Tópicos | Caso Flordelis

Aos 61 anos, Flordelis dos Santos de Souza está nas manchetes dos jornais por um crime, mas sua fama é muito anterior. Antes de frequentar o noticiário policial, a pastora lançou discos de música gospel, fez turnês nos EUA e Europa, recebeu homenagens. Já foi tema de filme, focado em torno de sua vocação missionária, de um livro pouco lisonjeiro (Flordelis: A Pastora do Diabo, que a acusa de capitalizar em cima da adoção de dezenas de crianças). Mais recentemente, se tornou protagonista de uma produção que foca o assassinato do seu marido, Anderson do Carmo (Flordelis: Questiona ou Adora), da Globoplay.

A cantora, pastora evangélica e ex-deputada federal foi condenada a 50 anos e 28 dias de prisão pelo assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, ocorrido em 16 de junho de 2019 na garagem da casa em que a família morava, em Niterói, região metropolitana do Rio. O julgamento, iniciado às 9h da última segunda-feira (7), acabou às 7h20 deste domingo (13).

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Nascida na favela do Jacarezinho, zona norte do Rio, Flordelis começou cedo a cantar em cultos evangélicos, ambiente em que desenvolveu fama e influência. Perdeu o pai e o irmão em um acidente de carro quando tinha 14 anos. Completou o ensino médio e trabalhou como balconista em uma padaria e professora de educação infantil. Também acompanhava a mãe, Carmozina Motta, em uma rotina evangélica, da qual participava cantando e tocando guitarra. Logo começou a realizar cultos.

Desde o início dos anos 1990, ainda no Jacarezinho, acolheu dezenas de crianças e adolescentes pobres, ainda que sem processos formais de adoção na Justiça. Certa vez, quando já vivia com Anderson, foram 37 menores, conforme relata, fugidos de uma chacina na Central do Brasil, no centro da cidade. Mas já na adolescência foi chamada de "a missionária do tráfico", por resgatar menores da marginalidade.

Aos 30 anos, recém-separada do primeiro marido e com três filhos biológicos (Simone, Flávio e Adriano), Flordelis conheceu Anderson, que na época tinha 14 anos e também era morador da comunidade. De início, ele se envolveu com Simone, que tinha 11 anos.

Diferentemente dos jovens que Flordelis acolhia, Anderson não tinha problemas com drogas nem crimes. Nascido e criado na comunidade, vivia com os pais e estava concluindo o ensino médio no Colégio Pedro II, tradicional escola federal no bairro de São Cristóvão. Também era jovem aprendiz no Banco do Brasil.

Na época, Flordelis e sua mãe já tinham aberto uma igreja, no Jacarezinho. Anderson se tornou líder do grupo de jovens. Não muito depois, e apesar da pouca idade, se tornou uma espécie de administrador da casa de Flordelis, visto como um líder pelos demais.

Dentre os jovens que ela acolheu, um deles - Wagner Andrade Pimenta, o Misael - passou a gravar os cultos ministrados por Flordelis e a fazer cópias em CD e DVD para vender nas igrejas por onde passavam. A parceria de Anderson e da cantora se consolidou enquanto ela pregava e ele transformava em dinheiro as pregações, que vendia pelas ruas.

Juntos, Flordelis e Anderson fundaram a Comunidade Evangélica Ministério Flordelis, em 1999, no Rocha, zona norte do Rio. Anderson era presidente da instituição. No início dos anos 2000, o ministério foi transferido para São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. A igreja chegou a ter cinco filiais.

Em 2007, com a influência florescendo nas igrejas evangélicas que criou, Flordelis fundou o Ifam (Instituto Flordelis de Apoio ao Menor). Seu trabalho de acolhimento estava ficando cada vez mais conhecido enquanto sua carreira como cantora decolava. Ela lançou quatro álbuns independentes -,

Com a carreira como pastora e cantora gospel em franca ascensão, a carioca foi tema do filme Flordelis - Basta uma palavra para mudar, que marcou o auge de sua fama. A produção teve a participação de atores famosos, como Marcello Antony (interpretando Anderson), Ana Furtado, Leticia Sabatella, Alinne Moraes, Bruna Marquezine, Reynaldo Gianecchini, Cauã Reymond e Deborah Secco. Eles doaram seus cachês à causa de Flordelis. O dinheiro arrecadado foi investido na construção de um centro de reabilitação para jovens e na compra de uma casa para a pastora.

Um ano depois do filme, graças a articulações de Anderson, Flordelis assinou com a gravadora evangélica MK Music, do senador Arolde de Oliveira, e lançou "Fogo e Unção". Além de produzir o álbum, Oliveira se tornou padrinho político dela.

Já em 2012 foi a vez do CD "Questiona ou Adora’', seu maior sucesso, com mais de 80 mil cópias vendidas e um disco de platina. Entre 2014 e 2018, lançou outros dois discos de estúdio, dois EPs (extended play) e um DVD. A partir daí, lotou shows no Brasil e no exterior - foram dez apresentações nos EUA e Canadá -, aliando música e pregação.

Flordelis afirmava ser mãe de 55 filhos, a maioria afetivos, e a desburocratização da adoção foi a bandeira que a elegeu deputada federal, pelo PSD, em 2018, na onda bolsonarista. Foi a quinta mais votada no estado, com 196.959 votos, feito importante para quem havia tentado vaga de vereadora em São Gonçalo, em 2004, recebendo pouco mais de 2 mil votos.

Em 2016, pelo PMDB, ela havia tentado concorrer à prefeitura de São Gonçalo e chegou a figurar como pré-candidata. Mas o principal nome da coligação foi o então prefeito Neílton Mulim (PR), que concorreu à reeleição e terminou em terceiro lugar.

Nenhum dos projetos de Flordelis como deputada teve grande impacto nem foi aprovado. Um dos textos define regras para o armazenamento de dados de clientes por operadoras de cartão de crédito e débito. Outro institui um sistema nacional para localização de pessoas desaparecidas e bens subtraídos.

Um terceiro reconhece os direitos do nascituro, inclusive os gerados por meio de estupro. Outro obriga a exibição de mensagens de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes por emissoras de rádio e TV antes e após a transmissão de conteúdo sexual.

Em Brasília, Flordelis estava sempre com o marido, que chegou a conseguir um crachá para circular no plenário da Câmara dos Deputados. Anderson fazia as articulações. Conseguiu que ela fosse recebida pela primeira-dama Michele Bolsonaro, no Palácio da Alvorada e pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Também foi do pastor a articulação de um seminário sobre adoção na Câmara dos Deputados, realizado pouco mais de duas semanas antes de sua morte.

O mandato de Flordelis como deputada foi cassado em agosto do ano passado, quando o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados aprovou, por 16 a 1, parecer nesse sentido. Depois, acabaria presa, na espiral que tragou o seu sucesso a partir do assassinato de Anderson.

A ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza disse neste sábado, 12, em interrogatório no Tribunal do Júri que o pastor Anderson do Carmo, assassinado em junho de 2019, a agrediu por um período de seu relacionamento, mas, depois parou e se limitou a um comportamento agressivo na "área sexual". Em linha com a estratégia da defesa, de atribuir a Anderson um comportamento abusivo com filhas e netas, Flordelis disse que desconfiava dos casos de assédio após o assassinato, mas não podia acreditar e só depois soube do que, segundo os advogados, ocorria.

