Tópicos | Avaliação do cenário

O ex-governador de Pernambuco Joaquim Francisco (PSDB), que é dono de uma vasta trajetória política na qual foi ministro, deputado e prefeito do Recife, foi o entrevistado do programa Roda Viva Pernambuco, da TV Nova Nordeste, na noite dessa terça-feira (4). Durante a sabatina, ao ser questionado pelo LeiaJá, o tucano chegou a dizer que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderá ser solto a qualquer momento e foi além: disse acreditar que o líder petista pode voltar à política.

“Ainda há um espaço, um espaço reduzido. Não é aquele espaço, não é aquele processo”, declarou em referência aos anos nos quais o ex-presidente chegou a ter percentuais de aprovação histórica.

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No entanto, Joaquim Francisco, hoje presidente do Instituto Teotônio Vilela no Estado, falou que o PT deveria fazer uma autocrítica. “Não sou especialista em PT, mas analisando do ponto de vista político mais geral haveria que se fazer uma autocrítica analisando onde foi que errou”, observou.

O ex-governador salientou que havia indícios de desvios, mas que a legenda preferiu se defender argumentando que existe uma “mídia golpista” e falando sobre o “fascismo”.  “São palavras fáceis de dizer sem conteúdo e sem discussão”, avaliou.

Ainda sobre o assunto, Joaquim também ressaltou que não concorda com a afirmação de aliados do ex-presidente da República de que ele foi “preterido” de ser candidato novamente na eleição deste ano, após ser preso no dia 7 de abril passado.

“Meu amigo, você foi presidente da República quatro anos, reeleito mais quatro anos, colocou uma sucessora [Dilma Rousseff] quatro anos, depois a sucessora ficou mais dois anos, só há precedentes no Brasil Getúlio Vargas”, expôs.

O tucano também salientou que tem esperança no governo do presidente eleito Jair Bolsonaro. Na sua avaliação, os sinais que foram dados até agora na composição do governo foram positivas. “A mensagem de construção de novos caminhos, enfim eu acho que os primeiros passos estão sinalizando positivamente, inclusive os sinais da economia que, apesar desses últimos dois, três anos de profundas dificuldades, eu acho que começa a acenar como a bolsa de valores, eu acredito”, justificou.

Eleito com uma coligação composta por 21 partidos, o governador Paulo Câmara (PSB) não deve ter a mesma adesão para a disputa eleitoral de outubro, quando tentará a reeleição. Da aliança firmada em 2014, cinco legendas já deixaram a Frente Popular de Pernambuco - PV, Podemos (antes PTN), PSDB, DEM e PRTB - , além da Rede Sustentabilidade que recebeu o registro da Justiça Eleitoral depois daquele pleito, mas já apoiava o palanque pessebista. 

Um sétimo partido também pode desembarcar do grupo aliado a qualquer momento: o MDB. A saída deste, porém, deve ser ainda mais sentida pois ocupa o posto de maior legenda de sustentação da base governista, depois do próprio PSB. 

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O desfalque pode acontecer porque parte da sigla, liderada pelo senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), defende uma participação protagonista na disputa eleitoral e o senador já se colocou como pré-candidato ao governo, entretanto para que se concretize ele terá que vencer uma briga judicial que enfrenta contra o atual vice-governador e presidente do MDB-PE, Raul Henry, que defende a continuidade na Frente Popular. 

Mesmo assim, Paulo Câmara ainda ostenta um grupo com 17 legendas (PCdoB/PSB/PTC/PRP/PR/PSD/PPS/SD/PPL/PHS/PSDC/PROS/PP/PEN/PSL/ PDT/PSC), a maior frente, até agora, para a corrida eleitoral. Dentre eles, PSC e PP também são incertos, pleiteiam vaga na majoritária e vêm se articulando tanto com o governador quanto com a oposição. Os dois partidos desejam postular o Senado com o deputado estadual André Ferreira e o deputado federal Eduardo da Fonte, respectivamente.

Perdas naturais 

O desembarque dos partidos da base aliada durante os últimos três anos e um mês, foi considerado natural pelo presidente estadual do PSB, Sileno Guedes. 

”Fizemos uma maior aliança em 2014, ou seja, é natural que dentro do processo, até porque cada partido tem suas estratégias e aspirações, tenha aqui a acolá alguma decepção. Não gostaríamos que isso acontecesse, gostaríamos de ter a aliança renovada, mas sabemos que nem sempre isso é possível. Dentro do universo de 21 partidos você perder alguns é natural, mas vamos lutar ainda. Tem tempo para isso”, garantiu.

