Tópicos | Casa da Mulher Brasileira

O presidente Jair Bolsonaro sinalizou nesta quarta-feira (5) que não pretende reforçar o orçamento para políticas de combate à violência contra a mulher. Para ele, a área não depende de dinheiro, e sim de "postura", "mudança de comportamento" e "conscientização".

Levantamento feito pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, revelou que houve redução drástica nos recursos do governo para a área entre 2015 e 2019 e que o programa Casa da Mulher Brasileira ficou sem receber um centavo em 2019. A Casa da Mulher foi criada para oferecer atendimento integrado às vítimas de violência.

##RECOMENDA##

"A (ministra) Damares (Alves) está sendo 10 nesta questão, não é dinheiro, recurso. É postura, mudança de comportamento que temos que ter no Brasil, é conscientização", disse Bolsonaro ao deixar o Palácio da Alvorada nesta quarta-feira.

Entre 2015 e 2019, o orçamento da Secretaria da Mulher, órgão do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, foi reduzido de R$ 119 milhões para R$ 5,3 milhões. Levantamento feito pelo reportagem aponta que, no mesmo período, os pagamentos para atendimento às mulheres em situação de violência recuaram de R$ 34,7 milhões para apenas R$ 194,7 mil.

No Brasil, uma mulher é agredida a cada quatro minutos, segundo dados do Ministério da Saúde. De acordo com pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a maior parte da violência que ocorre no Brasil é praticada por conhecidos.

Gravidez precoce

Bolsonaro também defendeu a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, por sugerir campanha por abstinência sexual como forma de evitar gravidez precoce. "Damares está em um trabalho bonito lá na Ilha do Marajó (PA). Lá você tem, ele é pai e avô ao mesmo tempo, ele engravida a própria filha. Engravida a neta", disse Bolsonaro.

"Quando ela (Damares) fala em abstinência sexual, esculhambam ela. Quem quer... Eu tenho uma filha de 9 anos, você acha que eu quero minha filha grávida o ano que vem? Não tem cabimento isso aí", afirmou o presidente em conversa com jornalistas.

O principal programa do governo federal de combate à violência contra a mulher ficou sem um único centavo no ano passado. A "Casa da Mulher Brasileira" tinha como objetivo inicial construir ao menos uma unidade de atendimento integrado, por Estado, para aquelas que sofrem com agressões físicas e psicológicas.

Lançado ainda na gestão de Dilma Rousseff, em 2015, o programa apoia mulheres que sejam alvo de violência causada por desconhecidos, companheiros ou familiares. Até agora, no entanto, apenas cinco unidades estão funcionando. Em São Paulo, a estrutura local teve de contar com investimento privado para que a obra fosse concluída.

##RECOMENDA##

Embora a ministra Damares Alves já tinha admitido que sua pasta não tem condições de manter e custear o programa, a justificativa do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos para a paralisação total no ano passado foi a falta de acordo com a Caixa Econômica Federal para a construção de novas unidades. O contrato com o banco só foi assinado em dezembro de 2019.

Para este ano, o ministério de Damares promete uma "reformulação" da Casa da Mulher. A ideia é mudar o nome do programa e levá-lo para 25 municípios a um custo mais baixo, além da alternativa de usar espaços cedidos ou locados, em vez de construir um novo prédio do zero. Entre os municípios citados pela pasta, entretanto, foi incluída a cidade de Brasília, que já possui uma unidade há cinco anos e que está fechada desde 2018 por necessidade de reparos na estrutura. O governo do DF promete que a reforma será concluída ainda no primeiro semestre deste ano.

A falta de recursos para o programa ilustra a falta de prioridade do governo para políticas públicas voltadas para mulheres. Entre 2015 e 2019, o orçamento da Secretaria da Mulher, órgão do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, foi reduzido de R$ 119 milhões para R$ 5,3 milhões. Levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo aponta que, no mesmo período, os pagamentos para atendimento às mulheres em situação de violência recuaram de R$ 34,7 milhões para apenas R$ 194,7 mil.

No Brasil, uma mulher é agredida a cada quatro minutos, segundo dados do Ministério da Saúde. Os índices de feminicídio também vêm em uma crescente nos últimos anos, mas, na política, o tema não ganha prioridade. Em conversa com o Estado, a ministra Damares Alves reclamou que o orçamento do seu ministério é "pequetitico".

A pasta é uma das que menos recebeu recursos entre janeiro e dezembro de 2019 - foram R$ 240 milhões executados (de um total de cerca de R$ 500 milhões que estavam previstos). Apesar disso, ela justifica que o seu ministério não é "finalístico", e sim de "articulação", por isso depende da destinação de emendas parlamentares e de parcerias público-privadas para funcionar.

