Há tempos que a ideia que se tem da música instrumental tem sido desmistificada. Em outra época, o erudito - composto por concertos de música clássica - restringia o público a frequentar grandes teatros e acompanhar sinfonias e orquestras. Ou a contemplação em shows intimistas de concertos de jazz, entre pianos, trompetes e saxofones.
Na capital pernambucana, onde o Frevo é o ritmo que dita as festas mais populares, orquestras do gênero também sempre foram bem aceitas. Principalmente pelo fato das letras estarem diretamente ligadas a música, no próprio subconsciente dos ouvintes. O Hino do Elefante de Olinda, executada apenas por instrumentos, é um clássico exemplo deste poder - até onde chega e como toca o coração e a memória das pessoas, que se satisfazem com instrumentos.
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A cena independente tem se movimentado e aderido a essa vertente musical há algum tempo. Muitos músicos, geralmente jovens, se destacam ao optar pelo instrumentalismo. Em um ou outro ritmo – muitas vezes, na junção de vários – contam histórias inenarráveis sem o auxílio de palavras.
Uma tela em branco
Entre melodias doces, acalentadas pela escaleta, e outras, que se tornam vibrantes com a guitarra, A Banda de Joseph Tourton revela um infindável mundo de possibilidades que a música instrumental permite. “Quando você não tem a objetividade de uma letra, abre um leque de interpretações”, afirma o baixista, Rafael Gadelha.
“A gente quer dar uma tela branca para que a pessoa possa pintar da forma que quiser. Então, a música seria a trilha sonora de uma construção de pensamento, a partir de significados próprios, de acordo com o que ela carrega de sentimentos”. É dessa maneira que o guitarrista Túlio e os integrantes da Kalouv definem – sem rotular – a atmosfera sonora de sua música. E é exatamente assim que acontece: a música instrumental proporciona e abre caminhos para a imaginação, especialmente no que diz respeito à jovialidade do som.
Não deixa de ser uma "viagem", ainda que sonora. Pode-se julgar impossível desvincular a imaginação do fazer/ouvir música instrumental. Diferente de músicas vocalizadas, nas quais os elementos-chave estão entregues e a mensagem está explicitada em palavras, este tipo requer maior desprendimento. “A sensibilidade para absorver a mensagem da música sem letra é diferente. É algo bastante abstrato. Existem várias possibilidades de interpretação”, revela Thiago Correia, contrabaixista da banda Epcos.
No caso do Ska Maria Pastora, a música se aproxima do público através de suas próprias raízes. É a memória carnavalesco-afetiva dos ouvintes que ativam o corpo, fazendo-o cair na dança. A essência ska da banda une-se ao frevo e ao reggae, resultando em um contagiante prazer musical. “É música de linguagem universal, cada um interpreta de um jeito. Não tem como colocar uma barreira, vai da ‘vibe’ de cada um”, destaca o percussionista, Léo Oroska.
Tão jovens?
Realmente foi-se o tempo em que músicas instrumentais estavam restritas a músicos mais experientes. A juventude ousa, arrisca, aprimora e consegue encontrar estilo e espaço no mercado fonográfico – ainda que independente. Muitas vezes a iniciativa instrumental surge de afinidades (ou complementações) sonoras entre músicos, vividas em momentos de descontração. Nem sempre o surgimento de uma banda instrumental se deve à ausência de vocalista, é mais uma opção de liberdade. “Desde o ínicio a ideia era ser instrumental mesmo, isso vem da formação musical minha e do meu irmão, que foi paralela. A gente pensava em trilhas sonoras, banda de apoio”, afirma Thiago (Epcos), com 24 anos de idade, assim como seu irmão gêmeo, Rodrigo, parceiro musical.
Já Rafael (d'A Banda de Joseph Tourton) conta que a banda surgiu "sem pretensão alguma", sem querer ser banda. "Juntamos para fazer música, nos reunir, brincar, e fechamos. A gente começou depois de ver um DVD da banda (recifense) Embuás. Nela, ninguém canta, ninguém escreve. Assistimos o DVD e encaramos a possibilidade de fazer algo instrumental também”, afirma o jovem, de 21 anos.
