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O Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) prorrogou por mais um ano o mandato da missão de paz da entidade no Haiti, conhecido pelas iniciais Minustah. A resolução autoriza as operações dos mantenedores de paz até 15 de outubro de 2014 e reduz o contingente de 6.270 para pouco mais de 5 mil soldados.

No documento, o conselho também conclamou a ONU a manter os esforços de combate ao cólera. Os soldados enviados pela ONU foram responsabilizados, em 2010, por terem iniciado um surto da doença que resultou na morte de mais de 8 mil haitianos.

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A resolução foi aprovada por unanimidade um dia depois de grupos de defesa dos direitos humanos terem entrado com uma ação exigindo indenizações para as milhares de vítimas da doença. Além disso, eles exigem o fornecimento de saneamento básico e água tratada para o país caribenho.

No ano passado, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, anunciou US$ 2,27 bilhões para ajudar a erradicar o cólera no Haiti e na República Dominicana, países que compartilham a Ilha Hispaniola. Ban Ki-moon já havia desconsiderado o pedido de indenização em fevereiro deste ano.

De acordo com autoridades locais, o surto de cólera atingiu cerca de 600 mil pessoas. Estudos científicos mostraram que o cólera foi provavelmente levado ao país por soldados do Nepal, que contaminaram o principal rio do Haiti. Os soldados nepaleses integravam a missão de paz da ONU. Fonte: Associated Press.

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Construir pontes, abrir estradas, defender os povos e a pátria, garantir a ordem e os poderes constitucionais tem sido algumas das missões e tarefas que o Exército brasileiro desempenha tanto em solo nacional como também em outros países. Resumir o número de atividades deste tipo de profissional na data em que se comemora seu dia parece ser fácil, mas ao observar atentamente a estrutura militar do Exército, percebe-se um emaranhado de funções que se interligam e, ao mesmo tempo, são independentes.

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Falar da estrutura da instituição é sempre complicado, por sua vasta teia de ramificações que, na maioria das vezes, foge ao conhecimento da população. Afinal, a ideia que hoje se tem da instituição ainda é muito injeçada nos períodos militares, sem falar que a muito pouco tempo é que o Exército percebeu no contato com a mídia uma possibilidade de difundir as suas atividades.

E por meio de uma dessas aberturas jornalísticas é que paulatinamente fui conhecendo um pouco o tamanho da abrangência do Exército. A primeira parte dessa história começou no Haiti, o país considerado pelas Nações Unidas o mais pobre das três Américas. Mas afinal, o que o Exército brasileiro faz em terras tão longínquas e adversas? Honestamente, eu também não sabia. Resolvi conferir de perto e as surpresas foram surpreendentes.

Em um lugar tão inóspito como é a capital Porto Príncipe, saber que mais de dois mil militares do exército brasileiro estão no país para garantir e instaurar a paz, por meio da Missão da ONU, já é por si só espantoso, uma vez que o Haiti é muito pobre e, do ponto de vista econômico, não é interessante "jogar milhões de dólares" ou recrutar homens se o retorno é quase inexistente.

Fala-se que o objetivo de permanência das tropas brasileiras no país seja para garantir uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. O fato é que, com cadeira ou sem cadeira, a paz (que era o principal objetivo da missão) tem sido conseguida e a presença do Exército hoje naquele país é o eixo de sustentação que norteia os haitianos. Quem põe os pés no Haiti percebe uma nítida pacificação se comparada aos tempos dos chimerres (milícias) do ex-presidente Jean Bertrand Aristide, em que o país parecia um purgatório.

Esse “voto de aplauso” ao Exército não está atrelado a ONU em si, mas das 18 nacionalidades que fazem parte do contexto da Minustah (Missão de Paz e Estabilização do Haiti), o Exército brasileiro se destaca, além de chefiar a missão, por conseguir a empatia dos haitianos - uma conquista que começa aparentemente com fuzis e pistolas mas que, no decorrer do laço estabelecido com os civis, do aperto de mão, do sorriso, o quadro de hostilidade se transforma. 

