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O coveiro Gleibson Santos, de 36 anos, fez do cemitério o seu lar. Há quase 10 anos na profissão, Gleibson produz conteúdos no cemitério e publica no TikTok, Kwai e Youtube. 

Nas redes sociais, ele mostra a sua rotina e curiosidades sobre o cemitério, e chegou a publicar o vídeo da exumação do próprio pai, que tem mais de 93 mil visualizações no YouTube. Ao O Povo, ele contou que também fez o sepultamento do pai há cinco anos, e que a retirada dos restos mortais do túmulo foi uma decisão da família. 

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No vídeo, ele explica sobre a exumação e mostra os ossos do pai falecido. Em entrevista, ele confessou não ter sido um procedimento fácil, principalmente por se tratar do próprio pai. “A gente tenta ser forte, mas nós temos um sentimento para cada pessoa. Com o tempo, vai se tornando um sentimento passageiro, mas quando se fala do nosso pai, é um sentimento eterno”, afirmou. 

Ele disse, ainda, que não iria realizar o processo, mas colocou o profissional em primeiro lugar. “Quem realiza o serviço sou eu, não tinha como passar para outra pessoa”, explicou. 

Trajetória

O coveiro mora em Santo Amaro das Brotas, uma cidade pequena no interior de Sergipe. Antes de trabalhar no cemitério, ele chegou a ser candidato a vereador da cidade e chegou perto de ser eleito, mas perdeu por sete votos. 

Ele é bastante conhecido no município, seja pela candidatura a vereador ou pela atual profissão. “Sou praticamente uma pessoa pública”, brincou. 

Gleibson disse que sempre quis ser servidor público e viu uma oportunidade no concurso para coveiro. “Escolhi coveiro porque eu imaginei que ninguém ia querer”, disse. O concurso abriu duas vagas e ele ficou em terceiro, mas conseguiu ser empossado para trabalhar no cargo após alguns anos. “Eu tinha muito medo de defunto. Se eu parasse em frente uma funerária, eu não conseguia dormir”, revelou. 

No entanto, ao assumir a vaga no cemitério, ele passou um tempo para se adaptar. “Hoje, eu reconheço que morto não faz mal a ninguém. Mas, sim, os vivos”. 

Durante a trajetória na profissão, um dos períodos mais difíceis foi ter encontrado seu parceiro de trabalho que morava no cemitério morto. “Foi o momento que mais gerou impacto na minha profissão, porque nós éramos como uma família”. 

Um outro período difícil para ele foi no auge da pandemia da Covid-19, que chegou a matar quase 658 mil pessoas no Brasil, e cerca de 6.300 em Sergipe. “A gente ficava de plantão 24 horas, sem saber se estávamos sendo contaminados. Era um dos meus maiores medos”, relatou. 

No entanto, ele também contou ter vivido momentos bons na profissão. Uma delas foi uma pegadinha feita pelo vereador de Aracaju, Palhaço Soneca, no Dia de Finados. No dia da pegadinha, a funerária realizou um sepultamento com uma família. Gleibson e seu colega colocaram o caixão na capela para as despedidas e, na hora de enterrar o corpo, o falecido “ressuscitou”. 

“Quando estávamos levando até o túmulo, ele pulou do caixão. Eu nunca tinha visto uma cena daquela. Todo mundo correu, inclusive eu”, relembrou. 

Coveiro em Ação

“Coveiro em Ação” é como Gleibson se intitula nas redes sociais. Com mais de 55 mil seguidores no Kwai, quase 20 mil no TikTok, ele ainda busca audiência no YouTube, onde tem quase dois mil inscritos. 

“Essa profissão é tudo para mim. Ali, eu percebo que todos são iguais”, destacou. 

Nos aproximamos dos 14 meses da pandemia em Pernambuco e uma dúvida em relação aos 13.967 mil mortos pelo vírus ainda gera receio. O prazo para transferência dos corpos se esgota e as consequências de desenterrar tantas vítimas da infecção susta. Por outro lado, o colapso do sistema funerário obriga a desocupação das covas para novos falecidos.

