Gerações acompanham os tristes capítulos dos conflitos entre os israelenses e os palestinos. A guerra entre as duas nações perdura mais de 70 anos e já destruiu muitas vidas. O conflito, inclusive, vem se intensificando nos últimos dias e volta a estar em destaque na imprensa mundial.
O LeiaJá conversou com os professores de história Arthur Lira, Marlyo Ferreira e Pedro Botelho, que explicaram os acontecimentos históricos que levaram os povos israelenses e palestinos a entrarem em conflito até os dias atuais, e como o assunto pode cair em vestibulares.
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A origem dos conflitos entre as nações
O surgimento dos povos israelenses e palestinos está ligado à história de Abraão, que recebeu, segundo os textos religiosos, a missão de migrar para a “terra prometida”, em Canaã, antiga terra dos cananeus, depois chamada de Palestina, onde hoje se localiza o Estado de Israel. “Nesta época, a Palestina, que originalmente era chamada de Filistina, era terra dos filisteus e de vários outros povos como, por exemplo, os arameus”, explica o professor Pedro Botelho.
Na Bíblia, Abraão teve dois filhos: Ismael e Isaque. O primeiro nasceu de sua relação com Agar, serva de sua esposa Sara; já o segundo, concebido pela sua própria cônjuge, nasceu com a fama de ser o “filho da promessa”. Em passagens religiosas, Deus prometeu que ambos os filhos iriam prosperar e estariam ligados a grandes nações. “Esse é um ponto importante porque é o nascimento religioso da distinção entre os hebreus e os muçulmanos (árabes), tanto que essa relação de ambos remonta a Abraão”, esclarece Marlyo Ferreira.
As terras palestinas já eram uma região de muita disputada e foram divididas em 12 tribos, as chamadas tribos de Israel, que se encontravam em conflito contra os filisteus. “Isso marca uma disputa pela terra, mesmo quando se cria o Reino de Judá e o Reino de Israel”, diz Botelho. O povo assírio acabou conquistando o Reino de Israel, restando apenas o Reino de Judá, que, segundo o educador Pedro Botelho, por causa desse nome, chamamos os hebreus de judeus até hoje. “Depois vai ter o cativeiro da Babilônia, com Nabucodonosor, que está presente na bíblia também; o domínio grego e o domínio dos romanos”, elenca o educador.
A região da Palestina está localizada no Oriente Médio ao lado da costa oriental do Mediterrâneo. O território, de origem hebraica, foi ocupado por muitos cristãos a partir do Século IV, porém, foi invadida pelos árabes muçulmanos, que dominaram a área até o Século XX. “Essa região vive disputas entre cristãos, muçulmanos e judeus há séculos, pois é considerada sagrada para as três religiões (as três de origem abraâmicas). Os judeus, por exemplo, consideram Jerusalém sagrada porque foi a capital do Reino de Davi. Os cristãos, por conta da trajetória de Cristo naquela região. Já para os muçulmanos, Jerusalém foi o local de peregrinação de Maomé depois de passar por Meca e Medina. A Mesquita de Al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém, é o terceiro local mais sagrado do Islã”, ensina o professor Arthur Lira.
O que cada nação reivindica?
As grandes guerras do Século XX foram determinantes para as disputas que acontecem até os dias atuais. O território estava sob domínio do Império Otomano, que foi derrotado na Primeira Guerra Mundial, que aconteceu de 1914 a 1918. A partir da queda do Império, o território foi desmembrado, ocasionando o nascimento de vários países naquela região, sendo o principal deles a Turquia. A partir desse momento, segundo Arthur Lira, o Reino Unido assumiu o controle do território palestino, que, na época, possuía uma minoria judaica e uma maioria muçulmana.
“Com o período entre guerras e a Segunda Guerra Mundial, muitos judeus (inclusive fugindo do Holocausto nazista) migraram para a região, motivados pelo 'sionismo', movimento surgido no Século XIX que defendia o direito à autodeterminação do povo judeu e a criação de um estado judaico independente no território onde, historicamente, existiu o antigo Reino de Israel”, elucida.
Em 1947, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou o plano de criação do Estado de Israel, que só foi oficializada no ano seguinte, dividindo assim a Palestina em dois Estados: um árabe e um judeu, e Jerusalém uma cidade internacional, sem o domínio direto de um ou outro.
Segundo o professor Pedro Botelho, esse fatou gerou um grande problema, pois a ONU criou uma nação em cima de outra. “Os árabes, maioria na Palestina, não aceitaram o projeto da ONU, iniciando uma série de disputas políticas. Em 1948, com os inúmeros impasses sobre a divisão, os ingleses saíram da região e foi fundado o Estado de Israel. O Estado da Palestina não foi criado. E a oposição Árabe fez culminar uma série de conflitos que se estende até os dias de hoje. Em 1987, foi criado o Hamas, um braço político e militar do movimento islamista palestino, visto ora como uma resistência às arbitrariedades ao Estado de Israel, ora como uma movimento radical”, explica Arthur Lira.
Após inúmeros impasses, a Palestina foi reconhecida oficialmente pela ONU como Estado da Palestina e se tornou um estado de jure - expressão em latim que significa pela lei ou pelo direito -, reivindicando soberania sobre os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e designando Jerusalém Oriental como sua capital. “Há décadas, os israelenses têm ocupado áreas habitadas por palestinos por meio de assentamentos, tanto em Jerusalém Oriental quanto na Cisjordânia, territórios dos palestinos. A recente ocupação do Estado de Israel em locais reivindicados pelos palestinos fez renascer esses conflitos, que, na verdade, nunca deixaram de existir. A questão 'Palestina-Israel' sempre foi uma ferida aberta no Oriente Médio”, diz o educador Arthur.
