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O governo Talibã do Afeganistão celebra nesta terça-feira (15) o segundo aniversário de seu retorno ao poder com um desfile militar na cidade em que o movimento extremista foi criado, Kandahar.

"A conquista de Cabul demonstrou mais uma vez que ninguém pode controlar a orgulhosa nação do Afeganistão e garantir sua permanência no país", afirma um comunicado divulgado pelo regime Talibã.

"Não se permitirá que nenhum invasor ameace a independência e a liberdade do Afeganistão", acrescenta a nota.

Bandeiras do Emirado Islâmico de Afeganistão, o nome atribuído oficialmente ao país por seus novos governantes, foram hasteadas nos postos de controle da capital Cabul, que caiu em 15 de agosto de 2021, quando o governo apoiado pelos Estados Unidos entrou em colapso e seus líderes fugiram para o exílio.

Desde então, as autoridades talibãs adotaram uma interpretação rigorosa do islã, em particular no que diz respeito às mulheres, uma situação que a ONU denominou de "apartheid de gênero".

O desfile previsto para Kandahar, de onde o líder talibã Hibatullah Akhundzada comanda o país, terá a participação de muitos veículos militares e armas deixadas para trás pelas tropas internacionais em sua retirada caótica.

Também está programado um desfile de tropas talibãs nas ruas de Herat (oeste), além de um evento de celebração organizado pelo Ministério da Educação em uma escola de Cabul.

Dois anos após a tomada de poder, nenhum país reconheceu o governo Talibã, com debates abertos na comunidade internacional sobre um eventual estabelecimento de relações com as novas autoridades.

As restrições aos direitos das mulheres - praticamente banidas dos espaços públicos, do mercado de trabalho e da educação - são um grande obstáculo nas negociações sobre o reconhecimento e a ajuda internacional para um país imerso em uma grave crise humanitária e econômica.

Um painel de especialistas da ONU questionou na segunda-feira as promessas dos líderes talibãs de que o país teria um governo mais flexível que em sua primeira etapa no poder, entre 1996 e 2001.

"Os fatos demonstram a existência de um sistema acelerado, sistemático, que envolve segregação, marginalização e perseguição", afirmaram os especialistas em um comunicado.

- "Recuperar a liberdade" -

Antes do aniversário de dois anos de retorno do Talibã, afegãs expressaram o medo e desespero com a perda de direitos, com pequenas manifestações em que muitas mulheres compareceram com os rostos cobertos.

Os afegãos também estão preocupados com a crise econômica e humanitária que afeta o país desde o retorno do Talibã ao poder, uma consequência da redução das ajudas e das sanções impostas ao regime.

O agricultor Rahatullah Azizi declarou à AFP que costumava ganhar a vida apenas com suas plantações, mas que agora tem "apenas o suficiente para comer".

Ele reconhece, com alívio, que a segurança melhorou e que atualmente consegue viajar à noite sem medo.

Mesmo assim, persistem a ameaça do grupo Estado Islâmico, rival do Talibã que permanece ativo no país, e as tensões com o Paquistão com o aumento dos ataques nas áreas de fronteira.

Enquanto alguns afegãos celebram o fim de duas décadas de conflito e o retorno do Talibã ao poder, outros consideram a data um aniversário nefasto.

"Todas as meninas em mulheres do Afeganistão querem recuperar a liberdade", disse Hamasah Bawar, uma jovem afastada dos estudos devido às políticas do governo.

As autoridades do Talibã acenderam uma fogueira em uma província do oeste do Afeganistão neste fim de semana e jogaram instrumentos musicais e equipamentos nas chamas, por considerarem a música algo imoral.

"Promover a música leva à corrupção moral e tocar música engana os jovens", disse Aziz al-Rahman al-Muhajir, chefe do Ministério para a Promoção da Virtude e Supressão do Vício na província ocidental de Herat, onde ocorreu a fogueira.

Desde que chegou ao poder em agosto de 2021, o Talibã impôs uma série de leis que refletem sua visão rigorosa do Islã, que inclui a proibição de tocar música em público.

Muitos dos equipamentos musicais que queimaram no sábado foram confiscados dos salões de casamento da cidade.

Entre os instrumentos jogados na fogueira estavam um violão, um harmônio, outros dois instrumentos de cordas e uma tablá (tambor).

Além da música, as mulheres são as principais vítimas das novas leis impostas pelos talibãs, com a sua exclusão da maioria das escolas de ensino médio, universidades e da administração pública.

As mulheres também não podem trabalhar para organizações internacionais, visitar parques, jardins, academias ou banheiros públicos, ou viajar sem estarem acompanhadas por um parente do sexo masculino. Elas também devem se cobrir totalmente ao sair de casa.

Milhares de salões de beleza fecharam definitivamente na terça-feira após a entrada em vigor de um decreto. Muitos desses salões eram dirigidos por mulheres e muitas vezes eram sua única fonte de renda.

Milhares de salões de beleza fecharam suas portas de forma definitiva no Afeganistão nesta terça-feira (25), após entrar em vigor o decreto das autoridades talibãs que priva as mulheres de uma de suas únicas fontes de renda e um de seus últimos espaços de liberdade.

Desde que retornaram ao poder em agosto de 2021, os talibãs, fundamentalistas muçulmanos, excluíram as mulheres da maioria das escolas de ensino médio, universidades e da administração pública.

Elas também não podem trabalhar para organizações internacionais, frequentar parques, jardins, estádios e banheiros públicos ou viajar sem a presença de um familiar do sexo masculino. Além disso, devem estar completamente cobertas ao saírem de casa.

A decisão de fechar os salões de beleza, anunciada por decreto no final de junho, provoca o fim de milhares de estabelecimentos comerciais administrados por mulheres. Estes espaços eram, muitas vezes, o único recurso para suas famílias e constituíam um dos últimos espaços de liberdade e socialização para as afegãs.

"Costumávamos vir aqui e passar o tempo conversando sobre nosso futuro. Agora, até mesmo esse direito nos foi tirado", disse Bahara, cliente de um salão de beleza em Cabul.

"As mulheres não têm direito de entrar em locais de lazer. O que podemos fazer? Onde podemos nos divertir? Onde podemos nos encontrar?", questionou ela.

De acordo com a Câmara de Comércio e Indústria para as Mulheres Afegãs, a proibição dos salões de beleza fará com que cerca de 60 mil mulheres, que trabalhavam em 12 mil estabelecimentos, percam sua única fonte de renda.

Nesta terça-feira, muitos salões já haviam fechado suas portas em Cabul, enquanto outros esperaram até o último minuto para fazê-lo.

Uma proprietária relatou que foi forçada a assinar uma carta em que registrava o fechamento do estabelecimento por vontade própria, renunciando à sua licença para administrá-lo.

"Foi uma cena horrível: eles chegaram com veículos militares e fuzis. O que uma mulher pode fazer diante de tanta insistência e pressão?", contou sob anonimato.

Na semana passada, as forças de segurança afegãs dispararam ao ar e lançaram jatos de água sobre dezenas de afegãs que protestavam em Cabul contra o decreto.

Ao confirmar a medida dias após a promulgação do decreto, o Ministério da Prevenção do Vício e Promoção da Virtude havia informado que os salões teriam um mês (até esta terça-feira) para fechar suas portas.

O órgão justificou este fechamento alegando que as pessoas gastam quantias extravagantes em casamentos, o que considera um fardo muito pesado para as famílias pobres. Também argumentou que alguns dos serviços oferecidos não estavam de acordo com a lei islâmica, como o uso de maquiagem, que impedia que as mulheres realizassem adequadamente suas abluções antes da oração, disse o ministério. Cílios postiços e tranças também foram proibidos.

Uma cópia escrita do decreto, a qual a AFP teve acesso, indica que a decisão foi baseada em uma "instrução verbal do chefe supremo" do Afeganistão, Hibatullah Akhundzada.

Os salões de beleza se espalharam em Cabul e nas grandes cidades afegãs durante os 20 anos de ocupação das forças dos Estados Unidos e da Otan.

Dezenas de afegãs foram dispersadas com jatos de água quando protestavam nesta quarta-feira (19) em Cabul contra a decisão do governo talibã de fechar os salões de beleza.

Desde seu retorno ao poder em agosto de 2021, os talibãs, fundamentalistas muçulmanos, excluíram as mulheres da maioria dos centros de ensino médio, das universidades e da administração pública.

As mulheres também não podem trabalhar para organizações internacionais, entrar em parques, jardins, estádios e banheiros públicos ou viajar sem a presença de um familiar do sexo masculino. Também devem estar completamente cobertas ao saírem de casa.

A decisão de fechar os salões de beleza, anunciada por decreto no final de junho, provocará o fim das atividades de milhares de estabelecimentos comerciais administrados por mulheres. Estes locais são, muitas vezes, o único recurso para suas famílias e constituem um dos últimos espaços de liberdade e socialização para as afegãs.

"Não me deixem a pão e água", afirmava o cartaz de uma das manifestantes em Butcher Street, rua da capital onde se encontram muitos salões de beleza.

As manifestações são pouco frequentes no Afeganistão e costumam ser dispersadas violentamente. Ainda assim, cerca de cinquenta mulheres participaram da manifestação desta quarta, que rapidamente atraiu a atenção dos serviços de segurança.

As fotos e vídeos que as manifestantes enviaram à imprensa mostram as forças de segurança utilizando jatos de água contra elas.

A Missão das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA, sigla em inglês) condenou a repressão ao protesto.

"Informações sobre a repressão à força de um protesto pacífico de mulheres contra a proibição dos salões de beleza – o mais recente desrespeito aos direitos das mulheres no #Afeganistão – estamos profundamente preocupados", tuitou a UNAMA.

O Ministério da Prevenção do Vício e Promoção da Virtude justificou o fechamento dos salões alegando que as pessoas gastam quantias extravagantes em casamentos, que ele considerava um fardo muito pesado para as famílias pobres, e alegando que alguns dos serviços oferecidos não estavam de acordo com a lei islâmica.

Os salões de beleza proliferaram em Cabul e nas grandes cidades afegãs durante os 20 anos de ocupação pelas forças dos EUA e da Otan.

As forças do regime Talibã mataram um comandante do grupo extremista Estado Islâmico (EI) que supostamente planejou ataques contra representações diplomáticas na capital do Afeganistão, informou o governo de Cabul.

A violência no Afeganistão registrou queda expressiva desde que o Talibã retomou o poder, em agosto de 2021. Nos últimos meses, no entanto, vários ataques foram reivindicados pelo braço local do EI.

O Talibã matou no domingo à noite Qari Fateh, "chefe de inteligência e operações regionais do EI", afirmou o porta-voz do governo, Zabihullah Mujahid.

"Fateh planejou diretamente ataques recentes em Cabul, incluindo algumas contra representações diplomáticas, mesquitas e outros alvos", acrescentou Mujahid.

Outro integrante do EI morreu na operação contra a célula de Fateh, que tinha como base a área de Khair Khana, em Cabul. O Talibã publicou no Twitter as imagens de dois corpos em meio a escombros.

Um relatório do Conselho de Segurança da ONU de julho de 2022 cita Fateh como um dirigente importante do EI, responsável por operações militares em uma região que envolve Índia, Irã e Ásia Central.

O EI representa a maior ameaça de segurança para o governo talibã, com ataques contra estrangeiros, minorias religiosas e instituições governamentais.

Os dois grupos compartilham uma estrita ideologia islamita sunita, mas o EI luta para estabelecer um "califado" mundial, enquanto o Talibã tem a aspiração local de governar um Afeganistão independente.

O EI reivindicou um ataque em dezembro contra um hotel de Cabul, que terminou com cinco chineses feridos.

No mesmo mês, o grupo atacou a embaixada do Paquistão em Cabul, uma ação que Islamabad considerou uma "tentativa de assassinato" contra seu embaixador.

O regime Talibã acusa o EI por ataque suicida em setembro de 2022 em Cabul que matou 54 pessoas, incluindo 51 mulheres e crianças.

O governo Talibã do Afeganistão ordenou neste sábado (24) a todas as ONGs nacionais e internacionais que deixem de empregar mulheres porque não estariam respeitando o código de vestimenta, mesmo argumento utilizado há quatro dias para excluir as mulheres das universidades do país.

“Houve denúncias graves sobre o descumprimento do uso do hijab islâmico e outras regras e regulamentos relacionados ao trabalho feminino em organizações nacionais e internacionais”, afirma uma notificação enviada a todas as ONGs.

Um porta-voz do ministério da Economia confirmou o envio da ordem às ONGs.

"Em caso de descumprimento da diretriz (...) a licença da organização que foi emitida por este ministério será cancelada", especifica a notificação.

Duas ONGs internacionais contactadas pela AFP confirmaram ter recebido o comunicado do ministério.

"A partir de domingo, suspendemos todas as nossas atividades", declarou, sob anonimato, o funcionário de uma organização internacional que organiza ações humanitárias em áreas remotas do país. "Em breve teremos uma reunião dos diretores de todas as ONGs para decidir como lidar com a questão", acrescentou.

Dezenas de ONGs nacionais e internacionais trabalham em vários setores em áreas remotas do Afeganistão, com várias mulheres como funcionárias.

O anúncio ocorre apenas quatro dias depois que o governo talibã decidiu proibir por tempo indeterminado as mulheres afegãs de frequentar universidades públicas e particulares no país.

