Ministro do TCU diz que se fosse Dilma já teria renunciado
Em entrevista ao Portal LeiaJá, o ministro José Múcio Monteiro analisou o cenário nacional, criticou a atuação dos três poderes e pontuou que, sendo omissa, a presidente contribuiu com o quadro atual
O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), José Múcio Monteiro, afirmou, nesta terça-feira (12), que se estivesse no lugar da presidente Dilma Rousseff (PT), diante de um processo de impeachment e com a possibilidade de ter a maioria do Congresso Nacional como oposição, já teria renunciado ao cargo. Analisando o arrefecer do clima político nacional, principalmente nesta semana, Múcio criticou a atuação dos três poderes e pontuou que, sendo omissa, a presidente contribuiu com o quadro atual.
“Torço que a gente encontre um caminho. Em nome do momento que o Brasil está vivendo, se fosse eu, já teria renunciado e convocado eleições gerais. Cada um tem seu temperamento, ela [Dilma Rousseff] aguenta isso. A crise é tão grande que você tem que chamar a sociedade para resolver. Eleições gerais seriam muito difíceis, mas se nós já fizéssemos uma eleição para presidente e vice. É muito mais fácil você enviar uma emenda para ter 308 votos aprovando do que está discutindo o impeachment com 342 votos”, ponderou em conversa com o Portal LeiaJá, após participar de uma palestra no 3º Congresso Municipalista de Pernambuco, em Olinda.
Para o ministro, o Congresso não tem autonomia para solucionar o cenário. “Chegamos a um ponto curiosíssimo, onde você tem o Executivo criminalizado, o Legislativo judicializado e o Judiciário politizado. Os poderes mudaram. Não tem nenhum que você diga, serei salvo por tal poder”, ponderou, deixando claro que durante a vida nunca viu nenhuma conjuntura parecida com a do Brasil no mundo.
Relator do processo que apontou a existência de pedaladas fiscais nas contas da presidente, o pernambucano pontuou que agora o processo de impeachment “é político”. “Avaliação sobre o resultado [do impeachment] também é muito difícil. A questão virou política nesta altura, sou capaz de dizer que chegamos a um ponto em que qualquer resultado para o Brasil é ruim”, argumentou o ministro do TCU.
“Se tivermos o impeachment vai assumir alguém que a sociedade já não quer [Michel Temer]. Se não passa, a presidenta vai ter muita dificuldade para governar, pois se ela precisa para ser retirada de 342 votos e tenha, vamos dizer, uns 330, não passa, mas ela fica com uma absoluta maioria de adversários públicos”, acrescentou. Para ele, o vazamento do áudio do vice-presidente Michel Temer (PMDB) esquentou ainda mais o clima em Brasília.
Indagado sobre a existência das pedaladas fiscais na gestão da petista, Múcio detalhou o assunto e disse que Dilma foi omissa. “O negócio das pedaladas fiscais completa um ano domingo. Foi um crime de tesouraria aonde não houve desvio de dinheiro. Chamava-se pedaladas porque ficava o mês de janeiro pago com documentos de fevereiro, fevereiro com os de março e assim vai... É um crime de responsabilidade fiscal no Brasil, onde se rouba dinheiro, milhões”, cravou.
“A presidente é uma pessoa honesta? É. Shakespeare dizia uma frase muito forte ‘quem se omite, permite. E quem permite é cúmplice’, em você se omitindo e não tomando as providências você permitiu que houvesse o que houve no Brasil”, complementou, sem citar o nome da presidente.
José Múcio observou ainda que “nunca mais se discutiu outra coisa no país, a não ser política”. Além disso, sob a ótica dele, o Brasil está “separado” e vivendo “uma página muito triste da história”.