrido no Líbano, a atenção dos profissionais especialistas no assunto foi posta em alerta ao redor do mundo. No Brasil, o Conselho Federal de Química (CFQ) reiterou, por meio de nota à imprensa, a importância do papel dos estudiosos do setor em relação à preservação da vida e da saúde da população.

“Considerando a responsabilidade pública do Sistema CFQ e os Conselhos Regionais de Química (CRQs) de proteger a sociedade brasileira, vimos reforçar a importância do envolvimento do profissional da Química no armazenamento de produtos químicos, especialmente os perigosos, por apresentarem potencial risco à saúde humana, ao meio ambiente e/ou às propriedades públicas ou privadas”, cita o comunicado.

Para Lacerda, é essencial que o manejo e o transporte desse tipo de composto químico tenham o acompanhamento de pessoas qualificadas. “O manuseio de um produto desse tipo exige a presença de um profissional capacitado e que conheça as características do produto, pois assim será apto a tomar providências para manter os riscos o mais baixo possível”, ressalta o pesquisador.

Ainda segundo ele, a tragédia do Líbano deve servir de exemplo para que os países reforcem os protocolos de segurança relacionados a produtos químicos tidos como perigosos.

“Os avanços na química e nas ciências em geral tornam a vida mais prática e por vezes resolvem questões cruciais para a humanidade, mas cada substância apresenta seus riscos se usada de maneira errada”, completa.

O governo brasileiro enviou uma missão ao Líbano nesta quarta-feira (12) com seis toneladas de alimentos, remédios e uma delegação liderada pelo ex-presidente Michel Temer, em apoio ao país atingido por explosões mortais.

Minutos antes de decolar em um dos dois aviões militares da base da Força Aérea em São Paulo, o ex-presidente (2016-2018) afirmou esperar que o Brasil possa cumprir "não apenas essa missão humanitária".

"Tendo em vista os vínculos tradicionais entre ambos os países, que (o Brasil) também possa ajudar a solucionar os embates políticos, com autorização, naturalmente, das autoridades libanesas", colaborando com "a pacificação interna aquele país", acrescentou.

O presidente Jair Bolsonaro se despediu pessoalmente da delegação, e qualificou a missão como um "ato simbólico, mas que vem do fundo do coração de todo o povo brasileiro".

Os suprimentos são antibióticos, analgésicos, seringas, 100 mil máscaras cirúrgicas e 300 respiradores pulmonares doados pelo Ministério da Saúde, além de alimentos fornecidos pela comunidade de origem libanesa instalada no país, estimada em cerca de dez milhões de pessoas.

Temer, de 79 anos, é o oitavo filho de um casal de libaneses que emigrou para o Brasil em 1925. Por responder a vários processos de corrupção pendentes na Justiça, Temer obteve autorização judicial para viajar ao exterior. Em 2019, o ex-presidente ficou preso por alguns dias e desde então tem seu passaporte retido pela Justiça, que deve autorizar suas viagens ao exterior.

Integram a delegação o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, e senadores e demais governantes. Eles farão escala em Fortaleza, Ilha do Sal (Cabo Verde) e Valença, antes de desembarcar no Líbano.

As enormes explosões ocorridas em 4 de agosto - causadas por toneladas de nitrato de amônio armazenadas indevidamente no porto de Beirute - deixaram 171 mortos e ao menos 6.000 feridos, além de centenas de milhares de desabrigados. A tragédia gerou protestos que levaram à renúncia do primeiro-ministro libanês, Hassan Diab.

No país, os manifestantes também pedem a renúncia do chefe de Estado, do chefe do Parlamento e dos deputados dos partidos políticos, acusados ha tempos por corrupção e considerados responsáveis pelo desastre.

Mais da metade dos 55 hospitais avaliados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em Beirute, entre eles três dos mais importantes, não funcionam, alertou o diretor regional de emergências da instituição nesta quarta-feira (12), Richard Brennan, uma semana depois da violenta explosão que destruiu parte da capital libanesa.