"Ele (Anderson) me batia. Depois, ele parou com essa prática de me bater e se tornou uma coisa, assim, muito doída, sofrida. Ele voltou a ficar agressivo na área sexual. Meu marido só sentia prazer se me machucasse. Ele só chegava às vias de fato (orgasmo) se me machucasse", disse Flordelis, chorando, durante o julgamento realizado no Fórum de Niterói, na Região Metropolitana do Rio.

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A ex-deputada detalhou que Anderson o enforcava durante o ato sexual. Segundo ela, em uma das relações, chegou a desmaiar. A ré disse ainda estranhar o fato do marido voltar rapidamente a um estado de carinho após a violência sexual. "Depois que ele fazia essas coisas, simplesmente me chamava para deitar no peito dele e voltava ser carinhoso, como se nada tivesse acontecido", detalhou.

Flordelis disse que não entendia o comportamento sexual de Anderson. Atribuía-o aos problemas de infância e à "falta de apego familiar" de Carmo.

Estratégia

Aos jurados, a abordagem da defesa tem sugerido que o crime se restringiu a um grupo pequeno de filhos. Incluiria a suposta mandante, Simone dos Santos, o executor e réu confesso, Flávio dos Santos, e Lucas dos Santos, que ajudou na compra da pistola usada no assassinato. Segundo a defesa, o crime veio em reação aos abusos sexuais de Carmo.

O Ministério Público e o assistente de acusação questionam essa narrativa. Afirmam que houve envolvimento de Flordelis e um grupo maior de filhos, que inclui os interrogados neste sábado. Flordelis e os filhos foram orientados a não responder perguntas da acusação, somente indagações da defesa e dos jurados, vocalizadas pelo juízo.

Questionada pela advogada de defesa, Janira Rocha, por que não denunciou as agressões de Carmo nem pediu ajuda, Flordelis disse que se sujeitava ao comportamento violento de Anderson porque aprendeu assim na igreja e com a mãe. Esta sempre teria sido uma esposa submissa e a aconselhava nesse sentido, para "conversar com calma depois".

A ex-deputada endossou ao menos dois supostos episódios de abuso, com uma filha, Kelly, e com a neta Rayane dos Santos, também interrogada neste sábado. Ao fim do depoimento, que durou uma hora, Flordelis disse ter ficado chocada quando constatou, após o crime, que suas roupas íntimas eram idênticas às da filha Simone dos Santos, que também teria sido abusada por Carmo. Simone é atendida por outro grupo de advogados e tem disposição de confessar o mando do crime. Ela tem câncer.

Em seu depoimento, Rayane dos Santos, neta de Flordelis e sua assessora parlamentar na Câmara dos Deputados, disse que eram "hábitos de seu avô", o pastor Anderson do Carmo, "passar a mão, dar tapas na bunda e apertar o bico do peito".

Rayane disse que, em uma manhã de 2019, no apartamento funcional de Flordelis, em Brasília, ela acordou com Carmo deitado em cima de seu corpo, a alisando. Quando a mão do pastor chegava perto de sua vagina, detalhou, ela teria pedido que parasse.

Ele, então, disse que iria trabalhar e deixou o cômodo. A jovem também disse não ter contado a ninguém por medo de perder a posição no gabinete de Flordelis, em suas palavras, uma oportunidade dada por Carmo.

Choro

Para Flordelis, os jurados perguntaram se o choro era verdadeiro, ao que ela disse que sim, e se ela via com normalidade o fato de filhos afetivos se relacionarem. A ex-parlamentar disse que não via com bons olhos, mas que não podia impedir relações entre seus filhos, o que a investigação da Polícia Civil apontou como fato corriqueiro.

Após cinco dias de depoimentos de testemunhas, o interrogatório de Flordelis, três de seus filhos e uma neta começou na manhã deste sábado às 10h30 e deve avançar pelo dia, inclusive com início da etapa de debates entre Promotoria e defesa.

Foi a primeira vez em que Flordelis falou na presença dos sete jurados que julgam o caso no Tribunal do Júri. Ela e os filhos são acusados de homicídio triplamente qualificado cometido, homicídio duplamente qualificado tentado - por suposta tentativa de envenenamento de Carmo - falsificação de documento e associação criminosa armada.

No quinto dia do julgamento da pastora, cantora e ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza, de 61 anos, no fórum de Niterói (Região Metropolitana do Rio), nesta sexta-feira, 11, as sete últimas testemunhas de defesa da ré acusaram o pastor Anderson do Carmo (marido e de cujo assassinato a pastora está sendo acusada) de praticar assédio e abuso sexual contra filhas e netas afetivas, além de outras condutas reprováveis.

Duas netas de Flordelis, filhas biológicas de Simone dos Santos Oliveira e André Luiz de Oliveira, que também são réus nesse mesmo processo - Lorrayne dos Santos Oliveira e Rafaela dos Santos Oliveira - prestaram os depoimentos mais fortes contra a vítima.

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Rafaela contou que, em uma noite durante um período de férias em 2018 ou 2019, estava deitada no quarto que dividia com a mãe e outros quatro familiares. Foi quando alguém entrou, sentou-se em seu colchão, aos seus pés, e começou a passar as mãos pelo seu corpo. As outras pessoas estavam no quarto. Aparentemente dormiam.

"Senti uma mão subindo pela coxa e não conseguia reagir. Quando abri o olho vi o Niel (apelido do pastor Anderson) de blusa regata branca sentado", narrou a testemunha. "Ele subiu a mão pelas minhas coxas e introduziu o dedo, eu fechei a perna e virei para a parede."

Segundo Rafaela, quando ela girou o corpo, a cama de madeira fez barulho. Sua mãe despertou e identificou o pastor, que se assustou e se levantou. Anderson foi embora.

"Era época de férias, e eu não tinha aula no dia seguinte, então fiquei em casa, mas passei o dia fugindo da minha mãe, para não conversar sobre o que tinha acontecido. Quando ela perguntou se tinha acontecido algo na noite anterior, eu disse que não tinha acontecido nada", concluiu.

A irmã dela, Lorrayne, afirmou não ter sido vítima de abuso semelhante. Mas acusou o pastor de tentar leva-la a um motel, com o pretexto de almoçarem, em uma tarde em que estavam a caminho da igreja. Ela se recusou e não houve desdobramentos, segundo contou aos jurados. Lorrayne narrou outras supostas condutas reprováveis do pastor. Disse já ter sido alvo de tentativa de agressão por ele. Flordelis teria interrompido essa briga.

Lorrayne foi questionada pelo MP sobre a razão de não ter relatado os supostos abusos de Anderson à Polícia Civil, durante o interrogatório. Disse que, até a morte do pastor, não considerava a conduta do pastor abusiva. Ela afirmou ter tomado consciência de que se tratava de abusos pela advogada Janira Rocha. Ela assumiu como uma das advogadas de defesa de Flordelis após o crime.