 

Lado B - O que não se fala tanto é que o Exército brasileiro, por meio de seus militares, se comprometeu em ajudar voluntariamente o Haiti, de fazer o que as Nações Unidas em seu regulamento não se dispunha. O que eu vi foi uma instituição formada de homens cheios de valores humanos, que respeitam o povo, se sensibilizam com os dramas e tentam arrancar sorrisos. Naquele miserável e desolador quadro humano, os militares brasileiros carregavam litros de leite para doar a um centro de nutrição, acariciavam crianças desnutridas, sem nenhuma chance de sobrevivência.

Nesse difícil território, o papel do Exército tem sido fundamental. A segurança que de fato continua a ser o pilar de sustentação da presença dos militares, hoje é somada a outros fatores que foram introduzidos nas atividades da instituição - limpar valas de esgoto, fazer reparações em hospitais destruídos pelo terremoto, doar alimentos, prestar atividades nos horários extras a entidades filantrópicas, proteger as áreas de fronteira do Haiti. Em outras palavras, se comprometer em ajudar.

Essa atuação do Exército a nível internacional, assim como as próprias atividades internas, são muito pouco divulgadas. O que se tem conhecimento é o básico de suas atribuições. O fato é que o Brasil tem se destacado ao cenário internacional, possui tropas militares e um Exército que tem sido estudado por outras nações, por romper os tabus da forma de convivência e abordagem com as populações locais.

Comparado a outros exércitos mundo afora, o Brasil tem mostrado e provado "por A + B" a importância de um contato cordial, evitando fazer uso de armamentos e, além do Haiti, também encontra-se presente em missões de paz no Timor Leste, Costa do Marfim, Libéria, Saara Ocidental, Chipre, Colômbia, Equador/Peru.

Em todo esse número de países que o Brasil atua, claro, existe um propósito. Mas, o curioso de uma missão de paz (especificamente no caso do Exército brasileiro no Haiti) é que o estreitamento das relações se aproxima tanto que a sensação de pertencimento e compromisso com toda aquela nação de desalojados é forte demais - e um comprometimento sem nenhum tipo de obrigação. Indagando sobre o porquê de alguém se dispor a realizar este tipo de ação, a resposta foi simples: “Aqui no Haiti as sensações são a flor da pele, não tem como se sensibilizar”.

Essa declaração me fez entender que o Exército brasileiro - além de multifuncional - é diferente, por entender a necessidade de se adequar ao ambiente em que atuam e as pessoas que nele vivem.

O edifício do governo foi invadido há mais de 20 dias em Cap Haitien, comuna haitiana, e os quase 15 mil milicianos mantém o controle do prédio. Eles exigem a volta do Exército Nacional Haitiano – dissolvido pelo ex-presidente Jean Bertrand Aristid, em 2001 – e o pagamento de pensões a militares reformados. De acordo com o force comander da Minustah (Missão de Paz e Estabilização no Haiti), as forças internacionais acompanham todas as negociações à distância.

O Brasil comanda a missão da ONU no país. Dos 10.700 capacetes azuis das 18 nacionalidades que participam, o maior efetivo é o do Brasil, com 2.132 peacekeepers (soldados da paz).

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O governo haitiano e a Polícia Nacional tentam resolver o impasse de forma pacífica, segundo o general brasileiro Fernando Rodrigues Goulart, comandante da missão de paz da ONU no Haiti. Apesar da turbulência política, a situação de segurança no país permanece estável, segundo o general Goulart.

TEXTO Jullimaria Dutra | EDIÇÃO Raquel Monteath

Há 10 meses, em uma viagem para o Haiti, os estragos do terremoto que matou mais de 316 mil pessoas e desalojou um milhão e meio de civis estavam bem vivos na memória dos haitianos e na própria desestruturação do país. As consequências que aquela tragédia causou na vida de cada uma daquelas pessoas é algo sem precedentes: milhares de casas, edifícios, sistemas de comunicação, redes elétricas, transportes terrestres, aéreos e aquáticos foram destruídos, incluindo elementos significativos da capital – Palácio Presidencial, Edifício do Parlamento, Catedral de Notre-Dame, a principal prisão e todos seus hospitais.

