Tópicos | Operação Casa de Papel

A Polícia Federal de Pernambuco, em colaboração com a Controladoria-Geral da União, nesta terça-feira (16), detectou irregularidades envolvendo as prefeituras de Recife, Olinda, Paulista e Cabo de Santo Agostinho. Elas teriam contratado sem licitação, a empresa AJS Comércio e Representação Ltda. para fornecer materiais médico-hospitalares para enfrentamento da Covid-19. A empresa seria de fachada e não teria condições de realizar o contrato acordado com os municípios.

“Quando chegamos na sede da AJS detectamos que era uma empresa de fachada, com uma estrutura bem precária para fazer frente a esses contratos. O quadro societário dela era composto por dois laranjas”, contou a delegada Andréia Pinho, à frente da operação. Ela revelou que a empresa investigada só tinha dois funcionários em todo o seu tempo de funcionamento,  um no ano de 2015 e outro no ano de 2018. Ambos são irmãos e chegaram a trabalhar no gabinete do ex-deputado Beto Accioly (PP), entre 2018 e 2019.

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“A empresa fazia parte de um grupo de gráficas, favorecido por contratações milionárias há mais de 10 anos, sempre por órgãos estaduais e municipais”, revelou a investigação. As empresas são a Gráfica Única, editora Canaã, Unipauta formulários, AJS e Racs - comércio de informática. “Todas essas empresas tinham em comum o fato de pertencerem a Sebastião Figueroa de Siqueira, que ou estavam no nome dele ou em nome de laranjas e testas de ferro, como familiares e funcionários”, disse Andréia.

A delegada afirma que, nos portais do Governo do Estado e das prefeituras, nos últimos 10 anos, as contratações dessas empresas chegaram a soma de R$ 136 milhões para órgão do Estado e R$ 133 milhões para os municípios. Nas licitações aprovadas para materiais durante a pandemia, os contatos somam quase R$ 9 milhões, sendo R$ 7,5 milhões vindos da PCR, R$ 600 mil, divididos em 5 contratos da prefeitura do Cabo de Santo Agostinho, R$ 600 mil gastos por Olinda e R$ 40 mil, Paulista. Os valores gastos pelos municípios de Jaboatão dos Guararapes e Primavera, que também foram identificados na investigação, ainda não foram apurados.

Gastos de fachada

Segundo a investigação boa parte dos recursos públicos recebidos era sacada em espécie ou então remetida para contas de “laranjas” ou de empresas fantasmas, para serem sacados em espécie, e geralmente de maneira fracionada. Suspeita-se que o dinheiro vivo era utilizado para pagar propina a políticos envolvidos nas contratações. “Existe uma situação nebulosa e a gente está tentando esclarecer”, disse a delegada.

Ao todo, 160 policiais federais cumprem 35 mandados de busca e apreensão que têm por objetivo investigar os crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, corrupção ativa e dispensa indevida de licitação. A operação foi deflagrada junto com a Operação Antídoto que investiga 14 dispensas de licitação, que somariam juntas R$ 81 milhões, para compra de materiais de saúde e que teriam ido para empresas do mesmo dono das investigadas na Casa de Papel.

O ex-deputado e ex-assessor do prefeito Geraldo Julio (PSB), Beto Accioly (PP), é um dos alvos da operação Casa de Papel, deflagrada pela Polícia Federal, nesta terça-feira (16). Alocado na Assembeia Legislativa de Pernambuco (Alepe) até o fim do seu mandato, em 2019, o parlamentar teria - trabalhando em seu gabinete - dois funcionários da AJS Comércio e Representação LTDA, empresa alvo de investigações envolvendo materiais de saúde que deveriam ter sido adquiridos para o enfrentamento da Covid-19. Os contratos somam quase R$ 9 milhões.

Em parceria com a Controladoria-Geral da União, a PF investiga a contratação, sem licitação, da empresa por algumas prefeituras pernambucanas para a produção de materiais de saúde. Accioly seria um dos elos com ligação direta com o suposto líder de uma organização criminosa, Sebastião Figueroa de Siqueira, que usava um conglomerado de gráficas de fachada para o desvio das verbas. Entre 2018 e 2019, o ex-deputado teria trabalhando em seu gabinete os dois únicos funcionários registrados na empresa de fachada AJS.

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De acordo com a delegada de Combate a Corrupção, Andréia Pinho. “Os funcionários da AJS, que é uma empresa que pertence de fato a ele [Sebastião], exerceram cargos comissionados no gabinete do ex-deputado Beto Accioly. Além disso nós detectamos também uma transferência que foi feita por este senhor, Sebastião, para uma outra funcionária do Beto Accioly”.  Segundo a delegada, “a princípio, ele é o vínculo em todas as empresas”.

A Polícia Federal cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa do ex-deputado nesta terça-feira. As investigações apontam o envolvimento de prefeituras de seis municípios estaduais, em compras envolvendo empresas em nome de laranjas, sendo eles Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho, Paulista e Primavera.

Respostas:

O ex-deputado comentou a operação por meio de nota oficial. Confira:

Venho a público esclarecer que a ação realizada pela Polícia Federal na manhã desta terça-feira na minha residência não possui qualquer relação com atos praticados por mim. O que existe é uma investigação em curso que apura suspeita de contratações superfaturas realizadas pelas prefeituras do Recife, Olinda, Paulista e Cabo de Santo Agostinho.

Cabe destacar que não possuo qualquer relação com a empresa nem com as prefeituras investigadas. Em 14 anos de vida pública, meu trabalho sempre se pautou pela responsabilidade e respeito ao erário público.

Manifesto total respeito e confiança no trabalho das autoridades competentes para esclarecimento dos fatos, que é de total interesse meu e de toda a população.

Lamento que adversários políticos explorem o fato inventando mentiras descabidas, distorcendo a realidade para me atingir com o único propósito de afetar minha reputação às vésperas da eleição e prejudicar a pré-candidatura a prefeito de Camaragibe.

Beto Accioly, ex-deputado estadual

A prefeitura de Jaboatão também esclareceu, por meio de nota, não ter sido alvo da operação. Confira:

Nota de Informação

A Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes informa que não foi alvo de qualquer ação da Polícia Federal relacionada à Operação Casa de Papel. Em 23 de março, a Secretaria de Educação adquiriu máscaras de proteção para os servidores que trabalham na distribuição de kits de alimentos para os alunos. A compra para pronta-entrega foi realizada por cotação em virtude do pequeno valor de R$ 15 mil. Todas as informações constam no Portal da Transparência.

Assessoria de Imprensa da Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes

 

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