Com a intenção de promover a imagem de um país que está começando a se reerguer, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi nesta terça-feira (5) para o Arizona, onde, seguindo seu costume, não usou máscara, uma das medidas preventivas contra o coronavírus.
E foi precisamente quando visitou uma unidade do fabricante de máscaras faciais Honeywell, em Phoenix, onde novamente insistiu na necessidade de retomar as atividades econômicas nos Estados Unidos em breve.
"Precisamos abrir nosso país", disse o presidente nas instalações da empresa. "Não podemos manter nossa economia fechada pelos próximos cinco anos", afirmou.
"Não estou dizendo que tudo está perfeito. Algumas pessoas serão seriamente afetadas? Sim. Mas devemos reabrir nosso país e devemos fazer isso em breve", acrescentou.
Embora os Estados Unidos tenham acabado de superar os 70.000 mortos pelo novo coronavírus e possam chegar a 100.000 até junho, a Casa Branca tem focado há dias seu discurso no fim progressivo do confinamento.
Se faltava um sinal da disposição do governo para iniciar um novo capítulo, o vice-presidente Mike Pence disse que a célula de crise da Covid-19 encerraria seu trabalho nas próximas semanas.
A porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, informou, no entanto, que os especialistas em medicina devem permanecer intimamente ligados à tomada de decisões.
"O presidente continuará seu trabalho orientado por dados para uma reabertura segura", declarou. Depois de sugerir o contrário, Trump, cercado de trabalhadores com máscaras durante a visita à empresa em Phoenix, não usou nenhuma.
- Usar ou não as máscaras -
Apenas seis meses antes das eleições, o político republicano está se esforçando para mudar o humor da opinião pública e acertar sua aposta de que haverá uma rápida recuperação econômica.
Porém, em um momento em que não há sinal de pandemia seja controlada, seus críticos o acusam de dar as costas à crise para obter vantagens políticas.
Máscaras, como as N-95 produzidas pela fábrica da Honeywell, tornaram-se um símbolo das divisões no país sobre como gerenciar a pandemia.
Pesquisas mostram que para os eleitores democratas, as máscaras são um sinal de responsabilidade compartilhada na sociedade, enquanto os republicanos as veem como uma ameaça à liberdade individual.
Médicos especialistas que aconselham a Casa Branca e a primeira-dama Melania Trump promovem as máscaras faciais como ferramentas cruciais para combater a propagação do vírus, para o qual ainda não há vacina.
Mas o presidente, em sintonia com sua base de apoiadores de direita, até agora usou sua presença na mídia para subestimar essa medida de prevenção.
"Usar uma máscara enquanto recebo presidentes, primeiros-ministros, ditadores, reis, rainhas, não sei, não me vejo fazendo isso", disse Trump em abril, sugerindo que não isso não cabia à imagem de um presidente.
- Contraposição de ideias -
A visita à fábrica ocorre depois que o vice-presidente Pence causou polêmica após de entrar na reputada Clínica Mayo sem usar máscara, violando as regras do estabelecimento.
Pence, em um evento raro para um membro do governo Trump, reconheceu publicamente que estava errado. "Não achei que fosse necessário, mas deveria ter usado uma máscara", admitiu no domingo.
A Casa Branca diz que, como funcionários de alto escalão e seus convidados são rotineiramente testados quanto a coronavírus, eles não precisam usar máscaras.
No entanto, a controvérsia cresce e se transforma em disputas baseadas em maneiras completamente diferentes de olhar os fatos para os que estão à esquerda e à direita do espectro político.
Os partidários do governo Trump protestaram - às vezes em manifestações ostensivas com armas e uniformes militares - sem usar máscaras, como um sinal de independência política.
Em cidades como Stillwater, Oklahoma, as autoridades locais abandonaram as medidas de uso de máscaras faciais após ameaças de violência. Um tema comum desses protestos é que toda a pandemia é uma "farsa".
Trump, de olho nas pesquisas de intenção de voto e em seu rival democrata Joe Biden seis meses antes da eleição presidencial, anda na corda bamba. Se houver uma nova onda de infecções, suas chances de reeleição podem ser comprometidas.
Por outro lado, ele acredita que uma rápida recuperação econômica pode lhe dar vitória. Mas para isso, as pessoas precisam parar de temer a pandemia.