Antes mesmo da crise sanitária, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) já indicava que os corpos fossem exumados e colocados em urnas dois anos após o sepultamento. A retirada dos mortos pelo vírus pode até criar certo temor pelo medo de uma nova demanda de reinfecções, mas o biomédico Pablo Gualberto ressalta que é praticamente impossível os corpos contaminarem novas pessoas.

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"O vírus obrigatoriamente para sobreviver, ele precisa de uma célula viva para poder se replicar. Se ele não tiver uma célula, ele sobrevive por muito pouco tempo", explica. O especialista acrescenta que a falta de oxigênio faz com que a célula não consiga produzir energia, logo, sua sobrevivência "é coisa de minutos ou no máximo uma hora".

---> Colapso funerário obriga homem a enterrar a tia no Recife

Pablo indica que a transmissão da Covid-19 é muito rápida, tanto que ocorre principalmente quando expelimos gotículas na fala. Já a chance de contágio por meio de contato em superfícies e objetos, como o próprio caixão, é ainda menor. "Quando você coloca isso para dentro de uma realidade em casa, em que você tá sempre limpando ou que tem incidência de luz solar, isso já cai bastante, a sobrevivência desse vírus em si", pontua.

Mesmo assim, coveiros e funcionários das funerárias devem ficar atentos ao manejo dos corpos e seus fluídos, que ainda podem transmitir a doença por apenas alguns dias. "No cadáver a gente pode ter fluidos, por exemplo, saliva, secreções e até o próprio sangue. Esses fluidos sim podem levar risco. Por isso os enterros são isolados”, complementa.

Na manhã da última quinta-feira (5), um coveiro foi morto a tiros no Cemitério de Belém de Maria, no bairro da Batateira, na Zona da Mata Sul de Pernambuco.

De acordo com relatos, quatro homens chegaram ao local em duas motos e efetuaram os disparos contra a vítima, de 28 anos, que trabalhava no local. A polícia civil investiga o caso.

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A Prefeitura de Ipatinga-MG foi condenada a indenizar um homem que enterrou o próprio pai por falta de coveiros no cemitério. A gestão deverá pagar R$ 5 mil por danos morais.

O filho afirmou no processo que pagou R$ 216,90 à prefeitura para o sepultamento no cemitério local. Na hora marcada, os coveiros não apareceram e ele precisou colocar o caixão na cova. 

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Segundo o autor da ação, houve descaso e negligência da prefeitura. Ele solicitou uma indenização de R$ 200 mil.

 A prefeitura alegou que o sepultamento ocorreu em um domingo e o único funcionário que atende o cemitério estava de folga. De acordo com o município, como há falta de funcionários, uma empresa auxilia a administração fazendo os enterros. No dia do sepultamento, entretanto, o diretor da empresa não foi encontrado pelo gerente do cemitério.

 O gerente disse ter ligado também para a proprietária de funerária responsável pelo velório, para que disponibilizasse funcionários para o serviço. O gerente argumento que tais atitudes demonstram que não houve negligência.

 Na primeira instância, a Prefeitura de Ipatinga foi condenada ao pagamento de R$ 15 mil. Ela recorreu e o valor, na segunda instância, foi modificado para R$ 5 mil.

O  Amazonas tem tido um crescimento preocupante de contaminações por coronavírus. Com 3.833 casos confirmados, sendo 71% deles na capital, Manaus, o estado também tem um alto número de mortes, 304 até agora. O aumento dos óbitos já causa um colapso nos sistemas de saúde e funerário da capital amazonense, com pouco espaço para condicionamento e sepultamento dos corpos. No último domingo (26), uma família precisou fazer o enterro do próprio parente por falta de coveiro. 

Com hospitais lotados e um alto número de mortes, a capital do Amazonas tem recorrido a algumas estratégias para dar conta da situação alarmante. Containers frigoríficos foram instalados nas áreas externas dos hospitais da cidade para acondicionar as vítimas fatais da Covid, após imagens de corpos amontoados nos corredores dos hospitais da cidade circularem pela internet. Nos cemitérios, valas comuns, chamadas de trincheiras, estão sendo abertas para os sepultamentos.

