Tópicos | Dia do Leitor

Segundo um levantamento feito pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural, apenas pouco mais da metade dos brasileiros têm o hábito da leitura: 52%. A pesquisa apontou, inclusive, uma diminuição desse percentual entre 2015 e 2019, período em que o Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores. O estudo foi realizado em 208 municípios de 26 estados entre outubro de 2019 e janeiro de 2020.

Os números podem até não impressionar dado o senso comum de que brasileiros não gostam de ler, somado a um outro que estigmatiza os livros como artigos de luxo caros, sendo assim, inacessível para grande parte da população. No entanto, uma breve volta pelo centro do Recife, pode servir de  alento aos que preferem desacreditar em tais  teorias. 

##RECOMENDA##

Ladeando determinado ponto da Avenida Dantas Barreto, dois pontos tradicionais agregam livreiros de rua. Um deles, batizado de Praça do Sebo, conta até com a escultura de um célebre escritor; Mauro Mota, jornalista, poeta, ensaísta e membro da Academia Brasileira de Letras, falecido em 1984. Seguindo pela Avenida Guararapes, no coração do centro da capital pernambucana, é preciso desviar dos livros de diversos vendedores que montam seus sebos nas calçadas mesmo. 

São pessoas como Crisgibe, que há dois anos vende gibis e livros de diversos gêneros em uma dessas calçadas, ocupando a cidade de maneira tal que já tornou-se parte do visual dela. A história de Cris e de outros profissionais, tem sido documentada pelo pernambucano Elizeu Espíndola, ele próprio um livreiro de rua, proprietário do Seborreia. 

[@#video#@]

Crisgibe é uma das sebistas que ocupam o centro do Recife. 

Elizeu transformou sua paixão por livros e sebos em trabalho há cerca de dois anos. Educador Social de profissão, acostumado às mais diversas vivências encontradas pelas ruas da metrópole, ele conta que foi preciso uma certa dose de “coragem” para colocar o seu sebo na rua. “O livreiro de rua é uma espécie de ambulante, de comércio informal, eu precisei vencer essa etapa do medo”, contou o sebista em entrevista ao LeiaJá. 

Até o dia em que ele colocou “uma canga da companheira” na bolsa, mais alguns livros, e desembarcou na Estação Recife de metrô, no Bairro de São José, área central da cidade A partir dali, a experiência acumulada em suas próprias andanças e relações construídas com os livreiros do centro, aliadas à vontade de promover uma “ocupação literária” daqueles espaços, deram vida ao Seborreia. “A cidade sempre foi palco de experiências encantadoras, então ocupar aquele local era fundamental”, afirma.

O Seborreia começou no Pátio de São Pedro, passou pela Casa da Cultura - antiga casa de detenção transformada em equipamento cultural -, e passou um tempo na Avenida Guararapes, em frente ao prédio dos Correios. Elizeu conta que seu estímulo sempre foi o de oportunizar a livre circulação de informação e promover uma “libertação” através dos livros, usando-os como munição contra a violência urbana e a precarização da educação no país. A ideia era “armar” as pessoas com esse “novo arsenal” e assim “contribuir com a formação de jovens”. 

Elizeu, idealizador do Seborreia e  condutor do "trem bala", como ele chama o sebo. Foto: Reprodução/Instagram

O acervo do Seborreia passa por uma fina curadoria que atende a um eixo central: cultura e ciências humanas. Garimpando em outros sebos e fazendo parcerias com livreiros, escritores e outros clientes, Elizeu disponibiliza obras de história, política, filosofia, diferentes linguagens artísticas e poesia, entre outros temas correlatos. O diferencial não é obra do acaso, o propósito do sebista é expandir os conhecimentos existentes em tais livros para além dos espaços acadêmicos. “É uma realidade que a princípio nos é dada, não sei se é pra nos colocar no lugar da comodidade, a gente sai da escola pública, sobretudo quem vem da periferia e é ligado a uma classe mais trabalhadora, e a leitura vira algo de luxo. A escolaridade deve cumprir a função básica para lhe deixar apto ao trabalho e às vezes a gente frustra uma experiência potencialmente rica.  Isso mais atrapalha do que ajuda nesse processo de dar às pessoas esse acesso ao conhecimento. Onde você vai ser provocado fora da universidade a ter contato com isso?”

