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Rafael Bandeira/LeiaJáImagens 

Em setembro de 2018, a história do paratleta Deyvison Gonçalves foi contada pelo LeiaJá. “Juju atleta”, como é mais conhecido, em 2013, teve que amputar uma parte da perna direita, após um acidente no qual um carro desgovernado o atingiu. Cinco anos depois, ele transformou a dor em superação e conseguiu um feito difícil de ser alcançado: sem ter a prótese adequada para a atividade que o impulsionou na vida, ele corria até 20 km de muletas. Na época da entrevista, Juju tinha um sonho que foi desacreditado por muitos: conseguir a prótese que podia custar até R$ 360 mil reais no mercado. 

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Passado quatro meses, fomos até o encontro de Deyvison, desta vez, no Parque da Jaqueira, localizado na Zona Norte do Recife. Visivelmente entusiasmado, com sorriso largo, certamente havia boas novas para contar: “Eu consegui, conseguimos”, declarou utilizando o termo também no plural em referência a todos que o ajudaram. Palavras dele, ditas na entrevista anterior, ganhavam força nesse momento: “Um sonho não se sonha sozinho”. 

A prótese que o paratleta conquistou, específica para corrida de longas distâncias com encaixe externo em fibra de carbono e interno em silicone com anel móvel, vem dar motivação para a realização de outro sonho: se tornar um maratonista.

Posteriormente, o desejo é se tornar um ultramaratonista e chegar a correr 90 km, um futuro que não parece tão distante para quem deixou de lado a palavra “impossível”. “Este ano não, mas em breve estarei conseguindo", ressaltou com confiança. 

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Além de se tornar maratonista, Juju tem outro sonho: ajudar a vida de pessoas que já não acreditam em si oferecendo um estímulo. “Minha expectativa para 2019 é fazer algo que ainda não foi feito. Estou me preparando para me tornar maratonista com esse nível de amputação. Eu creio que ainda neste ano me tornarei um. Hoje não existe no Brasil, com essa prótese, alguém que seja maratonista, então eu quero me tornar esse cara, se Deus quiser ainda este ano. Outro objetivo é mudar vidas e poder proporcionar o que tenho hoje para outras pessoas: adquirir para quem precisa a prótese através de doações e investir em projetos que estarei lançando. Quero ajudar as pessoas a conhecerem sua força e capacidade”. 

A luta para conseguir a peça foi uma soma de esforços: além de sua história ter sido bastante compartilhada por todo o Estado e, inclusive, fora, ele também criou uma vakinha virtual de modo a arrecadar o valor. Amigos também organizaram a Corrida da Superação, no qual todo o valor foi destinada para a prótese. Como o investimento a ser feito era bem mais alto, uma ajuda foi fundamental nesse processo: sensibilizado com toda a história, um empresário de São Paulo chamado Paulo de Almeida doou o restante necessário para a meta ser atingida.

Juju conta que está ainda mais motivado. “É um sentimento extraordinário, algo fora do que eu posso imaginar. Eu lutei muito para conseguir e hoje tomei posse dessa prótese com a ajuda de muitas pessoas, era algo surreal aqui para a gente, mas estou muito feliz. Estou super animado, super motivado, mais ainda, isso me move mais ainda por poder estar correndo nas ruas”. 

O paratleta detalha que a adaptação é difícil, mas que há prazer nessa nova fase. “É prazeroso porque eu gosto de desafios, sou movido a desafios, então para mim está sendo massa. Estou me adaptando e logo logo estarei ai nas ruas fazendo o que eu gosto".

Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Determinação

A grade de treino de Deyvison é intensa. De segunda a sexta, há um trabalho específico na academia para fortalecimento e, no final do dia, treina no Santos Dumont. Ele conta com dois treinadores: Daniel Gonçalves, do Sport Club, e de Herbert, da assessoria esportiva HB Running. 

A cada meta realizada, ele traça outro como se não existisse um fim. “Uma outra expectativa é o convite que eu recebi de participar de uma maratona em Nova York agora em 2019, no mês de novembro. Se isso realmente acontecer, será um marco muito grande na minha história e na minha vida nessa carreira nova que estou fazendo”. 

