Ex-assessor de Picciani também está na mira da Lava Jato
José Orlando Rabelo atuou no gabinete do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) com salários de cerca de R$ 10 mil
A Operação Calicute, etapa da Lava Jato que prendeu o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), capturou também um ex-assessor de seu aliado, o deputado Jorge Picciani (PMDB).
José Orlando Rabelo atuou no gabinete do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) com salários de cerca de R$ 10 mil. Rabelo foi citado por dois executivos da Carioca Engenharia, como encarregado de pegar propina para Hudson Braga, ex-secretário de Obras do governo Cabral.
O Ministério Público Federal afirma que, após Hudson Braga deixar o governo do Rio, Rabelo passou a ocupar cargo em comissão na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, vinculado ao gabinete do deputado Jorge Picciani.
A despeito disso, continuou a trabalhar para Braga, resolvendo desde assuntos pessoais (como projeto para construção de uma casa) até questões relacionadas às empresas deste. Conforme apurado pela Polícia Federal, Rabelo começou a trabalhar na empresa de consultoria de Hudson Braga, a H Braga Consultoria Empresarial - EPP.
"Em 16 de março de 2015, foi assinado entre a H Braga e Rabelo um contrato de prestação de serviços de consultoria administrativa e financeira. Em 2016, Rabelo passou também a constar como funcionário da Sulcon, outra empresa (...) do investigado Hudson Braga", relata a Procuradoria da República.
"Mesmo lotado no Gabinete do deputado Jorge Picciani, JOsé Orlando, em e-mail enviado para terceiros, deixa expresso, portanto, para quem trabalha, assinando a mensagem com a identificação de H. Braga Consultoria", diz a promotoria.
Executivos da Carioca e da Andrade Gutierrez afirmaram que Hudson Braga cobrava propina no valor de 1% dos contratos celebrados com o Governo do Estado do Rio de Janeiro. O nome do ex-secretário foi citado por seis colaboradores diferentes, segundo o Ministério Público Federal.
"A relação de proximidade entre José Orlando e Hudson Braga existe, no mínimo, desde 26 de setembro de 2011, quando o primeiro foi nomeado para ocupar cargo do alto escalão da Secretaria de Obras do Estado Rio de Janeiro", afirma a força-tarefa da Lava Jato. "Desde então, José Orlando, após assumir o cargo de chefe de gabinete de Hudson Braga, tornou-se seu 'secretário particular', resolvendo diversas pendências que iam desde agendamento de consultas médicas até a cobrança de pagamento de propina, conforme teor de e-mails descritos adiante."
Quebra telemática na Lava Jato apontou para "diversos e-mails" que indicariam crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. A força-tarefa destacou uma das mensagens.
"No e-mail com o sugestivo título 'caixinha', Hudson Braga cobra José Orlando por este não ter entregue possivelmente dinheiro oriundo de propina", anota a Procuradoria da República.
Em 31 de agosto de 2012, Hudson Braga escreve a José Orlando e a um interlocutor identificado como "SS Iran". "O prazo dos srs esgotou hoje e nenhum de vocês dois me trouxeram nada!!!! Eh lamentável eu ter que ficar cobrando!!! Gostaria de inverter essa lógica!!! Não estou conseguindo mais ficar cobrando minha pressão não está ajudando!!! Foi a minha última cobrança!!", diz Husdon na mensagem.
No dia seguinte, em 1º de setembro de 2012, às 12h03, José Orlando Rabelo responde. "Secretário, falo na segunda pessoalmente com você sobre este item. Att."
Rabelo está na mesma cela de Sérgio Cabral no Complexo de Bangu. Segundo a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), o peemedebista está preso na Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu. O ex-governador divide cela com mais cinco internos, de nível superior, que também foram presos na mesma operação: José Orlando Rabelo, Carlos Emanuel de Carvalho Miranda, Hudson Braga, Luiz Paulo Reis e Paulo Fernando Magalhães Pinto Gonçalves.
Defesa
A assessoria de Jorge Picciani informou que José Orlando Rabelo "não trabalha lá mais desde fevereiro de 2016". "Ficou lá um ano no gabinete parlamentar e não da presidência", diz o texto.