Acordos e tratados históricos entre as nações
Os conflitos entre Israel e Palestina são complexos e extremamente delicados devido ao valor político, econômico e simbólico do território para ambos. Em sua história, já houve tentativas de acordo entre as duas nações, como também planos de paz e tréguas, mas, no final, os dois países acabam voltando a guerrear.
“Em 1978 tivemos uma tentativa de paz que vai ser muito simbólica, que são os acordos de Camp David, que aconteceram nos Estados Unidos. Vamos ter, por exemplo, o presidente Jimmy Carter tentando intermediar essa relação, que não vai dar tão certo. Temos também o Egito minimizando a discussão e sua pressão contra os judeus, especialmente tentando reaver o território do Sinai, que acaba voltando ao país que se compromete a não tomar tanto partido em disputas contra Israel. Também acontecem vários conflitos entre Israel e outros territórios”, conta o professor de história Marlyo Ferreira.
Dentre as tentativas de negociação, a mais significativa foi o Acordo de Oslo, em 1993. De acordo com o educador Arthur Lira, esse tratado de paz, mediado na época pelo presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, teve a participação do então líder da autoridade palestina, Yasser Arafat, e o então primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin. “No acordo, as lideranças políticas de Israel e Palestina se comprometiam em unir esforços para a realização da paz entre os povos. Estabeleceram diálogos sobre o término dos conflitos, a abertura das negociações sobre os territórios ocupados, a retirada de Israel do sul do Líbano e conversações sobre a questão de Jerusalém. O acordo fez Yasser Arafat e Yitzhak Rabin levarem o Nobel da paz, em 1994, além do ministro israelense de relações exteriores, Shimon Peres. Porém, em 1995 Rabin foi assassinato por extremistas israelenses contrários ao acordo de Oslo. Os sucessores de Rabin não estabeleceram tratativas efetivas sobre a questão”, detalhou.
Como essas questões podem aparecer nas provas?
Os conflitos entre Palestina e Israel costumam, segundo o professor Arthur, aparecer no Sistema Seriado de Avaliação (SSA) 3, da Universidade de Pernambuco (UPE), e nos principais vestibulares do país, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “O tema é a cara do Enem por sua transdisciplinaridade, que aborda questões históricas, sociais, culturais e da geografia política do Oriente Médio”, comenta.
De acordo com o educador, o Enem gosta de abordar questões que falam sobre o presente desse conflito, mas aconselha os estudantes ficarem de olho nas disputas históricas dessas nações pelo território. “Passando por acontecimentos como o surgimento das religiões monoteístas no mundo antigo, a expansão islâmica na idade média, as grandes guerras do Século XX e os conflitos da contemporaneidade, como esses que estamos vendo nos jornais”, elenca.
Para exemplificar como os acontecimentos históricos desse conflito entre Israel e Palestina podem aparecer nas provas, o professor de história Arthur Lira, em entrevista ao LeiaJá, listou algumas questões.
Veja: 1 - (SSA 3 – UPE 2013)
Com a fundação do Estado de Israel, em 1948, instaura-se um novo ator nos conflitos vivenciados no Oriente Médio. Dentre os conflitos a seguir, qual deles não tem uma relação direta com o Estado de Israel?
A) Guerra dos Seis Dias
B) Guerra do Yom Kippur
C) Guerra do Suez
D) Guerra do Golfo
E) Guerra de Atrito
Resposta: “A única questão que não corresponde ao tema trabalhado é a Guerra do Golfo, conflito militar travado entre o Iraque e forças da Coalizão internacional, liderada pelos Estados Unidos e patrocinada pela ONU em 1991. Gabarito letra D”.
2 - (Enem 2017)
Palestinos se agruparam em frente a aparelhos de televisão e telas montadas ao ar livre em Ramalah, na Cisjordânia, para acompanhar o voto da resolução que pedia o reconhecimento da chamada Palestina como um Estado observador não membro da Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo era esperar pelo nascimento, ao menos formal, de um Estado palestino. Depois da aprovação da resolução, centenas de pessoas foram à praça da cidade com bandeiras palestinas, soltaram fogos de artifício, fizeram buzinaços e dançaram pelas ruas. Aprovada com 138 votos dos 193 da Assembleia-Geral, a resolução eleva o status do Estado palestino perante a organização. Palestinos comemoram elevação de status na ONU com bandeiras e fogos. Disponível em: http://folha.com. Acesso em: 4 dez. 2012 (adaptado). A mencionada resolução da ONU referendou o(a)
A) delimitação institucional das fronteiras territoriais.
B) aumento da qualidade de vida da população local.
C) implementação do tratado de paz com os israelenses.
D) apoio da comunidade internacional à demanda nacional.
E) equiparação da condição política com a dos demais países.
Resposta: “A ONU não tem poder de definir o território, estabelecer regras, alterar ou definir acordos, mas correspondendo ao apoio da comunidade internacional à demanda nacional palestina, do reconhecimento enquanto Estado da Palestina. O Estado da Palestina é reconhecido por 138 dos 193 membros da ONU, entre eles o Brasil. Gabarito letra D”.