A China, que concentrou tropas na fronteira com Hong Kong, advertiu nesta quinta-feira (15) que não ficará "de braços cruzados" se o protesto pró-democracia se degradar no território semiautônomo, causando "preocupação" de Donald Trump pelo risco de uma repressão violenta.
Pequim "não ficará de braços cruzados" se a situação "piorar" e tem "meios suficientes e suficiente poder para reprimir os distúrbios rapidamente", afirmou nesta quinta-feira o embaixador chinês em Londres, Liu Xiaoming.
A China concentrou forças da polícia militar no estádio de Shenzhen, cidade situada às portas da ex-colônia britânica, constatou um jornalista da AFP.Os homens mobilizados estavam cercados de caminhões e blindados de transporte de tropas.
Após dois meses de manifestações em Hong Kong a favor da democracia, Pequim trouxe de volta nos últimos dias o fantasma de uma intervenção para restabelecer a ordem neste território com um estatuto especial até 2047.
Diante desta situação, o assessor de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, pediu à China para não produzir uma nova Praça da Paz Celestial, em alusão à sangrenta repressão a manifestantes nesta praça de Pequim 30 anos atrás.
"Os chineses têm que tomar muito cuidado com os passos que derem porque o povo nos Estados Unidos se lembra da Praça da Paz Celestial, lembram a imagem do homem de pé em frente à fileira de tanques", disse Bolton em entrevista à VOA News, publicada nesta quinta.
O presidente americano, Donald Trump, se declarou nesta quinta-feira "preocupado" com o risco de uma repressão violenta dos protestos em Hong Kong e que tinha programado conversar "em breve" com o presidente chinês, Xi Jinping.
"Gostaria de verdade ver a China resolver de uma forma humana o problema em Hong Kong", acrescentou.
Trump alterna as advertências com declarações mais indulgentes em relação à China, com a qual os Estados Unidos estão em complexas negociações comerciais.
- "Plena confiança" -
"Tenho plena confiança no presidente Xi. Sei que se se sentasse com os representantes, não tenho dúvidas de que poderia resolver este problema muito rápido", tuitou Trump mais cedo nesta quinta.
Mas na administração americana, o tom é diferente. Um porta-voz do Departamento de Estado expressou na quarta-feira sua preocupação com a "erosão contínua" de uma autonomia de Hong Kong e expressou seu apoio firme aos direitos de liberdade de expressão e reunião pacífica na ex-colônia britânica.
A declaração sino-britânica de 1984 enquadra a devolução de Hong Kong, que ocorreu em 1997. Estipula que a região se beneficia de "um alto grau de autonomia, exceto nas questões das Relações Exteriores e da Defesa", e tem seus próprios sistemas judiciário, legislativo e executivo.
"Insisto em que Hong Kong faça parte da China. Nenhum país estrangeiro deve se intrometer (...) Pedimos às potências estrangeiras que respeitem a soberania chinesa", lembrou nesta quinta-feira Liu Xiaoming.
- Protesto persistente -
A crise atual em Hong Kong representa o maior desafio à autoridade da China sobre este território desde sua devolução em 1997.
As manifestações, que levaram às ruas milhões de pessoas, começaram em oposição a um projeto de lei que permitiria extradições para a China.
Mas depois se transformaram em um protesto mais amplo, em defesa das liberdades democráticas e contra a influência de Pequim neste território.
Esta semana, os manifestantes tomaram o aeroporto de Hong Kong na segunda e na terça-feiras, obrigando o cancelamento de centenas de voos, em meio a cenas de forte tensão.
Após ter expressado suas exigências pacificamente em um primeiro momento, na terça-feira eles adotaram técnicas mais agressivas, erguendo barricadas com os carrinhos de bagagem para impedir que os passageiros chegassem às áreas de embarque do aeroporto.