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Você já foi na Conde da Boa Vista? Já foi para Boa Viagem de carro, moto ou de ônibus através da Engenheiro Domingos Ferreira? Mas quem é o tal Conde? Que engenheiro é esse? Para o leitor não rodar por aí sem saber onde pisa, o LeiaJá foi atrás de informações sobre os nomes, pelo menos dos mais famosos, que batizam as principais avenidas da cidade.
Cerca de 89 mil veículos circulam diariamente pela avenida que homenageia Agamenon Sérgio de Godoy Magalhães, o Governador Agamenon Magalhães, que como diz o nome da via foi um político que esteve à frente do Estado. Mas antes de ser governador, Agamenon foi ministro do Trabalho e também da Justiça de Getúlio Vargas. Durante a ditadura do Estado Novo, foi interventor de Pernambuco, entre 1939 e 1945.
Depois, foi eleito governador e ficou no comando do Estado entre 1950 e 1952, quando faleceu. Entre seus feitos, o que mais se destaca é o de querer embelezar o Recife, criando as vilas operárias e levando os mocambos para os morros. “Ele não é só nome de Avenida. É o cidadão mais cultuado desta cidade. Tem seu nome em ponte, praça e escola técnica”, diz o historiador Carlos Bezerra Cavalcanti.
Outros governadores também foram homenageados com nomes em avenidas. Miguel Arraes de Alencar, por exemplo, avô do atual candidato à presidência da república, Eduardo Campos, foi lembrado pelo então prefeito João Paulo, que tentou batizar a Avenida Norte com o nome do antigo líder do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Apesar do esforço, o nome ainda não caiu nas graças do povo e nem das empresas de ônibus, já que algumas linhas usam a Avenida Norte, corredor pelo qual circulam 53.500 veículos por dia, como referência.
Francisco do Rego Barros também não é um nome popular na cidade, mas o seu título todos conhecem. O Conde da Boa Vista foi um político que governou Pernambuco no século 19. Em sua gestão foram construídos o Teatro de Santa Isabel, o Palácio do Campo das Princesas e ainda o aterramento do bairro da Boa Vista. “Ele também foi o responsável por modernizar a cidade do Recife à moda francesa. Muitos falam que o Recife é a Veneza Brasileira, mas os jardins da cidade imitam o estilo francês e não o italiano”, conta Severino Vicente, professor de história da UFPE.
Políticos realmente tendem a virar nomes de grandes vias no Recife. Mas a história de Emídio Dantas Barreto, que dá nome à avenida no Centro da cidade, não foi marcada apenas por seu governo, entre 1911 e 1915. Cidadão comum e civil, se alistou como voluntário para defender a pátria na Guerra do Paraguai. Voltou do conflito como capitão e seguiu carreira no exército até chegar a Ministro da Guerra, posto mais alto das Forças Armadas Brasileiras. Integrou também a Academia Brasileira de Letras.
Dantas Barreto foi o escolhido pelo Governo Federal da época para destronar outro político que deu nome a outra grande avenida do Recife: Francisco da Rosa e Silva. Vice-presidente da República, o Conselheiro Rosa e Silva era extremamente influente entre 1896 e 1907 e representava os usineiros. “Virou nome de avenida aqui, mas não fez muito por Pernambuco, até porque dificilmente vinha ao Recife”, diz Carlos Bezerra Cavalcanti. No corredor onde fica a sede do Clube Náutico Capibaribe, circulam mais de 33 mil veículos por dia.
Na Zona Sul do Recife, duas grandes avenidas tem nomes de personalidades. Segundo os historiadores consultados pelo LeiaJá, eram homens à frente de seu tempo. João José Ferreira de Aguiar foi o Conselheiro Aguiar, que deu nome ao corredor viário por onde passam, diariamente, 22 mil carros (foto 1 abaixo). Defensor da abolição da escravatura e professor da Faculdade de Direito do Recife, era também conhecido como o Barão de Catuama.
Já o engenheiro Domingos Ferreira, foi o responsável pelo projeto do Parque 13 de Maio, da Avenida Guararapes e também da urbanização da atual área de Boa Viagem, entre as décadas de 1940 e 1960. “No entanto, a ideia de Ferreira não foi aplicada. Boa Viagem não é o que ele queria. Ele era contra a concepção de avenidas virarem paredes de concreto”, diz Severino Vicente. Com certeza o engenheiro também não imaginava que em uma avenida com seu nome circulariam 57.500 veículos por dia (foto 2 abaixo).
Outros que tem seus nomes gravados nas vias da capital pernambucana não são tão marcantes para o Estado, mas sim para o País. O Marechal João Batista Mascarenhas de Morais, segundo os historiadores, só tem ligação com Pernambuco porque era o comandante da 7ª Região Militar do Brasil, sediada aqui. Este militar comandou as Forças Expedicionárias Brasileiras (FEB) na 2ª Guerra Mundial. Pela avenida, antes conhecida como Estrada da Imbiribeira, circulam quase 52 mil carros por dia.
O Águia de Haia, como ficou conhecido Rui Barbosa de Oliveira, foi um grande advogado nascido na Bahia, que tentou várias vezes ser presidente do Brasil, sem sucesso, e representou o País em uma reunião internacional em Haia, na Holanda, onde foram discutidas as relações entre os países e as guerras. Foi um defensor da igualdade de soberania entre as nações. “A avenida Rui Barbosa passa por vários bairros e tinha vários nomes. Decidiram unificar e dar o nome dele, que não tem nada a ver com o Recife”, opina Cavalcanti.
Um caso deixa o historiador ainda mais indignado. Uma avenida por onde circulam 58.000 veículos por dia e tem o nome de Abdias de Carvalho, segundo Cavalcanti, um famoso engenheiro de sua época, mas que não fez nada de marcante na cidade. “Existem engenheiros muito mais importantes, como José Mamede Ferreira, que projetou o Ginásio Pernambucano, a Casa de Detenção (atual Casa da Cultura), a Igreja do Cemitério de Santo Amaro e que concluiu a construção do Teatro de Santa Isabel, e não tem nem um beco com seu nome”, diz ele.
O professor Severino Vicente diz aos seus alunos que para conhecer a história de sua cidade, comecem descobrindo quem são as pessoas que dão nome às suas ruas e avenidas. Em uma reportagem, com certeza não caberiam as informações sobre as homenagens prestadas por todas as ruas do Recife.
Tanto que Carlos Bezerra Cavalcanti escreveu com seu pai, Vanildo Bezerra Cavalcanti, o livro “O Recife e suas ruas – Se essas ruas fossem minhas”, lançado em 2010, que conta a história de mais de 2 mil ruas da capital pernambucana. Todos os exemplares foram vendidos. “Estou trabalhando em uma nova edição com ainda mais ruas (sem previsão de lançamento) e também em um livro sobre nomes de ruas que prestam homenagem à magistrados de Pernambuco”, promete o pesquisador.