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Os concursos de miss já não são mais os mesmos. Na busca de minimizar os danos causados pela opressão atrelada a padrões de beleza impostos pelas disputas, muitos países estão mudando suas regras na hora de eleger a mulher que representará a beleza local. Na última sexta-feira (2), a Venezuela elegeu a primeira miss sem levar em conta suas medidas. A eleita foi Thalía Olvino. 

A nova Miss Venezuela tem 19 anos e sua única medida conhecida é a altura, 1,78m. Thalía Olvino disputou a coroa com outras 23 candidatas e foi a escolhida entre os jurados para representar a beleza venezuelana. Esta é a primeira vez que o concurso dispensou informações sobre o tamanho das cinturas, quadris e bustos das candidatas. 

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A nova medida segue uma tendência que, aos poucos, vai ganhando força mundo afora. Nos Estados Unidos, por exemplo, as misses já não fazem o antes tradicional desfile em traje de banho. 

Penteados em troca de publicidade, um novo código de ética. O concurso Miss Venezuela, que comemora nessa quinta-feira sua 65 edição, tenta se reinventar para superar o estrago da crise econômica, sepultar os escândalos de suposto abuso e abrir as portas para as transsexuais.

A opulência é coisa do passado nesse concurso que formou sete ganhadoras do Miss Universo e seis do Miss Mundo. De um estádio de Caracas, com capacidade para 20.000 pessoas, passou para um estúdio da emissora de TV dona dos direitos dos concursos - Venevisión - com capacidade para cerca de 200.

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A organização teve que trabalhar duro para não deixar o concurso morrer, trocando penteados e maquiagem por publicidade no canal e dividindo os custos do vestuário com os estilistas.

"Assim como não temos como realizar um Miss Venezuela opulento, porque o momento do país não o justifica, tampouco queremos ceder espaços (...), estamos nos adequando aos recursos que temos", disse Nina Sicilia, produtora do evento, em entrevista à AFP.

O show musical e as coreografias da cerimônia serão feitas por jovens talentos venezuelanos, alguns estreantes na televisão.

Na memória de milhões de fãs do concurso permanecem as estrelas como Celia Cruz, Raphael, Camilo Sexto e Raúl di Blasio.

O espetáculo se adapta assim a uma crise de cinco anos de recessão, escassez de produtos básicos e inflação prevista pelo FMI de 10.000.000% para 2019. Uma mistura que obrigou 2,3 milhões de venezuelanos a deixar o país desde 2015.

"As 24 jovens estão sofrendo com os mesmos problemas do resto da sociedade", diz Sicilia, vice-campeã do Miss Venezuela em 1985.

As candidatas também tiveram que se adaptar ao alto índice de criminalidade e ao colapso do sistema de transportes por falta de peças de reposição.

Como algumas vão para o ensaio de ônibus ou metrô, não é possível programar sessões de fotos antecipadas, e devem voltar para casa ainda na luz do dia ou dividir o carro com seus companheiras, diz Sicilia.

- Nova ética -

Como uma metáfora do concurso, Miss Vargas tropeçou durante a apresentação para a imprensa, mas se levantou e seguiu em frente, embora não tenha conseguido evitar as lágrimas.

A nova diretora, nomeada após denúncias de abusos e prostituição, tenta mudar a cara do evento, cuja ganhadora vai representar a Venezuela no Miss Mundo.

O escândalo foi descoberto em março, quando cerca de 10 ex-misses fizeram acusações de vínculos com homens poderosos acusados de corrupção próximos do governo venezuelano.

Um novo código de ética proíbe que as jovens recebam financiamento externo ou que sua candidatura seja proposta por terceiros. As inscrições são feitas em uma formulário online.

"O vestuário e todo o resto fica por conta da Miss Venezuela", lembra Sicilia.

Após 40 anos no evento, Osmel Sousa, conhecido como o "czar da beleza", renunciou em fevereiro, após sofrer várias acusações. E nega qualquer conduta imprópria.

Para evitar imprevistos, o concurso foi "despersonalizado". "Não pode existir nada acima da organização", diz a produtora.

Do esquema tradicional foi mantido o zelo que impede a imprensa de abordar as participantes. A equipe do canal mantém os microfones afastados.

- Transgêneros -

Sicilia defende os concursos de beleza contra as críticas de que são uma afronta à dignidade feminina. "A mulher tem que entender que só com sua voz é capaz de mudar o mundo", reflete.

Patrimônio da cultura popular venezuelana, o evento está disposto a abrir suas portas para as transsexuais, um tema forte desde a participação da espanhola Ángela Ponce no Miss Universo 2018.

"Fui convencida por Ángela Ponce, porque conversei com ela, fiquei tocada com sua força", diz Sicilia, esclarecendo que ainda não será possível fazer isso, já que a legislação venezuelana impede que uma transsexual assuma a identidade de mulher.

Apesar das dificuldades, ela vê no Miss Venezuela "um oásis de alegria". "É como o beisebol, como a "hallaca" (prato natalino), como o "cuatro" (instrumento musical), como uma gaita. É nossa essência".

O icônico concurso de beleza Miss Venezuela foi suspenso por decisão da Justiça, após uma ação apresentada por uma das rainhas coroadas no ano passado - informou a organização do evento.

Um tribunal da cidade de Caracas dictou "uma medida cautelar" que "ordena à nossa empresa a suspensão imediata da organização da competição", acrescentaram os organizadores em um comunicado divulgado pelas redes sociais.

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O evento estava previsto para 12 de setembro.

A decisão contra aquele que é considerado o maior espetáculo da indústria do entretenimento na Venezuela respondeu a uma demanda de Veruska Ljubisavljevic.

Sthefany Gutiérrez foi eleita Miss Venezuela em 2017 e, com isso, ganhou o direito de participar do Miss Universo 2018, que acontece em 17 de dezembro na Tailândia.

Ljubisavljevic terminou como primeira finalista e, por isso, disputaria o Miss Mundo 2018, nove dias antes, na China.

Ela foi, porém, demitida da organização do concurso, que não divulgou as razões para a medida. Veruska entrou, então, com um recurso na Justiça.

A organização Miss Venezuela classificou a ação de "temerária e infundada", garantindo que usará todos os "argumentos" para que o caso seja arquivado. A data do concurso deverá ser reprogramada.

"Estou na obrigação de fazer valer meus direitos como cidadã, como mulher e como venezuelana, exigindo que me seja restituído meu total e absoluto direito de representar meu país", disse Ljubisavljevic em publicação no Instagram.

A Venezuela tem sido uma fábrica de rainhas de beleza nos concursos internacionais. Já ganhou sete vezes o Miss Universo, e seis, o Miss Mundo.

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