A sua esposa Priscila é considerada a sua “perna direita”. Unidos, o casal pretende enfrentar os obstáculos que surgirem. “Para mim, Juju é um exemplo de marido, de filho, de pai e principalmente um exemplo de superação. Como ele mesmo diz que eu sou a perna direita dele, para tudo o que ele fizer eu estou aqui para apoiar. Muitos desafios a gente já ultrapassou e muitos ainda virão. Muitas pessoas achavam que ele não iria conseguir, mas a gente está aqui para provar que a gente lutou pela prótese, conseguimos e vai vir mais obstáculos, vamos ultrapassar cada um deles colocando Deus na frente a gente ultrapassa qualquer barreira”, comemorou. 

Juju diz acreditar que todos carregam dentro de si uma força muito grande, mesmo que alguns se sintam incapazes. “Se a gente sonha é porque somos capazes de fazer porque Deus não dá uma condição física e mental que somos capazes de aguentar. Eu posso falar de uma forma diferente sobre a superação. Sempre pergunto qual é a desculpa das pessoas, de não correr, de não se exercitar, de não querer melhorar de vida. É isso que eu tenho que deixar para as pessoas e se eles quiserem a minha ajuda, entrar nesse mundo de superação, é só falar comigo, terei o prazer enorme em estar ajudando a todos”. 

O paratleta que, após o acidente, ficou entre a vida e a morte tendo três paradas cardíacas e outros problemas no hospital, acredita que o DNA da superação está dentro de todas as pessoas. “Somos um povo guerreiro e temos que lutar contra as adversidades. Nada pode nos parar. A gente não pode desistir nunca de ser feliz, então cabeça para frente, cabeça erguida sempre, pensar no futuro e no melhor, sempre”. 

Rafael Bandeira/LeiaJáImagens 

Superação, determinação, força de vontade e garra são sinônimos e pode parecer até mesmo redundante utilizar todos esses adjetivos para definir alguém. Mas no caso de Deyvison Gonçalves, 33 anos, ainda é pouco. As mãos calejadas podem despertar curiosidade sobre qual a profissão do recifense, mas nem de longe revela o que o tatuador, paratleta e ex-professor de capoeira foi capaz de fazer ao transformar um acidente de trânsito, em exemplo de vida. 

Era manhã de uma sexta-feira do ano 2013. Deyvison não pretendia ir trabalhar nesse dia, mas de última hora decidiu atender um cliente no estúdio de tatuagem no qual era proprietário. Ele não imaginava que a decisão repentina iria transformar, em questão de segundos, a sua vida. Quando de deslocava à empresa, um carro desgovernado invadiu a contramão, nas proximidades do bairro de Afogados, e se chocou na sua moto. Ele perdeu uma parte da perna direita na mesma hora. Ali, no chão, em meio ao desespero, teve que lutar pela própria vida. “Pensei que estava tudo acabado quando me vi no chão, pensei que já era e de imediato pensei em minha família”.

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Já no hospital, o estado de Deyvison era grave por ter perdido muito sangue. Teve três paradas cardíacas e pegou duas bactérias no hospital. Não morreu por muito pouco, segundo os médicos. O tatuador ficou internado durante um mês e 15 dias. Apaixonado por corrida e ao se ver sem uma das pernas, veio a depressão. Mas, tinha de reagir. Poucos meses depois, incentivado pelo amigo, voltou a tatuar, mas seria o esporte que daria a reviravolta em sua vida.

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Em julho de 2017, após participar de uma trilha, percebeu que era capaz de fazer muito mais coisas do que imaginava. Em dezembro, ele contou que brincando falou aos amigos que participaria de uma corrida e pediu para a organização separar seu kit. “Recebi uma ligação para ir pegar o kit, fui buscar sem ter muita noção do que estava acontecendo. Foram seis quilômetros correndo de muleta, que finalizei em duas horas e meia, eu não sei como consegui. Só sei quando eu vi as pessoas aplaudindo e incentivando, eu senti uma sensação única. Eu não imaginava que a corrida iria trazer uma emoção tão grande. Eu pensei então que poderia treinar e fazer muito melhor na próxima corrida”, relembrou animado. 

