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No início da semana, o presidente Jair Bolsonaro foi surpreendido por uma mensagem publicada pelo colega dos Estados Unidos, Donald Trump, no Twitter. Ele anunciava a retomada das tarifas sobre aço e alumínio brasileiros e argentinos, em resposta à desvalorização das moedas dos dois países, que estaria sendo patrocinada pelos governos.

O ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente Rubens Ricupero avalia que o governo foi ingênuo ao imaginar que seria vantajoso se alinhar aos EUA. Ele, que também foi embaixador em Washington, avalia que a economia se recupera, mas as medidas tomadas até agora têm efeito limitado. A seguir, trechos da entrevista.

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Que lições a ameaça de taxação de Trump deixa ao Brasil?

Esse episódio tornou patente o que já sabíamos: era uma ficção a ideia de que o presidente Bolsonaro e seu filho Eduardo tinham um canal direto com Trump. Neste mundo de competição pelo comércio internacional, o interesse do Brasil é ser autônomo e ganhar o máximo em cada negociação.

Foi precipitado abrir mão do tratamento especial na Organização Mundial do Comércio (OMC)?

Abrir mão do tratamento especial diferenciado na OMC e nas negociações comerciais em troca do apoio pela entrada na OCDE (espécie de clube dos países ricos) não tem cabimento. O Brasil é um país em desenvolvimento e precisa de prazos mais amplos ou de menores concessões de tarifas. China e Índia jamais aceitaram isso. Em troca do apoio incerto dos EUA, o governo abriu mão de vantagens concretas.

Entrar na OCDE, como defende o ministro Paulo Guedes, é realmente vantajoso para o Brasil?

Caso não fosse acompanhada dessas exigências, teria um efeito positivo, mas a ideia de que ser membro seria a vacina contra políticas econômicas equivocadas é errada. A Grécia sempre foi parte da OCDE.

Qual é o preço de um alinhamento automático aos EUA?

É um equívoco. Aliado significa escolher um lado - neste caso, o americano, que está em embate com países como China e Rússia. No último leilão de petróleo, as únicas empresas estrangeiras que participaram eram chinesas. Quando o Brasil precisou, quem socorreu não foi o Trump. Imagine se Eduardo Bolsonaro tivesse virado embaixador nos Estados Unidos e a gente acordasse com esse tuíte do Trump? Seria um vexame ainda maior.

O Brasil falha na defesa de seus interesses comerciais?

Como se explica que, tendo tantos equívocos acumulados, nada mude na política externa? Nem no titular do Ministério das Relações Exteriores, nem na orientação que o ministro (Ernesto Araújo) recebe. O governo está satisfeito com o Paulo Guedes, na Economia, porque há alguns sinais de retomada. Na política externa, os resultados são todos negativos. A explicação é que, nas áreas próximas ao núcleo ideológico, o importante não é o resultado, mas o alinhamento com Olavo de Carvalho.

Na economia, esse desempenho tem sido melhor?

A condução da economia - com juros baixos, melhora do crédito, liberação do FGTS - vai dar um alívio para o País. Isso deve durar até março do ano que vem. É bastante plausível que o Brasil cresça 2% em 2020. Mas não é suficiente para reduzir o número altíssimo de desempregados. Precisaria acelerar para 3,5% ou 4%.

Qual seria a saída?

Não há outra saída sem investimento público. Só pode ter crescimento por investimento ou consumo. O consumo é limitado pelo número de desempregados, e a demanda vai bater logo no teto. E o investimento privado pode aumentar, mas não no nível necessário, sobretudo em infraestrutura, que depende do investimento público. Nenhum investidor de fora vai se arriscar em aportes que demoram 20 ou 30 anos para serem amortizados.

O investidor estrangeiro não está esperando o andamento das reformas para voltar ao Brasil?

A economia internacional cresce menos do que se esperava, o comércio internacional está caindo e não há perspectivas de melhora. Do lado externo, não há nada a esperar. E investimentos dificilmente virão quando, além das incertezas, a declaração de um novo AI-5 do ministro Guedes e do filho do presidente vêm a público.

Essas declarações vieram do medo do governo de que o Brasil enfrente protestos, como os do Chile. Esse temor é justificado?

Isso só mostra a incapacidade brasileira de captar a realidade à sua volta. O que há na América Latina são manifestações contra políticas econômicas de inspiração ultraliberal, como as que o Brasil adota agora. O Brasil precisa de uma dose de liberalismo, mas não se pode fazer isso sem considerar o enorme número de desempregados e de pobres. Esse tipo de insensibilidade é justamente o que alimenta as manifestações. Não é liberalismo, mas cegueira para o lado social.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O debate intenso sobre a indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para embaixador do Brasil nos Estados Unidos (EUA), pelo seu pai e presidente Jair Bolsonaro (PSL), levantou questionamentos sobre o currículo do parlamentar e comparações com os últimos representantes brasileiros em Washington. 

O LeiaJá reuniu o perfil dos embaixadores do país nos EUA desde a redemocratização, em 1986, até hoje. Foram nove diplomatas com carreira sólida na área de relações internacionais que ocuparam o posto. Bolsonaro justificou a indicação do filho por ter um bom relacionamento com o presidente americano Donald Trump, saber falar inglês e fritar hambúrgueres. 

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Marcílio Marques Moreira (de 23/11/1986 a 24/08/1991)

Indicado pelo então presidente José Sarney, Marcílio Marques Moreira foi o primeiro embaixador brasileiro nos Estados Unidos após a ditadura militar. Moreira é formado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e mestrado em Ciência Política na Universidade de Georgetown, em Washington.

Em 1954, Marcílio Marques concluiu o curso de preparação à carreira de diplomata do Instituto Rio Branco. De 1957 a 1961 foi secretário na embaixada do Brasil em Washington e chegou a ocupar outros cargos no Brasil, como diretor financeiro do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, antes de ser nomeado embaixador nos EUA em 1986. 

Ele deixou o cargo para ser ministro da Fazenda no governo de Fernando Collor. Marcílio Marques Moreira também integrou o Conselho de Ética Pública no governo Lula e é autor de diversos livros.

Rubens Ricupero (25/08/1991 a 25/08/1993)

Diplomata de carreira desde 1961, Rubens Ricupero foi indicado pelo presidente Fernando Collor de Mello para assumir a embaixada brasileira no país americano. Estudou na  Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP), e entrou no Instituto Rio Branco em 1958. Após se formar como diplomata foi um dos primeiros a trabalhar em Brasília. 

Ricupero foi assessor internacional do presidente eleito Tancredo Neves e assessor especial de José Sarney. Foi o embaixador do Brasil nos EUA de 1991 a 1993, quando deixou o cargo para ser ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal. Ele também chegou a ser ministro da Fazenda de Itamar Franco. O último cargo de embaixador ocupado por ele foi em 1995, em Roma. 

Além disso, Ricupero também já foi subsecretário Geral da ONU e professor Universidade de Brasília (UnB) e no próprio Instituto Rio Branco.

Paulo Tarso Flecha de Lima ( 12/11/1993 a 26/05/1999)

Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade do Brasil no Rio de Janeiro, Paulo Tarso Flecha de Lima entrou na carreira diplomática a partir de concurso direto em 1955. Ele serviu em países Itália, Uruguai, Argentina, Iraque, Irã e foi embaixador do chamado “Circuito Elizabeth Arden”, jargão utilizado para se referir ao conjunto das embaixadas mais prestigiadas: Londres, Washington, Roma e Paris. 

Foi nomeado embaixador em Londres, em 1990, e em Washington, em 1993 - pelo presidente Itamar Franco. Em 1999, assumiu a embaixada brasileira em Roma, onde ficou até 2001. Flecha de Lima também foi secretário-geral das Relações Exteriores.

Rubens Antonio Barbosa (11/06/1999 a 31/03/2004)

Indicado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para embaixador do Brasil nos EUA, Rubens Antonio Barbosa ingressou no Instituto Rio Branco em 1960. Depois disso, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro. Fez mestrado em 1971, na London School of Economics and Political Science.

Atuou mediando a relação do Brasil como países como Romênia, Alemanha Oriental, Bulgária, Hungria e a antiga União Soviética. Foi embaixador do Brasil em Londres de janeiro de 1994 a junho de 1999 e em Washington, de junho de 1999 a março de 2004. E após deixar a embaixada, foi presidente de conselhos como o de comércio exterior da FIESP.

