O ex-senador Delcídio Amaral disse nesta segunda-feira, 5, em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, que existem Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) que são criadas para "achacar" empresários e empresas. Ele fez as declarações após a Polícia Federal e a Procuradoria-geral da República deflagrarem nesta manhã uma nova etapa da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), tendo como alvo o ministro do Tribunal de Contas da União, Vital do Rêgo, e o deputado federal Marco Maia (PT-RS). Os dois são suspeitos de blindar empreiteiros na CPI Mista da Petrobras realizada em 2014.
A investigação foi aberta em maio com base na delação de Delcídio, que acusou Maia e Vital de cobrarem "pedágio" de empresários investigados na Lava Jato em troca de proteção na CPI Mista da Petrobras. Vital do Rêgo era presidente da comissão e Marco Maia, relator.
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"Existem CPIs que são feitas para achacar as pessoas. Então fica aquela ameaça de convoca, não convoca (para depor). Um empresário, por exemplo, quando senta numa mesa de uma CPI para prestar depoimento, isso para a empresa é corrosivo, traz uma série de problemas para a imagem (da companhia)", disse Delcídio na entrevista à Rádio Gaúcha.
De acordo com o ex-senador, o ato de criar uma CPI com um propósito alheio à intenção de investigar irregularidades é frequente. "Não estou generalizando, mas muitas CPIs são feitas para achacar empresários, achacar empresas. Esse tipo de coisa não está acontecendo (somente) agora. É histórico", afirmou.
Delcídio reforçou as acusações feitas em sua delação premiada, de que no âmbito da CPI Mista da Petrobras eram feitas negociações para poupar empresários de serem convocados a prestar esclarecimentos. "Não sei se todo mundo sabia, mas todo mundo desconfiava. E como eu sempre tive uma relação muito franca, conversava com todos os setores e todos os segmentos, eu tinha mais informações", mencionou. Ele acrescentou, no entanto, que a base do processo que investiga corrupção na CPI é o relato dos próprios empresários, como o executivo Leo Pinheiro, da OAS, e o lobista Júlio Camargo.
"Eu sou 'pequenininho' entre os colabores com relação a este processo. Quem forneceu boa parte das informações foi exatamente os empresários que passaram por este constrangimento e tiveram que negociar", disse.
Delcídio afirmou ainda que a operação envolvendo Marco Maia e Vital do Rêgo está "alinhada" com o caso do ex-senador Gim Argello (PTB-DF), que foi vice-presidente da CPI Mista da Petrobras. Argello está preso preventivamente desde abril e já foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a 19 anos de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução à investigação de organização criminosa por ter atuado, junto com Maia e Vital, para cobrar pagamentos das empresas em troca de proteção na CPI. Como não possui foro, ele foi julgado em primeira instância.
Preocupação
Na entrevista à Rádio Gaúcha, Delcídio Amaral também comentou que a forma como o projeto anticorrupção vem sendo tratado no Congresso demonstra "muita preocupação" em Brasília envolvendo a Lava Jato. Segundo ele, as articulações políticas que alteraram medidas do pacote anticorrupção, na última semana, atestam isso.
"Foram movimentos que não foram por acaso, foram muito bem ajustados e combinados, mas em um Brasil que não é mais o mesmo. Então a reação popular e a reação da mídia foi muito forte. Esses fatos todos (no Congresso), até pela ousadia, deixam claro que há uma instabilidade política instalada, uma preocupação grande no Congresso", afirmou Delcídio.
No início da manhã, a PF esteve na casa de Marco Maia em um condomínio na cidade de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. Estavam no local a filha e a mulher dele, já que o parlamentar se encontra em Brasília. Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão em outros endereços associados ao deputado no Rio Grande do Sul. Maia ainda não se pronunciou sobre a operação.