Começaria uma nova etapa na vida de Deyvison até se tornar profissional. O trauma foi transformado em vontade de vencer. Hoje, atleta do Sport na modalidade atletismo, no qual reúne salto em altura, salto a distância, lançamento de dardo e de disco. O pernambucano é o terceiro colocado em Pernambuco em lançamento de dardo em sua categoria.

O paratleta sabe que, sozinho, nada se consegue. Nessa jornada, conta com o apoio fundamental dos treinadores Daniel Gonçalves, do Sport Club, e de Herbert, da assessoria esportiva HB Running. A rotina é puxada e precisa de disciplina e muita persistência. Pela parte da manha e tarde, Deyvison se dedica ao estúdio de tatuagem, localizado na avenida Recife. À noite, na maioria vezes, se desloca de bicicleta de sua residência, também nas mediações do estúdio, até o Colégio Santos Dumont, onde treina, no bairro de Boa Viagem. 

Deyvison é, hoje, considerado uma promessa. Se antes finalizava de muleta, uma corrida de 6 km em duas horas e meia, o tempo passou para 50 minutos. Neste ano, na famosa Corrida das Pontes, ele foi o único de sua categoria a concluir a prova de 10 km.

O paratleta quer passar os próprios recordes. Na Maratona da Uninassau, que acontece no próximo dia 30, ele se prepara para correr 21 km em um tempo estimado de cinco horas. Ele diz que o foco é conseguir concluir a prova. “Essa é a minha meta. Vou concluir a prova motivada por todos que me tem como um exemplo. São muitas as pessoas que se espelham em mim”. Ele parece não ter limites. Garante que vai chegar aos 41 km e a meta, no futuro, é se tornar um ultramaratonista e também cursar a faculdade de educação física.

Júlio Gomes/LeiaJáImagens

O sonho da Prótese    

Deyvison tem um sonho e luta para alcançá-lo: conseguir arrecadar o valor total para a compra de uma prótese específica para corrida de longas distâncias com encaixe externo em fibra de carbono e encaixe interno em silicone com anel móvel. 

O valor no mercado desse tipo de prótese pode chegar até R$ 360 mil. Para alcançar o objetivo, ele precisa de R$ 37 mil. Para isso, foi criado uma vaquinha virtual no site www.vakinha.com.br. Uma corrida, a da superação, que será realizada no dia 28 de outubro, também será realizada em solidariedade. Todo o valor arrecadado será revertido para a compra da prótese.

Ele luta contra o tempo para adquirí-la até, no máximo, em dezembro. O objetivo: treinar com ela para atingir os índices necessários para participar do Campeonato Brasileiro Paraolímpico. Ele precisa conseguir os índices, após a adaptação que pretende conseguir em dois meses, até julho de 2019, para ser convocado. Deyvison está confiante. “Eu creio que a gente vai chegar no valor”.

Não para por aí. Também pretende chegar à Paraolimpiada, em 2020, que será realizado em Tóquio. “Depois que comecei a correr, a minha vida melhorou muito. Não vivia tão bem quanto vivo hoje. Ninguém é melhor do que ninguém, a vontade que eu tenho é de me superar, de ir além e ver todas as pessoas me incentivando e agradecendo vem alimentando o meu sonho”.

No final da entrevista, ele mostrou com orgulho as inúmeras medalhas, oito pódios e troféus que já vem conquistando. Apenas o início. “Hoje sei que nada estava perdido. Eu acho que tudo tem dois olhares, algo para ser extraído, um propósito maior, precisamos ver além. Ser cristão também me ajudou muito, a saber, qual era o meu propósito”.

Ele encoraja as pessoas. “Desistir da vida, jamais. Eu poderia ter desistido de tudo, mesmo assim não desisti porque aprendi que a vida é feita de momentos bons e ruins e hoje tenho uma visão totalmente diferente. Além disso, esse sonho já não é só meu, muitos sonham comigo. Sempre vai ter um caminho”.

Júlio Gomes/LeiaJáImagens

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