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A Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) alertou que, nesta quarta-feira (4), um "distúrbio ondulatório do leste" se aproxima da costa do Estado, o que pode ocasionar chuvas com acumulados acima de 30 mm na Região Metropolitana do Recife (RMR) e Zona da Mata. Traduzindo os termos técnicos, a expectativa é de chuvas fortes nas próximas 24 horas. Um aviso como esse muda o dia de muitas pessoas, principalmente daquelas que não se sentem seguras dentro da própria casa.
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É o caso de muitos moradores de Casa Amarela, Alto José Bonifácio, Alto José do Pinho e Alto Santa Terezinha, na zona norte do Recife. Residentes de uma ocupação desordenada de morros, eles são vizinhos de grandes barreiras desprotegidas ou com lonas plásticas desgastadas.
De acordo com muitas dessas pessoas, a Prefeitura do Recife está à beira da omissão. Eles alegam que a Coordenadoria de Defesa Civil do Recife (Codecir) não é proativa, aparecendo só quando acionada. Dizem também não entender os critérios de obras, visto que algumas barreiras estão com muro de arrimo, outras com lonas, outras com plantações, mesmo estando adjacentes.
O morador do Alto de Santa Terezinha, Severino José da Silva, de 66 anos, diz que viver nos pontos altos da cidade tem suas dificuldades, mas que já se acostumou. “Viver no morro é melhor do que viver embaixo”, opina. “É complicado quando precisa de ambulância”, pondera o aposentado, notando que a partir de determinado trecho da rua não há mais espaço para veículos passarem.
Há cerca de dois anos, outro aposentado, o senhor José Pereira da Cunha, 71, caiu da barreira ao lado da casa. Ele lembra que foi socorrido graças a um vizinho que, de longe, com a ajuda de um binóculo, lhe viu cair. O acidente resultou em problemas de vista para José. “Minha irmã lutou muito para a prefeitura dar um jeito nessa barreira. Ela morreu tem trinta anos e nada foi resolvido”, comenta. Atualmente, o tal barranco está com lona, mas já danificada.
A porteira Natália Rejane Bonifácio, 28, divide uma pequena casa na encosta com duas irmãs e o filho de sete anos – a mãe mora na residência ao lado. “Eu tenho muito medo de que isso aqui caia. Tem muita casa por aqui do lado dos buracos”, lembra.
Também em outro morro da zona norte, há aproximadamente cinco anos, uma barreira cedeu. O deslizamento levou três casas. Agora restam algumas estruturas das moradias e uma placa de “Área de risco – proibido construir neste local”. A barreira que se formou tem resto velho de lonas e muito lixo. A dona de casa Joselina Muniz de Santana, 50, mora em frente a esse barranco e teme que o seu terreno diminua cada vez mais. “Eu queria sair daqui, mas não sei como”, resume.
A vontade de deixar o morro não é só de Joselina. Ela também foi expressada por Severino: “Eu até queria sair daqui, mas o pobre vai morar onde?”. Por José Pereira: “Tenho vontade de sair daqui, mas não tem jeito”. Por Natália: “Eu queria me mudar, mas a gente não tem condições”. Os morros estão habitados por insatisfeitos, que, sem condições de deixarem o local, se contentam com menos distúrbios ondulatórios do leste, menos chuvas fortes.
Poder público
Por meio de nota, a Secretaria Executiva de Defesa Civil do Recife (Sedec) afirma que atua com base no Plano Municipal de Redução de Risco (PMRR), que aponta a existência de 677 setores de risco no Recife. As áreas, conforme o órgão, são monitoradas e recebem ações como vistorias técnicas periódicas para acompanhar cada caso.
Sobre as lonas plásticas, a Secretaria garantiu que são colocadas diariamente nos pontos de risco identificados pelas equipes técnicas. “Neste ano, cerca de mil pontos já foram cobertos com aproximadamente 300 mil metros quadrados de lonas plásticas com o objetivo de reduzir o impacto da chuva e, assim, minimizar o risco de ocorrências”.
Através do Programa Parceria nos Morros, a Sedec confirma que concluiu 42 obras de pequeno e médio porte e cerca de 20 seguem em andamento em diversas localidades do Recife como Jardim Monteverde, Alto José do Pinho, Córrego do Inácio, Jordão, Bomba do Hemetério, entre outros.
A Defesa Civil também explicou que utiliza a geomanta impermeabilizante de PVC, com durabilidade de cinco anos, e é revestido com uma camada de proteção mecânica de cimento e pigmento na cor verde. O produto está sendo utilizado em 107 pontos de risco. O investimento foi de R$ 2 milhões e 400 mil, além dos R$ 150 milhões utilizados em 104 obras em áreas de encostas em todo o Recife.
Os moradores de áreas de risco podem solicitar a colocação de lonas através do 0800 081 3400.