Um advogado de direitos humanos, Jiang Tianyong, desapareceu na China em novembro do ano passado, depois de ter se reunido com o relator especial da ONU sobre pobreza, Philip Alston. Mantido por seis meses em uma prisão e isolado dos demais detentos, Jiang foi denunciado pelo regime por "subversão".
Ao ser julgado no mês passado, o ativista supostamente "confessou" que havia sido incentivado a derrubar o governo de Pequim depois de ter participado de eventos fora do país.
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Ele não é o único a viver essa situação. Uma investigação conduzida pela entidade Human Rights Watch constatou que o governo de Pequim tem proliferado ações para reprimir ativistas de direitos humanos, silenciando seus questionamentos em fóruns internacionais e principalmente na ONU.
De acordo com a entidade, o governo chinês tem feito uma ofensiva contra dissidentes que tentam usar a ONU para denunciar o regime ou testemunhar nos diferentes organismos da entidade. Para a Human Rights Watch (HRW), a ONU tem fechado os olhos para essa atitude da China.
Para impedir que viajem até Genebra ou Nova Iorque, Pequim tem impedido que essas pessoas deixem o país. Outra estratégia tem sido a de fotografar ou filmar esses dissidentes entrando na ONU.
"A China está sistematicamente tentando minar a habilidade da ONU em defender os direitos humanos, na China e no mundo", denunciou Kenneth Roth, diretor executivo da HRW.
Em sua avaliação, tal comportamento tem sido um sintoma do pior momento de repressão na China desde 1989, marcado pelos incidentes da Praça Tiananmen. "Há muito o que esconder", denunciou.
Na avaliação da entidade, a ONU é um dos últimos canais de denúncias para ativistas de direitos humanos na China e uma rara oportunidade que tem de expressar seu ponto de vista. Mas, baseado em 55 entrevistas com ativistas e advogados, a HRW constatou que Pequim tem feito tudo o que pode para fechar esses canais de comunicação.
"A repressão da China não vai parar em suas fronteiras", denunciou Roth. De acordo com o informe publicado nesta terça-feira em Genebra, Pequim vem "reduzindo os espaços seguros" para os ativistas, por meio de prisões arbitrárias, intimidação e um sistema legal controlado pelo partido.
A nova onda de repressão teria começado em 2015. Aqueles ativistas que atacaram publicamente a China em reuniões da ONU ou que simplesmente aceitaram falar com os investigadores da entidade foram punidos ao retornar ao país. Outros tiveram seus passaportes retidos ou foram presos, antes mesmo de deixar o país.
Em janeiro deste ano, o presidente chinês, Xi Jinping, fez um pronunciamento na ONU. Mas o encontro, para 2 mil diplomatas e oficiais, ocorreu sem a presença da imprensa, que foi obrigada a assistir ao evento em telões fora da sala. Enquanto isso, os assentos reservados para a imprensa dentro do local estavam vazios.
A ONU também impediu a entrada na sala de qualquer ONG, inclusive aquelas com status oficial nas Nações Unidas.
O temor era de que, durante o discurso considerado como fundamental para a política externa do país, Xi fosse surpreendido por algum cartaz contrário ao seu regime.
Quatro meses depois, o ativista chinês Dolkun Isa foi retirado de um evento na ONU, em Nova Iorque, pelos próprios seguranças da entidade. De acordo com a HRW, isso ocorreu sem qualquer tipo de explicação, apesar de a ONU ter concedido uma credencial ao dissidente.