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Poucas gotas pingam dentro do nariz e pronto. O tão esperado alívio é imediato e a sensação de não conseguir respirar tem fim. Essa é a realidade de quem utiliza constantemente os descongestionantes nasais. Seja dentro das bolsas, ao lado da cama ou em qualquer lugar de fácil acesso, os pequenos frasquinhos de em média 30 ml estão sempre por perto de quem sofre com obstrução nasal diariamente.

O “remédio para nariz entupido”, como é conhecido pela maioria dos usuários, são descongestionantes nasais tópicos e ao contrário do que muitos pensam, não devem ser utilizados constantemente sem a avaliação de um profissional da saúde.

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Hoje com 27 anos, o jornalista Felipe Cabral convive com o vício em descongestionantes nasais desde o cinco anos de idade, quando descobriu que tinha rinite alérgica. Ele atribui a problemática a sua primeira moradia, onde as paredes eram cheias de infiltrações e a estrutura das telhas tinha muita umidade e mofo. “Por causa da poeira, meu nariz entupia muito e desde criança já passei por várias marcas de descongestionantes”, conta. No inverno, ele chega a utilizar o produto cerca de dez vezes ao dia. “Em épocas quentes diminuo o uso consideravelmente para três vezes”, explica.

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Ainda de acordo com Felipe, todo dia ele coloca ao menos uma gotinha de seu Neosoro, marca que utiliza atualmente. “O psicológico contribui muito pra isso. Se eu saio de casa e esqueço o remédio, bate o desespero do nariz entupir e eu estar sem. Aí, quase automaticamente ele entope. É psicossomático”, diz.

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Em 2015, o Neosoro foi o medicamento mais vendido nas farmácias brasileiras, em unidades, de acordo com uma pesquisa feita pela IMS Health. A liderança do descongestionante nasal vem se repetindo nos últimos anos. Em 2014, o remédio chegou perto de 40 milhões de unidades vendidas no Brasil. O produto é mais comercializado do que remédios para o tratamento de hipertensão, problemas cardíacos ou analgésicos. O preço varia entre R$ 2,99 e R$ 8,99, dependendo da farmácia e da localidade onde é vendido.

A assistente de saúde bucal, Mariluce Barbosa, 50 anos, já utilizou diferentes marcas de descongestionantes e se diz viciada no produto desde os 25 anos de idade. Começou com o Sorine, passou pelo multisoro e agora também é usuário assídua do Neosoro. “Eu sempre usei porque sou alérgica a poeira, tenho desvio de septo e quando o nariz entope não consigo dormir sem colocar as gotinhas de cada lado do nariz”, conta. Ela diz que já não consegue ter uma rotina sem utilizar o remédia todos os dias porque a sensação de não respirar é sufocante. “Já durmo com ele na mão e me considero viciada. Algumas pessoas já me disseram dos riscos, mas não procurei saber mais detalhes. Desentupiu tá bom demais”, pontua.

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As histórias de quem se tornou adepto aos descongestionantes nasais são semelhantes. Geralmente por causa de uma crise alérgica ou um resfriado, a sensação do nariz entupido por causa da obstrução tira o sono de muitas pessoas. O efeito do remédio quase imediato torna o produto um ciclo vicioso e o paciente já não consegue viver sem ele. As “gotinhas milagrosas” parecem ser a solução mais fácil e acessível, mas o uso de forma abusiva pode causar problemas mais sérios do que a própria obstrução nasal.

De acordo com o otorrinolaringologista Marcelo Longman Mendonça, a indicação dos descongestionantes são em casos de obstruções nasais crônicas, por no máximo quatro dias, dependendo do caso do paciente. “Uma gripe mais forte ou uma situação específica de pós-operatório com acompanhamento médico. São produtos com soluções fortes. Se forem mal utilizados podem murchar o tecido do nariz de forma intensa e medida que a ação milagrosa vai se perdendo, o caso volta pior do que já era e se cria um vício”, explica.

Longman complementa que o hábito de muitas pessoas “viciadas” no produto é equivocado e perigoso. “Tem de ser revisto porque pode trazer problemas de saúde mais graves. A maioria usa para tratar rinite alérgica  ou uma obstrução nasal, mas o uso de maneira contínua acaba criando o crescimento de tecido esponjoso do nariz e em casos mais graves só é solucionado com cirurgia”, conta. Para ele, existe, no primeiro momento, uma melhora, mas o organismo se acostuma com o remédio a partir de um determinado tempo, o usuário fica dependente.

Os “viciados” das gotinhas também se reúnem em páginas no Facebook, como “Viciados em neosoro por uma noite mais tranquila” ou “Meu Neosoro”, em que lamentam quando o frasco chega ao fim e relatam histórias nas quais o produto é o protagonista principal. Em uma das postagens, uma internauta comenta sobre o vício. "Vicia sim, porque não vivo sem Neosoro. Uso 5 por semana e se não tiver, eu só falto morrer", publicou.

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A farmacêutica Telma Cavalcanti diz que algumas substâncias contribuem para manter a população viciada no produto, como os componentes nafazolina, fenoxazolina e oximetazolina. “No caso do Neosoro, existem dois agravantes. Ele é cloreto de nafazolina que causa dependência por causa da ação rápida. Os vasos contraem, sai o edema e com ele a sensação de nariz entupido. Mas, rapidamente o efeito passa e os vasos voltam ao normal e a obstrução nasal retorna”, completa.

Ela também explica que o uso excessivo dos descongestionantes causam lesões na mucosa e podem impactar em doenças cardiovasculares, uma vez que a ação do medicamento se dá através da vasoconstrição, diminuição do diâmetro dos vasos sanguíneos. “Eu trabalho em redes de farmácia comerciais e tenho visto o aumento das vendas desses produtos. As pessoas chegam perguntando por remédios bons e baratos para desentupir o nariz”, relata.

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O otorrinolaringologista Marcelo Longman lista os principais riscos de se manter um usuário “viciado” nos descongestionantes sem o acompanhamento de um médico. Arritmia cardíaca e pressão alta, Rinite medicamentosa, quando o pacientes é vítima do efeito rebote, que quando a ação do remédio passa, o nariz fique ainda mais obstruído do que estava antes.

Insônia, tremor e perda de olfato também estão entre os problemas. Em casos mais graves, ele alerta que o produto pode causar o aumento dos cornetos nasais e muitas vezes, o problema só é resolvido com uma cirurgia.

Ele indica que os pacientes devem ir ao médico para analisar esse problema e identificar como tratá-lo. “Certamente não vai ser com essa medicação. Existe uma gama de opções e tipo de tratamento, podendo ser ou não com cirurgia”. Uma outra opção é substituir o descongestionante por e realizar a higiene nasal diária com soro fisiológico.

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