Para o advogado Ângelo Máximo, assistente de acusação, a afirmação de Lorrayne de que a conduta do pastor só foi considerada inadequada depois de sua morte contradiz a suposta tese da defesa de que o comportamento abusivo dele teria sido causa do crime. "Essa tese foi derrubada pela afirmação da Lorrayne", afirmou Máximo ao fim do depoimento.

O advogado Rodrigo Faucz, um dos advogados de defesa, afirmou que "ficou bem clara a conduta de predador sexual do pastor". "Não há nenhuma prova concreta de que os réus cometeram o homicídio", afirmou

O julgamento recomeça às 10h deste sábado, com a oitiva dos cinco réus - Flordelis, Simone, André, Marzy Teixeira da Silva (outra filha afetiva de Flordelis) e Rayane dos Santos Oliveira, neta de Flordelis. Depois haverá debates entre a defesa e a acusação, e o julgamento pode terminar no domingo.

Durante a investigação da Polícia Civil, Lorrayne foi acusada por um mototaxista de ter jogado três celulares no mar. Os aparelhos seriam de Anderson, de Flordelis e de Flávio, filho do casal já condenado por disparar os tiros que mataram o pastor. Interrogada pelo Ministério Público, Lorrayne admitiu ter ido até a praia de Piratininga, em Niterói, com o motorista, mas negou ter dispensado qualquer celular. O telefone de Anderson desapareceu. Nunca foi localizado pela polícia.

A pastora, cantora e ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza, de 61 anos, que está sendo julgada no fórum de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, pela morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, teve uma crise de choro e precisou ser retirada do auditório durante o depoimento da terceira testemunha de defesa, o desembargador Siro Darlan, pouco antes das 17h desta quinta-feira, 10. Até as 18h30 ela não havia retornado ao auditório.

Aos prantos, enquanto era amparada por advogados de defesa, ela pronunciou algumas palavras: "Me perdoa, doutor Siro, obrigada por tudo. Sou inocente, estou envergonhada", disse a pastora. O desembargador, que estava a poucos metros dela, não se manifestou.

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Darlan foi juiz da 1ª Vara da Infância e Adolescência do Rio de Janeiro de 1990 até 2004, quando foi alçado a desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio, cargo que ocupa até hoje. Durante os 14 anos em que foi responsável pelas causas cíveis ligadas a crianças e adolescentes em todo o município do Rio, teve bastante contato com Flordelis, com quem continuou convivendo socialmente depois. Em seu depoimento, ele teceu elogios à conduta dela até 2004.

"Quando assumiu a 1ª Vara, encontrei mandado de busca e apreensão do juiz anterior contra uma mulher negra e favelada que então tinha sob sua guarda cerca de 25 crianças, todas elas (morando) num pequeno barraco da favela do Jacarezinho (zona norte do Rio)", afirmou o desembargador. "Mandei cumprir essa ordem de busca e apreensão, porque até então ninguém sabia quem eram essas crianças e em que circunstâncias elas estavam. Mas os oficiais de justiça não conseguiam cumprir, porque a favela já era tomada pelo tráfico. Nesse ínterim fui procurado por dois empresários que me indagaram como podiam ajudar Flordelis para que ela deixasse de ser perseguida", narrou.

"Respondi: ‘Primeiro ela tem que dizer ao Judiciário onde recolheu crianças, regularizar a documentação delas. Depois ela tem que abrigar crianças num espaço adequado’. Eles perguntaram: "Quanto tempo o senhor nos dá pra tomar essas providências?" Eu: ‘30 dias’. Trinta dias depois, os empresários me convidaram para visitar uma casa na avenida Paulo de Frontin, no Rio Comprido (região central do Rio), e foi uma boa surpresa ver que em parte nossas exigências havia sido cumpridas", relembrou Darlan.

"O essencial, que era acolhimento, tratamento digno, as crianças tinham. Nem todas as exigências foram cumpridas, mas elas estavam muito bem cuidadas, bem tratadas, e essa senhora estava fazendo o que o Estado, o município nunca havia conseguido: uma família substituta. Até 2004, a família estava pelo menos tratando as crianças com dignidade e respeito. Depois mudei de cargo", afirmou. Darlan relatou que a regularização documental das crianças não foi cumprida, durante sua gestão como juiz, mas que nenhuma outra família reclamou a ausência delas, então a princípio se tratava de crianças abandonadas.

O desembargador não foi questionado sobre o crime em si, até porque não o testemunhou. Disse que, dois dias antes, o pastor Anderson havia ligado para ele e convidado para uma reunião, para debater projetos de lei relacionados aos direitos de crianças e adolescentes que Flordelis pretendia apresentar na Câmara dos Deputados.

"Mas eu estava iniciando uma viagem pela França e combinamos de conversar dali a 30 dias. Dois dias depois eu soube do desastre", afirmou, referindo-se à morte do pastor. "Quando eu o conheci ele era um acolhido, uma das crianças abrigadas pela Flor. Depois eles se casaram e ele virou o CEO, o gerentaço do projeto ‘família Flordelis’. A Flor era a grande protagonista, mas o Anderson era quem comandava, era muito inteligente. Ela era tímida, sequer falava comigo, falava de cabeça baixa", narrou.

O julgamento continua na noite desta quinta-feira, com a oitiva de outras testemunhas de defesa.

A nora da ex-deputada e pastora evangélica Flordelis dos Santos de Souza, Luana Vedovi, testemunha de acusação no julgamento do assassinato do pastor Anderson do Carmo, afirmou em depoimento na manhã desta quarta-feira, 9, que a ex-parlamentar disse que teria quebrado o celular da vítima e jogado os destroços no mar.

Segundo Luana, a ré confidenciou a ela e a dois filhos -, o marido, Wagner de Andrade, conhecido como Misael, e Daniel dos Santos -, ter destruído e descartado o aparelho. O objetivo seria apagar vestígios do crime.

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Uma das principais provas do processo, uma mensagem com o plano de matar o pastor encontrada no iPad dele, foi citada pela testemunha no decorrer do depoimento. Segundo Luana, ela teria confrontado Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva de Flordelis, acusada de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada, sobre a mensagem. A cunhada então teria contado que a própria Flordelis teria redigido o texto e pedido para que ela enviasse para Lucas César dos Santos - filho adotivo do casal e a primeira opção da ex-deputada para executar o marido.

Segundo Luana, na semana da morte do pastor, Flordelis a convocou com o marido para uma reunião na casa da família. Com receio de a polícia ter instalado escutas na casa, Flordelis escreveu um bilhete com a mensagem: "Ainda bem que quebramos o celular do Niel e jogamos no mar".

"Eu chamei a Marzy. E perguntei que história era essa no iPad do pastor. Queria entender. A Marzy chorou e começou a se abrir comigo. Ela (Marzy) explicou que a mãe, Flordelis, estava na cama escrevendo a mensagem e pediu para a Marzy enviar a mensagem para o Lucas. Por algum motivo não apagaram a mensagem. E a mensagem ficou no iPpad dele. Ele chegou em casa e viu", contou Luana no terceiro dia de julgamento, em Niterói.

