Tópicos | Júlio Marcelo de Oliveira

A mudança de status do procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) Júlio Marcelo de Oliveira, de testemunha para informante, durante a fase final do julgamento de impeachment pode ser usada pelos aliados da presidente afastada Dilma Rousseff para pedir a anulação do processo. Segundo eles, como os argumentos dele foram usados durante a fundamentação para a condenação, os documentos tornam-se inválidos.

“Ele é também o elaborador da tese das pedaladas fiscais e alguém que se mobilizou de forma militante pela rejeição das contas do governo. Não somente os seus argumentos, como os seus escritos deram base ao relatório do senador [Antonio] Anastasia. Mas funcionaram como fruto de uma árvore envenenada”, frisou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).

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Nessa quinta-feira (25), ele já havia falado que, se o impeachment for confirmado, a oposição deverá recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). “Certamente que haverá questionamentos. O Supremo até hoje nunca se manifestou sobre o mérito da existência ou não de crime de responsabilidade. Sempre o posicionamento do Supremo foi em relação ao rito”, exemplificou.

Mas para o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) o relatório aprovado pela Comissão Especial de Impeachment, assim como todo o processo, não se ampara exclusivamente no testemunho do procurador ao considerar as declarações de outras testemunhas, documentos e perícia. “Não há fundamento nessa tese”, disparou. “Até porque o depoimento do Júlio Marcelo na fase de instrução, o que ele disse naquele momento, consta em documentos que estão no processo do Tribunal de Contas da União”, lembrou. “[No relatório] ele é citado uma única vez, num trecho de quatro linhas, então isso não invalida todo o relatório”, sustentou.

Em depoimento na sessão de julgamento de impeachment nessa quinta, o procurador Júlio Marcelo de Oliveira afirmou que a Dilma desrespeitou a Lei de Responsabilidade Fiscal e que é responsável também pelas pedaladas fiscais. "Ela tinha conhecimento, direção e comando sobre os fatos", disse.

O fim do depoimento do procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) Júlio Marcelo de Oliveira no julgamento do impeachment foi marcado por uma troca de farpas entre ele e o advogado de defesa da presidenta afastada Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo.

Ao utilizar seu tempo para questionar o procurador – que foi rebaixado da condição de testemunha para a de informante pelo presidente do julgamento, ministro Ricardo Lewandowski, por considerá-lo em suspeição – o advogado de defesa disse que as teses legislativas de Oliveira mudaram ao longo do tempo. Em seguida, Cardozo acusou o procurador de ter adequado seu entendimento em pareceres ao TCU para favorecer a condenação da presidenta afastada.

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“Não se pode mudar os fatos, mas se pode adequar uma tese para condenar”, disse o advogado. “Tenho a convicção de que vossa senhoria mudou seu entendimento porque tem um desejo profundo de condenação da presidenta da República, e não podia mudar os fatos”, completou Cardozo. Em resposta, o procurador disse que Cardozo “se equivoca quando deixa de atuar como causídico [advogado] e passa a atuar como psicólogo pretendendo buscar desejos profundos em mim. Não existe esse desejo profundo de condenação da presidenta da República. Existe responsabilidade funcional, que eu procuro cumprir com a maior dignidade possível”.

Oliveira disse ainda que, “mesmo com o critério mais benevolente”, havia créditos e decretos assinados por Dilma que infringiam a Constituição. Segundo ele, foi opção do TCU adotar o critério “menos benevolente”.

Interpretação

Cardozo citou vários especialistas que concederam pareceres com opiniões contrárias às do procurador em relação às assinaturas de decretos de suplementação orçamentária e à operação entre o Tesouro e o Banco do Brasil referente ao Plano Safra – que Júlio Marcelo Oliveira entende ser operação de crédito vedada pela Lei de Responsabilidade Fiscal e a defesa de Dilma alega ter sido apenas um inadimplemento pelo governo.

“Vossa excelência pode reconhecer que há uma discussão interpretativa e duas teses que se colocam para interpretação da Lei de Responsabilidade Fiscal, ou dirá 'os outros não sabem nada, só eu sei a verdade'? Há dúvida ou não há quanto à interpretação dessa lei?”, questionou Cardozo, após alegar que a dúvida deve beneficiar a presidenta.

