Antes mesmo do início da Copa do Mundo já havia uma - necessária - discussão sobre o legado que o evento deixaria para os pernambucanos. Há exatamente um ano tinha início o torneio da Fifa no Brasil. O que ficou do evento para Pernambuco é um arena insustentável (que encerra ano após ano com prejuízo orçamentário), além de custo superior a R$ 1 bilhão em obras de mobilidade, em que algumas não foram concluídas e outras tiveram o projeto alterado para poder sair do papel.
O maior exemplo desse mau legado é a sonhada – e prometida – Cidade da Copa. O empreendimento urbanístico não tem previsão para deixar de ser apenas um projeto, que inicialmente foi orçado em R$ 1,6 bilhão . A parceria público-privada entre o Governo de Pernambuco e a Odebrecht não deu continuidade ao planejado quando se falou em erguer a Arena Pernambuco. Dentro da “fase 1”, prevista para término em 2014, já deveriam ter sido construídos: centro de conveções (9.500m²), hotel (300 quartos), centro de visitação e exibição, campus educacional, instalações de segurança inteligente e centro de monitoramento, Radial da Copa e uma grande loja de varejo na BR-408.
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O ex-governador João Lyra (PSB), que assumiu o cargo após a morte de Eduardo Campos, não assinou a execução do projeto da Cidade da Copa e deixou para, o já eleito, Paulo Câmara (PSB), decidir o que faria com a obra. Em seis meses de mandato não foi resolvido nada e a construção da cidade planejada - que teria área de 240 hectares - em São Lourenço da Mata se torna cada vez mais distante de sair do papel.
Mobilidade inexistente ou alterada
As estruturas de mobilidade para a Copa do Mundo se dividiram em sete obras: quatro de responsabilidade do Governo de Pernambuco e as outras três da Prefeitura do Recife. Os valores investidos ultrapassam R$ 1 bilhão. Ainda assim, quatro dos projetos não foram concluídos.
A construção das linhas de BRT (na tradução, Trânsito Rápido de Ônibus) Leste/Oeste e Norte/Sul sequer tiveram as estações finalizadas. Ainda assim, o criador do sistema de transporte, Jaime Lerner, já afirmou que o projeto recifense foi modificado e atualmente “não pode ser considerado um BRT”. Isso porque tem intervalos superiores a 10 minutos e tráfego misto.
Mas, o pior resultado dentre os projetos tem relação com o Ramal da Copa. Antes mesmo da Copa das Confederações (2013), o então secretário extraordinário da Copa, Ricardo Leitão, disse ao LeiaJá que a obra era “necessária” como mobilidade para a execução dos jogos na Arena Pernambuco. Entretanto, parte da construção não passou da desapropriação dos moradores em Camaragibe, Zona Oeste da Região Metropolitana do Recife.
As obras que foram finalizadas são as do entorno da Arena Pernambuco: viaduto da BR-408 e estação de metrô Cosme e Damião. Esta segunda, entretanto, só é viabilizada em dias de jogos, já que em rotina comum, os passageiros não sentem necessidade em utilizar a linha.
Náutico lamenta estrutura atual
O único mandante fixo na Arena Pernambuco é o Náutico. Ainda assim, o clube vem tendo baixas médias de público. Durante o Campeonato Pernambucano de 2015, a média foi de 4.486 pessoas por partida, com ocupação de apenas 9,7% da capacidade do estádio (46.154). O recorde de torcedores na temporada é de 10.997.
Vice-presidente do Náutico, Durval Valença conversou com o LeiaJá e lamentou. “Com a estrutura que se tem hoje, é muito difícil levar grande público à Arena Pernambuco. Não são só os horários e valores de ingressos e estacionamento. A falta de mobilidade e até a ausência da Cidade da Copa torna inviável”, conclui.