Roberto Pinto Ferreira Abdenur (02/04/2004 a 29/01/2007)

Formado em direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e mestre em economia pela London School of Economics and Political Science, Roberto Pinto Ferreira Abdenur ingressou diretamente na carreira de diplomata, por concurso, em 1964. 

Foi cônsul-adjunto em Londres, integrou a delegação brasileira em diversas reuniões da Assembleia Geral da ONU e chegou a atingir o posto de ministro de primeira classe, considerado o mais alto da carreira diplomática.

Roberto Pinto Ferreira Abdenur foi embaixador do Brasil no Equador (1985 a 1988), na China (1989 a 1993), na Alemanha (1995 a 2002) e na Áustria (2002 a 2004), antes de ser nomeado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para assumir o posto em Washington.       

Antonio de Aguiar Patriota (21/02/2007 a 20/10/2009)

Formado pelo Instituto Rio Branco em 1979, após ter estudado filosofia na Universidade de Genebra, Antonio de Aguiar Patriota foi indicado para a embaixada do Brasil nos EUA por Lula. Diplomata de carreira, ele atuou em Genebra (1983-1987 e 1999-2003) e em Nova York (1994-1999), Pequim (1987-1988) e Caracas (1988-1990). 

Deixou a embaixada em Washington para assumir a secretaria-geral do Itamaraty. Em 2011, foi ministro das Relações Exteriores do governo Dilma. E atualmente é embaixador brasileiro no Egito.

Mauro Luiz Iecker Vieira (11/01/2010 a 31/12/2014)

Terceiro embaixador brasileiro em Washington indicado durante o governo de Lula, Mauro Luiz Iecker Vieira é formado em Direito pela Universidade Federal Fluminense e ingressou no curso que prepara diplomatas no Instituto Rio Branco em 1973. Atuou, entre 1995 e 1999, como ministro-conselheiro na embaixada brasileira em Paris.

Além disso, foi nomeado embaixador em Buenos Aires em 2004, onde ficou até 2010, quando passou a ocupar o cargo de embaixador em Washington. Em 2015, deixou o posto para ser ministro de Relações Exteriores no governo de Dilma Rousseff. Em 2016, Michel Temer nomeou Mauro Vieira como representante permanente do Brasil na ONU.

Luiz Alberto Figueiredo (07/05/2015 a 05/09/2016)

Penúltimo embaixador do Brasil nos EUA, Luiz Alberto Figueiredo graduou-se pelo Instituto Rio Branco em 1979. Chefiou, entre outras, as negociações da Rio +20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. 

No governo da presidente Dilma Rousseff foi representante permanente do Brasil junto à ONU e ministro das Relações Exteriores, antes de ser nomeado para ocupar o cargo em Washington. Deixou o posto para ser embaixador em Portugal - cargo que ocupa até hoje. 

Sergio Silva do Amaral (05/09/2016 a 03/06/2019)

O último brasileiro que se tornou embaixador nos EUA foi Sergio Silva do Amaral. Ele foi nomeado pelo presidente Michel Temer (MDB) e afastado do cargo em junho deste ano. Antes disso, Amaral ocupou as embaixadas de Londres e Paris, além de ter sido professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília.

Formado em Direito pela Universidade de São Paulo, ele concluiu a pós-graduação em Ciência Política (DESS) na Universidade de Paris I (Panthéon-Sorbonne). Como diplomata serviu em Paris, Bonn, Genebra e Washington. 

Na administração pública foi secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República e Porta-Voz do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Foi também Ministro de Estado do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior, Presidente da Camex e do Conselho do BNDES.

*Fotos: Agência Senado/Fiesp/Reprodução Youtube

O ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens Ricupero, concedeu uma entrevista ao G1 e afirmou que o Senado deveria rejeitar o nome do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) para ocupar o cargo.

Ricupero afirmou que a rejeição deveria acontecer "em cumprimento a seu dever constitucional de velar pela aprovação dos indicados à chefia de missões diplomáticas por voto secreto".

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Sobre a possibilidade de haver nepotismo na indicação do presidente Jair Bolsonaro (PSL), Ricupero disse não ter dúvidas que se configura, sim, em uma prática do crime. "O nepotismo ocorre quando o agente político pratica ato para favorecer parente próximo", argumentou.