O pastor teria confrontado Flordelis sobre o plano de assassinato encontrado no iPad. Segundo Luana, a ex-deputada teria pagado Marzy para assumir a autoria da mensagem.

"Quando o Niel (Anderson do Carmo) descobriu e foi questionar a Flor, a Marzy disse que ela deu um dinheiro, mandou assumir e sumir. Ela já tinha assumido o sumiço de um dinheiro do cofre da família antes", contou.

Flordelis achava que morte de Anderson resolveria problemas

A nora de Flordelis afirmou ainda no julgamento que Marzy estava convicta de que a morte de Anderson "resolveria todos os problemas da família".

"Ela falou: ‘matar o Niel vai resolver o problema de todo mundo’. Marzy estava com a mente feita de que matar o Niel iria resolver os problemas da casa dela", disse.

Logo após a morte do pastor Anderson, Luana e o marido, Wagner, teriam desconfiado da participação de Flordelis. Eles se lembraram da existência da mensagem com o plano de matá-lo e decidiram ir atrás do celular do pastor para fotografar a prova.

Ela contou que ela e o marido decidiram procurar a delegacia após fotografarem o texto com o plano do assassinato.

"Na segunda-feira, na hora do enterro, meu marido ficou com a mensagem do iPad na cabeça. Ele chegou para o (Márcio) Buba (amigo da família que ficou com o celular da vítima) e perguntou onde estava o celular do pastor. Depois do enterro, o Buba foi lá em casa. O Mizael achou a mensagem no bloco de notas do pastor. Enviou para o e-mail, bateu foto do celular. Nesse meio tempo, a Flor já estava ligando para pedir o celular do pastor", contou.

A pastora, cantora e ex-deputada federal Flordelis, que está sendo julgada pelo assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, ocorrido em junho de 2019 em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, passou mal durante o terceiro depoimento do segundo dia da sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri no fórum de Niterói, segundo um de seus advogados de defesa, Rodrigo Faucz.

"Ela não estava se sentindo bem. Tivemos de retirá-la. Ela ficou um pouco fora, tomou remédios, continuava não se sentindo bem, mas fez questão de voltar para o julgamento, porque não queria aparentar que estava fugindo. Ela ficou debilitada, mas ficou até o final", disse Faucz.

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De acordo com ele, a ré teve queda de pressão, formigamento no braço e dores na coluna.

Flordelis ficou cerca de uma hora fora do plenário.

O advogado reafirmou estar confiante na absolvição de sua cliente. "Não existem provas contra ela", repetiu Faucz, ao final do segundo dia de julgamento.

Responsável pelas investigações do assassinato do pastor Anderson do Carmo, a delegada Bárbara Lomba afirmou em depoimento nesta segunda, 7, que provas do crime teriam sido queimadas no quintal da casa onde a família morava, em Pendotiba, Niterói.

Segundo Lomba, primeira testemunha ouvida no julgamento, os policiais da Delegacia de Homicídios de Niterói, onde era lotada à época do crime, encontraram apenas cinzas no terreno da casa da família durante as buscas por pistas do assassinato.

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Ao depor no primeiro dia do julgamento da ex-deputada e pastora evangélica Flordelis dos Santos de Souza, acusada de ter ordenado o assassinato do próprio marido, a policial também contou que os celulares da vítima, da ex-parlamentar e de Flávio dos Santos, filho biológico da ex-parlamentar, autor dos disparos contra Anderson, desapareceram.

Um dos advogados de defesa de Flordelis, Rodrigo Faucz, tentou contestar um aspecto da investigação da Polícia Civil, envolvendo as tentativas fracassadas de envenenar Anderson do Carmo. O defensor mostrou que, segundo o inquérito, a pastora fez pesquisas sobre venenos, na internet, em 2019, depois que, em 2018, o pastor fora internado em decorrência de tentativas de envenenamento.

Faucz disse que não faria sentido pesquisar sobre meios de envenenamento depois de supostamente já ter envenenado o alvo.

"Vai ver ela (Flordelis) queria envenenar mais alguém", ironizou Bárbara Lomba. Segundo ela, o fato de ter havido pesquisa posterior não invalida a acusação de envenenamento.

Apesar da afirmação da delegada, após o depoimento da policial o advogado de Flordelis demonstrou confiança na absolvição de seus clientes no caso.

"Não tem nada que acuse diretamente a Flordelis e os demais. O que eles (a acusação) têm são apenas achismos, indícios não comprovados. Com isso, vai ser muito difícil eles conseguirem provar a responsabilidade dos meus clientes. Inexiste prova, até porque não foram eles (que cometeram o crime)", afirmou.

A promotoria perguntou à ex-titular da especializada se Flordelis, ao depor na delegacia, teria relatado ter sido agredida pelo pastor. Segundo Bárbara, a ex-deputada disse que a relação com o marido era excelente. A ex-deputada teria dito que nunca sofreu nenhum tipo de intimidação.

Acusações

Vestida com uma camiseta branca, calça jeans, óculos e chinelos, Flordelis começou a ser julgada na manhã desta segunda-feira, 7, no Tribunal do Júri de Niterói, na região metropolitana do Rio. Denunciada como mandante do assassinato a tiros do marido, o pastor Anderson do Carmo, Flordelis é julgada ao lado de três filhos- dois adotivos e um biológico- e de uma neta. Todos são acusados de envolvimento no crime.

Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva de Flordelis, é acusada de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, responde pelos mesmos crimes de Marzy. Rayane dos Santos Oliveira, filha de Simone e neta de Flordelis, é acusada de homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada. André Luiz de Oliveira, filho adotivo de Flordelis, foi denunciado pelo uso de documento falso e associação criminosa armada.

O julgamento é presidido pela juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3.ª Vara Criminal de Niterói., e deve se estender até a próxima quarta ou quinta-feira, segundo estimam advogados que atuam no processo. O julgamento começou às 11h, duas horas após o previsto inicialmente.

Choro

Flordelis e os filhos choraram ao ver parentes que acompanham o júri. A mãe da ex-deputada, Carmozina Mota, chegou a se aproximar do local onde ela e os outros réus aguardavam o início da sessão. Os advogados dos acusados fizeram uma barreira para evitar que eles fossem fotografados.

O julgamento começou com a leitura da denúncia apresentada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). Após a leitura, a delegada Bárbara Lomba depôs. Anderson do Carmo foi morto em 16 de junho de 2019. Foi baleado mais de trinta vezes, na garagem da casa onde morava com sua mulher, Flordelis.

A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve nesta terça-feira, 26, a prisão preventiva da ex-deputada federal Flordelis. Ela é acusada de mandar matar o marido, o pastor Anderson do Carmo, e será levada a júri popular no próximo dia 9.

Flordelis está presa desde agosto do ano passado. A ordem foi dada dias após a cassação do seu mandato pelo plenário da Câmara. Com a perda do cargo, ela também deixou de ter direito à imunidade parlamentar, o que abriu caminho para que fosse mandada para a cadeia.

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Os ministros concluíram que a prisão preventiva foi decretada para preservar o andamento da investigação e não viram irregularidade na medida. O julgamento foi unânime.