Para além dessas questões educacionais, o livreiro exalta a possibilidade das trocas de experiências, vivências e histórias somente possíveis no convívio com o cotidiano da própria cidade e seus frequentadores. Os transeuntes acabam virando compradores, amigos, parceiros e multiplicadores de “experiências concretas”, como ele próprio chama. Tudo isso sem contar na carga afetiva contida apenas nos livros usados, instrumentos de resistência não só ao hábito da leitura - ao qual teimamos em acreditar não fazer parte do nosso povo -, como à magia e riqueza contida nos sebos de rua.

Resistência

O Seborreia passou cerca de dois anos ocupando uma ds calçadas da Avenida Guararapes, no centro do Recife. Foto: Reprodução/Instagram

Resistir é a palavra de ordem para sebistas, sobretudo aos que trabalham nas ruas da cidade. A pandemia do novo coronavírus trouxe um desafio ainda maior à sobrevivência de todos eles. O próprio Seborreia passou a investir mais no trabalho via redes sociais para continuar na ativa. A presença no meio virtual trouxe mais leitores e estabeleceu novas conexões, mas é na rua mesmo que o sebo existe de forma plena.

Sendo assim, Elizeu levou seu acervo para um novo ponto no centro do Recife. O Seborreia está funcionando em um espaço compartilhado com o Bazar da Cidadania, promovido pela Ação Cidadania, na Rua Imperatriz, no Pátio da Matriz da Boa Vista, bairro da Boa Vista. Um lugar que, para ele, faz todo “sentido” pelo “arsenal cultural e pela ideia do consumo consciente”. O sebo funciona às segundas, quartas e sextas, das 14h às 17h.  

O período de distanciamento social permitiu que algumas pessoas colocassem a leitura em dia. No entanto, os brasileiros leitores ainda são poucos e esse hábito, de acordo com o levantamento do Retratos da Leitura no Brasil, resultado da parceria entre o Instituto Pró-Livro e Itaú Cultural, caiu entre 2015 e 2019 - mais de quatro milhões de pessoas deixaram de ler. 

Na contramão desse número, os clubes de leitura ganharam cada vez mais adeptos, principalmente os on-line. Com a comodidade de debater e compartilhar livros e ideias sem sair de casa, essas iniciativas cresceram e ganharam força em meio ao caos causado pela pandemia do novo coronavírus. Os clubes de leitura estão presentes nas redes sociais de forma gratuita. Os livros são elegidos pelos mediadores ou em comum acordo com os participantes. 

##RECOMENDA##

Ficou curioso? Confira a lista de clubes on-line que você precisa conhecer e participar:

Ler Antes de Morrer

O projeto é idealizado pela jornalista Isabella Lubrano e conta com perfis no Facebook, Instagram e YouTube. 

Clube de Literatura Brasileira Contemporânea

Criado por Humberto Conzo, com mediação de Tamy (Literatamy), o clube realiza leitura coletiva e discussão mensalmente através das redes sociais.

Põe na Estante

Com um formato diferente, o Põe na Estante, de autoria da jornalista Gabriela Mayer, é um clube de leitura presente no meio streaming. O podcast é um espaço de debate literário.

Vá ler um livro

Reunindo dicas, lista de livros e debate, o 'Vá ler um livro' é de curadoria da também jornalista Tatiany Leite. 

Publicado originalmente em uninassau.edu.br

Incentivar a leitura desde cedo pode ajudar o Brasil a aumentar o número de leitores, de acordo com especialistas entrevistados pela Agência Brasil. A estimativa é de que quase metade dos brasileiros não seja leitor regular. Entre os motivos apontados estão a falta de tempo e a falta de paciência. 

Hoje (7) é o Dia do Leitor, criado em homenagem ao suplemento literário do jornal O Povo, do Ceará, que ficou famoso por divulgar o movimento modernista cearense. O jornal foi fundado em 7 de janeiro de 1928 pelo poeta e jornalista Demócrito Rocha. 

##RECOMENDA##

Desde então, o Brasil melhorou as taxas de analfabetismo, mas ainda hoje enfrenta o desafio de fazer com que as pessoas tenham o hábito de ler. De acordo com a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, 44% dos brasileiros com mais de 5 anos de idade não são leitores, o que significa que não leram nenhum livro nos últimos três meses. 