O ministro do Ensino Superior, Neda Mohammad Nadeem, explicou em uma entrevista televisiva que tomou esta decisão porque as "estudantes que iam para a universidade (...) não respeitaram as instruções do hijab".

"O hijab é obrigatório no Islã", insistiu, referindo-se ao fato de que as mulheres no Afeganistão devem cobrir o rosto e o corpo inteiro. Segundo o ministro, as meninas que estudaram em uma província longe de casa "também não viajavam com um 'mahram', um acompanhante masculino adulto".

No sábado, quase 400 estudantes de Kandahar, berço do movimento islamita fundamentalista, boicotaram uma prova em solidariedade às alunas e organizaram uma manifestação, dispersada pelas forças talibãs, que atiraram para o alto, contou à AFP um professor da Universidade Mirwais Neeka.

O novo ataque aos direitos das mulheres prejudica muitas meninas afegãs, que já haviam sido excluídas do Ensino Médio, e provocou muitas críticas da comunidade internacional.

Apesar das promessas de maior flexibilidade, os talibãs retomaram sua interpretação rigorosa do Islã, que marcou sua primeira passagem pelo poder, entre 1996 e 2001.

Desde sua volta ao poder em agosto de 2021, multiplicaram-se as medidas contra as liberdades, principalmente das mulheres, que foram progressivamente excluídas da vida pública e dos centros educacionais.

Guardas armados impediram a entrada de centenas de jovens mulheres nas universidades afegãs nesta quarta-feira (21), um dia depois do anúncio do governo Talibã que proibiu o acesso das mulheres ao Ensino Superior.

Apesar da promessa de um regime mais tolerante quando tomaram o poder em agosto de 2021, os fundamentalistas islâmicos multiplicaram as restrições contra as mulheres, afastando-as da vida pública.

Jornalistas da AFP observaram estudantes reunidas em frente às universidades da capital, Cabul, cujos portões estavam trancados e protegidos por seguranças armados.

"Estamos condenadas. Perdemos tudo", disse uma delas, que pediu para não ser identificada.

"Não temos palavras para expressar nossos sentimentos", explicou outra, Madina. "Eles tiraram nossa esperança. Enterraram nossos sonhos", completou a estudante.

Seus colegas do sexo masculino também expressaram choque. "Isso realmente mostra seu analfabetismo e baixo conhecimento do Islã e dos direitos humanos", disse um deles, sob condição de anonimato.

"Se a situação continuar assim, o futuro será pior. Todos estão com medo", acrescentou.

A maioria das universidades públicas e privadas permanece fechada por algumas semanas no inverno, embora seus campi geralmente continuem abertos a estudantes e funcionários.

A decisão de banir as mulheres das universidades foi anunciada na noite de terça-feira pelo ministro do Ensino Superior, Neda Mohammad Nadeem.

A maioria das adolescentes do país já havia sido banida do Ensino Médio, limitando significativamente suas opções de acesso às universidades.

O veto, porém, ainda não havia sido aplicado ao Ensino Superior e milhares de mulheres fizeram as provas do vestibular há menos de três meses.

No entanto, os centros de ensino precisaram adaptar-se, aplicando a segregação por sexo e permitindo apenas que mulheres ou homens idosos dessem aulas às alunas.

Divergências 

O líder supremo do Talibã, Hibatullah Akhundzada, e seu círculo próximo defendem uma interpretação ultrarrigorosa do Islã contra a educação moderna, especialmente para mulheres.

A posição diverge da adotada por alguns líderes em Cabul, e até mesmo entre suas bases, que esperavam que o novo regime tolerasse a educação feminina.

"Essa decisão vai ampliar as divergências", comentou à AFP um comandante talibã.

Em março, o Talibã impediu que as adolescentes voltassem às escolas de Ensino Médio na mesma manhã em que deveriam reabrir após mais de meio ano de fechamento.

Várias autoridades talibãs argumentaram que era uma suspensão temporária e ofereceram uma série de desculpas, da falta de recursos à necessidade de reformular o programa educacional.

Desde então, muitas adolescentes se casaram cedo, muitas vezes com homens mais velhos escolhidos pelos pais.

Muitas famílias questionadas pela AFP em novembro argumentaram que, com a difícil situação econômica e a proibição à educação, garantir o futuro das filhas por meio do casamento era melhor do que deixá-las ociosas em casa.

Pressão internacional

O Talibã também expulsou as mulheres de muitos empregos públicos, proibiu-as de viajar sem um parente do sexo masculino e as obrigou a usar burca ou hijab fora de casa.

Em novembro, as autoridades proibiram o acesso delas a parques, feiras, academias e banheiros públicos.

A comunidade internacional, por sua vez, considera o direito à educação das mulheres uma condição fundamental nas negociações para a prestação de ajuda humanitária ao país e reconhecimento das novas autoridades.

"O Talibã não pode esperar ser um membro legítimo da comunidade internacional se não respeitar totalmente os direitos de todos no Afeganistão. Esta decisão terá consequências", comentou o secretário de Estado americano, Antony Blinken.

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, disse que o Talibã "decidiu destruir o futuro de seu próprio país" e informou que o G7 abordará a questão.

Durante os 20 anos que se passaram entre os dois regimes talibãs, as meninas frequentaram as escolas e as mulheres procuraram empregos em todos os setores, apesar de o país continuar socialmente conservador.

Nas últimas semanas, as autoridades também reintroduziram os açoitamentos e execuções públicas em uma aplicação extrema da lei islâmica, a sharia.

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Quatorze pessoas, entre elas três mulheres, foram espancadas nesta quarta-feira (23), por ordem de um tribunal afegão do regime talibã, que as declarou culpadas de "crimes morais" e de roubo – informou um funcionário provincial de alto escalão.

Estas são as primeiras flagelações confirmadas desde que o líder supremo dos talibãs, Hibatullah Akhundzada, ordenou, em meados do mês, a aplicação da lei islâmica ("sharia") em sua totalidade. Nela, estão previstos apedrejamentos, execuções públicas, chicotadas e, no caso de ladrões, a amputação de membros.

Os condenados não foram açoitados em público, disse à AFP o chefe de Informação e Cultura da província de Logar (leste), Qazi Rafiullah Samim, acrescentando que as maiores punições foram de "39 chicotadas".

Há mais de um ano, as redes sociais estão repletas de fotos e de vídeos de flagelações públicas aplicadas pelos talibãs a pessoas acusadas de diferentes delitos.

Outros informes relatam flagelações por adultério em áreas rurais, depois da oração muçulmana às sextas-feiras. Não foi possível confirmar estas informações com fontes independentes.

Akhundzada não foi filmado, nem fotografado, desde a volta dos talibãs ao poder em agosto de 2021. Ele governa de Kandahar (sul), berço do movimento fundamentalista islâmico.

Em seu primeiro mandato no Afeganistão (1996-2001), os talibãs infligiam regularmente punições corporais em público, incluindo açoitamentos e execuções no estádio nacional de Cabul.

Vão ser acolhidos na cidade de São Paulo os 93 afegãos que estavam acampados no Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo. Segundo a prefeitura de Guarulhos, a ação foi possível após negociação com o governo estadual para tentar resolver o problema das pessoas que chegam ao terminal em busca de refúgio após a volta do Talibã ao poder.

  Para tentar atender a demanda, a prefeitura instalou no aeroporto um posto avançado de atendimento humanizado ao migrante e uma residência transitória para migrantes no município. No entanto, a residência, que conta com 27 vagas, já está lotada. 

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De acordo com a Polícia Federal, chegaram ao Brasil pelo Aeroporto de Guarulhos 407 afegãos em julho, 292, em agosto e 459, até o dia 14 de setembro. Em setembro de 2021, entraram no Brasil pelo aeroporto 12 afegãos e, em outubro, 57. 

No início de setembro, os ministérios das Relações Exteriores e da Justiça editaram uma portaria para facilitar a concessão de visto humanitário às pessoas que vêm do Afeganistão. Segundo o Itamaraty, já foram autorizados 6,1 mil vistos a partir dessa nova política. “Parcela minoritária não conta com esse apoio prévio da sociedade civil organizada e chega ao país em situação de vulnerabilidade”, ressalta nota divulgada pelo ministério. 

Talibã Faz um ano que os Estados Unidos retiraram as tropas do Afeganistão depois de 20 anos de ocupação. Na ocasião, o presidente afegão, Ashraf Ghani, deixou o país, e o controle do palácio presidencial foi assumido pelos talibãs. 

O Talibã se tornou conhecido como um grupo religioso fundamentalista na primeira metade da década de 1990 e foi organizado por rebeldes que haviam recebido apoio dos Estados Unidos e do Paquistão para combater a presença soviética no Afeganistão, que durou de 1979 a 1989, em meio à Guerra Fria. A chegada ao poder foi consolidada em 1996, com a tomada da capital, Cabul. 

Uma vez no controle do governo, o Talibã promoveu execuções de adversários e aplicou sua interpretação da Sharia, a lei islâmica.

Um violento sistema judicial foi implantado: pessoas acusadas de adultério podiam ser condenadas à morte e suspeitos de roubo sofriam punições físicas e até mesmo mutilações. O uso de barba se tornou obrigatório para os homens, e as mulheres não podrim ser vistas publicamente desacompanhadas dos maridos. Além disso, elas precisavam vestir a burca, cobrindo todo o corpo. Televisão, música e cinema foram proibidos, e as meninas não podiam frequentar a escola. 

A ocupação dos americana foi uma reação aos ataques às torres gêmeas do World Trade Center, arranha-céus situados em Nova York. Dois aviões atingiram os edifícios em 11 de setembro de 2001, levando-os ao chão e causando quase 3 mil mortes. Os Estados Unidos acusaram o Talibã de dar abrigo ao grupo terrorista Al Qaeda, que assumiu a autoria do atentado. Em outubro de 2001, tiveram início as operações militares no Afeganistão. 

Os radicais, entretanto, conseguiram retomar o controle do país no ano passado, implantando um novo governo fundamentalista.

Nafeesa encontrou o local ideal para esconder seus livros didáticos na cozinha, onde os homens raramente entram e os objetos ficam protegidos do olhar recriminador de seu irmão talibã.

"Os garotos não têm nada para fazer na cozinha, assim eu guardo meus livros", explica Nafeesa, de 20 anos, que frequenta uma escola clandestina em seu vilarejo rural no leste do Afeganistão.

"Se meu irmão souber, ele me bate", conta.

Centenas de milhares de meninas, adolescentes e jovens mulheres afegãs como ela foram privadas dos estudos desde o retorno ao poder dos talibãs, há um ano.

O grupo adotou severas restrições às mulheres para impor sua visão fundamentalista do islã.

Elas foram excluídas da maioria dos empregos públicos e não podem fazer longos deslocamentos sem a presença de um parente homem.

Também são obrigadas a cobrir o corpo por inteiro em ambientes públicos, incluindo o rosto, de preferência com a burca, o véu integral com una pequena fresta na altura dos olhos, amplamente utilizada nas regiões mais isoladas e conservadoras do país.

Mesmo antes do retorno dos talibãs ao poder, a grande maioria das afegãs utilizava o véu, mas com um lenço solto.

Para o Talibã, como regra geral, as mulheres não devem sair de casa, exceto em caso de absoluta necessidade.

Mas a privação mais brutal foi o fechamento em março das escolas do Ensino Médio para mulheres em várias regiões, pouco depois da reabertura.

Apesar dos riscos e com a grande vontade de aprender das meninas, os colégios clandestinos proliferaram no país, em muitos casos em quartos das casas de cidadãos comuns.

Jornalistas da AFP visitaram três locais de ensino, conheceram as alunas e professoras, que tiveram os nomes alterados para preservar sua segurança.

- "Queremos ter liberdade" -

Nafeesa tem 20 anos, mas ainda estuda disciplinas do Ensino Médio devido aos atrasos de um sistema educacional afetado por décadas de guerras no país.

Apenas sua mãe e a irmã mais velha sabem que frequenta as aulas. Não o irmão que durante anos lutou com os talibãs nas montanhas contra o antigo governo e as forças estrangeiras, retornado para casa apenas após a vitória dos islamitas em agosto do ano passado.

De manhã, ele permite que a irmã frequente uma madrassa para estudar o Alcorão, mas à tarde, sem que o irmão saiba, ela segue para uma sala de aula clandestina organizada pela Associação de Mulheres Revolucionárias do Afeganistão (RAWA, na sigla em inglês).

"Aceitamos o risco ou ficaríamos sem educação”, diz Nafeesa.

"Quero ser médica (...) Queremos ter algo para nós mesmas, queremos ter liberdade, ser úteis à sociedade e construir nosso futuro", disse a jovem.

Quando a AFP visitou sua sala de aula, Nafeesa e as outras nove alunas discutiam a liberdade de expressão com sua professora, sentadas lado a lado sobre um tapete e lendo, uma de cada cez, um livro em voz alta.

Para chegar ao curso, elas saem de casa várias horas antes e fazem caminhos diferentes para não chamar a atenção em uma região dominada pelos pashtuns, um povo de tradição patriarcal e conservadora que é majoritário dentro do movimento talibã.

