Janguiê Diniz

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O mundo em discussão

Perfil:   Mestre e Doutor em Direito, Fundador e Presidente do Conselho de Administração do Grupo Ser Educacional, Presidente do Instituto Exito de Empreendedorismo

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Os impasses na transposição do Velho Chico

Janguiê Diniz, | sex, 24/02/2012 - 16:14
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O Projeto de Transposição do Rio São Francisco, conhecido por muitos como Velho Chico, vem de uma ideia que surgiu  há décadas e que após o agravamento do abastecimento hídrico do Nordeste, em 1999, passou a ser visto como única saída para solucionar este grave  problema.

A transposição foi concebida em 1985 pelo extinto DNOS – Departamento Nacional de Obras e Saneamento. Em 1999, foi transferida para o Ministério da Integração Nacional e acompanhada por vários ministérios desde então.  Basicamente, o plano é a construção de dois imensos canais para desviar parte das águas do rio, que tem cerca de 2,7 mil km de extensão,  para rios menores e açudes da região e logo depois construir adutoras, tudo com um único objetivo: a distribuição de água.

O projeto é extremamente  polêmico e  tem gerado muita discussão em virtude de vários   aspectos, dentre eles: por ser uma obra cara, o orçamento já ultrapassa R$ 6,8 bilhões, que abrange somente 5% do território e 0,3% da população do semi-árido brasileiro; e também pelo intenso impacto que o ecossistema ao redor de todo o rio São Francisco sofrerá, tanto em sua extensão e na manutenção da biodiversidade, quanto pela sua utilização em transportes e abastecimento.

Analisando os dois lados, o projeto de transposição do São Francisco surgiu com a proposta de solucionar a deficiência hídrica na região do semi-árido brasileiro, diminuindo os graves efeitos da seca no período de estiagem. Entrementes,  é importante  ressaltar que a região Nordeste possui cerca de 70 mil açudes,  nos quais são armazenados 37 bilhões de m³ de água,  e que dezenas de obras de distribuição da água,  iniciadas antes da transposição do São Francisco, estão inconclusas.

Por outra parte, um outro impacto que deve ser analisado com bastante atenção é a salinização do Rio São Francisco, que nasce na Serra da Canastra em Minas Gerais e, depois de passar por cinco Estados brasileiros, deságua no Oceano Atlântico na divisa entre os estados de Sergipe e Alagoas.  Antes, o rio que tinha força para avançar sobre o oceano. Hoje, peixes típicos de água salgada são encontrados a quilômetros  rio adentro.

Ampliando a seara de discussão, auspicioso registrar que em relato feito pelo juiz federal e professor Carlos Rebelo Júnior, na II Conferência Internacional sobre Sinergias Ambientais entre as Águas Continentais e Marítimas, nos últimos 40 anos, o Velho Chico perdeu 40% do volume de água. Outras mudanças também foram apresentadas, como a formação de bancos de areia na região de Alagoas e Sergipe, onde, alguns anos antes, o rio tinha uma profundidade de 45 a 55 metros.

Caros leitores, para que as obras de transposição  não sejam realizadas  em vão e para que  toda  a população da região seja beneficiada de forma contínua, é preciso não apenas implementar novas obras de infraestrutura, mas também concluir aquelas  iniciadas anteriormente e com grau de dificuldade muito menor. Os impactos gerados diante da magnitude da transposição de um Rio como o São Francisco vão muito além das pessoas que ficarão desempregadas ao fim da obra. Temos que ter a consciência que a mudança no trajeto de um rio, no porte do Velho Chico, é, provavelmente, uma ação irreversível e que se não avaliada em todos os prós e contras, pode prejudicar muito mais que ajudar. Mas as obras já foram iniciadas. Cabe a nós apenas esperar e rezar.

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