Tópicos | João Ubaldo Ribeiro

A Editora Objetiva planeja lançar até o fim do ano Noites Lebloninas, o livro de contos que João Ubaldo Ribeiro deixou inacabado. O diretor-geral da editora, Roberto Feith, ainda acertará os detalhes com a viúva, a psicanalista Berenice Batella, que já afirmou a intenção de publicar os últimos escritos do marido. "É um presente dele para os brasileiros, para quem gosta de ler e de rir", ela anuncia.

"Ele deixou dois contos absolutamente finalizados, fantásticos, deliciosos, e estava escrevendo o terceiro. São muito engraçados e leves. Li e fiquei apaixonada. Tenho certeza de que ele queria que o povo lesse", garante Berenice, que falou nessa quarta-feira, 23, ao jornal O Estado de S.Paulo na saída da sessão da Academia Brasileira de Letras que homenageou Ubaldo.

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"Não são necessariamente contos que deem um livro, mas é questão de o editor ver. Por mim, o livro sai. Faço questão", disse. Casados há 34 anos, Berenice era a primeira leitora de João Ubaldo. "Ele me dava para ler e ficava olhando qual seria a minha reação", lembra.

Segundo o poeta Geraldo Carneiro, amigo que tinha acesso liberado a seus originais desde A Casa dos Budas Ditosos (1999). Noites Lebloninas remete a Livro de Histórias, lançado por Ubaldo em 1981, pelo Círculo do Livro, e reeditado pela Nova Fronteira, dez anos depois, com dois novos contos e com o título de Já Podeis da Pátria Filhos e Outras Histórias. Um narrador popular conta causos divertidos, com a diferença que o cenário deixa de ser a ilha baiana de Itaparica, onde o autor nasceu, em 1941, e passa a ser o Leblon, bairro carioca praiano e boêmio onde viveu os últimos 20 anos.

"O narrador é um porteiro nordestino que fala sobre o que vê na vizinhança. Faz lembrar muito o Livro de Histórias, que é uma das obras mais engraçadas da literatura brasileira, no nível de Mark Twain e Monteiro Lobato. Tem um morador gay com um cachorro que o ajuda a farejar possíveis namorados", recordou Geraldinho.

Romancista por aptidão natural e cronista por profissão, Ubaldo pouco escreveu contos em suas mais de cinco décadas de atividade, e não tinha a pretensão de contribuir para o gênero. "Eu não sou contista. Não é porque considere o conto como um gênero menor. Mas algo me move em direção ao romance", revelou, numa entrevista de 1999 publicada pela edição do Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles, dedicada à sua obra. Na entrevista, ele já falava de Noites Lebloninas. O projeto não prosperou, e, de lá para cá, o escritor publicou três romances, três coletâneas de crônicas e um livro infantojuventil,

A Objetiva sabia da ideia do livro de contos, mas, em se tratando de um autor meticuloso e que costumava levar bastante tempo maturando um texto, não o pressionava. "A gente tinha plena consciência de que pressionar seria absolutamente impróprio, e sem nenhum efeito. Ele era movido por seu impulso criativo, e muito mais rigoroso com o texto do que qualquer um poderia ser. Os livros chegavam impecáveis", disse ainda Feith.

Foi assim com Budas: entre a encomenda e o e-mail com o texto inteiro pronto anexado foram "três ou quatro anos" -, mas não foi preciso alterá-lo. O livro, o mais vendido da série Plenos Pecados, foi o grande sucesso de Ubaldo na Objetiva: saíram 220 mil exemplares.

A edição comemorativa dos 30 anos de Viva o Povo Brasileiro, o clássico do escritor, no fim do ano, pode servir de mote para a publicação de Noites.

Os contos vão matar a sede dos leitores que vêm procurando mais os livros de Ubaldo desde sua morte - há uma semana, de embolia pulmonar, aos 73 anos. A Objetiva teve de fazer uma reposição de emergência em duas grandes redes, Travessa e Saraiva, que receberam livros já no sábado, dia do enterro. Parte já se esgotou e as livrarias fizeram novos pedidos. Nesta semana, Viva o Povo passou a ser o e-book mais vendido da editora (433 unidades); em seguida, vem Budas (200).

