A tragédia do Airbus A320 da EgyptAir, que caiu na quinta-feira (19) no Mediterrâneo, traz à tona mais uma vez a questão do acompanhamento dos aviões em tempo real por satélite em áreas não cobertas por radares.
O desaparecimento do voo MH370 da Malaysia Airlines em 2014, que fazia a rota entre Pequim e Kuala Lumpur, foi o primeiro acidente deste tipo na história da aviação civil, obrigando o setor a estudar novas medidas, como o acompanhamento em tempo real, obrigatório para barcos desde 1988.
Antes, foram necessários dois anos para localizar todos os restos do voo 447 da Air France, que caiu no mar com 228 pessoas a bordo em 2009, quando fazia a rota entre Rio de Janeiro e Paris. O avião desapareceu em uma zona não coberta pelos radares, e afundou por 3.900 metros. Na ocasião, as famílias das vítimas pediram uma melhor localização dos aviões desaparecidos no mar.
Embora os primeiros restos do voo da EgyptAir tenham sido encontrados um dia depois do acidente, o acompanhamento de aviões em tempo real é um tema "legítimo", afirmou na sexta-feira o secretário de Estado francês de Transportes, Alain Vidalies.
Vidalies explicou à emissora France Info que a indústria francesa realiza "um trabalho experimental muito avançado". Os engenheiros estão testando "um sistema de satélites posicionados de forma diferente que permitem seguir permanentemente os aviões", acrescentou.
Mas um sistema como este representa gastos para a companhias, muitas das quais atravessam grandes dificuldades financeiras atualmente.
Raio de 11 km
Uma norma foi adotada em dezembro em nível europeu para equipar os aviões com um sistema de acompanhamento em tempo real até 2018. "A posição de uma aeronave comercial deveria ser conhecida o tempo todo, inclusive em uma zona isolada, para facilitar sua localização em caso de funcionamento anormal, emergência ou acidente", afirma o texto.
"Estamos desenvolvendo os meios de aplicação conforme este regulamento", declarou à AFP Dominique Fouda, encarregado de comunicação da Agência Europeia de Segurança Aérea (AESA).
Em março, a Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) também anunciou que adotaria novas normas, com entrada em vigor antes de 2021, para garantir que o local de um acidente seja conhecido de forma imediata, "em um raio de seis milhas náuticas (11 km)".
Todas as aeronaves comerciais terão que estar equipadas com "dispositivos autônomos de acompanhamento em caso de emergência para transmitir de forma autônoma as informações sobra a posição, pelo menos uma vez por minuto", informou a OACI.
"Tudo isso está sendo debatido, já que todas essas modificações têm que obter certificações aeronáuticas. Está sendo validado", disse à AFP um especialista da indústria aeronáutica que pediu anonimato.
O especialista disse que em 2009 foi proposto "transmitir mais dados em tempo real após o acidente do voo Rio-Paris, mas apareceram problemas de conexão com o satélite".
"Os aviões deveriam estar equipados com dispositivos de antenas de satélite e se teria que aumentar o alcance da transmissão, o que significa que a companhia deve aceitar se encarregar dos gastos de conexão", afirmou.
Embora as conexões via satélite são muito mais baratas, o custo continua sendo alto, de até "milhares de euros por cada voo", segundo o especialista.
Outra recomendação da OACI está sendo debatida: a implantação de registradores de voo (caixas-pretas) ejetáveis em caso de impacto, dispositivo que já funciona nos aviões militares.
O fabricante europeu Airbus já anunciou que equiparia seus A350 com estas caixas-pretas ejetáveis e flutuantes.