É inusitado constatar que o cinema brasileiro ainda estava em débito com figura de Getúlio Vargas. O homem é um mito, que embora já desmontado pela historiografia, permanece nas nébulas memória popular. Recentemente houve uma retomada da sua imagem conectada à do ex-presidente Lula, fruto de um direcionamento político do governo orientado por marqueteiros diante do fortalecimento (artificial) do discurso da oposição na época do escândalo do mensalão. Getúlio, filme de João Jardim, é uma mistura de thriller e cinebiografia, voltado para contar uma história inspirada nos últimos 19 dias de governo e vida do Estadista.
Getúlio, de João Jardim, é um filme concentrado. Em mais de um sentido. Resume uma vida, das mais controversas da política brasileira, a seus 19 dias finais. E o faz com um sentido de seriedade, precisão e economia de recursos que transforma cada fala e cada gesto dos personagens em algo de muito significativo. Exige do espectador concentração semelhante.
Afinal, foram anos e anos de pesquisas, livros, locações e elenco para chegar a esse resultado ótimo num gênero (o drama político) em que o cinema brasileiro parece particularmente deficiente. Aqui, em geral, tende-se à hagiografia ou a demonização. Jardim prefere tons intermediários. Tudo é sombra e matizes de luz nas etapas da trajetória final de Vargas, acossado e cada vez mais prisioneiro de um palácio, o Catete, sede do governo. As cenas foram filmadas no atual Museu da República, no Rio, que preserva os móveis, o último pijama marcado de sangue do presidente, e o revólver do ato final.
##RECOMENDA##
As sombras vêm de toda parte. Das más notícias acumuladas que dão conta do envolvimento da guarda pessoal do presidente no atentado ao opositor Carlos Lacerda, e que terminou no ferimento deste e na morte do major Vaz, da Aeronáutica. O escândalo é pretexto para uma campanha civil-militar, que deveria levar ou à renúncia do presidente ou a um golpe - que seria aplicado apenas dez anos depois.
As (poucas) luzes no fim de vida do presidente vêm de sua filha Alzira (Drica Moraes), seu braço direito, apoio solitário e única figura a emprestar humanidade a um palácio que, pouco a pouco, vai se tornando prisão para seu habitante. Vargas bem que tenta se desvencilhar, mas os cordéis se atam de maneira implacável com a falência do seu dispositivo militar (Zenóbio da Costa, vivido por Adriano Garib) e o envolvimento da família no escândalo, como seu irmão Benjamim (Fernando Luis).
Todo esse drama ganha expressão na presença contida e ao mesmo tempo forte de Tony Ramos como Getúlio Vargas. No de Drica, que compõe uma Alzira comovente em sua impotente solidariedade ao pai. Em todo o resto do elenco, bastante homogêneo e congruente. Assim como na fotografia de tons escuros de Walter Carvalho, com travelings delicados que realçam a gravidade do momento. Tudo é sutil sem deixar de ser intenso. Mesmo o Carlos Lacerda de Alexandre Borges é contido, dois tons abaixo do original. Getúlio é, em seu todo, um drama de câmera, pontuado por uma trilha sonora estupenda, de Frederico Jusid.
Como dizia Marc Ferro, só se faz história a partir do presente. Com sutileza, Getúlio não refaz apenas a trajetória pessoal de um homem político, mas desvenda a tradição golpista brasileira, que iria aflorar em 1964, e não se extingue com a redemocratização. Faz parte dos usos e costumes, e talvez do DNA da política à brasileira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
As poltronas do Teatro Guararapes, neste domingo (27), não ficaram tão ocupadas como na abertura do Cine PE 2014, que ocorreu neste sábado (26). Embora o público estivesse em menor número, o segundo dia do festival foi melhor que o primeiro em relação a seleção dos filmes. Enquanto na abertura, foram exibidos mais de 10 curtas e O Grande Hotel Budapeste- destaque do sábado-, neste domingo foram seis filmes, sendo dois curtas, dois documentários e o longa sobre Getúlio Vargas.
O filme que abriu o segundo dia do Cine PE foi Frascos. O curta fechou a programação da Mostra Pernambuco, que terá seus vencedores anunciados na terça-feira (29). O segundo filme foi Ecce Homo, que pertence à Mostra Curta Nacional. A produção mostra e critica a triste realidade dos animais que são maltratados. Algumas cenas desse curta são reais e chocantes, o que deixou o público bastante impressionado.