A pesquisa mostra também que ler está ficando mais difícil para os brasileiros, seja por falta de tempo ou de paciência. O índice dos que afirmam que não têm nenhuma dificuldade para ler diminui a cada edição da pesquisa. Eram 48% dos entrevistados em 2007, passando para 33% em 2015. Entre as dificuldades está a falta de paciência. Em 2007, 11% disseram não ter paciência para ler. Em 2015, esse percentual subiu para 24%.

"Acho que o desafio da próxima década é mostrar a importância da leitura, o prazer da leitura, começar a criar uma nova sociedade leitora. É difícil convencer um adulto que nunca teve o hábito de ler a começar a ler, [o desafio] é atrair as crianças", diz o presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), Marcos da Veiga Pereira. 

Para chegar às crianças, a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, organizada pelo Snel, iniciou, neste ano, o projeto Bienal nas Escolas, que leva autores para escolas públicas. A intenção é que os encontros ocorram também neste ano e em 2021, até a próxima Bienal. "Se quer transformar o Brasil, tem que começar a investir nas crianças", defende Pereira.

Acesso aos livros

A gerente de Cultura do Departamento Nacional do Serviço Social do Comércio (Sesc), Elisabete Veras, também considera fundamental a leitura desde a infância. De acordo com ela, a relação com os livros começa com a proximidade. "O encantamento se dá pela relação, pelo contato com os livros, pela oportunidade de tocar, de vivenciar esse universo da imaginação. Por isso o acesso [aos livros] é tão importante", diz. 

Esse contato se dá, para muitos brasileiros, em escolas e nas bibliotecas. Elisabete defende as bibliotecas como espaços de diálogo, de palestras, de eventos, de exibições de cinema. "O acesso [aos livros] não pode ser pontual, tem que ter continuidade, para criar hábito. Para que se crie hábito, é preciso fazer parte da rotina, estar inserido no contexto [das crianças] e não ser uma eventualidade". 

Uma das metas da Rede Sesc de Bibliotecas para este ano é a criação de uma grande rede de clubes de leitura, valorizando a cultura de cada localidade e aproximando os autores dos leitores, sobretudo do público infantil. A Rede conta hoje com 309 bibliotecas fixas e 57 unidades móveis (BiblioSesc), nas quais estão inscritos 272 mil leitores. Segundo Elisabete, já existem iniciativas locais, agora a intenção é integrar os projetos.

Crianças que leem

Não são apenas os adultos que estão preocupados com a leitura das crianças e jovens. O projeto Pretinhas Leitoras é prova disso. O projeto nasceu em outubro de 2018, no Morro da Providência, no Rio de Janeiro, com as irmãs Helena e Eduarda, de 11 anos, e Elisa, 5 anos. 

Supervisionadas pela mãe, Elen Ferreira, e por Igor Dourado, elas compartilham leituras e pesquisam literatura negra. O que aprendem, as irmãs compartilham com outras crianças e jovens tanto em clubes de leitura, que reúnem também autores e contadores de história, quanto pela internet.

"A literatura é a oportunidade de acessar e compartilhar um pouco daquilo que somos e sabemos. Quando essa interação acontece, criamos uma forma nova de acolher a história que era do outro e passa a ser também nossa de um jeitinho único", dizem as irmãs, por e-mail, à Agência Brasil.

Para a equipe do Pretinhas Leitoras, a internet é uma grande aliada no incentivo à leitura. “Compartilhamos discussões sobre obras literárias por meio do cyberespaço para potencializar o acesso à leitura e sua divulgação pelas redes". 

A internet significa também, para elas, acesso. “Há que se pensar também sobre a importância que a internet assume ao democratizar o acesso à narrativas distintas e secularmente ignoradas no cenário literário brasileiro. Outro ponto é o acesso à ebooks, que estão diminuindo o preço de aquisição de muitos títulos e possibilitando descobertas dos mesmos. Isso é muito importante em um país no qual o mercado literário é elitista e caro, enquanto a massa populacional é pobre".

Incentivo familiar

O Ministério da Educação (MEC) lançou, no mês passado, o programa “Conta pra Mim”, que estimula a leitura de livros infantis no ambiente familiar. A pasta disponibilizou uma cartilha para orientar os pais e responsáveis.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando