A última família de venezuelanos indígenas da etnia Warao se mudou nessa terça-feira (15), para uma casa em Nova Morada, na Várzea, Zona Oeste do Recife. As nove famílias de imigrantes estavam juntas em um local temporário oferecido pela Secretaria de Assistência Social de Pernambuco e executado pela Cáritas Brasileira. As casas foram alugadas a partir de um projeto emergencial de acolhimento temporário dos venezuelanos durante cinco meses. Apesar do abrigo, os imigrantes questionam para onde vão depois desse período, tendo em vista que a principal forma de conseguir alguma renda é pedindo dinheiro nos sinais.
O Projeto Emergencial para Ajuda Humanitária à População Indígena da etnia Warao da Cáritas conta com o apoio de organizações internacionais e da sociedade civil na área de acolhimento, implementação de experiências em projetos humanitários e desenvolvimento social para indígenas Warao, e também tem parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (SDSCJ) do governo de Pernambuco. A locação das casas de acolhimento na Região Metropolitana do Recife (RMR) durante cinco meses é uma forma de trabalho para fortalecer o vínculo familiar comunitário, autonomia e corresponsabilidade.
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Cerca de 80 indígenas Waraos estão locados em casas nos bairros de Santo Amaro e Várzea, que foram alugadas pelo Cáritas Arquidiocesana de Olinda e Recife (CAOR). São 13 famílias ao total acolhidas pelo projeto; uma está locada em Santo Amaro, e as outras 12 em Nova Morada. Os imóveis são divididos por duas ou três famílias, e são disponibilizados fogão, geladeira, ventilador e filtro de água, além do fornecimento semanal de alimentos.
De acordo com o coordenador do Cáritas, Sirley Vieira, a distribuição da alimentação tende a acontecer toda segunda-feira, e todas as famílias moram em casas próximas. "Porém, como esses estavam lá no CSU e iam se mudar hoje, combinei com eles para entregar a alimentação no dia da mudança. Em Nova Morada, o total são 12 famílias; quatro em uma rua, quatro em outra; duas em outra e mais duas numa outra".
Só uma família está em um bairro diferente, em Santo Amaro. Ele explicou a motivação da distância. "Existia uma família em Santo Amaro que a gente dava assistência e as filhas já estudavam em Santo Amaro, e eles quiseram ficar lá. Arrumamos a casa e instalamos eles lá, mas a Prefeitura tinha feito um acordo com eles no mesmo período para continuar dando assistência, foi quando essa casa ficou vaga e como tinham muitas famílias no CSU da Imbiribeira, a gente perguntou se uma delas queria ir para Santo Amaro, até que uma se prontificou", disse.
"Todas as outras famílias estão instaladas aqui. Foi uma solicitação deles porque, a princípio, quando a gente foi fazer o mapeamento e o levantamento para colocar as famílias, conseguimos fechar os primeiros contratos da casa aqui em Nova Morada. As primeiras famílias que se instalaram aqui gostaram do bairro e todos solicitaram vir para cá. Isso causou um certo problema pra gente no início, porque a gente não tinha garantia de conseguir todos os outros aluguéis, mas encontramos casas, abrimos processo de negociação com os proprietários e hoje, graças a Deus, a gente conseguiu fechar a última casa", contou.
No entanto, em conversa com os venezuelanos, eles contaram à reportagem do LeiaJá que se veem desamparados e sem saber para onde ir em cinco meses. "Deveria ser de pelo menos um ano para podermos nos organizar melhor", disse o chefe de uma das famílias.
A principal forma deles conseguirem dinheiro é pedindo nas ruas e nos sinais do Recife, foi assim que uma mulher, que manda cerca de R$ 200 para a mãe que está na Venezuela todos os meses, conseguiu comprar uma geladeira, já que tem muita gente na casa. "Eu comprei a geladeira com o dinheiro do meu suor, e quando sair daqui, como vai ser?", questionou.
Um outro imigrante disse que não poderia falar nada porque não tinha "coisas boas" para falar. "Estaria mentindo", disse. A justificativa foi a sensação da volta às ruas estar se aproximando a cada dia que passa. Além disso, não sabem se quando saírem da casa vão poder levar os móveis doados pelo Governo de Pernambuco, "não dá para confiar".
“O projeto prevê um apoio de cinco meses, os que estão sendo instalados conta de agora a garantia do apoio de todo o projeto. Estamos em diálogo desde o ano passado com o governo do estado pra ver se eles conseguem estender esse prazo por pelo menos um ano, e eles já pontuaram a possibilidade da extensão, mas ainda não deram a posição final, estão vendo qual é o recurso que eles conseguem. E é isso o que a gente pretende, que eles fiquem com garantia de 12 meses porque a gente acredita que é o tempo mínimo para eles poderem realmente se ajustar”, detalhou o coordenador da Cáritas.
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