Ubaldo demorou a iniciar os contos lebloninos por enfrentar dificuldade de encontrar o narrador apropriado. "Ele tentou algumas vezes, mas não ficou satisfeito. Adorava o americano Damion Runyon (1880- 1946), que descreveu muito a Broadway, e queria fazer um retrato do Leblon", explicou Geraldinho, que esteve na casa do amigo oito dias antes da perda. Na ocasião, cobrou de Ubaldo uma autobiografia. Ele lhe respondeu: "Vou esperar ficar velho para isso". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O corpo de João Ubaldo Ribeiro foi enterrado pouco antes das 10 horas no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, na zona sul.

O escritor foi homenageado com coroas de flores enviadas por editoras, jornais, políticos e fãs. Mas duas chamavam a atenção ­- foram enviadas pelo bar e pela padaria que João Ubaldo costumava frequentar no Leblon, zona sul, onde morava.

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O ator e apresentador Bento Ribeiro, filho do escritor, disse que o pai deixa inconcluso um livro em que registrava as impressões de um baiano sobre o Leblon.

Começou na manhã desta sexta-feira, 18, o velório do escritor João Ubaldo Ribeiro no Salão dos Poetas Românticos, na Academia Brasileira de Letras (ABL). O enterro deve ser na manhã deste sábado, 19, no mausoléu da ABL no cemitério São João Batista, em Botafogo, na zona sul do Rio. O escritor morreu nesta madrugada aos 73 anos.

A secretária de João Ubaldo Ribeiro, Valéria dos Santos, contou que ele vinha trabalhando em um novo romance havia "um ano e meio ou dois". Ele acordava todos os dias por 4h ou 5h para aproveitar o sossego do horário e se sentava para escrever. Por volta das 10h, quando começavam os ruídos da casa, parava.

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Hoje, ele se sentiu mal por volta das 3h e chamou pela mulher, a psicoterapeuta Berenice Batella, com quem morava na companhia da filha Francisca, no Leblon. Rapidamente, chegaram paramédicos que tentaram reanimá-lo. Às 3h30, foi constatada a morte de Ubaldo, contou Valéria. "Foi muito rápido e muito triste. Ubaldo era uma pessoa muito agradável, um gentleman, tinha uma delicadeza ao lidar com o ser humano".

A secretária não sabe qual é o tema do romance inacabado. "Ele não me contou, dizendo que queria me proteger porque se eu soubesse todos me pressionariam para contar". Valéria disse ainda que Ubaldo buscava tranquilidade para dar continuidade ao livro. Ele a pedia para cancelar compromissos e negar convites que chegavam diariamente, como participações em feiras literárias, conferências e homenagens.

As reuniões de trabalho entre os dois se davam entre skype ou e-mail, pois Ubaldo não gostava de falar por telefone. Valéria contou que, em maio, Ubaldo foi internado no hospital Samaritano com dificuldades respiratórias. Na ocasião, seu cardiologista o alertou para a necessidade de cortar em definitivo o cigarro - Ubaldo fumou a vida inteira. Ele chegou a reduzir a quantidade de cigarros, mas não parou. A causa da morte foi embolia pulmonar.

Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), em que ocupava a cadeira 34, Ribeiro era colunista do Estado e de O Globo. Além de Viva o Povo Brasileiro, o escritor se notabilizou por clássicos como Sargento Getúlio e O Sorriso do Lagarto.

Baiano que passou a infância e adolescência na Ilha de Itaparica, cenário de alguns de seus principais trabalhos e tema constante em suas colunas dominicais, Ribeiro vivia no Rio, entre idas e vindas, desde os anos 70 do século passado. Ele deixa quatro filhos.

O presidente da Academia Brasileira de Letras, Geraldo Holanda Cavalcanti, determinou o cumprimento de luto por três dias pela morte do acadêmico João Ubaldo Ribeiro. A bandeira da ABL ficará hasteada a meio mastro. "É uma grande perda para a Academia, para o romance e o jornalismo nacionais . João Ubaldo Ribeiro deixa uma obra de excelência. Estamos todos muito chocados com a notícia", afirmou.

Para o letrista, pesquisador e produtor cultural Hermínio Bello de Carvalho, João Ubaldo Ribeiro é descrito como "um operário da palavra, muito criativo e bastante sacana". "Nunca tivemos proximidade, mas sou seu leitor assíduo. A maneira como ele conta as coisas é uma delícia, é daqueles escritores que repartem sensações. Alguns livros dele são essenciais. Todas as palavras são pobres para dizer o que significa essa perda", afirmou. Carvalho lembra de um "fato doloroso". Estava perto de João Ubaldo, quando ele recebeu, por telefone, a notícia da morte do escritor Jorge Amado. "Ele desmoronou. Sempre tão efusivo e ficou transtornado".