"Há muito se mostrava presente a necessidade da prisão", defendeu o ministro Antonio Saldanha, relator do habeas corpus apresentado pela defesa da ex-deputada.

"A segregação antecipada foi decorrente de medidas cautelares que lhe foram impostas e tiveram que ser ampliadas paulatinamente pelo juízo, na medida em que se verificava a ineficácia das providências fixadas e o descaso absoluto da recorrente com a Justiça e com a apuração dos fatos", acrescentou.

O advogado Rodrigo Faucz, que assumiu a defesa da ex-deputada, diz que ela é vítima de um ‘linchamento moral’ e não teve oportunidade de se defender. Também afirmou que o caso é 'midiático' e que não há fundamentos para mantê-la na prisão.

"A defesa apenas pede para que se garanta um julgamento justo e um procedimento adequado, com paridade de armas e com respeito às normativas constitucionais", afirmou antes do julgamento.

Dois filhos da pastora e ex-deputada federal Flordelis dos Santos Souza começam a ser julgados na tarde desta terça-feira, 23, pelo assassinato do pastor Anderson do Carmo, marido da ex-parlamentar. Flávio dos Santos Rodrigues, de 38 anos, e Lucas Cézar dos Santos de Souza, de 20 anos, respondem por homicídio triplamente qualificado: por motivo torpe, usando meio cruel e sem dar chance de defesa à vítima. Serão submetidos ao Tribunal do Júri de Niterói, na região metropolitana do Rio onde o crime ocorreu, em 16 de junho de 2019.

Flavio e Lucas são os primeiros acusados do crime a serem julgados, dois anos, cinco meses e uma semana após o homicídio. Outras dez pessoas, inclusive a própria Flordelis, também respondem pelo mesmo assassinato, mas esses julgamentos ainda não têm data marcada. Ela recorre ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra a acusação.

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Filho biológico da ex-parlamentar, Flávio é acusado de ser ter dado os tiros que mataram Anderson. Lucas, que foi adotado por ela, responde por ter supostamente ajudado o irmão na compra da arma usada no crime. O julgamento será presidido pela juíza Nearis dos Santos Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói. Deve se estender por dois ou três dias.

Quem vai decidir pela condenação ou absolvição dos dois serão sete jurados. Eles serão sorteados a partir de uma lista de 25 cidadãos, composta pela Justiça. São pessoas comuns moradoras de Niterói, não necessariamente com conhecimentos jurídicos. Na audiência, dezessete pessoas serão ouvidas como testemunhas.

Pai de Anderson diz que espera justiça

O pai de Anderson do Carmo, Jorge de Souza, chegou ao fórum de Niterói por volta das 12h45. Emocionado, afirmou que espera que seja feita justiça. Souza é assistente de acusação, representado pelo advogado Ângelo Máximo.

"Nossa expectativa é de que Flávio finalmente aponte a mãe como mandante do crime", afirmou o advogado. O filho biológico confessou ter sido autor dos tiros que mataram Anderson do Carmo, em vídeo gravado na delegacia. Depois ele negou o crime e afirmou ter sido obrigado a confessar.

"No vídeo ele pede água e um funcionário (da delegacia) pergunta se ele quer gelada ou natural. Como pode depois afirmar que foi torturado, se até a temperatura da água ele pode escolher?", questionou o advogado.

O advogado de Flordelis, Rodrigo Faucz, também foi ao fórum para acompanhar o julgamento. Ele afirmou que nada do que se debata pode envolver sua cliente, que segundo ele é inocente. "Estamos aguardando os recursos ao STJ, para que se faça justiça", disse.

Flordelis teve o mandato cassado pela Câmara dos Deputados, em agosto de 2020. Desde o início das investigações, alega que não teve nenhum envolvimento com o assassinato do marido.

A ex-deputada federal Flordelis dos Santos Souza foi presa às 18h40 desta sexta-feira, 13, em sua casa, em Niterói (Região Metropolitana do Rio). Ela é acusada pelo Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ) de ser a mandante do assassinado do marido, o pastor Anderson do Carmo de Souza, ocorrido em 2019. A ordem de prisão foi determinada pela juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, titular da 3ª Vara Criminal de Niterói (Região Metropolitana do Rio), onde o processo tramita.

Ao ser detida, ela gravou um vídeo, divulgado em suas redes sociais, em que repete que é inocente. "Olá, gente, chegou o dia que ninguém desejaria chegar. Estou indo presa por algo que eu não fiz, por algo que eu não pratiquei. Eu não sei para quê, mas estou indo com força e com a força de vocês. Orem por mim. Orem, orem. Uma corrente de oração na internet. Busquem a Deus, está bom? Um beijo, amo vocês", diz Flordelis no vídeo.

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Em agosto de 2020, Flordelis e outras dez pessoas foram denunciadas pelo assassinato do pastor Anderson. Na época, Flordelis não teve sua prisão pedida por dispor de imunidade parlamentar. Na última quarta-feira, 11, a Câmara dos Deputados cassou o mandato de Flordelis, por quebra de decoro parlamentar. A decisão foi publicada no Diário Oficial da Câmara na última quinta-feira, 12, o que tornou oficial a cassação. Em seguida, o MP-RJ pediu a prisão da ex-parlamentar.

O Ministério Público do Rio de Janeiro pediu nesta sexta-feira, 13, a prisão preventiva da ex-deputada federal Flordelis. Ela foi denunciada em abril do ano passado pelo assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo de Souza, mas nunca chegou a ser presa em razão da imunidade parlamentar. Com a cassação do mandato aprovada nesta semana pelo plenário da Câmara dos Deputados, a Promotoria fluminense decidiu pleitear a preventiva.

Entre os argumentos usados pelo MP estão uma suposta tentativa de embaraçar as investigações e a "gravidade da conduta criminosa". Ela foi apontada na denúncia como a mentora intelectual do crime.

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"Ao longo de toda a persecução penal, que ainda não se findou, restou claro que a liberdade da ré colocava em risco tanto a instrução criminal quanto a aplicação da lei penal. Mesmo sendo cabível e necessária a prisão preventiva, a sua decretação não foi possível, restando apenas a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão, que, por sinal, nunca foram suficientes para o resguardo dos bens jurídicos", escreveu o promotor Lucas Caldas Gomes Gagliano, que assina o pedido.

Para o Ministério Público, a perda da imunidade parlamentar é uma oportunidade de equacionar as medidas cautelares impostas a Flordelis no curso do processo.

A Promotoria considera que elas foram muito brandas e "desproporcionais", levando em conta o crime investigado e a impossibilidade de prender a agora ex-deputada.

"A proporcionalidade das medidas cautelares aplicadas diante das condutas da ré em momento algum foi observada, na medida em que a prisão preventiva a todo o momento se mostrou a mais apropriada para resguardar a instrução e a aplicação da lei penal", lembrou o MP.

Habeas corpus

Antevendo a possibilidade de prisão, a defesa da ex-deputada entrou mais cedo com um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para tentar evitar uma eventual decisão desfavorável na Justiça do Rio.

Os advogados pedem que a juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3.ª Vara Criminal de Niterói, seja impedida de dar qualquer decisão no processo até que seja julgado um pedido de afastamento da magistrada feito no mês passado.

