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O ex-presidente do Sri Lanka Gotabaya Rajapaksa disse que fez "o máximo" para evitar o desastre econômico que afeta seu país, mas que a pandemia da covid-19 anulou seus esforços - conforme carta de renúncia lida no Congresso, neste sábado (16).

"Os confinamentos de 2020 e 2021 erodiram as reservas de divisas (...) Fiz o máximo pelo país", afirmou, em uma carta lida pelo secretário-geral do Congresso Nacional, Dhammika Dasanayake, e enviada de Singapura, para onde fugiu esta semana em meio aos fortes protestos no país.

Em sua breve missiva, Rajapaksa sustentou que as reservas cambiais já estavam baixas quando assumiu o cargo, em novembro de 2019, e que a pandemia terminou por devastar a economia desta ilha de 22 milhões de habitantes situada ao sul da Índia.

Os números oficiais mostram que o Sri Lanka contava com uma reserva de US$ 7,5 bilhões em 2019, que estava em apenas US$ 1 bilhão no momento de sua saída do território nacional. Em abril deste ano, o país entrou em "default" pelo não pagamento de US$ 51 bilhões em dívida externa.

Os deputados do Sri Lanka devem se reunir nesta quarta-feira para eleger um sucessor de Rajapaksa, que fugiu depois que manifestantes invadiram sua residência em 9 de julho.

O primeiro-ministro do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, tomou posse como presidente interino na sexta-feira (15). Ele aparece como candidato favorito, embora também seja alvo da revolta dos manifestantes.

O presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, deixou o país na madrugada desta quarta-feira em um avião militar e chegou às Maldivas, em um provável prelúdio da sua renúncia, após meses de protestos generalizados motivados pela pior crise econômica da história nacional.

Após milhares de manifestantes invadirem a residência oficial do presidente, no último sábado, Rajapaksa prometeu que renunciaria e abriria o caminho para uma "transição pacífica" do poder.

Rajapaksa beneficia-se de imunidade presidencial e pode usá-la para buscar refúgio no exterior e não ser detido em seu país.

O presidente de 73 anos, sua mulher e um guarda-costas deixaram o país a bordo de um avião Antonov-32, que decolou do principal aeroporto internacional, disseram autoridades da imigração à AFP. "Seus passaportes foram carimbados e eles embarcaram no voo especial da força aérea", disse um funcionário da imigração.

Uma fonte do aeroporto de Male confirmou à AFP a chegada do presidente, que foi levado para um local não revelado no arquipélago, localizado a sudeste do Sri Lanka, no Oceano Índico.

Horas antes, Rajapaksa havia considerado a possibilidade de deixar o país em um barco de patrulha da marinha, já que no dia anterior não conseguiu pegar um avião para Dubai após uma briga com o serviço de imigração no aeroporto, segundo fontes oficiais.

No fim de semana, o presidente fugiu de sua residência sob pressão de milhares de manifestantes que finalmente invadiram o complexo presidencial.

- Sala VIP -

O chefe de Estado e sua mulher passaram a noite anterior à viagem que pretendiam fazer a Dubai em uma base militar, segundo fontes oficiais.

No aeroporto, porém, os funcionários do serviço de imigração negaram acesso à sala VIP para carimbar seu passaporte. Rajapaksa queria evitar o terminal público por medo da reação dos cingaleses.

Seu irmão Basil, que pediu demissão em abril do cargo de ministro das Finanças, também não conseguiu embarcar no avião com destino a Dubai.

"Alguns passageiros protestaram contra o embarque de Basil em seu voo", afirmou à AFP um funcionário do aeroporto.

"Foi uma situação tensa e ele decidiu abandonar o aeroporto de forma precipitada", acrescentou.

- Dinheiro em espécie -

Basil, que também tem nacionalidade americana, precisou obter um novo passaporte depois que deixou o seu na mansão presidencial quando a família foi obrigada a fugir antes da invasão da multidão furiosa, afirmou uma fonte diplomática.

De acordo com fontes oficiais, na residência foram encontradas uma mala repleta de documentos e 17,85 milhões de rupias (50.000 dólares), que foram entregues às autoridades.

Se Rajapaksa renunciar como prometeu, o primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe o substituirá até que o Parlamento escolha um presidente interino para o restante de seu mandato, que termina em novembro de 2024.

Mas Wickremesinghe também não goza de legitimidade diante dos manifestantes, que estão acampados em frente à secretaria presidencial há mais de três meses para exigir a renúncia do presidente.

O primeiro-ministro anunciou sua disposição de renunciar se for alcançado um consenso para formar um governo de unidade.

Rajapaksa é acusado de péssima gestão da economia, o que levou o país a um cenário de caos e uma crise profunda por falta de divisas, o que torna impossível financiar as importações de produtos essenciais para a população de 22 milhões de habitantes.

O Sri Lanka declarou moratória da dívida de 51 bilhões de dólares em abril e está em negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para receber um empréstimo.

Além disso, o país quase esgotou suas reservas de combustível e o governo ordenou o fechamento das administrações não essenciais e das escolas para reduzir os deslocamentos.

Depois de cinco anos na oposição, Gotabaya Rajapaksa venceu a eleição presidencial no Sri Lanka com 52,25% dos votos, superando com folga o rival rival Sajith Premadasa (41,99%), anunciou neste domingo a Comissão Eleitoral.

Gotabaya Rajapaksa, 70 anos, conhecido como "Terminator" (referência ao filme "O Exterminador do Futuro"), fez uma campanha nacionalista, com foco na segurança, após os atentados jihadistas que mataram 269 pessoas em 21 de abril nesta ilha do sul da Ásia.

Homens-bomba de um grupo extremista local detonaram suas cargas em hotéis de luxo e igrejas cristãs, em plena celebração das missas.

Gotabaya Rajapaksa, que foi ministro da Defesa, comandou o exército cingalês que esmagou a rebelião tâmil em 2009, na última ofensiva em que 40.000 civis morreram, de acordo com organizações de defesa dos direitos humanos.

O banho de sangue acabou com 37 anos de guerra civil, que deixou mais 100.000 mortos, e rendeu a Gotabaya Rajapaksa e a seu irmão Mahinda – que presidiu o país entre 2005 e 2015 – a admiração da maioria étnica cingalesa e o ódio da minoria tâmil, que representa 15% da população.

Gotabaya Rajapaksa foi acusado de comandar durante a presidência do irmão "esquadrões da morte" – algo que ele sempre negou – que sequestraram dezenas de tâmeis, opositores políticos e jornalistas.

O retorno do clã Rajapaksa ao poder preocupa os muçulmanos, particularmente depois dos violentos atentados jihadistas de abril.

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