Desde sua formação, em 2009, a banda Babi Jaques & Os Sicilianos acumula 17 prêmios. O grupo recifense já circulou por 17 Estados das cinco regiões do Brasil, tendo participado de importantes eventos como Abril Pro Rock, Festival Pré-Amp e WebFestvalda. Deste último, aliás, saiu vencedor. A cantora Babi Jaques e seus 'sicilianos' embarcam agora na terceira turnê do ano, e ainda realiza shows fora do país, na Argentina. Para esta turnê, que se inicia nesta sexta (1°) em São Luiz (MA), estão agendadas 22 apresentações.
O sucesso da banda tem muito a ver com as estratégias usadas dentro e fora do palco. Investindo em um ambiente ambiente teatral, com ares de cinema em preto e branco e cuidado especial com o figurino, os Sicilianos têm conseguido se diferenciar e agradar com shows perfomáticos e cuidadosamente elaborados. Fora do palco, os integrantes criaram uma rotina de divisão de tarefas e autoprodução que gerou a produtora Coisa Nostra.
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Coisa Nostra é também o nome do primeiro disco do grupo, que criou uma ambientação própria para suas ideias. Na cidade fictícia Nostrife, já fizeram um documentário e se preparam para lançar até histórias em quadrinhos inspirados no universo da banda.
O baixista Thiago Lasserre conversou com o LeiaJá nesta nesta quarta-feira (30), no pé do Alto Zé do Pinho, na casa que funciona como produtora e estúdio do grupo, enquanto a banda cuidada dos últimos preparativos para iniciar a série de apresentações pelo Brasil e Argentina. Laserre explica um pouco do que é o universo criativo da banda e como o grupo se organizou como uma produtora para viabilizar o trabalho.
Como definir a Coisa Nostra?
Acho que cada vez mais há um diálogo entre o que queremos passar para o público e o nosso som. O principal hoje é a criação enquanto renovação do pensamento. Uma de nossas ideias atuais é desenvolver uma estética diferente para o palco porque a gente se posiciona lá de outra maneira. É pro cara que for assistir ao show entrar no clima mesmo. Todas as coisas, até a parte técnica da gente, dialogam com a história que a gente quer apresentar.
E que história é essa? Como foi idealizada a cidade fictícia Nostrife e o conceito da banda?
Essa 'viagem' surgiu porque estamos tentando fazer o teatro ganhar cada vez mais força no nosso trabalho. Percebemos também que era necessário desenhar os personagens. O enredo desde o começo tem um ar meio Tim Burton. Inclusive algumas coisas do nosso contexto tem muita influência do cinema, como o Poderoso Chefão, mas num contexto lúdico. Tudo aqui tem símbolo de algo que parte do real. Cada personagem representa um nicho de Nostrife, que é o mundo criado pela gente.
Uma onda que está dando força a isso é que a gente agora vai controlar toda a luz no palco a partir do computador. Vamos poder escolher a cor de cada música, enfatizar alguma situação, entre outras brincadeiras. Cada um tem uma luz amarela, todos tem uma luz de chão e a gente tem duas gerais que dão a cor. Elas se combinam com os ritmos também. Este é um grande lance que vai dar uma força visual.
Como é a mistura de outros formatos artísticos com a música da Babi Jaques e os Sicilianos?
A ideia é ultrapassar também o show. A gente vai lançar uma série de gibis que Well (guitarrista) desenha. Ele já fez o primeiro capítulo e através deles a pessoa vai começar a entender um pouco do contexto e da viagem disso tudo que a gente inventou. Vamos também tentar criar várias linguagens. A gente vai lançar uma série de vídeos cujo foco é a música, mas que dão vazão aos personagens. Fizemos seis vídeos: dois que falam do geral e quatro que representam os personagens, e as filmagens foram em locais com a cara deles. Eu, por exemplo, filmei numa casa toda em ruínas, um diálogo com meu personagem que é nostálgico, da Nostrife Velho. Isso vai fazer com que o público entenda mais um pouco sobre o que vem por trás da música.
Cada vez mais a gente tem trazido outros elementos além da música. O cara pode não curtir a banda, mas pode gostar do clipe, do gibi, da questão estética, do documentário que a gente fez. A gente quer é dialogar. Cada vez mais queremos também trabalhar com o cinema, haja vista que a pessoa hoje não escuta mais música, ela vê vídeo. Eu não tenho a mínima ideia de onde queremos chegar e onde isso vai parar.
Como é a rotina de trabalho da banda? Como são divididas as funções e como é que acontece a criação artística de vocês?
Isso aqui (o estúdio da banda) de alguma forma ajuda a gente a esquecer da doidice que é viver. Aqui temos uma liberdade muito grande para poder criar. Não se trata de grana, é chegar e fazer o que se gosta de fazer. A gente produz tudo e todas as funções são bem divididas. É tudo concentrado na gente, tanto que existe agora a (produtora) Coisa Nostra pra dar esse auxilio. Chegamos num estágio em que não dá pra fazer tudo sozinho e estamos fazendo parcerias com outras pessoas e produtoras para poder crescer mais. Atualmente, a maior dificuldade nossa é a questão da sustentabilidade. Eu queria que a gente conseguisse pagar mais coisas que são necessárias para a manutenção do nosso trabalho. Esse tem sido o nosso maior calo.
Como é a sistemática da produção independente que vocês desenvolveram?
Até agora a gente não aprovou um projeto sequer. Na verdade, a gente gasta muito mais tempo pra produzir do que pra tocar. Ninguém bate na porta da gente querendo contratar o nosso show. A gente corre atrás, de fato, diariamente, insistindo bastante nos editais dos ciclos festivos de todo o Brasil. Outra coisa é que a gente trabalha com vários tipos de possibilidades. Dialoga com produção privada, com prefeitura, isso dentro de uma limitação. Esta é a terceira turnê nacional que a gente faz só esse ano. Chegamos a bater no Uruguai, e foi bacana pra caramba. Só foi ruim quando o carro quebrou e a gente levou um ‘fumo’ de grana. Mas foi legal sair do país. A gente tocou em cinco lugares, todos em Montevidéu. Foi bem bacana a resposta do público porque o pessoal de lá curte a música brasileira.