Líderes árabes e ocidentais reunidos neste sábado na "Cúpula da Paz", no Cairo, pediram um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, a entrega de ajuda maciça à Faixa de Gaza e uma solução definitiva para o conflito israelense-palestino, que já dura 75 anos.
O encontro, no entanto, terminou sem um comunicado conjunto, devido à falta de acordo entre os países árabes e ocidentais, informaram diplomatas árabes, no momento em que o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, adverte que a Faixa de Gaza enfrenta "uma catástrofe humanitária".
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Mais de 1.400 pessoas morreram no ataque sem precedentes do Hamas contra Israel executado em 7 de outubro, segundo as autoridades israelenses. Mais de 200 pessoas continuam sequestradas pelo grupo islamista palestino.
Quase 4.400 palestinos morreram na Faixa de Gaza nos bombardeios diários israelenses em represália, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa o enclave.
Os representantes dos países ocidentais e árabes, no entanto, não conseguiram chegar a um acordo sobre um comunicado final, informaram diplomatas árabes à AFP. As negociações tropeçaram em dois pontos, segundo eles: os países árabes se negaram a assinar a “condenação clara ao Hamas” e “o pedido de libertação dos reféns” feito pelos ocidentais.
Dessa forma, a reunião de cúpula terminou com um comunicado da presidência egípcia que critica “uma comunidade internacional que mostrou, nas últimas décadas, sua incapacidade de encontrar uma solução justa e duradoura para a questão palestina”.
No começo do encontro, Guterres havia pedido uma ação rápida para “acabar com o pesadelo”. A Faixa de Gaza precisa de "uma entrega maciça de ajuda", insistiu, depois que 20 caminhões com assistência entraram no território palestino, procedentes do Egito, neste sábado.
A ONU calcula que são necessários ao menos 100 caminhões diários para ajudar os 2,4 milhões de moradores de Gaza, que enfrentam a falta de água, energia elétrica e combustíveis.
Guterres discursou para políticos do Egito, da Jordânia e da Autoridade Palestina, além de ministros das Relações Exteriores de países árabes e europeus, e dirigentes da Liga Árabe, da União Africana e da União Europeia. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, estava presente.
Rússia, China, Japão, Canadá e Estados Unidos também enviaram representantes, e Israel não participou do encontro
- 'Não iremos embora' -
O rei Abdullah II, da Jordânia, pediu "um cessar-fogo imediato", e o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, insistiu no "direito dos palestinos de estabelecer seu Estado". "Não podemos permitir que esse conflito se torne uma crise regional", declarou o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, que governa na Cisjordânia, reiterou a necessidade de "acabar com a ocupação israelense dos Territórios Palestinos e de uma solução de dois Estados".
"Não iremos embora" das terras palestinas, repetiu três vezes Abbas, que ao lado do Egito e da Jordânia expressa oposição há vários dias à ordem israelense para que os habitantes do norte da Faixa de Gaza abandonem a área e prossigam para o sul, na fronteira com o Egito.
Os líderes políticos da região consideram que este é um primeiro passo para um "deslocamento forçado" de palestinos em direção ao Sinai egípcio. Abbas afirmou que isto seria o equivalente a "uma segunda Nakba" (catástrofe em árabe), em referência à expulsão de quase 760.000 palestinos após a criação do Estado de Israel em 1948.
- Vidas palestinas, vidas israelenses -
Abdullah II criticou "o silêncio global", que considerou uma "mensagem muito perigosa". "A mensagem que o mundo árabe recebe é alta e clara: as vidas palestinas importam menos do que as israelenses", declarou.
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, denunciou "a ajuda militar incondicional a Israel, que serve apenas para manter a ocupação" dos Territórios Palestinos. Seu par saudita, Faisal bin Farhan, criticou a rejeição do Conselho de Segurança da ONU a duas resoluções que pediam o fim das hostilidades.
O Egito, que organizou a cúpula, quer desempenhar um papel diplomático importante no conflito. O país foi a primeira nação árabe a assinar um acordo de paz com Israel, em 1979, e desde então o Cairo atua como mediador habitual entre Israel e os palestinos, incluindo o grupo Hamas. Além disso, o Egito tem o único ponto de entrada para a Faixa de Gaza que não é controlado por Israel, Rafah.