Após avaliar o estado de 55 clínicas e centros de saúde na capital libanesa, "sabemos que pouco mais de 50% não funcionam", disse Brennan em uma coletiva de imprensa virtual no Cairo, onde destacou que três dos principais hospitais estão fora de serviço e outros três não funcionam em sua capacidade total. "Isso significa que perdemos 500 leitos", diz Brennan.

Brennan pediu às autoridades e a seus parceiros que "restabeleçam a capacidade desses centros o quanto antes possível" para responder às necessidades do país, afetado também pela pandemia de coronavírus.

A explosão de 4 de agosto deixou 171 mortos e mais de 650 mil feridos em um país já afetado por uma crise econômica sem precedentes e com os hospitais já saturados. Além dos hospitais que não funcionam, muitos foram seriamente atingidos pela explosão e perderam profissionais.

Segundo Iman Shankiti, representante da OMS para o Líbano, as unidades de terapia intensiva (UTI) e os leitos que se salvaram estão ocupados com pacientes feridos gravemente. A explosão, combinada com a pandemia, terá um "impacto na capacidade de hospitalização do Líbano", especialmente nos serviços de reanimação, disse a representante.

Nesta terça-feira, o Líbano registrou um recorde de casos diários por coronavírus com 309 casos e sete mortes. No total, o país registrou 7.121 casos e 87 mortos desde fevereiro, segundo o último balanço oficial.

O ex-presidente Michel Temer disse que ficou surpreso e honrado com o convite do presidente Jair Bolsonaro para que coordenasse a ajuda humanitária do Brasil ao Líbano. Temer acredita que a missão ajudará a melhorar a imagem internacional do País. Em entrevista ao Estadão, ele disse que o convite representa uma mudança na política externa do governo Bolsonaro, que estaria finalmente caminhando para uma diplomacia multilateral.

Como o sr. recebeu o convite do presidente Bolsonaro para coordenar a missão brasileira?

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Fiquei surpreendido, mas muito honrado. Tenho relações familiares com o Líbano. Meus pais nasceram e cresceram lá, casaram-se no Líbano, tiveram os três primeiros filhos lá e mais cinco depois. Eu sou o último. Portanto, tenho uma ligação umbilical com o país. Quando estive duas vezes lá, sempre fui muito bem recebido, como presidente da Câmara dos Deputados e como vice-presidente. No domingo (9), o presidente Bolsonaro fez o anúncio na reunião com os presidentes Donald Trump (EUA) e Emmanuel Macron (França). O pessoal que ouviu me conhece. Então, recebi entre surpreendido, honrado e emocionado em face das minhas origens.

O sr. tem contatos com sua família libanesa?

Fui visitar a terra em que meus pais nasceram, uma cidade pequena nas montanhas. No dia em que cheguei, quando era vice-presidente, inauguraram uma avenida modesta na cidade com o meu nome. Tenho primos nessa cidade e em Trípoli (80 km de Beirute). Não falo com eles mensalmente, mas mantenho contato.

Os libaneses querem apoio econômico e investimentos. Até onde vai a margem para o sr. tratar disso?

Posso dizer que, além das 6 toneladas (de mantimentos) no avião e das 4 mil toneladas de arroz por via marítima, em todo o Brasil tem gente querendo contribuir. Além daquilo que está chegando, poderá ir um novo carregamento. O outro ponto é que, como tenho boas relações com as autoridades, vou ver se converso um pouco sobre a possibilidade de o Brasil ajudar diplomaticamente na intermediação de acordos. Está muito tumultuada a política lá. Brasil e França são os que mais têm vínculos com o Líbano e talvez pudessem ajudar no diálogo.

O sr. e o presidente Bolsonaro parecem mais próximos. Como está a relação de vocês?

O presidente Bolsonaro nunca criticou o meu governo, pelo contrário. Em várias oportunidades, eu o via dizendo: 'Se não fosse o Temer ter feito a reforma trabalhista, ter enfrentado a previdência'. Então, ele sempre fez referências elogiosas ao meu governo. Segundo ponto: não tenho tanto contato com ele. Tive uns três contatos ao longo do tempo. Ele deve ter ouvido entrevistas em que dou palpites. Digo: 'Olha, aquela coisa de falar na saída (do Alvorada) não é boa, porque é a palavra do presidente faz a pauta do dia'. Creio que, às vezes, ele possa ter levado isso em conta. Mas é um contato cordial, tanto que ele me convidou. Aliás, é uma coisa muito típica nos EUA. Não é incomum que presidentes peçam para ex-presidentes realizarem missões humanitárias.

Em entrevistas, o sr. sempre evitou fazer críticas a Bolsonaro e adotou um tom diplomático.

Tenho como método fazer observações com cautela. Ex-presidentes, ao meu modo de ver, devem ser discretos com relação ao presidente. Se não você não ajuda o País. Eu faço observações, críticas, muitas vezes, mas a título de colaboração, não de oposição.

O sr. acredita que Bolsonaro mudou um pouco sua posição com relação ao início do governo? Esse convite para o sr. é uma sinalização nesse sentido?

Pode ter sido. Certamente, deve ter passado por ele a ideia de que fui um ex-presidente que teve boa relação com o Congresso, com o Judiciário e sou descendente de libaneses.

Como o sr. avalia a política externa do governo?

O gesto do presidente Bolsonaro designando um ex-presidente e dando ajuda humanitária ao Líbano é uma mudança na política externa, convenhamos. Especialmente voltada para um país árabe. Segundo ponto: eu sempre sustentei a necessidade do multilateralismo. Precisamos nos dar bem com todos os países. Veja que nossos principais parceiros são China e EUA. Eu fazia na ONU aqueles discursos de abertura (da Assembleia-Geral) e sempre enfatizava a ideia do multilateralismo, nunca do isolacionismo. Tenho a impressão de que o presidente Bolsonaro está começando a trilhar esse caminho.

O sr. acredita que essa ação no Líbano melhora a imagem externa do Brasil?

Acho que contribui muito. Mas é preciso que o governo libanês esteja de acordo com isso, para fazermos essa intermediação. É um mero oferecimento, nada mais do que isso. O Brasil tem de descendentes o dobro de habitantes do Líbano. Então, temos toda a razão para imaginar um Líbano pacificado. Se pudermos colaborar com isso, muito bem. Teria um efeito externo positivo.

Como recebeu a decisão do juiz Marcelo Bretas, que o liberou para a viagem?

Eu tinha certeza que ele autorizaria imediatamente, como autorizou. Nas vezes anteriores, fui convidado para falar em Oxford. Ele negou em um primeiro momento, mas o tribunal deu autorização. Depois, fui falar em Salamanca e em Madri. Ele também negou, mas o tribunal autorizou. Quando vou, falo bem do Brasil, divulgo o país. Nessa hipótese, como se tratava de uma situação humanitária e politicamente importante, ele deferiu imediatamente.

O juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, autorizou que o ex-presidente Michel Temer (MDB) vá para o Líbano para chefiar a missão oficial brasileira que visa ajudar a capital do país, Beirute, após uma explosão no porto que devastou parte da cidade e deixou 163 mortos, mais de 6 mil feridos e 300 mil desabrigados. Temer é descendente de libaneses e foi convidado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para comandar a ação humanitária brasileira.

Temer precisou pedir autorização judicial para viajar porque está impedido de deixar o país, como medida de restrição, desde que foi preso preventivamente em março de 2019.

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Na decisão, Bretas observa que "o motivo está plenamente justificado ante a natureza humanitária da missão oficial para a qualificação foi designada, em nome da República brasileira, e que, em outras ocasiões, a instância superior concedeu-lhe permissão de viagem". 

De acordo com o decreto que institui a missão oficial ao Líbano, a delegação -composta por 14 pessoas - vai ficar no país entre os dias 12 e 15 de agosto. O voo está marcado para as 11h de quarta-feira (12).

A destruição de joias arquitetônicas de Beirute, incluindo museus e edifícios tradicionais, agrava o balanço trágico das explosões no porto da capital libanesa, que deixaram mais de 150 mortos e devastaram uma infraestrutura econômica fundamental para o Líbano.

Famosos por suas janelas de três arcos, típicas de Beirute, centenas de edifícios do período otomano ou do mandato francês (1920-1943) já estavam deteriorados com os efeitos do tempo e a guerra civil (1975-1990).

Alguns dos mais antigos ficavam perto do porto, onde várias toneladas de nitrato de amônio armazenadas em um depósito detonaram.

As deflagrações derrubaram um palácio do século XVIII e outros edifícios daquela época, todos mais antigos do que a criação do Estado do Líbano, que completa um século em 2020.

"É como uma violação", lamenta Tania Ingea, herdeira deste edifício com colunas de mármore em que os vitrais de mais de 200 anos explodiram, as portas foram derrubadas e alguns painéis de madeira do período otomano também foram danificados.

Construído pela família Sursock, uma das grandes fortunas de Beirute, o palácio resistiu à guerra civil e ao confronto violento entre Israel e o Hezbollah em 2006, mas agora a explosão representa "uma ruptura entre o presente e o passado", diz Ingea.

- Buracos enormes -

Perto deste palácio está o museu Sursock, lugar de destaque da vida cultural do Líbano que reúne uma importante coleção de arte moderna e contemporânea e que há poucos meses organizou uma exposição inédita de Picasso.

Este edifício, construído em 1912 com uma mistura de arquitetura veneziana e otomana, também não resistiu à explosão.

Seus vitrais explodiram, suas elegantes janelas são agora enormes buracos e sacos de entulho se acumulam diante de sua monumental escadaria branca.

Entre 20 e 30 obras foram danificadas pelo impacto do vidro das janelas de um edifício que há 50 anos é museu por vontade de Nicholas Sursock, um apaixonado pela arte.

A explosão também derrubou uma das obras-primas do local, um retrato de Sursock do pintor franco-holandês Kees Van Dongen.

"Não esperava tantos estragos", reconhece Jacques Aboukhaled, arquiteto responsável pela reforma de um espaço que foi reaberto em 2015 após oito anos de obras.

A restauração do local, de acordo com Aboukhaled, levará mais de um ano e custará vários "milhões" de dólares.

- Antes do inverno -

Enquanto muitos edifícios antigos foram seriamente danificados, o museu nacional de Beirute se beneficiou de um milagre.

Apenas a fachada sofreu alguns danos neste monumento, que reúne várias estátuas gregas, romanas e fenícias da antiguidade clássica, segundo o ministro da Cultura, Abbas Mortada.

Situado perto da linha de frente da guerra civil, este prédio se viu no meio dos combates, mas seu acervo foi preservado graças à perspicácia de seu então curador, Maurice Chéhab.

Agora, "centenas" de edifícios considerados patrimônio nacional estão danificados, reconhece o ministro da Cultura, que admite que "vai ser preciso muito trabalho" para os reconstruir.

Uma equipe está encarregada de fazer o inventário dos danos, mas as autoridades já alertam que a reconstrução terá um custo de "centenas de milhões" de dólares.

"Precisamos fazer as obras de restauração o mais rápido possível", defende Mortada. "Se o inverno chegar, o perigo será grande", avisa.

Um terceiro ministro renunciou, nesta segunda-feira (10), no Líbano, enfraquecendo ainda mais uma classe política responsabilizada pelas explosões mortais do porto de Beirute, enquanto a indignação nas ruas não enfraquece.

Quase uma semana depois da tragédia que deixou pelo menos 158 mortos, 6.000 feridos e destruiu parte da capital, as autoridades, acusadas de corrupção, negligência e incompetência, ainda não responderam à principal pergunta: por que uma grande quantidade de nitrato de amônio estava armazenada no porto, no coração da cidade?

As explosões foram provocadas por um incêndio no armazém onde 2.750 toneladas de nitrato de amônio estavam armazenadas há seis anos sem "medidas de prevenção", segundo admitiu o próprio primeiro-ministro, Hassan Diab.

O presidente Michel Aoun, cada vez mais contestado, rejeitou uma investigação internacional. E as autoridades não informaram sobre o andamento da investigação local.

Diante da magnitude da tragédia e da raiva de uma população cansada, a ministra da Justiça, Marie-Claude Najm, apresentou sua renúncia, a terceira a deixar o governo após a ministra da Informação, Manal Abdel Samad, e do ministro do Meio Ambiente, Damianos Kattar.

Najm foi criticada na quinta-feira ao visitar o devastado distrito de Gemmayzé, nas proximidades do porto, poucas horas depois de um deslocamento ao mesmo setor do presidente francês Emmanuel Macron, recebido como um "herói".

- "Uma única pessoa" -

"A renúncia de ministros não é suficiente. Eles devem ser responsabilizados", disse Michelle, uma jovem manifestante que perdeu uma amiga na explosão.

"Queremos um tribunal internacional que nos diga quem os matou, porque eles (os líderes políticos) vão encobrir o caso", considerou.

De acordo com a Constituição, o governo cai se mais de um terço de seus membros renunciar. A imprensa local diz que outros ministros do governo de 20 membros, que devem se reunir à tarde, podem abandonar o barco.

Hassan Diab havia indicado que estava pronto para permanecer no cargo por dois meses, até a organização de eleições antecipadas em um país dominado pelo movimento armado do Hezbollah, um aliado do Irã e do regime sírio de Bashar al-Assad.

Durante as manifestações de sábado e domingo, reprimidas pelas forças de segurança, os manifestantes pediram "vingança" contra a classe política totalmente desacreditada após a tragédia em um país já atingido por uma crise econômica sem precedentes agravada pela epidemia de Covid-19.

Eleições antecipadas não são uma das principais reivindicações das ruas, já que o Parlamento é controlado por forças tradicionais que elaboraram uma lei eleitoral cuidadosamente calibrada para servir aos seus interesses.

"Todos significa todos", proclamaram nos últimos dois dias os manifestantes, apelando à saída de todos os dirigentes. Efígies de muitos deles, incluindo de Michel Aoun e Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, foram penduradas em forcas durante os protestos.

"Há apenas uma pessoa que controla este país, é Hassan Nasrallah", afirmou um dos nove deputados que anunciou sua renúncia, Nadim Gemayel. "Para eleger um presidente, nomear um primeiro-ministro (...) você precisa da autorização de Hassan Nasrallah".

- "Buscas continuam" -

Enquanto os libaneses continuam enterrando seus mortos, as equipes de resgate perderam todas as esperanças de encontrar sobreviventes das explosões.

Para desespero das famílias de cerca de 20 desaparecidos que acusam as autoridades de terem demorado na organização das buscas.

"Exigimos que as buscas continuem", afirmou nas redes sociais Emilie Hasrouty, cujo irmão estaria sob os escombros.

Na noite de domingo, os moradores acenderam velas em um morro com vista para o porto, para homenagear as vítimas.

Ao mesmo tempo, violentos confrontos ocorreram no centro da cidade pelo segundo dia consecutivo entre manifestantes e forças de segurança que dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha.

O drama relançou a contestação popular desencadeada em 17 de outubro de 2019 para denunciar a corrupção dos dirigentes, mas que havia perdido o fôlego com a pandemia do coronavírus.

A comunidade internacional, que há anos clama por reformas e pelo combate à corrupção no governo libanês, mostrou claramente, durante uma videoconferência no domingo co-organizada pela França e a ONU, que não confia mais no regime.

Vários países anunciaram que vão distribuir "diretamente" à população os 252,7 milhões de euros de ajuda às vítimas das explosões.

E exigiram uma investigação "transparente" sobre as causas do desastre que deixou quase 300.000 desabrigados, aos quais o governo ainda não prestou assistência.

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