O procurador respondeu que a presidenta não firmou um contrato de operação de crédito, mas determinou “por meio das cadeias de comando” que o Banco do Brasil suportasse as despesas do Plano Safra – o que é vedado pela lei. E concluiu provocando o advogado: “Se eu não entendesse, diante desses fatos tão graves, que a presidente é responsável, eu teria que concluir que ela não estava presidindo o país, outra pessoa estava presidindo o país. Vossa excelência disse no Roda Viva 'a presidente me orientou a não interferir na Lava Jato'. Como foi essa orientação? Verbal, obviamente. É assim que o governo acontece”, concluiu o procurador, sob aplausos dos senadores favoráveis ao impeachment.

Após ouvir Júlio Leonardo de Oliveira Lewandowski chamou o segundo depoente de hoje, o auditor fiscal do TCU Antônio Carlos Costa D'Ávila, que fala neste momento como testemunha da acusação.

O advogado de defesa da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) e ministro afastado da AGU, José Eduardo Cardozo fez inúmeras críticas a postura do procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, Júlio Marcelo de Oliveira. 

“Há uma orientação clara de que o senhor Júlio Marcelo em querer condenar Dilma Rousseff. Ele é a principal testemunha de acusação, ele é o elaborador das teses. O relatório do relator Antônio Anastasia, ele requer literalmente os pensamentos e as ideias do procurador”, disparou Cardozo contra Oliveira. 

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Para Cardozo, não há imparcialidade na fala do procurador que está atuando como informante na sessão inicial do julgamento do impeachment de Dilma. “Quando se tem uma testemunha suspeita nem compromisso com dizer a verdade ela tem. Este reconhecimento da suspensão dele como testemunha, porque o Júlio atuou militando numa causa. Não há imparcialidade no procurador”, disse. 

O ministro afastado da AGU fez provocações aos representantes da acusação, afirmando que a presença e as alegações do procurador demostra parcialidade no julgamento. “Cada vez mais se explica ou se joga luz no que aconteceu nesse processo”. Durante sua reposta os jornalistas questionaram se essa mesma afirmativa não se aplicaria para os integrantes da defesa da presidente afastada, ao que Cardozo negou: “Eu não tenho nenhum membro do ministério Público arrolado como testemunha da presidente (sic) Dilma. Não há nenhum problema nisso, mas a grande questão é que nenhuma de nossas testemunhas formulou a tese, apenas participou de parte do processo. Nenhuma das nossas é mentor da tese do processo, o Júlio Marcelo é mentor do processo. Ele está do início ao fim do relatório do Anastasia. Acada dia que passa, a cada lance que é dado fica clara a parcialidade do processo”, pontuou. 

Durante a coletiva, Cardozo também acusou, sem citar nomes, os presidentes da República de terem praticado pedaladas fiscais. “Dilma Rousseff fez o que todos os outros presidentes fizeram, até que o Ministério Público e o Tribunal de Contas acordassem e até que surgisse uma tese e se quer punir para o passado. E por que se quer punir para o passado? Porque a tese surgiu depois do procurador da República e hoje é tido como suspeito. Ele é suspeito para aquilo que o ministro Lewandowski”. disse 

Segundo Cardozo, a defesa de Dilma poderá recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), caso Dilma tenha seu mandato cassado. “Nós no momento certo e se necessário for iremos para as instâncias necessárias. Eu confio que esses fatos, que a cada dia se revelam convençam aos senhores senadores que é um equívoco democrático é um desrespeito a Constituição o afastamento de Dilma Rousseff. A cada dia isso fica mais evidente, agora se os direitos da senhora presidente (sic) e os direitos daqueles que a elegeram e que foram lesados, nós iremos ao Supremo e iremos a todas as instâncias que possam reconhecer o absoluto descomprometimento com o direito, com o estado de direito”. 

Em depoimento na sessão de julgamento de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, o procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Júlio Marcelo de Oliveira, afirmou que a petista desrespeitou a Lei de Responsabilidade Fiscal e que é responsável também pelas pedaladas fiscais.

Uma das bases para o processo de afastamento é justamente o atraso de repasse de dinheiro ao Banco do Brasil para pagamento do Plano Safra. Com isso, o BB precisou pagar os agricultores com recursos próprios, prática conhecida como pedalada fiscal, que configura um empréstimo do governo com um banco estatal, ato proibido por lei. Para a acusação, as medidas tiveram o fim “maquiar as contas públicas” para “enganar a população”.