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O esforço, no entanto, não foi suficiente para a família de John Magno Máximo. O homem afirmou, em entrevista ao G1, que após a morte de seu pai, Joaquim Lopes da Silva, de 82 anos, precisou procurar pelo corpo dele durante três dias, se expondo nos frigoríficos do hospital. “Muitos corpos em cima do outro, sem identificação nenhuma. Nós tivemos que nos arriscar, tivemos que nos arriscar dentro do freezer, dentro do frigorífico para identificar nosso pai”, disse.

Além disso, a própria família teve que fazer o enterro do idoso, no Cemitério Nossa Senhora Aparecida, na capital, uma vez que no lugar não foram encontrados coveiros. “Nós mesmos estamos aterrando ele, porque não tem coveiro, não tem ninguém da administração, ninguém para nos ajudar".

Ainda de acordo com o G1, a Prefeitura de Manaus alegou ter se tratado de um caso isolado e vai apurar os fatos para tomar as medidas cabíveis. Segundo a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp) da capital amazonense, estão sendo realizados cerca de 100 enterros por dia na cidade, a maioria deles no cemitério público local, o Nossa Senhora Aparecida. Já o Sindicato das Empresas Funerárias do Estado do Amazonas (Sefeam) afirma que as empresas de Manaus têm estoque de urnas para mais dez dias apenas. 

 

 

Reeducandos foram contratados para realizar serviços no Cemitério Parque das Flores, em Tejipió, Zona Oeste do Recife, após o aumento da demanda com a chegada do novo coronavírus. Na última segunda-feira (13), 13 apenados do regime aberto iniciaram os trabalhos no local.

Os egressos selecionados estão fora do grupo de risco da Covid-19 e são acompanhados pelo Patronato Penitenciário, órgão vinculado à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos. Antes do início dos trabalhos, eles foram treinados e participaram do curso de Boas Práticas e Higiene, oferecido pela vigilância sanitária. 

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Entre as principais atividades exercidas pelos presos estão jardinagem, pintura, atendimento, serviços gerais nos velórios e ajudante de coveiro. O uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) como luva, máscara, boné, botas e fardamento é obrigatório.

A iniciativa é fruto de parceria entre a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos e a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb.) Atualmente, mais de 150 apenados trabalham em serviços essenciais no Recife, como varrição de ruas e manutenção de parques e cemitérios.

Um coveiro foi encontrado morto, na manhã do domingo (14), dentro do cemitério onde trabalhava. Henrique Antônio Sobrinho, de 52 anos, foi atingido por vários disparos de arma de fogo na região da cabeça.

O caso ocorreu no cemitério do município de Petrolândia, no Sertão de Pernambuco. Ainda não há informações sobre a motivação do crime.

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O corpo do coveiro foi encaminhado para o Instituto de Medicina Legal (IML). Informações preliminares apontam que Henrique possuía antecedente criminal por homicídio. A Polícia Civil investiga o caso.

 

Um coveiro que participava de um sepultamento em Pampas, capital da província de Tayacaja, no Peru, escorregou ao tentar baixar o caixão de madeira, e acabou caindo no túmulo. O caso ocorreu nesta segunda-feira (28) e foi divulgado pelo Extra Online.

A chuva fina durante a cerimônia, pode ter sido um dos motivos da gafe do coveiro. Para piorar, o ataúde ficou danificado e a tampa teve que ser removida. Com isso, foi necessário subir o caixão na tentativa de consertá-lo para que, enfim, o sepultamento fosse concluído.

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Confira:

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No Dia dos Finados, celebrado nesta quinta-feira (2), nada mais justo do que homenagear aqueles que têm um papel fundamental em um momento delicado e difícil para muitas pessoas: o coveiro. Um desses profissionais é Osmair Camargo Cândido, que exerce a atividade há mais de 25 anos. Mais conhecido como Fininho, ele se tornou exemplo nacional ao conseguir, através do seu trabalho, realizar um sonho de criança: se formar em filosofia. 

