O exército e os paramilitares continuam lutando no Sudão, com explosões e confrontos nas ruas de Cartum nesta sexta-feira (21), apesar dos pedidos de trégua devido ao fim do Ramadã.
Antes do nascer do sol, como acontece desde 15 de abril, a capital sudanesa foi abalada por disparos e ataques aéreos entre as forças dos dois generais que disputam o poder no país.
##RECOMENDA##"Durante a noite (...), vários bairros de Cartum foram e ainda estão sendo bombardeados entre o exército e as Forças de Apoio Rápido (FAR) paramilitares", disse o sindicato dos médicos nesta sexta-feira.
Soldados e paramilitares lutavam ferozmente nas ruas nesta sexta-feira em áreas residenciais densamente povoadas no centro e norte de Cartum, disseram testemunhas à AFP.
No dia anterior, a ONU e os Estados Unidos solicitaram uma trégua de "pelo menos" três dias para permitir que civis celebrassem o Eid al Fitr, que marca o fim do mês de jejum muçulmano do Ramadã.
No entanto, o chefe do exército Abdel Fatah al-Burhan descartou na quinta-feira negociar com seu ex-número dois, Mohamed Hamdan Daglo, chefe das Forças de Apoio Rápido (FAR) paramilitares.
As FAR anunciaram às 4h00 GMT (01h00 em Brasília) de sexta-feira "seu acordo de trégua de 72 horas" para dar uma pausa aos sudaneses presos neste fogo cruzado, que segundo a Organização Mundial da Saúde deixou mais de 400 mortos e 3.500 feridos.
Ao mesmo tempo, o general Burhan apareceu na televisão estatal pela primeira vez desde o início dos confrontos para um discurso por ocasião do Eid, no qual não mencionou nenhuma trégua.
- "Nosso país sangra" -
“No Eid deste ano, nosso país sangra: a destruição, a desolação e o barulho das balas prevalecem sobre a alegria”, disse.
"Esperamos sair desta prova mais unidos (...), um só exército, um só povo", disse, vestindo uniforme militar, entre duas bandeiras sudanesas.
"Gostaríamos que os combates parassem devido ao Eid, mas sabemos que isso não acontecerá", disse Abdallah, morador da capital, à AFP na quinta-feira.
Em entrevista por telefone à Al Jazeera, Burhan disse na quinta-feira que não havia espaço "para negociações políticas" com seu rival.
Se o general Daglo, apelidado de "Hemedti", não desistir de sua tentativa de "querer controlar o país", será "esmagado militarmente", alertou.
Durante o dia, Burhan recebeu ligações do secretário-geral da ONU, dos presidentes do Sudão do Sul e da Turquia, do primeiro-ministro etíope e dos chefes da diplomacia dos Estados Unidos, Arábia Saudita e Catar.
Washington anunciou o envio de militares para a região caso tenha que evacuar sua embaixada. O aeroporto de Cartum está fechado desde sábado e as embaixadas pedem aos cidadãos que fiquem seguros.
Na capital, muitas famílias estão sem seus últimos suprimentos e não têm eletricidade ou água encanada. As linhas telefônicas funcionam apenas de forma intermitente. Muitos tentam fugir entre postos de controle de ambos os lados e corpos espalhados pelas ruas.
Muitos civis também fugiram para o exterior para escapar da violência, concentrada principalmente em Cartum e na região oeste de Darfur.
Entre 10.000 e 20.000 pessoas, a maioria mulheres e crianças, cruzaram a fronteira para o Chade, de acordo com o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR).
Ambos os lados continuam anunciando vitórias e fazendo acusações mútuas que são impossíveis de verificar no terreno.