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As definições contidas nos dicionários para a palavra parceiro são: “parelho, semelhante, companheiro”. Para Luiz Gonzaga essa tradução é, essencialmente, verdadeira. A carreira de sucessos do Rei do Baião foi permeada de grandes parcerias. A primeira delas ele encontrou em casa. Seu pai, Januário José dos Santos, pode ser considerado, ao pé da letra, seu primeiro companheiro no mundo da música. Foi consertando instrumentos ao lado do pai que o “Velho Lua” aprendeu a tocar acordeão, dando início assim a um amor que carregou para o resto da vida.
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Profissionalmente, a vida musical de Gonzaga só pode ser compreendida a partir do ano de 1939, quando sai do exército e vai para o Rio de Janeiro. O primeiro parceiro de Luiz foi o baiano Xavier Pinheiro, com quem foi morar no bairro de São Carlos e que futuramente criaria o filho do Rei do Baião. Juntos, eles tocavam em casas noturnas, os ditos “cabarés”, ritmos como fado, choros, sambas, valsas, tangos, entre outros.
A dupla com Xavier não agradou ao público desses locais e Gonzaga passou a se apresentar sozinho nas ruas e, depois de ser indagado por estudantes nordestinos, percebe que precisava mostrar em suas canções aquilo que o Nordeste tinha e significava. Quando começa a fazer, percebe uma grande aceitação - tanto que tira a nota máxima no programa Calouros em desfile, veiculado na na Rádio Tupi, tocando a música “Vira e Mexe”.
Anos 40: a década de Humberto Teixeira e o “hino do nordeste” Asa Branca
Luiz Gonzaga já tinha reconhecimento e compunha algumas canções, além de contar com as parceiras de Miguel Lima, Alcebíades Nogueira, Assis Valente e Jeová Portela. No entanto, em 1945, com o objetivo de dar mais características do Nordeste às suas musicas, ele é apresentado a Humberto Cavalcanti Teixeira, um advogado cearense nascido em 1915 - na cidade de Iguatu. Começa aí uma história de sucesso.
Humberto saiu de sua cidade natal com 15 anos de idade e seguiu para o Rio de Janeiro. Mesmo depois de se formar em direito, ele continuava com vontade de seguir pelo caminho da música. Ele tinha composto sambas, marchas, xotes e algumas toadas quando teve o primeiro encontro com Luiz Gonzaga, ocorrido por intermédio de Lauro Maia, cunhado de Humberto.
Em 1947, eles apresentam Asa Branca, música de maior sucesso dos dois. A canção passou um bom tempo sendo idealizada pela dupla e é considerada o “Hino do Nordeste”, já que retrata as principais características da região. Humberto e Gonzaga ainda criaram outras músicas que se tornaram grandes “hits” no país. Entre elas estão: No meu pé de serra, Lorota boa, Assum Preto e Respeita Januário, canção que é fruto da viagem que Luiz Gonzaga fez para reencontrar a família depois de anos trabalhando fora de Pernambuco.
Teixeira também tinha a política nas veias e, em 1954, se elegeu deputado federal. Ainda na área musical, foi eleito por três anos consecutivos como o melhor compositor do Brasil e teve músicas gravadas por cantores como Dalva de Oliveira, Gilberto Gil, Fagner, Caetano Veloso e Gal Costa.
Década de 1950: Gonzaga descobre Zé Dantas
Depois de alcançar o status de Rei do Baião, Luiz Gonzaga conheceu Zé Dantas, que era estudante de medicina e um músico vocacionado. O primeiro encontro deles ocorreu em 1947, no Recife. Dantas é pernambucano de Carnaíba das Flores, no Sertão do Pajeú, nascido no dia 27 de Fevereiro de 1921.
Dantas veio para o Recife ainda novo, mas nunca teve apoio de seu pai, José de Souza Dantas, para seguir no mundo da música. Mesmo assim, continuou. O compositor tinha um grande conhecimento sobre as características do nordeste, fato que o ajudou em muitas composições.
Juntos, eles conseguem fazer uma década inteira de sucessos. “Vem, morena”, “A dança da moda”, “Sabiá”, “São João na roça”, “Á-bê-cê do sertão”, “Riacho do Navio” e “Xote das meninas”, que é uma das mais conhecidas.