“Eu estava desempregado quando apareceu um concurso para uma empresa para entrar no ramo funerário antes de ser coveiro. Achei interessante e analisei a minha necessidade com a possibilidade. Isso me permitiu estudar filosofia depois. Desde menino que eu sempre pensei em estudar filosofia, eu nunca pensei em estudar outra coisa. Mas, com o tempo e com os estudos eu consegui criar um elo entre a filosofia e a minha atividade profissional”, contou Fininho durante participação no programa Conversa Com Bial. 

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O coveiro filósofo falou que, durante todos estes anos, já se emocionou profundamente diversas vezes. “Porque você vai sepultar um corpo sabendo que um dia você também será sepultado, então isso é um elo muito forte. Então, eu não posso querer um tratamento digno se eu não puder oferecer no momento. Eu tenho como objeto de trabalho uma coisa muito difícil como apanhá-lo [o cadáver] com as mãos. Eu tenho quer ter zelo, cuidado, eu tenho que dignificar o meu objeto de trabalho para com isso sair feliz”. 

“Eu não posso tratar um corpo como se ele fosse mercadoria, como se ele fosse qualquer coisa porque o coveiro tem uma coisa muito interessante que eu gostaria que todo mundo soubesse: ele tem como objeto de trabalho a morte. E o que é a morte? O silêncio, a morte é tida como a maior derrota, então quando você vê alguém morto logo chega alguém para dar um pitaco: morreu porque fumava, morreu porque bebia, a morte é uma derrota”. 

Também contou que a principal virtude que um coveiro pode ter é a discrição. “Ele tem que ter uma semi-ausência, deve ser discreto, eficiente, ter o feeling das coisas e tem que agir de um modo que não fira ainda mais as pessoas porque ali quando se está em uma situação dessa está tendo uma separação clara, ele vai se separar, mas não é daquele corpo, ele vai se separar de toda uma memória afetiva, então, essa memória afetiva, esses sentimentos estão muito além”, ressaltou ao também lamentar que o coveiro é um profissional “um tanto esquecido”. 

Fininho consegue conciliar os dois trabalhos e pretende ir longe: está elaborando um projeto de mestrado para apresentar na USP, com enfoque na utopia da igualdade, é fluente em alemão, e está escrevendo um livro sobre as memórias de um coveiro. 

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A fascinação pelos mistérios da morte sempre esteve presente na vida de Luzinete dos Anjos. Quando criança, enfeitava suas bonecas com flores e fazia sepultamentos de brincadeira. Também não deixava de acompanhar todos os velórios que aconteciam na cidade onde morava, Goiana, no Litoral de Pernambuco. Ela seguia os cortejos, entrava cemitério a dentro e só saía de lá no último pingo de lágrima dos parentes e amigos do morto. Esse gosto, considerado por alguns um tanto estranho, intrigou a mãe de Luzinete. “Menina, tu gosta tanto de enterro que qualquer dia um defunto vai te puxar pra cova”, dizia a mãe.

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A mãe de Luzinete estava certa. A garota, na época com seis anos, não chegou a ser puxada por um cadáver, mas de fato caiu numa cova. “De tanto eu acompanhar os enterros da cidade onde morava, certo dia acabei pisando numa cova com terra mole e caí dentro do buraco. A sorte foi que meus amiguinhos me puxaram! Daí por diante fiquei com um trauma terrível e não quis mais saber de enterros”, relata Luzinete. Mas o destino dela estava traçado. O trauma sumiu e, já adulta, Luzinete mais uma vez passou a conviver com a rotina dos velórios. Começou a trabalhar com serviços gerais no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife, e, vez ou outra, era convidada por familiares para fazer pequenas maquiagens nos corpos que estavam sendo velados. Até que veio um chamado oficial: Luzinete foi convidada para trabalhar no setor de tanatopraxia da empresa. Ela aceitou o convite, passou por diversas capacitações, dentro e fora de Pernambuco, e já completou dez anos como tanatopraxista. Hoje, inclusive, é coordenadora do setor.