Se um combatente talibã pergunta para onde estão indo, elas respondem que estão matriculadas em uma aula de costura e escondem os livros didáticos em sacolas de compras ou sob as vestimentas.

Elas correm risco, mas às vezes também optam por sacrifícios, como a irmã de Nafeesa, que abandonou a escola para evitar qualquer suspeita do irmão.

- Sem justificativa religiosa -

De acordo com os eruditos religiosos, nada no islã justifica proibir o ensino às mulheres. Um ano depois de sua chegada ao poder, o Talibã insiste que permitirá a retomada das aulas, mas sem divulgar um calendário.

O tema divide o movimento. De acordo com várias fontes entrevistadas pela AFP, uma facção radical que aconselha o líder supremo, Hibatullah Akhundzada, se opõe aos estudos femininos ou deseja limitar os mesmos ao ensino religioso e aulas práticas de cozinha ou costura.

Desde o início, os talibãs justificam a interrupção do Ensino Médio a uma questão "técnica" e garantem que as meninas retornarão às aulas após a criação de um programa educativo baseado nas regras islâmicas.

Ao mesmo tempo, as meninas podem frequentar o Ensino Fundamental e as jovens podem frequentar as universidades, mas em turmas segregadas por sexo.

Mas sem o diploma do Ensino Médio, as adolescentes não poderão entrar na universidade. As mulheres que estão atualmente no Ensino Superior podem ser as últimas no país em um futuro próximo

- "Geração sacrificada" -

Para o pesquisador Abdul Bari Madani, "a educação é um direito inalienável no islã, tanto para os homens como para as mulheres".

"Se esta proibição continuar, o Afeganistão voltará ao período medieval. Uma geração inteira de meninas será sacrificada", completa.

O medo de perder uma geração foi o que motivou a professora Tamkin a transformar sua casa de Cabul em uma escola.

A afegã de 40 anos se recusou a abandonar a escola no período em que o Talibã governou o país pela primeira vez (1996 a 2001) e proibiu a escolarização de todas as mulheres.

Ela levou anos para se formar por conta própria e virar professora. Tamkim ficou sem trabalho no ministério da Educação, depois que o Talibã retomou o poder em agosto do ano passado e mandou para casa todas as mulheres com emprego público.

"Eu não queria que essas garotas fossem como eu", disse Tamkin à AFP com lágrimas nos olhos. "Devem ter um futuro melhor", suplica.

Com o apoio do marido, ela transformou uma despensa em uma sala de aula. Depois vendeu uma vaca da família para comprar livros escolares, porque a maioria de suas alunas vem de famílias pobres e não podem comprar o material.

Ela dá aulas de inglês e ciências para 25 alunas empolgadas.

Recentemente, em um dia chuvoso em Cabul, as jovens participaram em uma aula de Biologia.

"Eu quero apenas aprender. Pouco importa o aspecto do local de estudo", disse Narwan, sentada ao lado de colegas de várias idades e que, em tese, deveria estar no fim do Ensino Médio.

Atrás dela, um cartaz pendurado na parede estimula as estudantes a serem gentis: "A língua não tem ossos, mas é tão forte que pode quebrar seu coração, então tenha cuidado com suas palavras".

A bondade dos vizinhos permitiu a Tamkin dissimular o novo objetivo de sua despensa. "Os talibãs perguntaram várias vezes: 'O que existe aqui?' Pedi aos vizinhos que falassem que era uma madrassa", explica.

Maliha, aluna de 17 anos, está convencida de que algum dia os talibãs não estarão no poder. "Então, faremos bom uso do nosso conhecimento", afirma.

- "Não temos medo" -

Na periferia de Cabuk, em um labirinto de casas de barro, Laila comanda outra aula clandestina.

Quando viu o rosto de sua filha depois do repentino cancelamento do Ensino Médio em março, ela entendeu que precisava fazer algo.

"Se minha filha chorou, então as filhas dos outros também deveriam estar chorando", recorda a professora de 38 anos.

Dez meninas se encontram dois dias por semana na casa de Laila, que tem um quintal e uma horta onde ela cultiva verduras.

Na sala, uma grande janela tem vista para o jardim. As alunas, cujos livros e cadernos têm um plástico azul, estão sentadas em um tapete, brincalhonas e estudiosas. A aula começa com a correção do dever de casa.

"Não temos medo dos talibãs", afirma Kawsar, de 18 anos. "Independente do que falem, vamos lutar, mas vamos continuar estudando", acrescenta.

Estudar não é o único objetivo de algumas meninas e mulheres afegãs, várias delas casadas em relacionamentos abusivos ou restritivos. Algumas buscam um pouco de liberdade.

Zahra, que frequenta a escola clandestina em um vilarejo rural do leste do Afeganistão, se casou aos 14 anos e vive atualmente com os sogros, que não aceitam a ideia de que frequente aulas.

Ela precisa tomar soníferos para lutar contra a ansiedade e teme que a família de seu marido a obrigue a permanecer em casa.

"Eu digo a eles que vou ao bazar local e venho para cá", explica Zahra na escola, o único local que tem para fazer amigas.

O Facebook encerrou as contas de pelo menos dois meios de comunicação estatais afegãos - confirmou a empresa, nesta quinta-feira (21), de acordo com as leis dos Estados Unidos que consideram o Talibã uma "organização terrorista".

O Talibã usa o Facebook e o Twitter desde que assumiu o poder, em agosto do ano passado, mas exerce um controle rígido sobre a mídia estatal no país, incluindo emissoras de televisão, rádio e jornais.

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O Facebook anunciou hoje que encerrou as contas de pelo menos dois meios de comunicação estatais afegãos, citando a necessidade de cumprir a lei americana que classifica o Talibã como uma organização terrorista.

O grupo público de rádio e televisão RTA e a agência estatal Bakhtar reclamaram que suas contas no Facebook foram fechadas.

"O Talibã é sancionado como uma organização terrorista pela lei dos Estados Unidos e está proibido de usar nossos serviços", disse um porta-voz da Meta, empresa controladora do Facebook, em um comunicado enviado à AFP.

"Fechamos as contas do Talibã, ou que estão em seu nome, e proibimos qualquer elogio, apoio ou representação" do grupo fundamentalista islâmico, acrescentou.

A Meta não divulgou a lista de empresas afegãs proibidas, mas as contas do Facebook de algumas mídias privadas pareciam estar funcionando normalmente nesta quinta-feira.

O porta-voz do governo talibã, Zabihullah Mujahid, criticou a proibição, que, segundo ele, mostra a "impaciência e intolerância" do Facebook.

"O slogan 'Liberdade de Expressão' é usado para enganar outras nações", tuitou.

Em um comunicado em vídeo, o diretor da RTA, Ahmadullah Wasiq, disse que as páginas em dari e pashto de sua organização foram fechadas no Facebook e no Instagram, também de propriedade da Meta, "por razões desconhecidas".

