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Livrar os fios, salvar a calçada, melhorar a iluminação do ambiente, visualização de câmeras de segurança ou até estética podem ser usados como motivos para se aparar os galhos, folhas ou mesmo cortar uma árvore. No Recife, a ação é necessária devido aos erros históricos na escolha das espécies adequadas ao cenário urbano. Porém, neste Dia Mundial das Florestas, valem as perguntas: Será que este trabalho é feito da forma correta? Ou estamos livrando a cidade de um problema e criando outro?
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Apenas dois órgãos são autorizados a podar árvores nas vias da capital pernambucana. A Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), ligada à Prefeitura do Recife, e a Companhia de Eletricidade de Pernambuco (CELPE), que já foi pública, mas agora pertence ao grupo NeoEnergia, privado. Ambas utilizam empresas terceirizadas para o serviço, que as vezes é feito de forma correta e outras, segundo fontes consultadas pelo LeiaJá, são “aberrações”.
Os dois órgãos afirmam que todas as podas são feitas mediante laudo técnico e supervisão de engenheiros, florestais ou agrônomos. Porém, alguns profissionais da área questionam o serviço realizado, a exemplo do Engenheiro Florestal e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Williams de Souza.
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Em defesa da CELPE, o gestor ambiental Thiago Caires contesta as alegações de que o serviço é mal executado. “Todo o planejamento de podas é feito pela unidade de manutenção do serviço de rede. Só é feita a poda quando há potencial de interrupção do serviço de energia. Fazemos um diagnóstico ambiental, verificamos a necessidade e a periodicidade e planejamos os serviços. Tudo é supervisionado por engenheiros, que orientam os técnicos agrícolas para executarem o serviço de maneira correta”, afirma Caires.
No entanto, um profissional da área, que prefere não ser identificado, reafirma a tese do professor Williams de Souza, de que a poda da CELPE é feita por produção e vai além. “A rotatividade nas empresas terceirizadas é muito grande. Não tem como todos estarem treinados. Além disso, eles têm uma meta diária. Têm que cortar ‘x’ árvores, vão lá e cortam, sem se importar com o vegetal. O objetivo é livrar o fio e pronto”, critica.
Segundo Caires, esta informação também não procede. “Apenas uma empresa faz o serviço de manejo de vegetação. A FK Engenharia. Ela conta com um engenheiro agrônomo que é responsável por fazer toda a orientação da equipe na Região Metropolitana (do Recife – RMR). A informação que a gente tem é que ele paga o serviço executado. Não é por produção. Só faz o que é programado. Indicamos a árvore e não a área. Todo colaborador que entra é treinado. Todo serviço é feito sob supervisão”, diz o gestor ambiental da CELPE.
O engenheiro agrônomo da Emlurb, Tadeu Pontes, afirma que a Prefeitura vem procurando negociar os trabalhos integrados entre a gestão pública – que contrata os serviços da Loquipe e Engemaia – e a CELPE para minimizar as podas mal feitas. “O ideal são as operações em conjunto. Queremos fazer uma parceria com a concessionária de energia, que tem a obrigação de fazer a manutenção da rede, para que a poda seja adequada. Vemos muitas aberrações”, afirma.
Mas quais os erros cometidos e o que eles podem causar? Quando a árvore é cortada de qualquer maneira – como explicado no vídeo pelo professor Williams de Souza – o risco é que ela fique vulnerável à ação de fungos e parasitas, que podem provocar o apodrecimento dos troncos e a consequente queda, já que o vegetal fica mais frágil. Além disso, o corte de muitos galhos apenas de um lado da copa pode provocar o desequilíbrio da árvore, principalmente quando chove. O peso excessivo de um lado, aliado a fortes ventos, é receita certa para que ela caia, causando acidentes, com danos materiais e até mesmo ferindo pessoas.
Talvez o fator mais importante seja mesmo a questão do meio ambiente. As podas mal feitas podem ocasionar a morte da árvore, que vai precisar ser retirada e talvez não seja reposta. O que vai de encontro à tendência de se ter cada vez mais árvores, para melhorar a qualidade do ar que respiramos e minimizar a temperatura provocada pelas mudanças climáticas e pelas grandes concentrações de concreto das metrópoles, criando as chamadas “ilhas de calor”, que entre outras coisas, aumenta o consumo de energia devido ao uso excessivo de ar-condicionado.
Soluções – Para melhorar a qualidade e a precisão da poda, Thiago Caires afirma que a CELPE está investindo em pesquisas e criou um protótipo. “Desenvolvemos, entre 2011 e 2013, um equipamento pneumático (que funciona com ar comprimido) onde conseguimos ter maior acertividade desse corte. A máquina é adequada para que o operador tenha uma mobilidade de uma vara de vazão, com uma espécie de tesoura na ponta, ajustando melhor o corte, principalmente de galhos mais altos”, explica.
Mas a solução para o problema das podas talvez não esteja no melhoramento da poda. Se o equipamento da CELPE ainda não tem previsão de estar nas ruas do Recife, outra cidade, São Paulo, criou um projeto piloto para retirar as árvores da calçada, minimizando o bloqueio ou destruição do passeio público e evitando o contato com os fios.
O projeto na Cidade Patriarca, zona leste da capital paulista, já plantou 70 mudas no asfalto, entre as duas mãos de circulação de veículos, e em ilhas. “Nós estamos desenvolvendo novas metodologias de plantio, levando em consideração as características da cidade: as calçadas são estreitas, então a árvore ocupa um espaço precioso, necessário para o cadeirante ou para a pessoa com deficiência, e a fiação, com o que as árvores convivem mal”, afirmou Fernando Haddad, prefeito da cidade, em entrevista à equipe de comunicação da prefeitura de São Paulo.
Sete espécies de árvores foram plantadas, de médio e grande porte, com raiz pivotante, que não se espalha lateralmente. No plantio, são também utilizados anéis de concreto que direcionam as raízes para camadas mais profundas do solo.
O plantio sobre o asfalto possui baixo custo de implantação e uma única equipe consegue plantar cerca de 30 árvores por dia. A faixa de plantio foi sinalizada na pista e tem pelo menos sete metros de distância das esquinas transversais, de modo a garantir a visibilidade de motoristas e pedestres.
Dia Mundial das Florestas - A Organização das Nações Unidas (ONU) comemora, neste sábado (21), o Dia Mundial das Florestas. O objetivo é promover a conscientização sobre a importância de todos os tipos de florestas e árvores do planeta. O tema de 2015 é: "Florestas e Mudanças Climáticas".
Reclamações - Caso o cidadão esteja em dúvida ou queira denunciar alguma agressão contra as árvores nas podas da CELPE, a empresa disponibiliza o email controle.vegetacao@celpe.com.br. Segundo Thiago Caires, no entanto, "A CELPE nunca recebeu reclamações referentes ao serviço de poda".