“A tanatopraxia é a preparação do corpo para o velório através de produtos químicos e técnicas aprendidas em cursos de capacitação. O processo dura, em média, cerca de duas horas, e consiste na troca de líquidos por fluxos sanguíneos do corpo. A ideia é impedir a decomposição do corpo antes da realização do velório e do sepultamento. Também usamos algumas técnicas de maquiagem e reconstrução facial para dar uma naturalidade ao corpo”, explica Luzinete (foto abaixo). De acordo com a tanatopraxista, antes da maquiagem o cadáver passa por um banho, realizado com os mesmos produtos de limpeza utilizados em vida, como shampoo e condicionador.

Para Luzinete, o trabalho de preparação do corpo pode não acabar com a dor da perda dos familiares, mas tenta manter viva a imagem da pessoa em vida. “É muito bom ouvir dos familiares que a pessoa, depois de preparada, está com uma imagem bem parecida de quando ela estava viva. Certo dia preparei uma senhora que era muito festiva, pois era dona de uma boate. Antes de morrer, ela deixou tudo preparado para seu velório. Depois que ela morreu e o corpo chegou para ser preparado, vi que ela estava com um vestido belíssimo, cheio de brilho, do jeito que ela usava quando estava viva. Resolvi então fazer uma maquiagem mais forte, mas fiquei com um pouco de medo da família estranhar. Quando chamei o marido dela, ele aprovou de imediato e ficou muito alegre com a maquiagem. Outras pessoas da família também elogiaram, assim como os amigos. Alguns disseram que ela estava muito parecida quando ia para as festas. São fatos assim que me deixam muito feliz com meu trabalho”, conta Luzinete. Em média, o setor de tanatopraxia do Morada da Paz chega a preparar cerca de 200 corpos por mês.

O tanatopraxista cantor

Assim como Luzinete, Gustavo Machado sempre buscou perguntas sobre o que é a morte. Depois de perder a mãe, ele começou a estudar e questionar teorias que abordavam o universo do fim da vida. Toda essa curiosidade levou o rapaz a estudar a tanatopraxia e há 30 anos ele vive da preparação de corpos para sepultamentos. O curioso é que, durante o procedimento, ele canta bastante em meio aos corpos. Segundo ele, isso ajuda a tirar o estresse.

Desenvolto nas palavras e convicto de que é um dos melhores tanatopraxistas do Recife, Gustavo já trabalhou em inúmeras empresas localizadas nas imediações do Cemitério de Santo Amaro, no bairro de mesmo nome, área central da capital pernambucana. Segundo ele, independente de quanto trágica foi a morte de um indivíduo, não existe reconstituição difícil para tornar o cadáver visível. “Eu conheço técnicas que trazem uma ótima reconstituição para o cadáver. Não existe corpo difícil. O que existem são pessoas amadoras que enganam muita gente, dizendo que sabem fazer a tanatopraxia, mas na verdade não sabem de nada”, afirma Machado.

De acordo com o tanatopraxista, a preparação de um corpo é feita a partir de R$ 200, mas, dependendo da situação do cadáver e se o defunto será transportado para uma localidade distante, esse valor pode ficar muito mais caro. Gustavo Machado afirma que já preparou quase 35 mil corpos para enterros. No vídeo a seguir, veja mais depoimentos de Luzinete e Gustavo sobre o dia a dia da tanatopraxia.

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O coveiro

Um das mais tradicionais profissões que atuam com a morte é a função de coveiro. Responsáveis por cavar covas e jogar arreia sobre os corpos, eles são personagens marcantes nos sepultamentos. Muitos já não conseguem demonstrar tristeza pela dor dos familiares, graças aos muitos anos convivendo diariamente com as despedidas. Conhecido como Fiel, há 17 anos Genildo José dos Santos têm a missão de, 12 horas por dia, enterrar pessoas. Ele é um típico exemplo de coveiro que já não se emociona com os sepultamentos.

“De tanto ver e fazer enterro, a gente já sabe qual é o choro verdadeiro e qual é o choro falso. Nem todo mundo que vem para um sepultamento está triste de verdade, entendeu? Estou tão acostumado em fazer isso que já não sinto tristeza. Esse é um trabalho como outro qualquer e, como somos profissionais, já não é novidade enterrar o povo”, relata Genildo.

