O termo ainda não é popularmente conhecido, mas o nome já deixa um curioso sentimento de recuo e dificuldades na saúde financeira do Brasil. Muito usado no meio econômico, “recessão técnica” significa um decréscimo da instabilidade econômica de uma região, ou de um País, providos de dois semestres seguidos de resultados negativos do Produto Interno Bruto (PIB).
De acordo com o economista e Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Djalma Guimarães, a situação vivenciada no País, atualmente, é definida de acordo com o termo citado. “Ou seja, o somatório de tudo que as empresas estão produzindo no País está menor do que no ano anterior. Isso já é um indicativo que vai se confirmar um decréscimo”, avalia.
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Para o especialista em economia, a situação tem relação direta com a queda dos índices do (PIB). “O PIB é a soma de algumas variáveis com o consumo das famílias, o investimento do governo, e as importações. Então, quando o governo diminui os gastos vai haver menos consumo”, definiu, detalhando os setores que contribuem para as quedas dos resultados. “Os principais responsáveis pela queda do PIB são a redução dos gastos do governo e a redução do consumo das famílias”, completou.
Guimarães lembrou ainda que o consumo das famílias tem diminuído pela situação de crise do Brasil e contribuído para a recessão técnica. “O orçamento está mais apertado e há expectativas ruins, e quando as famílias consumem menos, corrobora para a queda destes indicadores”, pontuou. “Já estávamos esperando o grau desta queda, mas isso é negativo porque a economia está decrescendo, e a pior informação é que o governo não tem conseguido criar um cenário que mostre um crescimento desses indicadores no próximo ano. O governo tem se atrapalhado, sem falar no componente político”, acrescentou.
Segundo o economista, a recessão técnica não é uma causa, mas sim, o resultado da crise. “É o resultado do que está acontecendo. As famílias já estão sentindo o desemprego e a renda das famílias tem caído em virtude desta situação”, reforçou. Apesar dos resultados atuais não serem otimistas, Guimarães acredita na possibilidade de uma situação melhor neste segundo semestre. “Historicamente o segundo semestre é melhor do que o primeiro porque o segundo tem as vendas do final de ano. Porém, vai continuar caindo, mas numa magnitude menor, mas depende do governo e de suas agendas positivas para criar uma situação fiscal e medidas de investimentos”, sugeriu.
Legitimando a análise de Guimarães, o Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, Maurício Romão pontuou a importância do crescimento de produção para garantir dados positivos. “Na economia é fundamental que haja um aumento da produção do País para que possa fazer face as suas necessidades. Ou seja, com um crescimento econômico se consegue ter mais bens disponíveis para população e se consegue gerar renda, e essa renda é gerada para que a produção aumente. Para isso é necessário aumentar o emprego, então, é uma cadeia retroalimentável”, contextualizou.
Segundo Romão, a situação atual foi ocasionada devido ao não crescimento de alguns anos passados. “Nós estamos vivenciando uma situação que foi gerada no passado recente de um crescimento não sustentável. Ele era fruto, induzido, de uma política expansionista fiscal em que o governo começou a conceder crédito, ao público, através dos bancos oficiais, mas muitas vezes subsidiados, para estimular o consumidor”, relembrou.
Além da falta de crescimento de anos anteriores, Maurício Romão se lembrou do aumento da inflação como outro fator que interfere na situação. “Você precisa crescer para gerar desenvolvimento. Estamos vivenciando um período de estagnação combinado com o de inflação e é o pior dos mundos na trajetória de um País. É quando um País não cresce e convive com a inflação porque a renda das pessoas não aumenta e a inflação vai corroendo em tempos reais”, destacou.
Diferente de Djalma Guimarães, Romão não prevê bons resultados positivos para o segundo semestre. “Todas as previsões apontam para uma dificuldade para este segundo semestre. Não há nenhuma análise que aponte para uma mudança. O desemprego deve continuar e a queda da renda real, e ausência de crescimento, porque não há nenhum novo estímulo que possa ser inserido neste novo contexto que, por exemplo, fizesse com que os empresários pudessem depositar uma confiança no País”, analisou.