"A RTA é uma instituição nacional, a voz da Nação", declarou, lamentando esta decisão.

Bajtar também pediu ao Facebook que reconsidere a medida.

O Talibã está na lista de organizações terroristas do Tesouro dos EUA, mas não é classificado como organização terrorista estrangeira pelo Departamento de Estado.

As apresentadoras das principais redes de televisão afegãs foram ao ar, neste domingo (21), com seus rostos cobertos, voltando a cumprir uma ordem dos talibãs um dia depois de desafiá-la.

Desde que voltou ao poder no ano passado, os talibãs impuseram uma série de restrições à sociedade civil. Muitas delas visam a limitar os direitos das mulheres.

No início deste mês, o chefe supremo dos talibãs emitiu uma ordem, segundo a qual as mulheres devem se cobrir completamente em público, incluindo o rosto e, de preferência, com a burca tradicional. Antes, bastava um lenço, cobrindo o cabelo.

O temido Ministério afegão para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício ordenou às apresentadores de televisão que fizessem isso.

No sábado, as jornalistas desafiaram essa medida e foram ao ar, ao vivo, sem esconder o rosto.

Mas, no dia seguinte, as mulheres voltaram a usar véus completos, revelando apenas os olhos e a testa ao apresentar as notícias nos canais TOLOnews, Ariana Television, Shamshad TV e 1TV.

"Resistimos e somos contra o uso" do véu integral, disse à AFP Sonia Niazi, apresentadora da TOLOnews.

"Mas a TOLOnews está sob pressão, (os talibãs) disseram que qualquer apresentadora que aparecesse na tela sem cobrir o rosto deveria receber outro emprego", afirmou.

"Seguiremos nossa luta"

"Seguiremos nossa luta usando nossa voz. Serei a voz de outras mulheres afegãs", prometeu a âncora após apresentar o jornal. "Vamos trabalhar até que o emirado islâmico nos retire do espaço público ou nos obrigue a ficar em casa."

"Vamos continuar com nossa luta até o último suspiro", afirmou por sua vez Lima Spesaly, apresentadora da 1TV, alguns minutos antes de entrar no ar com o rosto coberto.

O diretor da TOLOnews, Khpolwak Sapai, afirmou que o canal foi "obrigado" a implementar a ordem para sua equipe.

"Nos disseram: vocês são obrigados a fazê-lo. Devem fazê-lo. Não há outra solução", disse Sapai à AFP.

O porta-voz do Ministério da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, Mohamad Sadeq Akif Mohajir, afirmou que as autoridades não pretendiam forçar as apresentadoras a deixar o emprego.

"Estamos felizes que os canais tenham exercido corretamente sua responsabilidade", delcarou à AFP.

Os talibãs ordenaram que as mulheres que trabalham no governo sejam demitidas, se não cumprirem o novo código de vestimenta. Os funcionários também correm o risco de serem suspensos se suas esposas, ou filhas, não acatarem a ordem.

Os canais de televisão já deixaram de transmitir séries e novelas protagonizadas por mulheres, por ordem dos talibãs.

O Talibã deu um passo importante na restrição das liberdades das mulheres ao determinar, neste sábado (7), que as afegãs usem em público um véu que as cubra da cabeça aos pés, de preferência uma burca, símbolo da opressão no país.

Em um decreto publicado neste sábado, Hibatullah Akhundzada, chefe supremo do Talibã e do Afeganistão, ordenou que as mulheres cubram completamente seus corpos e rostos em público, dizendo que a burca é a melhor opção.

"Terão que usar um xador [termo usado para a burca] porque é tradicional e respeitoso", ordena.

"As mulheres que não são nem muito jovens nem muito velhas terão que cobrir o rosto quando estiverem na frente de um homem que não seja membro de sua família", para evitar provocações, especifica o texto.

Se não tiver algo importante para fazer fora, é "melhor que fiquem dentro de casa", acrescenta.

O decreto também detalha as punições a que estão expostos os chefes de família que não impuserem o uso do véu integral.

Desde o retorno do grupo fundamentalista islâmico ao poder em meados de agosto, o temido Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício publicou várias ordens sobre como as mulheres devem se vestir. Mas este é o primeiro decreto nacional sobre o assunto.

Até agora, o Talibã exigia que as mulheres usassem pelo menos um hijab, um véu que cobre a cabeça, mas deixa o rosto descoberto, enquanto recomendava o uso da burca.

O Talibã impôs o uso da burca durante seu primeiro regime, entre 1996 e 2001, durante o qual conduziu uma forte repressão aos direitos das mulheres, de acordo com sua rigorosa interpretação da "sharia", a lei islâmica.

Na época, os agentes do Ministério da Promoção da Virtude açoitavam as mulheres flagradas sem a burca.

Promessas não cumpridas

De volta ao poder em agosto, ao final de duas décadas de presença militar dos Estados Unidos e seus aliados no país, o Talibã prometeu estabelecer um regime mais tolerante e flexível.

Mas rapidamente tomou medidas contra as mulheres, como excluí-las dos empregos públicos ou proibi-las de viajar sozinhas, liberdades que conquistaram nos últimos 20 anos e que rapidamente desapareceram.

Em março, após meses prometendo que permitiria a educação para as meninas, o Talibã ordenou o fechamento das escolas do ensino médio femininas, poucas horas depois de abrirem suas portas.

Essa mudança inesperada de atitude, que justificou argumentando que a educação das meninas deveria ser feita em conformidade com a sharia, escandalizou a comunidade internacional.

O Talibã também impôs a separação entre homens e mulheres nos parques públicos de Cabul, com dias de visita alocados para cada sexo.

Também em março, os islamistas ordenaram às companhias aéreas no Afeganistão que impedissem as mulheres de voar a menos que acompanhadas por um parente do sexo masculino.

Dias depois, membros do Talibã em Herat, a cidade mais progressista do Afeganistão, pediram aos instrutores de autoescola que não emitissem licenças para mulheres, que tradicionalmente dirigem nas grandes cidades do país.

Após a chegada do Talibã, as mulheres tentaram preservar seus direitos manifestando-se em Cabul e outras grandes cidades. Mas seus protestos foram violentamente reprimidos e muitas mulheres afegãs foram detidas por semanas.

O líder supremo do Talibã ordenou, neste domingo (3), a proibição do cultivo no Afeganistão da papoula, planta da qual são extraídos ópio e heroína, alertando que as autoridades destruiriam quaisquer plantações descobertas e puniriam os responsáveis.

O Afeganistão é de longe o maior produtor mundial de papoula, e a produção e exportação cresceram consideravelmente nos últimos anos.

