Problemas com salários são comuns ao Santa Cruz. Mas, apesar do destaque maior sempre ficar para as dificuldades em manter a folha do elenco profissional, é no quadro de funcionários do clube que está o maior desequilíbrio. Alguns destes já se encontram com 6, 7 meses de atraso, ou até mais, no pagamento e é até difícil imaginar como estes sobrevivem, e por que motivo ainda não deixaram a instituição. É isso que buscamos com dois profissionais que estiveram em uma das crises que, segundo um deles, nem é a mais longa.
Antes de qualquer coisa, é preciso deixar claro que os personagens da matéria são dois funcionários do Santa Cruz Futebol Clube com certo tempo de casa. Para poupar esses profissionais de qualquer tipo de retaliação, a identidade dos dois e quais suas funções dentro do clube serão mantidas em segredo. Até mesmo a foto que ilustra a matéria foi escolhida sem qualquer relação com estes profissionais. Eles serão identificados dentro da matéria como "José" e "João", nomes fictícios.
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O que mantém o profissional no clube
Um ponto em comum surge para a maioria dos empregados nesse quesito. Muito se discute em rodas de torcedores e redes sociais, a motivação dessas pessoas para seguirem dentro do Santa em meio a tantos meses sem entrar dinheiro na conta; é o amor pela instituição. "Se não fosse assim, não haveria motivação para trabalhar", diz José. Não é difícil imaginar que os empregados corais já tenham pensado em sair. "Várias vezes. é como eu disse antes, apenas o amor ao Santa Cruz nos mantém trabalhando. Tenho esperança que as coisas vão se acertar e quando isso acontecer, estarei trabalhando no melhor emprego do mundo, no lugar que eu sempre sonhei", afirmou.
Essa esperança é compartilhada por João que também já considerou abandonar o barco. "O que me segurou foi o retorno da torcida e o amor que tenho pela instituição. Acredito na viabilidade do projeto e amo o Santa", revelou.
Como sobreviver sem receber
É difícil até estimar em quantos meses exatamente os funcionários estão sem receber. Cada um tem sua situação particular. José crê que a maior parte dos profissionais não são pagos há seis meses, enquanto que João aumenta esse número para 11, quase um ano inteiro sem o salário devido, conquistado na base do suor. José não tem mais no Arruda, sua principal fonte de renda. Para sustentar a família, foi preciso encontrar outras maneiras de se manter.
"Como eu iria pagar minhas contas? Hoje não tenho outro emprego, de fato. Mas faço trabalhos extras para poder pagar as contas. conciliar é o mais difícil. É preciso dar um terceiro expediente ou ocupar os fins de semana", contou. A solução para não passar necessidade é a mesma em todos os casos; buscar fora do clube. "Faço alguns bicos para ganhar dinheiro para conseguir sobreviver", explica João.
As promessas da direção anterior
Uma reclamação dos empregados está nas seguidas promessas que a diretoria não vinha cumprindo. Inclusive, existe uma atual que chama a atenção, a de que o próprio dirigente iria bancar o que ficou devido. "Alírio nos fez a promessa de que iria nos pagar do próprio bolso", revelou João. José também esteve reunido com a diretoria para tratar o que ficou em falta. "Nos prometeram pagar uma parte antes do Natal. Porém, até agora nada entrou", disse.
É tamanho a regularidade com que estes profissionais não recebem, que ainda existem débitos de gestões anteriores em aberto. Por incrível que pareça, quase um ano de atraso não é nem a maior das crises enfrentadas. "Já passamos por gestão que demorou mais, sim. E tem gente que, até hoje, não recebeu tudo o que tinha direito dessa gestão passada", completou.
Nova presidência, esperança renovada?
Com a eleição de Constantino Júnior, foi formada uma nova diretoria no Arruda. Entre as prioridades dessa nova gestão está o equilíbrio financeiro do Santa Cruz, o que passa diretamente pela quitação desses atrasos. Algo que pode renovar essa crença no recebimento do dinheiro. "Toda mudança, trás consigo a esperança. Acredito muito no Constantino e nas pessoas que estão com ele. Então, mais uma vez, espero que as coisas se acertem", declarou José.
Nem a família muda a cabeça
Os dois persongens têm famílias que se preocupam com a situação dos salários. Além de depender do dinheiro que não chega, esposas, filhos e mães ficam incrédulos diante da fidelidade desses funcionários. "Tratam como loucura", diz João. A pressão é grande, mas a vontade de permanecer é ainda maior.
"Essa é a parte mais complicada. É difícil ver as coisas faltando e não ter como resolver. Não tenho mais desculpas para dar em casa. Quando as contas começam a chegar e o dinheiro não vem, o que você vai dizer à sua esposa, que justifique sua permanência? Não adianta dizer nada, ninguém acredita. Até os amigos perguntam porquê não vou embora. E a única resposta é: eu amo esse clube e amo o que faço, não vou abandonar tudo assim", cravou José.