Planejamento, questões políticas e financeiras. Opções táticas, técnicas e comando de equipe. Entrosamento, qualidade e boa fase. Três fatores em cada frase endereçados a outros três setores que formaram o Santa Cruz em 2012. O primeiro é um recado para o presidente Antônio Luiz Neto, mandatário que tenta a reeleição este ano. O segundo recai nos ombros de Zé Teodoro, antes intocável e agora com futuro incerto no clube. Por fim, tudo que faltou aos jogadores do Tricolor na reta final da Série C.
Com tantos protagonistas, quem seria o maior culpado pelo fracasso do Santa Cruz na Série C? O LeiaJá analisou a temporada observando a participação da direção, comissão técnica e jogadores.
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“O Santa Cruz não merecia se classificar”
A frase é de Antônio Luiz Neto. Foi sua primeira citação assim que a partida entre Águia x Santa terminou, com vitória dos paraenses por 1x0. Ela define todo um projeto que se desgastou desde o início, culminando num desfecho triste para os tricolores. No início do campeonato, o clube enfrentou dificuldades com a paralisação do campeonato, devido ao imbróglio jurídico envolvendo o Treze(PB) e o Rio Branco(AC). O time teve um prejuízo de R$ 700 mil, decorrente da ausência da arrecadação nos jogos.
Quando o torneio voltou, o problema ganhou proporções maiores. Atrasos de salários de jogadores e funcionários tumultuaram o clube, mesmo com os profissionais negando a influência do não pagamento no futebol da equipe. Na política, um estatuto que seria mudado. No planejamento feito para a Série C, jogos-treinos contra equipes fracas e que ao invés de prepararem os atletas, apenas camuflaram os problemas. No cenário atual, Antônio Luiz Neto segue com um discurso sem apontar culpados. Na direção, Constantino Júnior deixou o seu cargo à disposição do clube. Um 2013 bem diferente do que era esperado pelos cartolas corais e o fim do sonho em disputar a Série A em 2014.
“O time vai crescer no momento certo”
E até hoje os tricolores esperam o tal momento certo que nunca chegou. O técnico Zé Teodoro começou a Série C respaldado por uma campanha quase impecável em dois anos pelo Santa Cruz. Bicampeão estadual e com um acesso a Série C, o time era candidato favorito ao título. O treinador pediu reforços, montou a equipe que queria (com a maior folha salarial entre os clubes do torneio) e salientava em suas entrevistas a capacidade de reação do clube.
O problema é que Zé Teodoro, o mesmo que se destacou pelo trabalho simples ao tirar “leite de pedra” do time contra equipes de melhor qualidade técnica e poder econômico (caso de Náutico e Sport nos estaduais), parece não ter levado a doutrina vencedora para a Série C. Do mesmo jeito que o Santa surpreendeu positivamente com o discurso modesto, falhou em acreditar que a camisa levaria o time a Série B. Luverdense e Icasa não são maiores que o Santa, mas souberam lidar com as peças que tinham para garantir a classificação.
Desgastado, Zé Teodoro chegou a balançar no cargo, mas Antônio Luiz Neto preferiu acreditar no treinador. Lamentações a parte, hoje o técnico faz coro pela reeleição de ALN, torcendo que a permanência do mandatário garanta seu cargo. A verdade é que de intocável no Arruda, dificilmente o treinador terá mais uma temporada para mostrar que pode levar o Santa a Série B.
Em campo, era com eles
Toda a teoria citada só ganha força quando a bola rola. É no campo que planejamentos, contratações e outros detalhes técnicos são comprovados ou desmistificados. O Santa tinha a maior folha salarial da Série C. Um elenco que uniu remanescente do bicampeonato (Tiago Cardoso, Memo, Weslley e Renatinho) com reforços considerados sonantes ao clube, como o meia Luciano Henrique e o atacante Dênis Marques. No mais, outras contratações ao melhor estilo “compor elenco”.
Justamente o atacante foi o principal nome do clube na competição. Para o bem e para o mal. Dos 26 gols marcados pelo clube coral, 11 foram de Dênis. Atual artilheiro do torneio, sua reta final de campeonato foi uma verdadeira montanha-russa. Chances perdidas em frente ao goleiro e pênaltis desperdiçados se misturavam com gols decisivos que davam a vitória ao time. Faltou a regularidade. Ao invés de uma salva de palmas, chuvas de moedas esperaram o atleta no aeroporto.
Erros
Jogadores como Diego Bispo, Carlinhos Bala, Eduardo Arroz, Vitor Hugo e Paulista, já dispensados, apenas inflaram a folha salarial do clube. No elenco, o presidente prometeu pouca reformulação. Mas Leandro Oliveira deixou o clube e outros devem seguir o mesmo caminho. Com mais dois meses para pensar, o Santa vive a sina dos clubes que fracassam numa temporada. O dilema de apostar numa reformulação total ou acreditar que o fracasso foi apenas um percalço e manter a confiança na continuação de um projeto. O que será melhor para o clube, somente o próprio clube poderá decidir.