Um primeiro grupo de refugiados que fugiu de Nagorno-Karabakh chegou à Armênia neste domingo (24), após a ofensiva militar relâmpago do Azerbaijão contra os separatistas armênios neste disputado enclave.
Yerevan criticou implicitamente a Rússia por sua falta de apoio após a vitória das tropas do Azerbaijão, que reivindicaram o controle deste território no Cáucaso.
"Os sistemas de segurança estrangeiros, dos quais a Armênia participa, mostraram-se ineficazes para proteger sua segurança e seus interesses", declarou Pashinyan, em um discurso transmitido pela televisão.
O premiê fez referência às relações de longa data de seu país com Moscou, herdadas da época em que fazia parte, assim como o vizinho Azerbaijão, da União Soviética.
Apesar disso, a Armênia continua sendo membro da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO, na sigla em inglês), uma aliança militar liderada pela Rússia.
Como sinal do impacto internacional desta crise, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, aliado de Baku, reúne-se com seu homólogo do Azerbaijão, Ilham Aliyev, nesta segunda-feira (25). As autoridades de Yerevan também confirmaram um encontro previsto entre o premiê armênio e o presidente azerbaijano no próximo mês, na Espanha.
- Primeiros refugiados -
Dezenas de residentes de Nagorno-Karabakh, principalmente mulheres, crianças e idosos, chegaram neste domingo ao centro de acolhida estabelecido pelo governo armênio em Kornidzor, na fronteira entre os dois países.
As autoridades separatistas haviam anunciado pouco antes que os civis que ficaram desabrigados, devido aos últimos confrontos, seriam transferidos para a Armênia com o auxílio das forças de manutenção de paz russas. Esse efetivo está no local desde a última guerra em 2020.
Baku se comprometeu a permitir que os rebeldes que entregarem as suas armas atravessem para a Armênia.
Um homem entrevistado pela AFP em Kornidzor disse fazer parte da "resistência", até que a ofensiva do Azerbaijão forçou os rebeldes a se entregarem na quarta-feira.
"Nossas famílias estavam nos abrigos. Estávamos no Exército, mas ontem tivemos que deixar nossos rifles. Então partimos", disse ele, enquanto esperava para ser registrado no centro de acolhida.
Outros aguardavam notícias de seus familiares.
"Meu filho estava no Exército. Ele está vivo, mas me preocupo", contou um homem de 34 anos.
Muitos temem retiradas em massa do enclave, onde vivem cerca de 120 mil pessoas.
Cercada pelas tropas de Baku, Stepanakert, "capital" de Nagorno-Karabakh, está há vários dias sem eletricidade, ou combustível. A escassez também se estende aos alimentos e medicamentos, segundo um correspondente da AFP.
Um primeiro comboio de ajuda da Cruz Vermelha conseguiu entrar no enclave neste domingo.
No sábado (23), o ministro armênio de Relações Exteriores pediu à ONU o envio "imediato" de uma "missão" da entidade a este disputado território e reforçou as acusações de "limpeza étnica" na região separatista.
Nagorno-Karabakh já foi sacudida por duas guerras entre as antigas repúblicas soviéticas do Cáucaso, Azerbaijão e Armênia: uma, de 1988 a 1994, com 30.000 mortos; outra, no outono de 2020, com 6.500 mortos.
A recente incursão militar de Baku, que durou cerca de 24 horas, deixou pelo menos 200 mortos e 400 feridos, segundo os separatistas armênios.
burx-bds/dth/ybl/meb/mb/yr/tt