Um dia antes de ter seu destino político decidido pelos seus 512 colegas de Câmara Federal, a deputada Flordelis enviou uma carta, pedindo "uma chance", a todos os parlamentares.

"Uma chance para que eu possa me defender de um processo injusto de homicídio do meu próprio marido. Uma chance para que eu possa cumprir o mandato que eu fui legitimamente eleita. Uma chance para que minha dignidade seja, um dia, restabelecida", apela Flordelis na carta encaminhada por e-mail aos gabinetes parlamentares nesta terça-feira, 10.

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Flordelis é acusada de ser a mandante do assassinato de seu marido, o pastor Anderson do Carmo, ocorrido em 16 de junho de 2019, na porta da casa onde os dois viviam com os filhos, em Niterói (RJ). O casal havia conquistado notoriedade por ter criado 55 filhos, a maioria adotada. Na Câmara, o Conselho de Ética já votou e aprovou em junho deste ano, por 16 votos contra um, a perda do seu mandato. Ela sempre negou ser a mandante do crime. Ela é ré na Justiça e responde por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada. Flordelis não pode ser presa por causa da imunidade parlamentar e tem sido monitorada por tornozeleira eletrônica, desde o ano passado.

"Tenho 60 anos. Desde pequena eu sou evangelizadora e acolho crianças e adolescentes que estão na rua. Sempre fui muito pobre, o que não me impedia de partilhar o pouco que eu tinha, disposta a passar fome e frio para conseguir dar atenção às filhas e filhos de Deus", escreveu a deputada na carta enviada ontem.

A investigação durou mais de um ano e os responsáveis pelo inquérito concluíram que a parlamentar "foi a autora intelectual, a grande cabeça desse crime". A defesa de Flordelis nega o envolvimento dela e diz que a apuração foi "contraditória e espetaculosa".

Ainda na carta aos colegas, Flordelis demonstra o receio de ser presa. "Já avisaram que querem até me prender, mesmo sem condenação em primeira instância. Como sabemos e votamos aqui na Câmara dos Deputados, a prisão antes da condenação tem que ser por fato concreto que tenha acontecido no mesmo tempo do ato", diz. Os deputados votam em breve se Flordelis poderá ou não manter seu mandato parlamentar. Serão preciso no mínimo 257 votos para aprovar a cassação.

A deputada iniciou há pouco seu discurso de defesa no plenário. "Vocês colocarão a cabeça no travesseiro e vão se arrepender por condenar uma pessoa que não foi julgada", disse. "Ainda dá tempo de fazer justiça. Não me cassem."

A deputada federal Flordelis dos Santos de Souza (PSD-RJ) e mais nove réus acusados de participação na morte do pastor Anderson do Carmo irão a júri popular. A decisão é da juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, do 3º Tribunal do Júri de Niterói (RJ). Ainda não há data prevista para o julgamento.

Acusada de ser mandante do crime, ocorrido em junho de 2019, Flordelis foi denunciada por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

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Devido à imunidade parlamentar, a deputada só poderá ser presa se for condenada e quando a ação transitar em julgado, com todos os recursos finalizados.

O Estadão procurou a defesa de Flordelis para se manifestar sobre a decisão da Justiça, mas ainda não obteve retorno. A deputada sempre negou envolvimento com o crime.

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) divulgou nesta quinta-feira (4) ter apresentado as alegações finais no processo em que a deputada federal Flordelis (PSD-RJ) é acusada de ser a mandante do homicídio de seu marido, o pastor Anderson do Carmo, morto em 16 de junho de 2019 na porta de casa, em Niterói (Região Metropolitana do Rio). O MP-RJ pede à Justiça que submeta Flordelis e outros oito réus a júri popular. A 3ª Vara Criminal de Niterói vai decidir se determina o júri ou toma outra providência.

Durante o processo foram realizadas seis audiências, nas quais foram ouvidas aproximadamente 30 testemunhas e interrogados todos os acusados. O MP-RJ considerou ter "sólidos e veementes elementos" de prova e pediu que cinco pessoas sejam julgadas por homicídio triplamente qualificado: Flordelis, sua filha Simone dos Santos Rodrigues, sua filha afetiva Marzy Teixeira da Silva, sua neta Rayane dos Santos Oliveira e seu filho afetivo e ex-genro André Luiz de Oliveira. Os outros réus devem responder por outros crimes, que são conexos com o homicídio, e por isso o julgamento deve caber ao mesmo Tribunal do Júri, defende o MP-RJ.

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Na manifestação final do MP-RJ, o promotor de Justiça Carlos Gustavo Coelho de Andrade, titular da Promotoria de Justiça junto à 3ª Vara Criminal de Niterói - Tribunal do Júri, pediu que Flordelis, Simone, Marzy e André Luiz sejam julgadas pelo Tribunal do Júri também pela tentativa de homicídio da vítima por envenenamento, conduta supostamente praticada entre maio de 2018 e junho de 2019.

Pediu, também, que Flordelis e seus filhos Adriano dos Santos Rodrigues e Flávio dos Santos Rodrigues, além de Marcos Siqueira Costa e sua esposa Andrea Santos Maia, sejam levados a júri popular em razão de crimes de uso de documento falso. Por fim, pediu que Flordelis, Simone, Marzy, André, Rayane, Flávio, Adriano, Marcos e Andrea respondam por associação criminosa armada.

Na manifestação, o MP-RJ requereu ainda que dois réus não sejam levados a júri por dois crimes: Lucas pela acusação de associação criminosa e Carlos Ubiraci por participação no homicídio.

Nas alegações finais, o promotor relata a complexidade do caso, que envolveu 11 réus acusados de tentativa de homicídio, homicídio, associação criminosa e uso de documento falso. Segundo a denúncia, Flordelis foi responsável por arquitetar o homicídio, arregimentar e convencer o executor direto e demais acusados a participarem do crime e simular um latrocínio (roubo seguido de morte). A deputada também financiou a compra da arma e avisou da chegada da vítima no local em que foi executada, segundo a denúncia.

O motivo do crime seria o fato de a vítima manter rigoroso controle das finanças familiares e administrar os conflitos de forma rígida, não permitindo tratamento privilegiado das pessoas mais próximas a Flordelis, em detrimento de outros membros da numerosa família.

As condutas dos demais denunciados são descritas em diferentes etapas, como no planejamento, incentivo e convencimento para a execução do crime, assim como em tentativas de homicídios anteriores ao fato consumado, pela administração de veneno na comida e na bebida da vítima, ao menos seis vezes, sem sucesso, segundo apontaram as investigações.

A reportagem tentou ouvir representantes da deputada federal a respeito da manifestação do MP-RJ, mas até a publicação desta reportagem não obteve resposta.

A deputada federal Flordelis (PSD-RJ) participou de audiência no Fórum de Niteroi nesta sexta-feira, 18, e admitiu pela primeira vez que sabia da existência de um plano para assassinar o marido, o pastor Anderson do Carmo. A parlamentar, contudo, negou mais uma vez qualquer participação no crime.