"Manter a Casa da Mulher (Brasileira) pelo ministério é impossível", disse Damares, em abril do ano passado, durante audiência na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados. "Temos que encontrar uma alternativa, mas o Ministério não tem como custear", afirmou na ocasião.

No combate à violência contra a mulher, o foco de maior investimento da pasta no último ano foi o aperfeiçoamento do atendimento às denúncias, com a integração do Disque 100 e do Disque 180.

Para este ano, o ministério depende da negociação com parlamentares para cumprir promessas e realizar pagamentos. A secretária nacional de Políticas para Mulheres, Cristiane Britto, afirmou que a pasta enfrenta dificuldade para convencer os congressistas a destinarem a verba.

Normalmente, as emendas feitas pelos parlamentares para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos não chegam a 1% do total de recursos disponíveis em cada ano. Para 2020, somente 0,8% das emendas apresentadas foram para o Ministério da Mulher. No ano anterior, a quantia representou 0,5%.

Ex-ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres no governo Dilma Rousseff, a socióloga Eleonora Menicucci lamentou a falta de recursos para a Casa da Mulher Brasileira, situação que classificou como um "desastre". Segundo ela, o programa é inovador ao integrar serviços de atendimento e capacitação para emprego e geração de renda, a fim de ajudar a quebrar o chamado "ciclo da violência".

"Quando o assunto é violência contra as mulheres, não importa a classe social, o governo que está, pois ela é sistêmica do patriarcado. E hoje estamos sem nenhuma política concreta de combate a essa violência", avaliou Eleonora.

TCU

Na semana passada, uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou deficiências nas políticas públicas voltadas ao alcance da igualdade de gênero e do empoderamento das mulheres. Entre os pontos destacados pela corte, estão a falta de transparência orçamentária nas ações com o tema, além de mecanismos de articulação inoperantes e problemas de coordenação entre os órgãos que trabalham com as políticas de gênero.

A pesquisa também mostra que os cortes na Secretaria da Mulher não são uma novidade. O TCU destaca que, entre 2015 - início da vigência da Agenda 2030, compromisso assumido por líderes de 193 países - e 2018, houve redução de 80% da dotação orçamentária da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres (SNPM) e de 42,3% do quadro de pessoal do órgão.

Nesta segunda-feira (11), a capital paulista inaugurou as instalações da Casa da Mulher Brasileira, espaço que prestará serviço integrais e humanizados para mulheres em situações de violência e que funcionará 24 horas por dia.

A inauguração contou com a presença da Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, e do Governador de São Paulo, João Dória (PSDB). No momento do discurso da ministra houve protesto da "Marcha Mundial das Mulheres", que tiveram que participar da cerimônia do lado de fora do local da cerimônia e que pediam oportunidade para fazer parte da gestão da Casa da Mulher Brasileira.

##RECOMENDA##

A Casa reúne apoio psicológico assistencial com amparo necessário para a segurança e bem-estar das mulheres que, ao procurarem o local, encontrarão serviços de acolhimento e escuta qualificados por meio de uma equipe multidisciplinar formada por Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), Ministério Público, Defensoria Pública, Tribunal de Justiça e Guarda Civil Metropolitana (GCM). Além disso, a unidade conta com alojamento de acolhida provisório para os casos de iminência de morte e atendimento inclusivo para as mulheres surdas.

Esta é a sétima Casa da Mulher Brasileira inaugurada no país. 

Serviço

Casa da Mulher Brasileira

Onde: Rua Vieira Ravasco, 26, Cambuci, São Paulo - SP

O governo federal formalizou no Diário Oficial da União a implantação da primeira Casa da Mulher Brasileira do País. O espaço será instalado em Campo Grande (MS), com inauguração prevista para 3 de fevereiro, e vai concentrar os principais serviços especializados e multidisciplinares de atendimento às mulheres em situação de violência. Entre eles, delegacia de atendimento à mulher, juizado, defensoria, promotoria, equipes psicossocial e de orientação para emprego e renda, além de brinquedoteca e área de convivência.

A iniciativa faz parte do Programa Mulher Viver sem Violência, lançado em 2013 pela presidente Dilma Rousseff, e consta de portaria assinada pela ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci.

##RECOMENDA##

Segundo o documento, A Casa em Campo Grande é resultado de termo de adesão ao Programa celebrado entre União, Estado de Mato Grosso do Sul, municípios de Campo Grande, Corumbá e Ponta Porã, além do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, Ministério Público de Mato Grosso do Sul e Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul. A proposta do Programa é oferecer o serviço integrado em todas as capitais brasileiras.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando