Thiago Braz escreveu, aos 22 anos, uma das páginas mais gloriosas da história do esporte brasileiro, ao conquistar a medalha de ouro no salto com vara dos Jogos do Rio, nesta segunda-feira, com a marca de 6,03 metros, novo recorde olímpico.
O Brasil não conquistava uma medalha olímpica no atletismo desde o ouro de Maurren Maggi no salto em distancia, em Pequim-2008.
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Este foi o segundo título olímpico para o Brasil nestes Jogos, depois de Rafaela Silva se consagrar na categoria até 57 kg do judô.
A conquista vem coroar um dia histórico em que o Time Brasil faturou uma medalha de cada cor, depois do bronze de Poliana Okimoto da maratona aquática e da prata do ginasta Arthur Zanetti nas argolas.
O ouro veio depois de uma disputa antológica com o grande favorito da prova, o francês Renaud Lavillenie, campeão olímpico de Londres-2012 e recordista mundial indoor (6.16 m), que ficou com a prata, por ter saltado 'apenas' 5,98.
Antes de saltar para a glória, com voo de 6,03 m, Thiago jamais havia passado dos 5,93 m.
"Essa marca de 6,03 m, eu já esperava há muito tempo. Há três competições atrás, já tentava bater os 6 metros. Mas hoje, numa olimpíada, acho que é muito mais forte e muito mais surpreendente em relação ao que eu esperava", relatou Thiago depois da façanha.
- Ousadia e talento -
A disputa começou às 20h35 (horário de Brasília), mas se estendeu quase até meia noite, por conta de uma suspensão por causa das fortes chuvas que castigaram o Engenhão.
Certamente por conta do mau tempo, o estádio estava com pouco menos da metade dos assentos ocupados para presenciar uma das maiores façanhas da história do esporte brasileiro.
Lavillenie fez um início de prova perfeito, passando de primeira 5,75 m, 5,85 m, 5,93 m, e 5,98, enquanto Thiago conheceu alguns percalços, com erros a 5,75 m e 5,93 m.
A marca de 5,98 m dava o ouro ao francês e o brasileiro já tinha a prata garantida com 5,93 m, quando igualou sua melhor marca pessoal indoor.
Mas Thiago não quis se contentar com o vice-campeonato. Teve a ousadia de tentar passar a mítica barreira dos 6 metros, nunca alcançada na história das Olimpíadas, e conseguiu na segunda tentativa, levando o público ao delírio aos gritos de "é campeão".
"Quando passei 5,93 m, já estava um pouco satisfeito com a prata, porém sabia que ainda não havia acabado. Quando Lavillenie passou 5,98 m, escutei de Deus que tinha que passar para 6,03 m. Fui conversar com meu treinador, que falou: 'passa para 6,03 m'. Pensei que Deus estava realmente confirmando muita coisa hoje". Uma inspiração, para um rapaz que coloca a fé sempre em primeiro lugar.
"Eu estava muito confiante em Deus. Isso é algo muito forte para mim. É assim que me sinto bem, me ajuda muito", completou.
O francês tentou o tudo ou nada, com sarrafo a 6,08 m. A torcida entrou junto, com vaia estrondosa, antes de explodir de alegria.
"Eu tentei fazer a melhor prova possível, não deixei nada a desejar. Thiago fez uma prova incrível, mas infelizmentem havia um clima péssimo no estádio. Eu tinha que me concentrar três vezes mais quando era minha vez. Foi a primeira vez que fui vaiado numa pista de atletismo", lamentou o campeão de Londres, que prometeu "dar o troco em Paris", em 2024, se a capital francesa for escolhida para sediar os Jogos.
Não era o dia de Lavillenie, que fez sinal de negativo para reclamar da atitude do público, e viu o sonho do bicampeonato frustrado por um rapaz tímido de 22 anos.
O dia era de Thiago, uma data que vai ficar para sempre na memória do torcedor brasileiro.
O salto com vara ainda pode dar mais alegrias, com Fabiana Murer, campeã mundial em 2011 e vice no ano passado, em Pequim, que estreia nesta terça-feira.
- 'Peixinho' dourado -
A disputa do salto com vara se estendeu até tarde na noite carioca, mas não faltaram emoções na pista antes do duelo Braz-Lavillenie.
O queniano David Rudisha confirmou seu domínio absoluto da prova dos 800 m ao conquistar a segunda medalha de ouro olímpica seguida na distância, com boa vantagem sobre os rivais.
O atleta de 27 anos venceu a corrida em 1:42.15, superando o argelino Taoufik Makhoufi, prata com 1:42.61, e o americano Clayton Murphy, bronze com 1:42.93.
Nos 400 m, todo mundo esperava o título de Allyson Felix, que almejava se tornar a primeira mulher da história a ganhar cinco medalhas de ouro no atletismo.
Mas a americana viu o penta escapar quando a velocista de Bahamas Shaunae Miller, que liderou toda a prova, se jogou em cima da linha quando Felix ia ultrapassá-la na chegada.
Miller venceu com o tempo de 49.44, o melhor da sua carreira e apenas sete centésimos à frente de Felix, que ficou com a prata. A jamaicana Shericka Jackson completou o pódio (49.85).
Maior medalhista da história do atletismo feminino, Felix somou seu sétimo pódio olímpico, com quatro ouros e três pratas.