Guilherme Henrique Santiago da Silva tem 10 anos de idade e ficou conhecido depois que um vídeo no qual ele aparece fazendo um trabalho escolar no tablet de uma loja de shopping no Recife. O menino mora na comunidade de Entra Apulso, na zona sul do Recife, estuda na Escola Municipal Abílio Gomes e também frequenta a instituição social Instituto Shopping Recife.
O menino conta que na escola há tablets, mas que os estudantes não tinham acesso à internet na escola, o que fez o menino ter que fazer seus trabalhos em aparelhos eletrônicos de lojas quando o Instituto não estava aberto.
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“A professora não passa muitos trabalhos, ou tenta fazer os trabalhos na escola, porque sabe que nem todos têm recursos para fazer os trabalhos em casa”, afirmou Guilherme, que recebeu doações de tablets, inclusive por parte da cantora Anitta, e explicou que será muito mais confortável poder usar o próprio tablet para os trabalhos.
O Instituto Shopping, que presta serviços sociais à comunidade de Entra Apulso e outras áreas próximas, informou que possui um laboratório de informática com 24 máquinas, onde são oferecidas aulas em projetos desenvolvidos pelo instituto. No horário em que os computadores estão livres, a população da comunidade tem acesso aos equipamentos e estudantes como Guilherme podem, por exemplo fazer trabalhos. No dia em que o menino foi filmado no shopping, o instituto estava fechado para uma reunião interna.
Dedicado aos estudos desde pequeno, Guilherme conta que gosta mais de ciências, inglês e matemática. O menino afirmou que a motivação para seus esforços é o desejo de ajudar a melhorar as condições de vida de sua mãe e irmãos.
Fã de K-pop, ritmo coreano que faz sucesso entre jovens brasileiros, o garoto quer fazer intercâmbio para a Coreia ou Estados Unidos, seguindo a carreira de ator e dançarino. “Gosto de estudar para ter um trabalho bom, dar um futuro melhor para minha mãe e minha família. [Eles] têm muito orgulho de mim, gosto muito de estudar por isso, quero ser alguém importante na vida”, disse Guilherme.
Rosali Santiago do Nascimento, mãe de Guilherme, conta que sente orgulho pela sensibilidade do filho acerca das dificuldades impostas pelas condições de vida da família e pelo desejo que o menino tem de ajudar a melhorar essa realidade. “Me sinto orgulhosa. Ele vê a dificuldade que eu passo com o salário que tem para terminar o mês, o ano, comprar coisas para mim, para ele e os irmãos”, contou ela, que tem ao todo quatro filhos.
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Segundo Rosali, Guilherme tem uma rotina que alterna estudos dentro e fora da escola e do Instituto onde também é aluno com brincadeiras “que é de lei” na infância, segundo a mãe. Ela explicou que seria melhor para os estudos de seu filho se ele tivesse internet em casa, pois a conexão na casa da irmã mais velha oscila e cai com certa frequência, obrigando o menino a se deslocar em busca de internet para as pesquisas. “Os tablets ajudam, mas não são o suficiente para ele ter todo o conforto que precisa”, disse a mãe, cujo sonho é ver o filho alcançar seus objetivos profissionais.
Guilherme também afirma que para ele seria mais confortável e seguro realizar seus trabalhos em casa, sem depender da ajuda de amigos ou precisar recorrer a equipamentos de lojas. “Seria muito mais fácil se eu não tivesse que ir para a casa da minha irmã ou da minha amiga Fernanda [para usar a wi-fi]. Eu acharia muito mais legal”, disse o menino.
A leitura também faz parte da vida do pequeno Guilherme desde cedo. Sua mãe contou que ele foi ensinado a escrever as letras antes mesmo de ir à escola, aprendendo cedo, por exemplo, a ler placas em viagens. O menino, que gosta de ler quadrinhos e é fã da Turma da Mônica, gosta de ir a livrarias e bibliotecas, mas se queixa da falta de variedade e do preço de alguns dos livros que ele gostaria de adquirir.
“Tem livros que eu gosto e são muito caros e não dá para comprar. Vou na biblioteca e fico lendo com o meu irmão. Não encontro muito os livros que eu gostaria, mas ‘dá pro gasto’. Leio muito para treinar meu vocabulário”, contou Guilherme.
Perguntado como se sente com toda a repercussão de seu esforço e com as doações que tem recebido para ajudar em seus estudos, Guilherme conta que em um primeiro momento se assustou um pouco, mas depois passou a sentir orgulho de si. “Eu fico feliz e muito orgulhoso por saber que eu sou exemplo para outras crianças estudarem”, disse ele.
Apesar de ter apenas 10 anos, Guilherme demonstra muita determinação e consciência quanto à importância da educação como meio de transformação de vida.
Questionado sobre o que diria a outros jovens que, assim como ele, são estudantes, o menino busca incentivar o mesmo sentimento nas outras pessoas. “Eu diria para se esforçar por um futuro melhor. Tem muitas crianças pobres hoje, se esforce para não viver nas mesmas condições em que está hoje em dia e, quando crescer, ser alguém importante. Eu acho que estudar para ter um futuro melhor é muito importante na vida das crianças e dos adolescentes”, disse Guilherme.
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Inclusão Digital nas Escolas
A Secretaria de Educação da Prefeitura do Recife, que é responsável pela manutenção de escolas municipais como a Abílio Gomes, onde Guilherme estuda, afirmou ao LeiaJá que o motivo da falta de conexão à internet na instituição foi o acesso a conteúdos inadequados para os alunos através dos 12 tablets disponíveis na escola. A situação foi resolvida, de acordo com a secretaria, após a repercussão da história de Guilherme, com a visita de uma equipe de informática que fez um filtro de acesso nos tablets da escola, para que os estudantes possam usar a internet apenas para fins educativos.
Ainda de acordo com uma nota da secretaria, a inclusão digital é prioridade da gestão desde 2013 e foram investidos mais de R$ 80 milhões em tecnologia voltada à educação. “Mais de 21 mil tablets estão distribuídos entre todas as escolas de Anos Iniciais e Finais (1o ao 9o ano) juntamente com a rede de internet em todas as escolas. Desta forma, os professores podem desenvolver projetos junto com os alunos dentro das salas de aula todos os dias da semana. Caso, os estudantes precisem utilizar o material no contraturno, ele pode agendar o horário junto com o gestor da escola para não interferir nas aulas de outras turmas”, diz o texto da nota.
Diante do caso de Guilherme, um estudante que não tinha pleno acesso à tecnologia na escola nem em casa, o LeiaJá questionou a Secretaria de Educação acerca do custo dos tablets que são utilizados nas escolas e como é feita a distribuição desse material entre as escolas da cidade. Até o momento da publicação desta reportagem, no entanto, ainda não tínhamos os dados solicitados.
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