A pastora declarou que um dos filhos adotivos, Lucas dos Santos, um dos que estão presos acusados pelo assassinato, mostrou uma mensagem de celular em que havia um pedido para que ele matasse Anderson. A mensagem havia sido enviada do próprio celular de Flordelis. Ela, contudo, alega que o texto fora escrito por uma de suas filhas afetivas, Marzy, que também está presa.

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Ainda segundo a versão de Flordelis, ela chegou a mostrar a mensagem para o marido. "Pedi para ir a uma delegacia. Ele sentou comigo e falou que ele resolveria, pois não queria exposição com o nome dele", disse a deputada na audiência desta sexta-feira, de acordo com o jornal Extra. Segundo ela, Anderson de fato conversou com Marzy. A filha adotiva, por sua vez, teria dito que escreveu aquilo por estar com raiva dele.

"Matar meu marido seria destruir minha própria vida. Depois de Deus e de minha mãe, ele era a pessoa mais importante da minha vida. Matá-lo foi quebrar minhas pernas, meus braços. Quem fez isso, quero que seja encontrado. Faço um apelo ao Ministério Público. Que encontre os culpados. Não mataram só meu marido. Parte de mim também morre", defendeu-se a deputada.

Esta é a quinta audiência do caso. Ao todo, dez pessoas deverão ser ouvidas, mas a tendência é que alguns dos depoimentos fiquem para a próxima semana.

Acusada de matar o marido, a deputada federal Flordelis (PSD-RJ), de 59 anos, passou a usar tornozeleira eletrônica na tarde desta quinta-feira (8) cumprindo ordem judicial de 18 de setembro. Ela tinha até as 17h30 desta quinta-feira para ir até uma unidade da secretaria de Administração Penitenciária (Seap) do Estado do Rio e instalar o aparelho.

Por volta das 15h Flordelis chegou à sede da Seap em São Gonçalo (Região Metropolitana do Rio), de onde saiu cerca de 10 minutos depois, usando a tornozeleira, segundo informou a Seap. Flordelis "recebeu as orientações necessárias e cumpriu todos os trâmites de praxe para o cumprimento da decisão judicial", afirmou a pasta, em nota.

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A parlamentar, que é pastora evangélica e cantora gospel, é considerada pela Polícia Civil do Rio a mandante do assassinato do próprio marido, o pastor Anderson do Carmo, morto em 16 de junho de 2019 ao chegar em casa, em Niterói (Região Metropolitana do Rio). Ele tinha 42 anos.

Em 24 de agosto, Flordelis foi denunciada pelo Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ) por quatro crimes consumados e um tentado: homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio duplamente qualificado, associação criminosa, uso de documento falso e falsidade ideológica. Com imunidade parlamentar, ela não foi presa. Sete filhos e uma neta de Flordelis, também denunciados pelos crimes, estão presos.

Em 18 de setembro, a pedido do MP-RJ, a juíza Nearis dos Santos Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, determinou que a deputada use tornozeleira e não saia de casa das 23h às 6h. A ordem judicial, no entanto, só tem eficácia a partir da intimação da parlamentar. Como os oficiais de justiça não conseguiam localizar Flordelis, em 1 de outubro a juíza determinou que ela fosse intimada mesmo fora do horário de expediente do TJ-RJ e "se necessário com auxílio da força policial".

A parlamentar só foi intimada às 19h de terça-feira (6), em sua casa em Niterói, e tinha até o fim da tarde desta quinta-feira para instalar a tornozeleira.

Acusada de matar o marido, a deputada federal Flordelis (PSD-RJ), de 59 anos, foi intimada na noite de terça-feira, 6, pela Justiça do Rio de Janeiro a se apresentar no prazo de até 48 horas à secretaria de Administração Penitenciária (Seap) do Estado do Rio para instalar uma tornozeleira eletrônica.

A parlamentar, que é pastora evangélica e cantora gospel, é considerada pela Polícia Civil do Rio a mandante do assassinato do próprio marido, o pastor Anderson do Carmo, morto em 16 de junho de 2019 ao chegar em casa, em Niterói (Região Metropolitana do Rio). Ele tinha 42 anos.

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Em 24 de agosto, Flordelis foi denunciada pelo Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ) por quatro crimes consumados e um tentado: homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio duplamente qualificado, associação criminosa, uso de documento falso e falsidade ideológica. Com imunidade parlamentar, ela não foi presa. Sete filhos e uma neta de Flordelis, também denunciados pelos crimes, estão presos.

Em 18 de setembro, a pedido do MP-RJ, a juíza Nearis dos Santos Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, determinou que a deputada use tornozeleira e não saia de casa das 23h às 6h. A ordem judicial, no entanto, só tem eficácia a partir da intimação da parlamentar. Como os oficiais de justiça não conseguiam localizar Flordelis, em 1 de outubro a juíza determinou que ela fosse intimada mesmo fora do horário de expediente do TJ-RJ e "se necessário com auxílio da força policial".

A parlamentar só foi intimada às 19h desta terça-feira (fora do horário de expediente do TJ-RJ e 18 dias após a ordem judicial), em sua casa em Niterói. Ela tem até as 19h de quinta-feira (8) para instalar a tornozeleira.

O corregedor da Câmara dos Deputados, deputado Paulo Bengtson (PTB-PA), entregou, nesta quinta-feira, 1º, parecer favorável à continuidade do processo disciplinar que pode levar à cassação do mandato da deputada Flordelis (PSD-RJ), acusada de matar o marido. O documento foi entregue na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

A parlamentar foi denunciada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, morto em junho do ano passado. Na semana passada, Flordelis prestou depoimento à Corregedoria da Câmara por cerca de duas horas. Segundo Bengtson, durante o depoimento, ela negou todos os fatos e disse que não quebrou o decoro parlamentar, mas não apresentou nenhuma prova.

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"Nós temos ali inúmeros indícios de prova. O que ela não conseguiu trazer para a corregedoria foi a negativa dessas provas", disse. "Fizemos as 10 perguntas, ela explicou, falou direitinho, mas não trouxe as provas daquilo que falou. Então, para mim, fica muito difícil não dar continuidade a um processo já que ela tem ausência de provas contrárias a acusação que ela tem", disse.

A partir de agora, a Mesa Diretora vai decidir se envia o processo ao Conselho de Ética da Câmara, colegiado responsável por analisar a conduta dos parlamentares e recomendar a cassação. Cabe ao plenário, no entanto, decidir se a acusação de assassinato é ou não motivo para perda do mandato de deputada.

O corregedor da Câmara, deputado Paulo Bengston (PTB-AM), entregou à deputada Flordelis (PSD-RJ) notificação sobre processo disciplinar aberto contra ela. Bengston foi até o apartamento funcional da parlamentar em Brasília para fazer a entrega. "Como ela já estava em casa, ouvimos ela informalmente", disse Bengston ao Broadcast Político, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. O corregedor ficou mais de uma hora na residência da parlamentar. Ela estava acompanhada de um advogado e de uma assessora.