O diplomata também lembrou que os casos conhecidos de políticos que praticaram nepotismo aconteceram em ditaduras. "Não existe nenhum caso de país civilizado, democrático, onde se tenha registrado algo comparável", mencionou.

Bolsonaro, entretanto, não acredita que seu ato seja uma atitude de nepotismo. Ele, inclusive, disse aguardar apenas uma resposta à consulta que fez ao governo dos EUA para fazer a indicação de Eduardo ao Senado como embaixador do brasil.

Rubens Ricupero atuou em vários países durante sua carreira e assumiu, entre outros, o cargo de assessor internacional do presidente Tancredo Neves entre 1984 e 1985; de embaixador do Brasil, em Washington, de 1991 a 1993; e de embaixador do Brasil em Roma, em 1995.

A guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump, que afeta o setor de aço, deve forçar o Brasil a ceder, avalia Rubens Ricupero, que foi embaixador do País nos Estados Unidos. Ele também já comandou o Ministério da Fazenda em 1994, na implantação do Plano Real, e teve de deixar a pasta depois de ter uma conversa captada por antenas parabólicas antes de uma entrevista ao jornalista Carlos Monforte.

Ao falar da divulgação de dados de inflação, ele disse que "o que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde." Hoje, Ricupero avalia que o sistema político está muito mais corrompido e em desintegração.

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Leia, a seguir, trechos da entrevista.

Estamos assistindo ao início de uma guerra comercial?

Não há dúvida de que o presidente Trump começou uma guerra comercial, baseada na ameaça. Mas é preciso separar as atitudes de Trump contra a China das que foram tomadas contra o Brasil.

Elas têm efeitos diferentes?

São de naturezas diferentes. No caso das tarifas que ele aumentou sobre o aço e o alumínio, alegando ser uma questão de segurança nacional, a intenção é forçar os países exportadores, como o Brasil, a negociar algum tipo de acordo, o que hoje em dia é ilegal, mas já se praticou muito nos anos 1980. Esses acertos são chamados de "acordos voluntários", de restrição de exportação. O país aceita restrições só para não ser retaliado.

E contra a China?

Ele quer diminuir o déficit comercial com a China. E há também uma disputa sobre propriedade intelectual. É uma tentativa de conter as exigências de investimentos e cessão de tecnologia, associação com empresas e mesmo cópia e roubo. Os chineses delinearam uma agenda para dez áreas de ponta - como robótica, supercomputadores, inteligência artificial - em que pretendem atingir a supremacia até 2025. Uma forma de adquirir tecnologia é comprar empresas ou obrigar quem se instala lá a ceder tecnologia. A própria Embraer teve problemas.

Essa postura surpreende?

Isso não tem nada de novo. Naquele livro que ele escreveu (ou que outros escreveram por ele), A Arte da Negociação, está dito que o que ele busca é ser imprevisível, criar um conflito e dizer ao adversário que o problema vai acabar assim que a outra parte oferecer alguma vantagem em troca. Mas esse tipo de atitude é ilegal e enfraquece as regras da Organização Mundial do Comércio.

A siderurgia brasileira deve perder muito?

Alguns grupos do Brasil nessa área há muito tempo investiram comprando usinas americanas. Quem tem mais a perder é quem não investiu nos Estados Unidos. O setor não é inteiramente unido. É claro que eles vão dizer o contrário, mas tem um grupo que não está se sentindo tão ameaçado.

Como o sr. avalia o primeiro ano do governo Trump?

A maior contribuição que ele deu até agora é a reforma tributária, que reduziu a incidência de imposto, sobretudo sobre grandes empresas. Por enquanto, está ajudando a acelerar o crescimento. Só que em um prazo maior, dificilmente compensará a perda de receita.

A relação entre Brasil e Estados Unidos deve mudar?

Hoje, a maior parte da agenda dos Estados Unidos tem pouca ligação com a do Brasil. A nossa é, em grande parte, voltada para o desenvolvimento, não tem muita ligação com questões geoestratégicas.

Seu livro mais recente, 'A Diplomacia na Construção do Brasil', relata grandes momentos do Brasil no exterior. A diplomacia brasileira se apequenou?