"Todos os afegãos estão agora informados, o cultivo da papoula está estritamente proibido em todo o país", indica um decreto do líder talibã, Hibatullah Akhundzada.

"Em caso de violação do decreto, o cultivo será imediatamente destruído e os culpados tratados de acordo com a sharia", a lei islâmica, indica o texto.

Entre 80% e 90% da heroína e do ópio do mundo vêm do Afeganistão, segundo a ONU.

A área dedicada a essa cultura bateu recorde em 2017 com 250 mil hectares, quatro vezes mais do que na década de 1990.

As adolescentes afegãs retornaram nesta quarta-feira (23) aos colégios do Ensino Médio, sete meses após a tomada de poder pelos talibãs, mas poucas horas depois do reinício das aulas os líderes do governo islamita determinaram o retorno das jovens para casa, em uma mudança política repentina que provocou grande confusão.

"Sim, é verdade", se limitou a declarar à AFP o porta-voz talibã Inamullah Samangani.

"Não estamos autorizados a comentar", disse o porta-voz do ministério da Educação, Aziz Ahmad Rayan.

Uma equipe da AFP estava no colégio Zarghona de Cabul, um dos maiores centros de ensino da capital, quando um professor entrou e ordenou que as alunas retornassem para casa. Abatidas, as estudantes reuniram seu material, entre lágrimas, e deixaram o local.

"Vejo minhas estudantes chorando e relutantes em deixar a aula", afirmou Palwasha, professora na escola para mulheres Omra Khan de Cabul. "É muito doloroso ver as suas estudantes chorando", acrescentou.

A enviada da ONU Deborah Lyons afirmou que as informações sobre o fechamento eram "perturbadoras". "Se for verdade, qual poderia ser a razão?", questionou no Twitter.

Quando os talibãs tomaram o poder em agosto de 2021, as escolas estavam fechadas devido à pandemia de covid-19, mas apenas os homens e as mulheres do ensino básico foram autorizados a retornar às aulas dois meses depois.

A comunidade internacional considera o acesso das mulheres às escolas um ponto fundamental nas negociações de ajuda e reconhecimento do regime islamita, que em seu mandato anterior (1996-2001) proibiu a educação para as mulheres.

- "Responsabilidade" -

Nesta quarta-feira, a ordem de reinício das aulas não foi seguida de maneira igual em todo o país. Em Kandahar (sul), berço do movimento Talibã, o retorno estava previsto para o próximo mês.

Mas vários colégios abriram as portas na capital e em regiões como Herat ou Panshir, ao menos por algumas horas.

"Todas as estudantes que vemos hoje estavam muito felizes e com os olhos bem abertos", declarou à AFP Latifa Hamdard, diretora da escola Gawharshad Begum de Herat.

Os talibãs alegaram que precisavam de tempo para garantir que as jovens com idades entre 12 e 19 anos permaneceriam bem separadas dos homens e que os centros de ensino fossem administrados de acordo com os princípios islâmicos.

"Não abrimos as escolas para agradar a comunidade internacional ou para obter o reconhecimento do mundo", disse Ahmad Rayan, porta-voz do ministério da Educação.

"Nós fazemos isto como parte da nossa responsabilidade de fornecer educação e estruturas educacionais a nossas alunas", acrescentou.

Muitas estudantes estavam ansiosas para voltar às aulas, apesar dos códigos de vestimenta rigorosa que as obrigavam a cobrir quase todo o corpo. "Já estamos atrasadas em nossos estudos", reclamou Raihana Azizi, de 17 anos.

- "Qual será o nosso futuro?" -

Algumas famílias. no entanto, desconfiavam do governo Talibã e tinham medo de permitir a saída de suas filhas. Ou não veem sentido na educação das mulheres diante de um futuro sombrio para o trabalho das jovens.

Em sete meses de governo, os talibãs determinaram várias restrições às mulheres, que foram excluídas dos empregos públicos, enfrentam controles em sua forma de vestir e são impedidas de viajar sozinhas para fora de sua cidade.

O regime fundamentalista também prendeu várias ativistas que defenderam os os direitos das mulheres.

"As meninas que concluíram os estudos permanecem em casa e seu futuro é incerto", lamenta Heela Haya, que decidiu abandonar a escola. "Qual será o nosso futuro?", questiona a jovem.

"Por que você e sua família fariam enormes sacrifícios para estudar se nunca poderá ter a carreira com que sonha?", perguntou Sahar Fetrat, pesquisadora assistente da ONG Human Rights Watch.

Devido à pobreza ou ao conflito que devastou o país, os estudantes afegãos perderam grandes períodos dos anos letivos. Alguns continuam seus estudos até os 20 anos.

O país também enfrenta uma escassez de professores, depois que muitos fugiram ao lado de dezenas de milhares de afegãos após a tomada de poder pelos talibãs.

Com passos rápidos e a cabeça baixa para não chamar a atenção, algumas mulheres entram com prudência, uma depois da outra, em um pequeno apartamento em Cabul. Mesmo com suas vidas em risco, elas iniciam uma resistência incipiente ao Talibã.

O grupo prepara a próxima ação contra o movimento fundamentalista islâmico que provocou o fim de seus sonhos e conquistas ao retornar ao poder no Afeganistão, em 15 de agosto de 2021, após duas décadas de insurreição.

No início eram apenas 15 mulheres que participavam do movimento de resistência civil, a maioria jovens na casa dos 20 anos que já eram amigas.

Mas após sua primeira ação em setembro, a rede aumentou para dezenas de mulheres, ex-estudantes, professoras, trabalhadoras de agências humanitárias ou donas de casa que agora atuam em sigilo para defender seus direitos.

"Me perguntei: por que não me unir a elas em vez de ficar em casa, deprimida, remoendo tudo que perdemos?", relatou uma delas, de 20 anos, à AFP.

Elas têm perfeita consciência do perigo: várias companheiras desapareceram nos últimos meses.

Mas estão decididas a prosseguir o combate contra os Talibã, que durante seu primeiro regime esmagou as liberdades fundamentais das mulheres. E apesar das promessas de mudança em seu retorno ao poder, os fundamentalistas não demoraram a atacar os mesmos direitos outra vez.

Jornalistas da AFP foram autorizados a acompanhar duas reuniões das ativistas em janeiro.

Assumindo o risco de serem detidas, marginalizadas ou observarem suas famílias ameaçadas, mais de 40 mulheres, incluindo algumas mães com suas filhas, participaram no primeiro encontro. Muitas falaram sob anonimato por motivos de segurança.

Na segunda reunião, algumas militantes prepararam de maneira ativa a próxima manifestação. Com um telefone celular em uma mão e uma caneta na outra, uma ativista analisa uma faixa que pede igualdade de tratamento para as mulheres.

"Estas são as nossas armas", afirma.