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O massacre lembrava as imagens dos corpos dos judeus empilhados e jogados aos montes nos campos de concentração, quando da época de Hitler. Mais de 230 mil pessoas - um total de vítimas 77 vezes maior do que a soma dos mortos do World Trade Center - seriam enterrados em valas comuns. Dos que sobreviveram, muitos tiveram seus membros esmagados. O Haiti se tornou uma nação de amputados e que passou a exalar, por todos os lugares, o cheiro da morte. De repente, você caminha e percebe que, por baixo de suas pegadas, há corpos que jamais serão mais resgatados.

Confira a galeria de imagens "Especial Haiti: dois anos de devastação"

Avaliar os estragos passados, dois anos após a tragédia, é tocar na ferida aberta das Nações Unidas. Em uma linha cronológica traçada a partir dos anos de 1990, o Haiti arrasta uma sucessão de instabilidades políticas, golpes militares, instauração da Minustah (Missão das Forças de Paz no Haiti), formação de gangues armadas patrocinadas pelo então presidente Jean Bertrand Aristide, o que, de certa forma, contribui para que os estragos do terremoto ainda não consigam ser suplantados.

Passados dois anos da desgraça que assolou os haitianos, a vida das pessoas começou a se reorganizar, claro, dentro das possibilidades de sobreviver em um país onde quase nada funciona. Quem chega ao Haiti hoje se depara com vários campos deslocados internos, os chamados IDPs (Internally Displaced Personal), espalhados por todos os pontos públicos da cidade, com crianças magérrimas que cercam os visitantes pedindo incessantemente por comida. Em uma visita ao IDP - onde antes funcionava um campo de esportes -, cerca de 80 mil pessoas habitam provisoriamente o local, porém sem data de saída. No Jean Marie Vicent é comum encontrar senhoras lavando suas roupas, outras tomando banho em valas de esgoto. Na falta de água, qualquer recurso hídrico é utilizado.

O Haiti permanece do mesmo jeito de há dois anos quando a terra tremeu a ilha. Talvez um pouco pior, porque a ajuda intensificada nos dias da tragédia deixou o país um mês depois e não mais regressou. Hoje, o Haiti vive literalmente debaixo dos escombros e possui uma política estagnada que não consegue avanços significativos, mesmo com a mudança do novo presidente, Michel Martelly, eleito em março de 2011.

Pelo contrário, a chegada de Martelly dificultou a captação de recursos para o país, devido ao fato dele não ter a maioria no Parlamento e a oposição vetar os nomes sugeridos pelo presidente. Só a partir de outubro é nomeado o primeiro ministro, Garry Conille – que desfruta de certo respaldo internacional –, e algumas políticas voltadas para minorar as condições de vida dos haitianos e melhorar a infraestrutura do país começaram a sair do papel, especificamente em dezembro, quando o Banco Mundial liberou US$ 255 milhões para a retirada de escombros e a construção de moradias de 22,5 mil pessoas.

Diretamente, existe pouco incentivo e destino de verba para a reconstrução de casas e a criação de empregos. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o desemprego pulou de 40% para 70% depois do terremoto. Isso favoreceu o aumento da prostituição e do tráfico de pessoas no país, principalmente das crianças, que são vendidas em plena luz do dia.

O repórter Lourival Sant’Anna, enviado especial do jornal O Estado de São Paulo, mostrou em vídeo que muitos prédios continuam ainda destroçados e que a falta de água, estrutura e de apoio necessário para os haitianos se reerguerem ainda é uma realidade.

Nesse meio termo, é delicado descrever o vazio que toma os haitianos. É comum caminhar pelas ruas esburacadas da cidade e se deparar com crianças contemplando o nada, vagando pelas ruas, sem estudar, mexendo com as mãos a terra para fazer bolinhos de barro e comer. A pouca ajuda humanitária que chega não consegue contemplar mais de um milhão de haitianos com fome, desempregados e que buscam apenas comer e nada mais. Apesar de passado 730 dias da tragédia, em nada mudou o Haiti. É como se tudo estivesse fora de ordem.

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