O Brasil ficou sem uma grande projeção, porque esse elemento do soft power, que vem do prestígio, sofre quando um país mergulha em uma crise - e o Brasil está longe de sair dela. Ainda que, em termos econômicos, haja sinais positivos, a crise do sistema político é preocupante. Basta ver as notícias recentes (da ação da Polícia Federal contra amigos do presidente Michel Temer). Como um País nessa situação vai ter grande projeção? Nem acho que a culpa seja do governo, mas é a situação histórica pela qual o Brasil passa.

Em 1994, o sr. deixou o Ministério da Fazenda após ter feito um comentário infeliz. Em períodos recentes, o alto escalão do governo vem sendo alvo de denúncias graves. O que mudou?

No meu caso, foi um deslize verbal. Esses outros casos são crimes. E eles se mantêm, porque o sistema está muito mais corrompido hoje. O sistema já dá sinais de esgotamento, na dimensão da corrupção, na repetição dos ilícitos com intervalos cada vez menores, no colapso da segurança pública e nas finanças de alguns Estados, no assassinato da vereadora Marielle Franco e no atentado contra a caravana do ex-presidente Lula. Não são fatos isolados. Há a possibilidade de uma reação, pelas eleições, se elas resultarem em um presidente e em um Congresso conscientes da necessidade de reformas. Isso pode ajudar o sistema a se regenerar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O embaixador Rubens Ricupero afirmou que, enquanto o Brasil não encontrar um rumo interno, terá dificuldade de encontrar um rumo no mundo. "Estamos numa profunda crise, talvez terminal em alguns aspectos", afirmou. "A nossa crise, para usar um linguajar do protecionismo, é de um conteúdo, se não 100% nacional, quase que 100% nacional".

"Não vão ser os estrangeiros que vão nos ajudar a encontrar um modelo político melhor, mais funcional", afirmou, em evento sobre política externa e economia nesta quarta-feira, 23, ao lado do empresário Pedro Passos no Instituto Fernando Henrique Cardoso.

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Ricupero também comentou a crise econômica e seus impactos para o setor produtivo e assumiu que serão necessários novos impostos, o que deve onerar ainda mais a produção. "Ninguém vai nos salvar de nós mesmos. Temos que encontrar melhores instituições", disse.

O embaixador afirmou, contudo, que a crise interna não impede uma diplomacia criativa, inovadora. Ricupero citou a política externa pré-golpe de 1964, liderada por Jânio Quadros, Afonso Arinos e Santiago Dantas. Segundo o embaixador, isso mostra que a política externa, ainda que boa, nem sempre salva o governo. "Seria uma ilusão pensar nesse momento que a política externa vai nos salvar, mas pode ajudar".

Ele afirmou que a política externa do governo Dilma Rousseff corrigiu alguns aspectos da gestão Lula, como as violações aos direitos humanos no Irã, mas continua tendo muitas falhas em nossa própria região. "Há muito tempo o Mercosul vive em crise e precisa ser repensado em profundidade. Nunca tentamos repensar o Mercosul", afirmou.

O embaixador Rubens Ricupero, diretor da faculdade de economia da Faap, avaliou que o cancelamento da visita oficial que a presidente Dilma Rousseff faria ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em outubro não deve trazer prejuízos econômicos ao Brasil. Para Ricupero, que chefiou a diplomacia brasileira em Washington nos anos 90, o objetivo dessa viagem era mais político e diplomático que econômico.

"Era uma viagem de Estado, onde o que conta muito é o protocolo. É uma viagem de prestígio mais que de trabalho. Se houvesse algum conteúdo importante nessa visita, como um acordo comercial ou parceria nova, certamente poderia haver uma saída diplomática", afirmou.

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Ricupero avaliou que no atual momento das relações entre Brasil e Estados Unidos, se houvesse prejuízo comercial seria mais impactante aos norte-americanos que aos brasileiros. "Se tivesse impacto, seria ruim para eles, porque eles vendem muito para o Brasil e, atualmente, o Brasil vende pouco para eles. O superávit deles é muito grande", disse. "Com isso, quem correria o risco de perder alguma coisa seriam eles", disse.

Para o embaixador, dadas as circunstâncias atuais, marcadas por denúncias de espionagem ao Brasil pela Agência de Segurança Nacional americana (NSA, na sigla em inglês), "não havia outra saída" para Dilma que não o cancelamento. "Não havia clima", concluiu.

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