A Kalouv também não fica atrás: a idade dos músicos variam entre 21 e 24 anos. Contudo, o número de réveillons passados não reflete na maturidade sonora da banda. Idependente da estrada que o grupo já percorreu, as experiências individuais - que agora se tornam coletivas – traduzem-se nas notas narrativas de suas canções. A Ska Maria Pastora também reflete a jovialidade, mas de uma maneira diferente. Ao reinventar os clássicos do frevo, dando uma roupagem “ska”, o grupo renova o tradicional ritmo e traz jovens adeptos, que mergulham na novidade trazida à tradição.
Sem preconceitos
Quem pensa que a música instrumental deixa lacunas, se engana. Não há a mínima necessidade de letras, na verdade, o que se requer é uma cabeça aberta e uma imaginação fértil. Segundo Thiago Correia, “as pessoas elogiam e dizem que não sentem falta” do vocal na sonoridade da banda.
“A ausência de voz amplia a quantidade de nichos que podemos nos estabelecer. Pessoas de diversos países, e que até costumam ouvir gêneros completamente distintos, se identificam por algo que está inserido no nosso som, que ganha atenção justamente por não contarmos a história com as palavras”, explica o guitarrista Túlio Albuquerque, sobre a relação que a música instrumental da Kalouv estabelece nos ouvintes.
As bandas
Epcos:
A partir da afinidade familiar e musical existente entre os irmãos Rodrigo (bateria) e Thiago Correia (contrabaixo), surgiu a banda Epcos, em 2009. Atualmente, realizam a troca de guitarristas para manter a ideia original de formação da banda, em trio. Além de Pernambuco, estados como Alagoas, São Paulo e Rio Grande do Norte já tiveram a oportunidade de ouvir seu som fusion.
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A musicalidade da banda é construída com pitadas de rock clássico, jazz, funk americano e ritmos mais regionais como o baião e o samba. Expresso Dinamite é a música que deu nome ao primeiro EP da banda, que ainda conta com Nuvem Negra e Catuama Beach. No troféu Sonar PE, a banda concorre nas categorias "Melhor Apresentação ao Vivo” e “Melhor Instrumentista”.
Kalouv:
Formada no Recife no início de 2010, a banda é composta por cinco jovens que fazem, de suas memórias, uma grande melodia. Bruno Saraiva (teclado), Saulo Mesquita e Túlio Albuquerque (guitarras), Basílio Queiroz (baixo) e Rennar Pires (bateria) lançaram “Sky Swimmer” no final de 2010.
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Compondo o álbum – além da faixa homônima ao disco -, estão Waves, Beni, Agripa e outras três faixas que resgatam influências pós-rock e rock progressivo em suas melodias narrativas. Recentemente, a banda esteve entre as três finalistas do Bis pro Rock 2, concurso que elegeu uma banda para abrir o show de Los Hermanos no Abril pro Rock 2012.
A Banda de Joseph Tourton:
O experimentalismo dos quatro jovens resultou em liberdade e equilíbrio musical. Rafael Gadelha (baixo), Pedro Bandeira (bateria), Diogo Guedes e Gabriel Izidoro – entre sopro, cordas e teclados - compõem o painel sonoro da Tourton, surgida no final de 2007.
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Homônimo da banda, o primeiro álbum foi lançado no segundo semestre de 2010, com canções como 16 minutos, 500 milhas e A Festa de Isaac. Esta última recebeu da desenhista e diretora Ianah Maia um videoclipe em animação que tem recebido destaque nos festivais de cinema do Recife. Tocar no Festival Coquetel Molotov proporcionou à banda visibilidade nacional, que a redirecionou para diversos outros estados. Este ano, a banda irá fazer parte do Festival Produto Instrumental Bruto (PIB), importante no cenário instrumental do país, que acontece nos dias 23 a 27 de maio São Paulo.
Ska Maria Pastora:
Foi o gosto pelo ska que reuniu sete amigos para fazer música instrumental. Além disso, a naturalidade do frevo que existe em todo o estado de Pernambucano se entranhou na música deles, assim como o reggae - um dos herdeiros do ska.
Recentemente, a Ska Maria Pastora lançou o primeiro CD, intitulado As margens do Rio Doce, que carrega consigo a fusão harmoniosa dessas três vertentes musicais. A banda lançou seu primeiro disco durante apresentação do festival Abril pro Rock 2012, em um show que cativou a o público.