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Após a divulgação pelo Banco Central de uma retração de 0,13% no Índice de Atividade (IBC-Br) no segundo trimestre deste ano, o que indicaria uma grande possibilidade de recessão técnica, o ministro da Economia, Paulo Guedes, evitou comentar o indicador.

Guedes está no Superior Tribunal de Justiça (STJ) onde participará de um seminário sobre a Medida Provisória 881, da Liberdade Econômica e foi abordado pela imprensa que o pediu para comentar o índice. Guedes, no entanto, evitou fazer comentários.

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O PIB no primeiro trimestre ficou negativo e tecnicamente dois trimestres seguidos de queda na atividade econômica configuram recessão técnica. Considerado uma espécie de "prévia do BC para o PIB", o IBC-Br serve como parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses.

O termo ainda não é popularmente conhecido, mas o nome já deixa um curioso sentimento de recuo e dificuldades na saúde financeira do Brasil. Muito usado no meio econômico, “recessão técnica” significa um decréscimo da instabilidade econômica de uma região, ou de um País, providos de dois semestres seguidos de resultados negativos do Produto Interno Bruto (PIB).

De acordo com o economista e Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Djalma Guimarães, a situação vivenciada no País, atualmente, é definida de acordo com o termo citado. “Ou seja, o somatório de tudo que as empresas estão produzindo no País está menor do que no ano anterior. Isso já é um indicativo que vai se confirmar um decréscimo”, avalia. 

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Para o especialista em economia, a situação tem relação direta com a queda dos índices do (PIB). “O PIB é a soma de algumas variáveis com o consumo das famílias, o investimento do governo, e as importações. Então, quando o governo diminui os gastos vai haver menos consumo”, definiu, detalhando os setores que contribuem para as quedas dos resultados. “Os principais responsáveis pela queda do PIB são a redução dos gastos do governo e a redução do consumo das famílias”, completou. 

Guimarães lembrou ainda que o consumo das famílias tem diminuído pela situação de crise do Brasil e contribuído para a recessão técnica. “O orçamento está mais apertado e há expectativas ruins, e quando as famílias consumem menos, corrobora para a queda destes indicadores”, pontuou. “Já estávamos esperando o grau desta queda, mas isso é negativo porque a economia está decrescendo, e a pior informação é que o governo não tem conseguido criar um cenário que mostre um crescimento desses indicadores no próximo ano. O governo tem se atrapalhado, sem falar no componente político”, acrescentou. 

Segundo o economista, a recessão técnica não é uma causa, mas sim, o resultado da crise. “É o resultado do que está acontecendo. As famílias já estão sentindo o desemprego e a renda das famílias tem caído em virtude desta situação”, reforçou. Apesar dos resultados atuais não serem otimistas, Guimarães acredita na possibilidade de uma situação melhor neste segundo semestre. “Historicamente o segundo semestre é melhor do que o primeiro porque o segundo tem as vendas do final de ano. Porém, vai continuar caindo, mas numa magnitude menor, mas depende do governo e de suas agendas positivas para criar uma situação fiscal e medidas de investimentos”, sugeriu. 

Legitimando a análise de Guimarães, o Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, Maurício Romão pontuou a importância do crescimento de produção para garantir dados positivos. “Na economia é fundamental que haja um aumento da produção do País para que possa fazer face as suas necessidades. Ou seja, com um crescimento econômico se consegue ter mais bens disponíveis para população e se consegue gerar renda, e essa renda é gerada para que a produção aumente. Para isso é necessário aumentar o emprego, então, é uma cadeia retroalimentável”, contextualizou.

Segundo Romão, a situação atual foi ocasionada devido ao não crescimento de alguns anos passados. “Nós estamos vivenciando uma situação que foi gerada no passado recente de um crescimento não sustentável. Ele era fruto, induzido, de uma política expansionista fiscal em que o governo começou a conceder crédito, ao público, através dos bancos oficiais, mas muitas vezes subsidiados, para estimular o consumidor”, relembrou. 