Flordelis era aguardada nesta manhã na Câmara, mas ela não compareceu ao departamento. Com isso, Bengtson decidiu seguir para o apartamento funcional da deputada. Agora, ela terá cinco dias para apresentar sua defesa por escrito à Corregedoria e, depois, o corregedor tem até 45 dias para dar o seu parecer sobre o caso. Esse parecer é entregue à Mesa Diretora, que pode decidir por enviar o caso ao Conselho de Ética da Câmara. O resultado pode ser a cassação do mandato de Flordelis. "A gente já tem o processo adiantado aqui na corregedoria. Fizemos uma força-tarefa, já está bem adiantado. Então, creio que em 10, 15 dias, no mais tardar, já temos o parecer pronto", disse Bengtson.

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Filiada ao Partido Social Democrático (PSD), Flordelis recebeu 196.959 votos na eleição de 2018, tornando-se a deputada federal com o quinto melhor desempenho no Rio de Janeiro, o maior entre candidatas mulheres. Para a polícia, também foi nesse período que o plano de matar o marido Anderson do Carmo começava a ser posto em ação, conforme documentos oficiais a que o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso, incluindo o relatório final da Polícia Civil, duas denúncias oferecidas pela promotoria, além de depoimentos juntados aos autos.

Antes de ser alçada à política nacional, Flordelis já havia concorrido a vereadora de São Gonçalo duas vezes, em 2008 e 2012, sem sucesso.

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Com a ascensão repentina, o protagonismo da bancada evangélica e elogios recebidos de figuras relevantes, a exemplo da primeira-dama Michelle Bolsonaro e da ministra Damares Alves, no entanto, ela e o marido passaram a figurar entre os cotados para a disputa da prefeitura em 2020.

Considerado o principal mentor da mulher, Anderson foi muito ativo durante a campanha. Naquele pleito, a família também conseguiria emplacar um filho adotivo na Câmara de São Gonçalo. Era Wagner Andrade Pimenta, o Misael da Flordelis, de 41 anos - que após o assassinato se voltou contra a mãe e passou a adotar apenas o nome de Misael. Em Brasília, Anderson era atuante nos bastidores e administrava verbas de gabinete da deputada federal, além de continuar gerenciando as carreiras eclesiástica e artística da mulher. O controle financeiro exercido pelo pastor, que já incomodava parte da família antes, foi escalonando e ganhou força após Flordelis assumir o mandato, segundo os investigadores. Para o grupo, Anderson ficava com muito e repassava muito pouco.

Flordelis teria começado a cooptar parentes do núcleo de confiança em meados de 2018, o que resultaria em uma sequência de tentativas frustradas de homicídio, diz a acusação. A lista inclui envenenamentos em série, procura por pistoleiros e simulações de assaltos. "Anderson era excepcional para gerir os negócios, mas também muito rigoroso para dirimir os conflitos da casa. Cortava mesada, punia", diz o delegado Allan Duarte, titular da Divisão de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, responsável pelo inquérito. "Isso provocou uma revolta, uma indignação por parte daqueles que se sentiram injustiçados, até o momento que uma facção, de fato, se formou dentro da família."

Sete dos oito parentes denunciados por associação criminosa pelo Ministério Público fazem parte da chamada "primeira geração" da casa. Ao menos dois deles também eram assessores parlamentares.

O plano

Uma conversa entre Flordelis e o filho socioafetivo André Luiz de Oliveira, o Bigode, em outubro de 2018, é considerada reveladora pela polícia. Por WhatsApp, a pastora manda mensagens pedindo ajuda ao filho para "pôr um fim nisso". "Cara, tô te pedindo, te implorando. Até quando vamos ter que suportar esse traste no nosso meio? Independência financeira é pouco."

Em dezembro, Flordelis escreve mais uma vez a André. "Fazer mais o quê? Separar eu não posso, porque vai escandalizar o nome de Deus", diz a mensagem. Com sintomas de vômito, febre e diarreia, Anderson deu entrada seis vezes no hospital entre abril e outubro daquele ano. Para a investigação, o intervalo coincide com "as persistentes tentativas de envenenamento" do pastor.

No período, outros dois familiares também chegaram a passar mal. Um deles após aceitar uma bebida oferecida por Anderson e o outro por consumir um leite fermentado que estava aberto na geladeira. Ex-namorada dos pastor e filha biológica de Flordelis, Simone dos Santos Rodrigues teria confessado ao irmão Luan Santos que participava das tentativas de envenenamento. "Mas o bicho é ruim de morrer" é a frase atribuída à acusada.

Após quebra de sigilo do celular, a polícia descobriu que ela pesquisou na internet termos como "cianeto nos alimentos" e "cianeto onde comprar".

A filha adotiva Marzy Teixeira da Silva, de 36 anos, também teria procurado "veneno para matar pessoa que seja letal fácil de comprar" e "cianureto de cobre PA comprar no Rio", segundo a polícia. Mais tarde, ela faria buscas por "alguém da barra pesada" e "assassino onde achar".

Para a acusação, esse é um dos indícios de que, como o envenenamento não surtia o efeito esperado, o plano teria evoluído depois para simulação de um latrocínio. Segundo testemunha ouvida no inquérito, Rayane dos Santos Oliveira (filha adotiva de Simone e neta de Flordelis) teria questionado se ela conhecia "algum bandido" e disse que estaria "precisando (de um) urgente".

Embora a moça tenha respondido que não, a família teria conseguido contratar um pistoleiro. De acordo com a investigação, o criminoso chegou a ir à porta do Ministério Flordelis para executar o serviço, mas Anderson teria escapado por sorte. Sem saber da emboscada, o pastor usou um veículo que não era o de costume para sair da igreja - ainda assim, o valor combinado de R$ 2 mil teria sido entregue por André, o Bigode.

Uma mensagem de janeiro de 2019, atribuída a Flordelis, reforça a tese da encenação do roubo. "Dez mil (reais) depois do serviço feito, mas as outras pessoas do carro não podem ser atingidas", diz parte do texto.

Na ocasião, Anderson teria saído de casa para uma concessionária. "Simula um assalto, ele foi para o Rio hoje."

Na lista de filhos denunciados também estão o adotivo Carlos Ubiraci Francisco da Silva, o Neném, e o biológico Adriano dos Santos Rodrigues, de 33 anos. Outras duas pessoas, que não fazem parte da família, também estão presas, suspeitas de participar de uma tentativa de fraude do processo.

Segundo a investigação, Neném é acusado de ajudar a tramar a execução e de mentir em depoimento. À polícia, uma filha declarou que ele teria preferido apoiar Flordelis por ser financeiramente dependente da deputada.

Já Adriano é suspeito de tentar ajudar a incriminar outras pessoas, incluindo os irmãos Misael e Luan Santos, motivo pelo qual responde por associação criminosa e falsidade ideológica - mas não por homicídio. "Mãe, quero falar uma coisa para a senhora. Independente do que aconteça eu sempre vou te amar" é uma das falas atribuídas a ele no processo.

Com base em depoimentos, os investigadores afirmam, ainda, que Anderson chegou a saber do plano para assassiná-lo e até recebeu, por deslize dos acusados, mensagem tratando sobre o assunto - o iPad do pastor era sincronizado. No entanto, ele não teria levado a ameaça a sério. Segundo testemunhas, para o pastor era "Deus no céu e Flordelis na Terra". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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