Comparativo entre Dantas e Teixeira
Em duas décadas de sucesso, a comparação entre os compositores que acompanharam Gonzaga foi inevitável. Para o jornalista e professor José Mário Austregésilo, autor do livro o Luiz Gonzaga, o homem, sua terra e sua luta, é difícil compará-los: “Não dá pra fazer uma balança ou comparar, mas ele teve parceiros fantásticos. O parceiro-mor foi Zédantas. Luiz disse que, quando o encontrou, sentiu o cheiro de bode. O compositor reunia o que Gonzaga foi encontrando nos outros. Ele encontrou o que buscava”.
De acordo com o professor e pós-doutor Durval Muniz de Albuquerque Júnior, escritor do livro A invenção do Nordeste e outras Artes, Humberto Teixeira foi importante para Gonzaga dentro e fora do universo musical. “Até pela música-símbolo da trajetória de Gonzaga ter sido em parceria com Teixeira, eu diria que ele teve uma enorme importância, inclusive na articulação e sustentação política da carreira de Gonzaga e na sua articulação ao regionalismo nordestino”.
Entre os discípulos de Gonzaga, Arlindo dos Oito Baixos revela sua preferência. “Eu gostava muito das músicas de Zé Dantas”. Já Dominguinhos reforça a importância de cada um: “Acho que não existe um principal. Humberto tinha uma linguagem mais intelectual. Já Dantas era algo mais popular, pé de serra”, comentou.
Mais sucessos com novas parcerias
A carreira de Gonzaga não inclui apenas esses dois parceiros. Ainda na década de 50, O rei do Baião gravou músicas de Jorge de Castro, Guio de Morais, Sylvio Moacyr de Araújo, Manezinho Araújo, Lupicínio Rodrigues e outros. Quem mais conseguiu destaque foram o mineiro Hervé Cordovil, com quem Luiz gravou “Vida de Viajante”; além de Onildo Almeida, autor de “A feira de Caruaru”.
Na década de 60, outros nomes importantes entram em ação. Entre eles estão: Benil Santos, Raul Sampaio, Rosil Cavalcanti, Nelson Barbalho, Patativa do Assaré, Júlio Ricardo, Severino Ramos, Luiz Queiroga, Antônio Barros e José Clementino, além de Onildo - que ainda fazia canções com o “Velho Lua”.
Nesta época, dois compositores chamaram a atenção. Um deles é Zé Marcolino. Ele nasceu em Sumé, na Paraíba, e sempre gostou da cultura nordestina. Tinha muita vontade de conhecer Luiz Gonzaga e, depois de várias tentativas sem sucesso, resolveu partir para o tudo ou nada. Quando o Rei do Baião se hospedou na sua cidade, ele se dirigiu até o hotel e tentou mostrar o seu trabalho. O encontro não foi como o esperado por Marcolino, mas ele conseguiu uma nova conversa, dessa vez depois do show.
Após o bate-papo, Gonzaga o chamou para uma nova parceira e os dois rumaram para o Rio de Janeiro. Eles conseguiram emplacar outros sucessos como: “Numa Sala de Reboco”, “Matuto Aperriado”, “Cacimba Nova”, “Serrote Agudo” e “Projeto Asa Branca”.
Outra parceira importante desta década foi com João Silva. “Ele foi fundamental porque disse: ‘Gonzaga, vamos cantar umas coisas alegres’. Ele provocou umas coisas em Luiz Gonzaga”, detalha José Mário Austregésilo.
O compositor chegou ao Rio de Janeiro com 17 anos e se apresentou em programas de rádio. Depois que se juntou com o Velho Lua, os dois produziram muitas músicas que caíram no gosto popular, entre elas “Piriri”, "Forró de cabo a rabo", "A mulher do sanfoneiro", "Lenha verde", "Nem se despediu de mim", "Meu Araripe", “Uma pra mim outra pra tu", "Pra não morrer de tristeza" e “Pagode Russo”. João Silva foi o último grande parceiro de Luiz Gonzaga.