Além da falta de crescimento de anos anteriores, Maurício Romão se lembrou do aumento da inflação como outro fator que interfere na situação. “Você precisa crescer para gerar desenvolvimento. Estamos vivenciando um período de estagnação combinado com o de inflação e é o pior dos mundos na trajetória de um País. É quando um País não cresce e convive com a inflação porque a renda das pessoas não aumenta e a inflação vai corroendo em tempos reais”, destacou. 

Diferente de Djalma Guimarães, Romão não prevê bons resultados positivos para o segundo semestre. “Todas as previsões apontam para uma dificuldade para este segundo semestre. Não há nenhuma análise que aponte para uma mudança. O desemprego deve continuar e a queda da renda real, e ausência de crescimento, porque não há nenhum novo estímulo que possa ser inserido neste novo contexto que, por exemplo, fizesse com que os empresários pudessem depositar uma confiança no País”, analisou.

A gerente da Coordenação de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palisa, evitou falar em recessão técnica quando perguntada diretamente sobre o assunto, na divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro semestre. Nesta sexta-feira (29), o IBGE informou que o PIB do segundo trimestre recuou 0,6% ante o primeiro e revisou o resultado de janeiro a março ante o quarto trimestre de 2013, de 0,2% para -0,2%.

Rebeca também refutou uma comparação com a retração na virada de 2008 para 2009, auge da crise internacional. "As taxas são bastante diferentes. As quedas de 2008 e 2009 são bastante pronunciadas", afirmou Rebeca, em entrevista. Após a apresentação dos dados, a gerente do IBGE reforçou que o instituto considera as variações entre -0,5% e 0,5% como estabilidade.

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Além disso, as revisões estatísticas das variações do PIB na comparação com ajuste sazonal, entre um trimestre e o outro imediatamente anterior, são feitas a cada divulgação trimestral. Assim, a variação de -0,2% no primeiro trimestre de 2014 ante o último de 2013 pode passar novamente ao terreno positivo.

"As variações muito grandes, tanto para cima quanto para baixo, são revistas, mas não mudam de sinal. As variações muito próximas do zero, como esse -0,2%, podem modificar (de sinal) no trimestre seguinte", afirmou Rebeca.

A economia brasileira entrou oficialmente em recessão, a primeira desde 2009, segundo mostram dados divulgados nesta sexta-feira, 29, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O PIB caiu 0,6% no segundo trimestre, ante o primeiro trimestre, resultado pior do que o esperado pelos analistas ouvidos pelo AE projeções, cuja estimativa mediana era de -0,4%. Na comparação com o segundo trimestre do ano passado houve contração de 0,9%, também pior do que a mediana das projeções, de -0,60%.

Além de confirmar um quadro de recessão técnica, a atividade econômica bastante fraca deve entrar de vez na disputa eleitoral, com os candidatos da oposição usando esse desempenho para criticar a administração da presidente Dilma Rousseff (PT). Até o momento, os ataques estavam focados principalmente na inflação, que em 12 meses continua no teto da meta, a 6,50%. Em instantes será divulgado outro dado, que também está relacionado a outro ponto delicado do atual governo: as contas públicas.

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No caso do resultado do governo central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência), que o Tesouro Nacional informa também hoje, as expectativas variam de -R$ 3,3 bilhões a +R$ 2,1 bilhões, com mediana zero. Na sequência, às 10h30, o Banco Central informa o resultado primário do setor público consolidado do mês passado e as estimativas oscilam de -R$ 2,9 bilhões a +R$ 2,0 bilhões, com mediana de +R$ 1,2 bilhão.

Operadores das mesas de renda fixa lembram que nos últimos dias alguns investidores se posicionaram nas taxas dos DIs apostando em um número mais fracos que o esperado. Com isso, a curva de juros futuros, que segue com inclinação negativa, deve reagir à essa rodada intensa de indicadores econômicos domésticos, mas sem tirar a atenção dos investidores do fator político, em meio à expectativa pelos números da pesquisa do Datafolha, prevista para ser divulgada a partir desta sexta-feira.

Às 9h20, o DI para janeiro de 2015 tinha taxa de 10,770%, ante 10,780% no ajuste de ontem. O DI para janeiro de 2016 apontava 11,19%, na mínima, de 11,24%. O contrato para janeiro de 2017 indicava 11,22%, de 11,26%. E o DI para janeiro de 2021 mostrava 11,15%, de 11,18%. Já o dólar à vista, no balcão, estava estável, cotado a R$ 2,2430.