Os nomes dos 70 escritores brasileiros que o governo federal levará em outubro para a Feira do Livro de Frankfurt foram divulgados na manhã desta quinta-feira (14) pela Biblioteca Nacional. O Brasil, neste ano, será o convidado de honra da feira, considerado o maior evento editorial do mundo.

Foram selecionados autores de prosa, poesia, ensaio, biografia, crítica, obras técnicas e científicas, quadrinhos e infanto-juvenis. Entre os selecionados há os mais conhecidos como Adélia Prado, Ana Maria Machado, João Ubaldo Ribeiro, Carlos Heitor Cony e Ziraldo, e representantes da nova geração como Daniel Galera, Michel Laub, Carola Saavedra e Ferrez.

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A seleção foi feita pelos curadores Manuel da Costa Pinto, Antonio Martinell e Maria Antonieta Cunha, da Biblioteca Nacional. Além dos 70 autores, o Brasil contará com programação cultural de agosto a outubro em Frankfurt. A programação completa será anunciada em junho.

Os critérios adotados pela curadoria foram a pluraridade e a diversidade, o equilíbrio entre escritores consagrados e a nova geração, a variedade de gêneros e a qualidade estética. Foram privilegiados autores com publicações em idiomas estrangeiros, bem como os ganhadores de prêmios literários no Brasil de 1994 até hoje.

Confira a lista completa de autores:

Adélia Prado (MG)

Adriana Lisboa (RJ)

Affonso Romano de Sant'Anna (MG)

Age de Carvalho (PA)

Alice Ruiz (PR)

Ana Maria Machado (RJ)

Ana Miranda (CE)

André Sant'Anna (MG)

Andrea del Fuego (SP)

Angela-Lago (MG)

Antonio Carlos Viana (SE)

Beatriz Bracher (SP)

Bernardo Ajzenberg (SP)

Bernardo Carvalho (RJ)

Carlos Heitor Cony (RJ)

Carola Saavedra (Chile - RJ)

Chacal (RJ)

Cíntia Moscovich (RS)

Cristovão Tezza (SC)

Daniel Galera (SP)

Daniel Munduruku (PA)

Eva Furnari (SP)

Fábio Moon e Gabriel Bá (SP)

Fernando Gonsales (SP)

Fernando Morais (MG)

Fernando Vilela (SP)

Ferréz (SP)

Flora Süssekind (RJ)

Francisco Alvim (MG)

Ignácio de Loyola Brandão (SP)

João Almino (RN)

João Gilberto Noll (RS)

João Ubaldo Ribeiro (BA)

Joca Reiners Terron (MT)

José Miguel Wisnik (SP)

José Murilo de Carvalho (MG)

Lelis (MG)

Lilia Moritz Schwarcz (SP)

Lourenço Mutarelli (SP)

Luiz Costa Lima (MA)

Luiz Ruffato (MG)

Manuela Carneiro da Cunha (Portugal - SP)

Marçal Aquino (SP)

Marcelino Freire (PE)

Maria Esther Maciel (MG)

Maria Rita Kehl (SP)

Marina Colasanti (RJ)

Mary del Priore (RJ)

Mauricio de Sousa (SP)

Michel Laub (RS)

Miguel Nicolelis (SP)

Nélida Piñón (RJ)

Nicolas Behr (MT)

Nuno Ramos (SP)

Patricia Melo (SP)

Paulo Coelho (RJ)

Paulo Henriques Britto (RJ)

Paulo Lins (RJ)

Pedro Bandeira (SP)

Roger Mello (DF)

Ronaldo Correia de Brito (CE)

Ruth Rocha (SP)

Ruy Castro (MG)

Sérgio Sant'Anna (RJ)

Silviano Santiago (MG)

Teixeira Coelho (SP)

Veronica Stigger (RS)

Walnice Nogueira Galvão (SP)

Ziraldo (MG)

Por Daniele Vilas Bôas

Salvador – O escritor João Ubaldo Ribeiro, nascido em Itaparica, considerado um dos maiores escritores brasileiros e destacadamente o maior escritor vivo da Bahia, é o mais novo imortal da Academia de Letras da Bahia. Eleito em primeiro turno, por unanimidade, ele se tornará um acadêmico baiano aos 71 anos de idade.

