A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi reeleita com uma proporção de votos que oscilaria entre 53% e 55% dos votos, segundo bocas de urna divulgadas na noite de hoje. Desta forma, Cristina, candidata da Frente pela Vitória, uma sublegenda do Partido Justicialista (Peronista), obteve um novo mandato presidencial que concluirá em 2015. "Nunca fui convencida nem serei", afirmou Cristina Kirchner, perante seus militantes e assessores, que bradavam seu nome no auditório do Hotel Intercontinental, quartel-general da campanha presidencial.
"Mas, devo agradecer a 'ele', que foi o fundador desta vitória", acrescentou em referência a seu marido e ex-presidente Nestor Kirchner (2003-2007), que morreu em outubro do ano passado. "Não falo dele como marido...falo dele como quadro político!", exclamou a presidente reeleita, que também afirmou que não possui "ambição alguma" e que somente age por "amor" aos argentinos.
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Cristina foi parabenizada pelos presidentes sul-americanos por sua vitória nas urnas. "Recebi um telefonema fraternal da companheira Dilma Rousseff", contou com voz embargada.
Cristina, respaldada por um heterogêneo grupo político que aglutina intelectuais de vanguarda e coronelismo do interior, junto com sindicalistas que estão no poder há décadas, economistas neoliberais recentemente conversos ao keynesianismo e organismos de defesa dos direitos humanos - todos amalgamados sob as figuras simbólicas de Juan Domingo Perón e Evita Perón - também ficaria com a maioria do Parlamento e dos governos provinciais.
Recorde - A proporção de votos obtidos por Cristina supera o recorde de Raúl Alfonsín reeleito com 51,7% em 1983, ano da volta da democracia. Em segundo lugar estaria o socialista Hermes Binner, um dos poucos governadores não envolvidos em escândalos de corrupção, com 16% dos votos.
O terceiro posto ficaria com Ricardo Alfonsín, filho do ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-89), candidato da União Cívica Radical (UCR), com 10%. O quarto lugar seria do peronista dissidente Alberto Rodríguez Saá, que fez campanha prometendo internet wi-fi grátis em toda a Argentina, com 8%. Em quinto lugar estava o ex-presidente Eduardo Duhalde (2002-2003), candidato de outra facão do peronismo dissidente, com 6%.
Luto - Cristina votou na cidade de Rio Gallegos, capital da província de Santa Cruz, onde Kirchner foi enterrado no ano passado. Após votar, ostentando um vestido de luto e chorando, declarou que estava "emocionada", já que era "a mulher de um homem que marcou definitivamente a vida política da Argentina". Na quinta-feira a presidente participará, nessa cidade, do segundo funeral de Kirchner, cujo caixão sairá da modesta tumba familiar, onde esteve provisoriamente durante este ano, e será transferido com toda a pompa para um monumental mausoléu de mármore e granito de 11 metros de altura que pode ser visto a vários quarteirões de distância.
Escândalos - Os analistas destacam que, tal como ocorreu com o presidente Carlos Menem (1989-99), reeleito em 1995 em meio a uma série de casos de corrupção, a candidatura de Cristina não foi abalada pelas centenas de escândalos que envolvem integrantes de seu governo. Sua intenção de voto tampouco caiu apesar das suspeitas de enriquecimento ilícito da presidente, cuja fortuna teria aumentado 930% nos últimos oito anos.
Os analistas destacam que tanto em 1995 como em 2011 existia entusiasmo com as políticas econômicas dos governos que disputavam a reeleição.
Manuel Mora y Araújo, diretor da consultoria Ipsos-Mora y Araujo e professor da Universidade Torcuato Di Tella, sustenta que, ao contrário de 1995, a oposição atualmente está muito "fragmentada": "a maioria das pessoas pensam que a continuidade do governo em exercício é a melhor opção. E desta forma, quando predomina este sentimento, os eventuais aspectos negativos atribuídos ao governo e seus integrantes passam para um segundo plano".
Sylvina Walger, autora de "Cristina, de parlamentar combativa a presidente fashion", biografia não-autorizada da presidente que lhe valeu as portas fechadas nos meios de comunicação alinhados com o governo, resume ao Estado: "é a tal filosofia do 'rouba mas faz'. Infelizmente, é assim".
A Argentina está entre os países com mais corrupção no planeta, segundo o ranking da ONG Transparência Internacional. Neste ano o país ocupou o posto número 105, a mesma posição que tinha em 2007, ano da posse de Cristina.