A economia brasileira encolheu pelo segundo trimestre consecutivo nos últimos três meses do ano passado, segundo o índice de atividade divulgado pelo Banco Central (BC). O IBC-Br apresentou queda de 0,17% no quarto trimestre do ano passado em relação ao trimestre anterior, depois de cair 0,21% no terceiro trimestre. No ano, houve crescimento de 2,52%.

No jargão dos economistas, dois trimestres consecutivos de queda no Produto Interno Bruto (PIB) configuraria uma "recessão técnica". Mas, para analistas, ainda não é possível usar esse termo para a economia brasileira, pelo fato de o IBC-BR, apesar de ser considerado uma prévia do PIB oficial, não apontar com fidelidade para o indicador do IBGE.

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Segundo levantamento feito pelo serviço AE Projeções logo após a divulgação do IBC-Br, o PIB oficial do quarto trimestre, que sai no próximo dia 27, deve ficar entre estabilidade e crescimento de 0,6%. A maior parte das previsões indica uma expansão de 0,3% para o PIB dos três últimos meses do ano passado na comparação com o trimestre anterior.

"Tem gente que vai falar em recessão técnica, mas não é bem assim, é preciso esperar para ver se o PIB do quarto trimestre vem negativo. O que vale é o dado do IBGE", disse o economista-chefe do banco Besi Brasil, Flávio Serrano. Para ele, o quarto trimestre ficará entre estabilidade e alta de 0,4%. O PIB do terceiro trimestre de 2013 teve recuo de 0,5%.

De acordo com Serrano, há muito tempo o Brasil sofre com um mix de resultados ruins, com atividade fraca e inflação alta. "O incentivo ao consumo e o aumento do gasto público não estão surtindo efeito", afirmou. "Apesar de o indicador ter avançado 2,52% no ano passado, todo o crescimento ficou concentrado no primeiro semestre."

Indústria. Na avaliação do economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria Integrada, as duas quedas trimestrais no IBC-Br são reflexo de atividade industrial retraída. O desempenho negativo da atividade no fim do ano passado, ajudado também pela desaceleração no varejo, que deve persistir em 2014, indica que o PIB do primeiro trimestre deste ano possa ser mais fraco que o previsto, segundo ele. A Tendências avalia que o PIB deve avançar 0,2% nos últimos três meses de 2013. Com isso, o Brasil deve escapar de uma recessão.

O diretor de Pesquisa Econômica da GO Associados, Fabio Silveira, também avalia que o dado do BC mostra uma evolução "bastante lenta" da economia brasileira, mas ainda fora de uma ameaça de recessão. "O ritmo de crescimento é baixo por conta de inflação, juro alto, pouco dinamismo do setor exportador e da indústria que não consegue competir bem nos mercados externo e doméstico."

O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, afirmou que os dados do BC confirmam que o Brasil está crescendo em ritmo decepcionante. "O que esperávamos para a economia há alguns anos não está se realizando", afirmou o economista.

Leal pondera, no entanto, que o quadro apontado pelo IBC-Br não necessariamente vai se repetir no PIB calculado pelo IBGE. "São metodologias e dados diferentes. Eu tomaria cuidado ao dizer que o IBC-Br sinaliza que o PIB vai estar em recessão." O ABC Brasil espera uma alta de 0,1% para o PIB no último trimestre de 2013 e um avanço de 2,1% no ano.

Gustav Gorski, economista-chefe da Quantitas Asset, por outro lado, avalia que o IBC-Br confirmou uma provável recessão no Brasil. Gorski pondera, no entanto, que a recessão não é um cenário tão ruim se ajudar a inflação a convergir para a meta de 4,5% em 2015.

"Se houver uma recessão, mesmo que seja pequena, mas conseguir convergência da inflação para 2015, é um cenário bem mais positivo do que a economia ficar andando devagar com inflação alta por um longo período", disse Gorski.

Para ele, é muito provável que o BC reduza o ritmo de alta da Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 25 e 26. No encontro mais recente, a autoridade monetária elevou a taxa Selic de 10% para 10,5%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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