O pensamento foi comungado pelo cientista político Elton Gomes que avaliou a situação pré-eleitoral do governador. “Em todo o processo de coalisão acontece o que muitas vezes chamamos de fadiga material, passado quatro anos de Paulo Câmara, que não tem mais a figura do líder Eduardo Campos, é natural que você tenha distensões”, considerou. “Esse racha envolvendo o PMDB é o principal, partido que tem o vice e abriu brecha para muitas dissidências”, completou.

De acordo com Gomes, além da aliança, ter a máquina pública nas mãos pesará muito na disputa. 

“A Frente Popular ainda muito potente, mas tem muita rachadura… Apesar desse racha o PSB e as demais agremiações que dão sustentação a Paulo Câmara continuarão com um exército de deputados e candidatos que vão pedir votos para o governador que tem vantagem diante da oposição pelo tamanho da aliança e a máquina nas mãos. Dos últimos governadores, apenas um não foi reeleito, o Mendonça Filho”, lembrou.

Paulo Câmara tem até agosto, quando registrará a candidatura, para manter ou conquistar novos partidos para a Frente Popular. A expectativa, nos bastidores, é de que mesmo com as perdas e o possível desembarque do MDB, o PT, antigo aliado do PSB, retorne a base de sustentação do governo e amplie o leque do pessebista com a adesão de movimentos populares que militam com a legenda petista. 

O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), José Múcio Monteiro, afirmou, nesta terça-feira (12), que se estivesse no lugar da presidente Dilma Rousseff (PT), diante de um processo de impeachment e com a possibilidade de ter a maioria do Congresso Nacional como oposição, já teria renunciado ao cargo. Analisando o arrefecer do clima político nacional, principalmente nesta semana, Múcio criticou a atuação dos três poderes e pontuou que, sendo omissa, a presidente contribuiu com o quadro atual.  

“Torço que a gente encontre um caminho. Em nome do momento que o Brasil está vivendo, se fosse eu, já teria renunciado e convocado eleições gerais. Cada um tem seu temperamento, ela [Dilma Rousseff] aguenta isso. A crise é tão grande que você tem que chamar a sociedade para resolver. Eleições gerais seriam muito difíceis, mas se nós já fizéssemos uma eleição para presidente e vice. É muito mais fácil você enviar uma emenda para ter 308 votos aprovando do que está discutindo o impeachment com 342 votos”, ponderou em conversa com o Portal LeiaJá, após participar de uma palestra no 3º Congresso Municipalista de Pernambuco, em Olinda. 

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Para o ministro, o Congresso não tem autonomia para solucionar o cenário. “Chegamos a um ponto curiosíssimo, onde você tem o Executivo criminalizado, o Legislativo judicializado e o Judiciário politizado. Os poderes mudaram. Não tem nenhum que você diga, serei salvo por tal poder”, ponderou, deixando claro que durante a vida nunca viu nenhuma conjuntura parecida com a do Brasil no mundo. 

Relator do processo que apontou a existência de pedaladas fiscais nas contas da presidente, o pernambucano pontuou que agora o processo de impeachment “é político”. “Avaliação sobre o resultado [do impeachment] também é muito difícil. A questão virou política nesta altura, sou capaz de dizer que chegamos a um ponto em que qualquer resultado para o Brasil é ruim”, argumentou o ministro do TCU. 

“Se tivermos o impeachment vai assumir alguém que a sociedade já não quer [Michel Temer]. Se não passa, a presidenta vai ter muita dificuldade para governar, pois se ela precisa para ser retirada de 342 votos e tenha, vamos dizer, uns 330, não passa, mas ela fica com uma absoluta maioria de adversários públicos”, acrescentou. Para ele, o vazamento do áudio do vice-presidente Michel Temer (PMDB) esquentou ainda mais o clima em Brasília. 

Indagado sobre a existência das pedaladas fiscais na gestão da petista, Múcio detalhou o assunto e disse que Dilma foi omissa. “O negócio das pedaladas fiscais completa um ano domingo. Foi um crime de tesouraria aonde não houve desvio de dinheiro. Chamava-se pedaladas porque ficava o mês de janeiro pago com documentos de fevereiro, fevereiro com os de março e assim vai... É um crime de responsabilidade fiscal no Brasil, onde se rouba dinheiro, milhões”, cravou. 

“A presidente é uma pessoa honesta? É. Shakespeare dizia uma frase muito forte ‘quem se omite, permite. E quem permite é cúmplice’, em você se omitindo e não tomando as providências você permitiu que houvesse o que houve no Brasil”, complementou, sem citar o nome da presidente. 

José Múcio observou ainda que “nunca mais se discutiu outra coisa no país, a não ser política”. Além disso, sob a ótica dele, o Brasil está “separado” e vivendo “uma página muito triste da história”. 

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