##RECOMENDA##
Ao final da exibição de Ecce Homo, uma mulher da plateia fez um pedido para que o volume do áudio fosse diminuído. A resposta ao comentário da espectadora foi de aplausos vindos do público. Isso porque o volume do som dos filmes, este ano, vem causando certos incômodos durante alguns momentos das sessões.
Em seguida, foi a vez do documentário de Jorge Furtado, O Mercado de Notícias. O filme abre a mostra Doc Internacional e traz uma reflexão bastante atual sobre o jornalismo. O roteiro também foi feito pelo diretor e é baseado na peça escrita pelo inglês Ben Jonson em 1625, The Stample of News.
Antes das sessões começarem, Furtado subiu ao palco do teatro para apresentar seu filme. “É um documentário que discute o jornalismo e é dedicado ao jornalista Janio de Freitas”, destaca o diretor, que finaliza com uma das frases emblemáticas do filme: “Falem bem ou falem mal, mas falem”.
Para compor o documentário, Furtado convidou 13 jornalistas de todo o Brasil exporem sua opinião sobre essa profissão que passa por momentos de mudança com o advento da internet. É uma verdadeira aula sobre o jornalismo. Rafael Mello, 18, é estudante da área e assistiu ao documentário. Ele contou ao LeiaJá que gostou do filme e se identificou com o mesmo. “O documentário levanta questionamentos que são importantes para mim, mas que servem também para toda sociedade”, comenta Rafael.
Já Igor Travassos é estudante de publicidade e integra o júri popular do Cine PE. Em conversa com o LeiaJá, ele opina sobre a seleção de filmes deste domingo (27). “Achei os filmes do segundo dia melhores que o do primeiro. Também gostei da distribuição de horário que foi feita hoje. Ontem foram exibidos muitos curtas sem intervalo, o que cansou um pouco”, conta Igor.
Getúlio
Depois de O Mercado de Notícias, foi a vez de o público assistir a Tony Ramos incorporando um dos personagens mais emblemáticos do Brasil, em Getúlio. O filme, que faz parte da sessão especial BNDES, traz os últimos 19 dias de vida do ex-presidente Vargas.
Antes de Getúlio começar, o diretor João Jardim subiu ao palco juntamente com um dos atores do filme, Thiago Faustino. Ele interpreta Gregório Fortunato, motorista do então presidente da república e peça importante para desvendar o atentado sofrido pelo jornalista Carlos Lacerda, que ganha interpretação de Alexandre Borges.
Ao LeiaJá, Jardim conta que o processo para escrever a história do filme foi demorado. “A pesquisa sobre a história de Getúlio durou anos e houve muito tempo para fazer o roteiro, de autoria de Jorge Moura”, comenta o diretor, que também falou a escolha de Tony Ramos para viver o presidente. “Tony é um grande ator, parece com Getúlio e era isso que a gente precisava. Um ator carismático, talentoso e forte, assim como Getúlio”, finaliza.
A sessão de Getúlio começou por volta das 22h. Assim que terminou a exibição do longa, grande parte do público deixou o Teatro Guararapes e não viu o último filme da noite, 1960, um home movie de Portugal.
A partir desta semana, espectadores de todo o Brasil poderão conferir os últimos 19 dias de um dos presidentes mais carismático e importantes que o país já teve, Getúlio Vargas. O filme estreia nos cinemas na quinta (1º), mas terá uma sessão especial neste domingo (27), no Cine PE, que ocorre no Teatro Guararapes, Centro de Convenções de Olinda.
Para representar o filme Getúlio, o diretor João Jardim veio ao segundo dia do Cine PE. Em conversa com o LeiaJá, João conta que o maior desafio do filme foi fazer uma produção que retrate verdadeiramente um período importante da história do Brasil e, ao mesmo tempo, colocar entretenimento e diversão.
##RECOMENDA##
Jardim também fala o que o público pode esperar do filme. “Getúlio é um longa com muita emoção, que representa um personagem carismático com uma grande bagagem histórica. Além disso, o filme traz uma discussão política importante”, comenta o diretor.
‘Getúlio’ será o quarto filme a ser exibido no segundo dia do Cine PE. Antes, terá exibição de curtas da Mostra Pernambuco, Mostra Curta Brasil e a estreia do primeiro filme da Mostra Doc Internacional: O Mercado de Notícias,de Jorge Furtado.