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"É impossível imaginar que a presidente não soubesse que esse problema grave estivesse acontecendo em sua gestão", considerou ele, que disse que mesmo com a mudança na equipe econômica do primeiro para o segundo mandato, a prática teve continuidade. "Ela tinha conhecimento, direção e comando sobre os fatos", sustentou.

Após um pedido do advogado de Dilma, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que preside a sessão, retirou o procurador da lista de testemunhas de acusação, mas permitiu o depoimento dele como informante. Isso porque Júlio de Oliveira publicou, numa rede social, a participação num ato em favor do impeachment.

Ainda em depoimento, Julio defendeu a tese de crime de responsabilidade pela abertura de créditos orçamentários suplementares sem autorização do Congresso Nacional, outra base do processo de impeachment. Para ele, houve violação a LRF, que estabelece que decretos só podem ser abertos com a autorização do Legislativo e um descumprimento da meta fiscal em vigor.

O procurador disse ainda que a prática representa uma fraude fiscal, “porque trouxe a imagem de um poder provedor, mesmo quando a receita do país já estava se reduzindo”, com a supressão do registro das dívidas. “Uma vez que não havia autorização legislativa, incidiu ela em violação ao artigo 1675 da Constituição e, portanto, um atentado contra as leis orçamentárias. Logo está configurado o crime de responsabilidade fiscal”, disse.

O procurador do Ministério Público de Contas (MPC), Júlio Marcelo de Oliveira, defende que os "graves atos" do governo tenham consequência, de forma a evitar sua repetição. Ele é o responsável pelos dois processos econômicos no Tribunal de Contas da União (TCU) envolvendo as chamadas "pedaladas fiscais" e a análise das contas de 2014 do governo Dilma Rousseff. "Está na hora de colocar o governo dentro das normas estabelecidas", disse Oliveira em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

Ele foi o procurador que solicitou a abertura de uma inspeção nas contas federais, no fim do ano passado, para averiguar se o Tesouro Nacional estava atrasando os repasses de recursos públicos para bancos e autarquias, de forma a melhorar artificialmente as contas públicas, o que ficou conhecido como "pedalada fiscal".

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Diante da comprovação pelos auditores do TCU, o procurador soltou parecer pela condenação do governo Dilma, por entender que as "pedaladas" infringiram a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que veda que um banco público financie a União. Os ministros do TCU condenaram o governo e, agora, o relator do processo, José Múcio, analisa as defesas formais enviadas por 17 autoridades do governo indicadas como responsáveis. O processo é acompanhado por Oliveira.

"A culpa deve ser compartilhada. Os bancos foram usados e forçados a usar recursos próprios diante dos atrasos do Tesouro, que, por sua vez, tem participação direta nas ‘pedaladas fiscais’. O Tesouro foi omisso em 2013 e 2014 e as 'pedaladas' atingiram grande volume, não foram marginais", disse. "O que foi descumprido em 2014 é muito grave porque se trata do eixo da LRF. Se a programação financeira puder ser fantasiosa, todo o resto perde o sentido. A meta fiscal no final do ano perde a importância. Se tudo perde relevância, por que então temos uma Lei de Responsabilidade Fiscal? Os atos de 2014 devem ter uma consequência para evitar sua repetição."

Questionado sobre qual deveria ser a consequência para esses casos, o procurador afirmou que cada processo tem uma particularidade. No caso das "pedaladas fiscais", o MP vai pressionar para que o TCU determine a correção imediata das dívidas que ainda estão penduradas pelo Tesouro Nacional nos bancos públicos, além da atribuição de responsabilidade para cada um dos envolvidos.

"No caso das contas do governo, a consequência é a rejeição das contas. O TCU tem de rejeitar", disse Oliveira. Na semana passada, o TCU deu um prazo de 30 dias para a presidente esclarecer as distorções encontradas pelos auditores do tribunal nas contas de 2014. O julgamento será retomado em agosto, com a participação do MP. Há 78 anos o TCU não rejeita as contas federais.

Críticas

Por causa de sua atuação recente no Tribunal de Contas, Oliveira virou alvo de ataques de grupos de apoio ao governo. Questionado sobre sua posição política, ele reagiu: "Eu não convoquei nenhuma manifestação dos movimentos que pressionaram o TCU a rejeitar as contas, embora eu os apoie. No MP, quando aponta ilegalidade no governo, sempre a oposição vai aplaudir e a situação vai ficar incomodada". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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