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Nesta quinta-feira (22), às 20h, no Palacete Góes Calmon, em Salvador, o escritor toma posse da cadeira de número 9 ocupada anteriormente pelo acadêmico Cláudio Veiga, falecido no ano passado. Será saudado, em nome da casa, na cerimônia de posse pelo escritor Joaci Goes, ocupante da cadeira de n° 7.

Membro da Academia Brasileira de Letras é ganhador do prêmio Camões de 2008, maior premiação para autores de língua portuguesa é escritor, roteirista, professor e pós-graduado em Administração Pública. Também jornalista, atualmente colabora nos editais O Globo, Frankfurter Rundschau (Alemanha), Jornal da Bahia, Die Zeit (Alemanha), The Times Literary Suppplement (Inglaterra), O Jornal (Portugal), Jornal das Letras (Portugal, O Estado de São Paulo, A Tarde e outros exteriores e nacionais.

Dentre as suas obras, muitas premiadas, estão Setembro não Tem Sentido, Sargento Getúlio, Vila Real, Viva o Povo Brasileiro, A Casa dos Budas Ditosos, O Sorriso do Lagarto, Vencecavalo e Outro Povo (livro de contos).

O estilo literário do escritor João Ubaldo Ribeira é praticamente traçado pela ironia e pelo o contexto social do Brasil, abordando também a cultura portuguesa, e africana. João tem várias de suas obras adaptadas para o cinema e para a televisão, tendo, participado inclusive, do processo de criação delas. 

 

 

Sargento Getúlio foi a segunda obra publicada pelo escritor nascido em Itaparica, na Bahia, e já conta com um filme homônimo. Obra do autor João Ubaldo Ribeiro, o enredo traz um Sargento que tem a tarefa de levar um prisioneiro de Paulo Afonso, na Bahia, até Aracaju, capital de Sergipe. A história é narrada pelo personagem principal e preserva aspectos da linguagem nordestina, do sertão e do agreste, sendo marcada pela crueldade de Getúlio.

O espetáculo teatral estreou sua primeira temporada em agosto de 2011 e recebeu quatro indicações ao 2º Prêmio Braskem de Teatro, vencendo as categorias de melhor espetáculo e melhor ator. Adaptado e dirigido por Gil Vicente Tavares, afilhado de João Ubaldo Ribeiro, e com atuação de Carlos Betão, que tem 30 anos de palco, Sargento Getúlio já foi encenada em Fortaleza (CE). A segunda temporada começa nesta final de semana (3, 4 e 5), com apresentações na Sala do Couro do Teatro Castro Alves, em Salvador (BA).

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O ator Carlos Betão afirma que esse é o seu primeiro monólogo e garante que o público irá encontrar algo diferente da “imagem comum do nordestino”. O ator começou a carreira na cidade de Itabuna, onde nasceu, ao lado de importantes figuras no teatro, como Mário Gusmão. Segundo o ator, “Mário me deu a régua e compasso para o teatro”.

Fazer Sargento Getúlio na versão teatral também não foi fácil, devido às características do personagem. Mas, para Betão, esses aspectos foram os mais importantes por retirar o artista da zona de conforto. “É importante que o público tenha contato com uma peça como essa”, afirmou o ator.

Além de Gil Vicente e Carlos Betão, a equipe é composta por Ivan Bastos (trilha sonora), Eduardo Tubela (luz), Fernanda Bezerra (produção) e Mel Borba (corpo). Ao final da temporada, o grupo irá se apresentar no Festival de Teatro de Porto Alegre e tem planos de levar a peça para Sergipe, Pernambuco e Ceará.

Sargento Getúlio no cinema - Na versão cinematográfica, o roteiro foi escrito por João Ubaldo Ribeiro, Hermanno Penna e Flávio Porto. Estiveram frente às câmeras por 85 minutos atores como Lima Duarte (no papel de Getúlio), Flávio Porto e Amaro Oliveira. O filme participou de cinco festivais, ganhando como melhor ator (Lima Duarte), melhor filme no Festival de Havanna de 1983, em Cuba, e o Troféu da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), em 1984.

*Por Diogo de Oliveira

Confira chamada da peça:

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