Mesmo sem se emocionar, como bom coveiro que é Genildo tem boas histórias de cemitério para contar. Boa parte delas é de autoria de amigos, mas ele não garante a veracidade. “Tem cara que diz que vê algumas coisas, mas não sei se é verdade. Não tenho como provar”, conta o coveiro, aos risos. Porém, ele alega que, após às 18h, existe um trecho do cemitério que causa arrepios. Mesmo assim, ele gosta do trabalho, não pensa em fazer outra coisa e já sabe como será seu enterro. “A morte é uma obrigação da vida. A gente vive e um dia teremos que morrer. Depois que vim trabalhar aqui passei a dar mais valor à vida. Nós precisamos viver intensamente porque, depois que a morte chega, a gente não faz mais nada”, diz o coveiro. 

 

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No dia de Finados, celebrado em 2 de Novembro, muitos vão aos cemitérios espalhados pelo Brasil com intuito de levar flores em homenagem aos falecidos. Mas, para manter os jazigos limpos e bem cuidados, há profissionais que ficam responsáveis, especialmente, para zelar pelo espaço e ajudar em momentos, normalmente, tristes, como os do enterro.

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Embora a profissão de coveiro possa parecer sinônimo de tristeza, esta não coincide com os sorrisos estampados no rosto de Genildo José dos Santos (esq.), de 60 anos, e de Raul da Silva (dir.), de 53. Eles trabalham no Cemitério de Santo Amaro, na área central do Recife há 16 e 26 anos, respectivamente.

“Ninguém dá valor ao que fazemos porque nosso papel é enterrar as pessoas. Já fomos xingados, chamados de ladrão e tudo, pois dizem que chegamos a roubar depois algo de valor que tenha sido colocado com o falecido. Mas o que a gente leva todo dia é o prazer de trabalhar, como em qualquer outra profissão, sempre com sorriso aberto em meio às tristezas das pessoas”, conta Genildo.

O coveiro ainda relata diversas situações que ele intitula como engraçadas no decorrer da profissão. “Vejo muita coisa por aqui, como por exemplo, briga de mulher com outra mulher por causa do homem que morreu. Elas choram, mas estão loucas atrás da pensão, do dinheiro do cara e eu só faço rir com isso”, lembra.

Histórias

Para Raul, as histórias que escutavam no início da profissão eram assustadoras. “Muitas vezes era para espantar mesmo a gente, pra ver se quem entrava aqui (no cemitério) não era medroso. Eu confesso que fiquei meio receoso, mas depois vi que era tudo besteira”, afirma.

Ainda há quem acredite que entrar em casa com roupas vindas do local podem trazer azar. Segundo os coveiros, em todo esse tempo de trabalho, eles sempre trocaram de roupa em Santo Amaro, chegaram em casa e nunca aconteceu nada demais. “São crendices populares que o pessoal acaba acreditando, não é?”, conta Genildo José. Ele confessa que tem medo apenas de uma coisa. "Tem uma rua aqui do cemitério que sempre que passo por ela, me arrepio. Não gosto mesmo, mas não sei o que é", relata.

O túmulo da Menina Sem Nome é o mais visitado de Santo Amaro, segundo os coveiros. Bonecas, brinquedos e orações são deixadas diariamente no jazigo. “Essa menina foi encontrada morta na Praia do Pina, na Zona Sul do Recife, em maio de 1970 e enterrada como indigente. Muitas pessoas vêm aqui para fazer promessas e depois agradecem as causas alcançadas. Tem até música que o pessoal canta para ela. É engraçado”, explica Raul.

O trabalho

Diariamente, o trabalho de dez coveiros em todo o território do cemitério se inicia às 6h da manhã e termina às 18h no regime de 12 horas por 36 de folga. Segundo os funcionários do local, a média de enterros por dia é de 25 pessoas. Quando não estão enterrando, os coveiros limpam o cemitério.

"Nós queríamos apenas que todo esse trabalho árduo que a gente faz fosse reconhecido pelas pessoas. Não somos tristes ou infelizes por trabalharmos aqui, apenas exercemos nossa profissão como qualquer outra e somos felizes, sim, fazendo isso. É um trabalho muito humano e corajoso", finaliza Raul.

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