- Lutar contra o medo -

Entre 1996 e 2001, os talibãs proibiram as mulheres de trabalhar, estudar, praticar esportes ou sair às ruas.

Agora, eles alegam que mudaram, mas adotaram um rigorosa segregação de gênero na maioria dos locais de trabalho, excluíram as mulheres de muitos empregos públicos, fecharam a maioria das escolas do Ensino Médio para as adolescentes e modificaram os programas universitários para impor sua interpretação estrita da sharia, a lei islâmica.

Ainda marcadas pelas recordações do regime Talibã anterior, muitas afegãs são reféns do medo de sair para protestar ou sucumbem à pressão de suas famílias para que permaneçam em casa.

Uma jovem de 24 anos explica como enfrentou sua família conservadora, incluindo um tio que escondeu seus livros para que não prossiga com os estudos. "Não quero deixar que o medo me controle e me impeça de falar", disse.

Nos últimos 20 anos, as afegãs, especialmente nas grandes cidades, estudaram em universidades, assumiram a direção de empresas e ocuparam cargos ministeriais.

O maior medo de Shala é que as meninas e as mulheres voltem a ser confinadas em casa. A ex-funcionário do governo de 40 anos perdeu o emprego com a volta do Talibã ao poder.

Algumas noites, esta mãe de quatro filhos vai para as ruas para escrever frases como "Viva a igualdade" nos muros.

"Quero apenas ser um exemplo para as jovens, mostrar que não abandonei o combate", afirma, com voz calma.

Ela tem o apoio do marido e dos filhos, que correm pela casa aos gritos de "Educação! Educação!".

- Precauções -

Para concretizar suas ações, as ativistas tomam todas as precauções.

Antes de aceitar novos membros, Hoda Kmosh, uma poeta de 26 anos e ex-funcionária de uma ONG que ajudava a reforçar a autonomia das mulheres, tenta assegurar que esta é uma pessoa de confiança e comprometida.

Um dos testes consiste em pedir que preparem rapidamente bandeiras ou slogans. As mais rápidas costumam ser as mais determinadas, opina Hoda.

Uma vez elas convocaram uma postulante para uma manifestação falsa. Os talibãs chegaram ao local e elas cortaram a relação com a mulher suspeita de ter passado a informação aos novos governantes.

O núcleo duro das ativistas utiliza um número de telefone reservado apenas para a coordenação antes de cada ação. Este número é abandonado em seguida para não ser rastreado. Hoda, cujo marido foi ameaçado, teve que mudar de número diversas vezes.

No dia do protesto elas enviam uma mensagem poucas horas antes do encontro. As mulheres chegam em grupos de duas ou três e ficam próximas às lojas, como clientes.

No horário marcado, elas se reúnem rapidamente, exibem seus cartazes e gritam as palavras de ordem: "Igualdade!, Igualdade! Chega de restrições".

Elas sempre são cercadas por combatentes talibãs que dispersam os protestos, gritam e apontam suas armas. Uma lembra que deu um tapa em um talibã. Outra que continuou gritando mesmo com uma arma contra suas costas.

"Quando a manifestação acaba, colocamos um véu e roupas que costumamos carregar para não sermos reconhecidas", explica Hoda.

- Operações noturnas -

Mas isto é cada vez mais perigoso.

O Talibã "não tolera protestos. Eles agridem manifestantes e jornalistas que cobrem os protestos. Eles procuram manifestantes e pessoas que organizam protestos", disse Heather Barr, pesquisadora especializada em direitos das mulheres da Human Rights Watch.

Em meados de janeiro, os talibãs usaram gás lacrimogêneo pela primeira vez contra contra militantes que pintaram burcas brancas com manchas cor vermelho-sangue para protestar contra o uso do véu integral, que tem apenas uma tela na altura dos olhos.

Duas manifestantes, Tamana Zaryabi Paryani e Parwana Ibrahimkhel, foram detidas em uma série de operações durante a noite de 19 de janeiro.

Em um vídeo dramático vídeo divulgado nas redes sociais pouco antes de sua detenção, Paryani pede ajuda: "Por favor, me ajudem! Os talibãs vieram aqui em casa (...) Minhas irmãs estão aqui", afirmou desesperada.

Ela também foi vista perto da porta implorando ao homem que aguardava. "Se você quiser conversar, vamos conversar amanhã. Não posso falar com vocês no meio da noite com as meninas em casa. Não quero, não quero... Por favor! Ajuda!".

As duas permanecem desaparecidas. A ONU e a HRW pediram ao governo que investigue o paradeiro das ativistas.

O porta-voz do governo, Zabihullah Mujahid, negou qualquer envolvimento do Talibã, mas afirmou que as autoridades têm o "direito de deter e prender os opositores ou aqueles que violam a lei".

Muitas mulheres entrevistadas pela AFP antes dos desaparecimentos decidiram se esconder, alegando "ameaças ininterruptas".

A ONU solicitou na semana passada publicamente que o regime Talibã apresente informações sobre outras duas militantes desaparecidas.

- "Meu coração e corpo tremem" -

"Estas mulheres (...) precisaram criar algo do nada", destaca Heather Barr, da HWR. "Há muitas militantes experientes que trabalharam durante anos no Afeganistão (...) mas quase todas partiram depois de 15 de agosto".

Ao longo dos meses, elas aprenderam a adaptar-se: no início, os protestos terminavam quando uma mulher era agredida. Agora, nestes casos, duas militantes cuidam da vítima e as demais continuam sua ação, explica Hoda.

Como o Talibã proíbe os jornalistas de cobrir os protestos, elas usam telefones para fazer fotos e vídeos, que publicam rapidamente em suas redes sociais.

As imagens, em que aparecem com os rostos descobertos em um gesto de desafio, são exibidas para todo o mundo.

Outro grupo de mulheres, mais modesto, busca formas de protesto que evitem o confronto direto com os islamitas.

"Quando estou na rua, meu coração e meu corpo tremem", explica Wahida Amiri, ex-bibliotecária de 33 anos que já estava envolvida na luta contra a corrupção no governo anterior.

Às vezes ela se vezes se encontra com amigas na privacidade de uma casa onde filmam e postam imagens de vigílias à luz de velas, com faixas que exigem o direito de estudar e trabalhar.

Elas também recorrem a artigos, debates no Twitter ou ao aplicativo de conversas de áudio Clubhouse, com a esperança de que as redes sociais conscientizem o mundo sobre seu destino.

Em outras partes do país, como Herat (noroeste), Bamiyan (centro) ou Mazar-i-Sharif (norte), foram organizadas manifestações mais esporádicas.

"É possível que fracassemos. Tudo o que queremos é ressoar a voz da igualdade e que, em vez de cinco mulheres, milhares se unam a nós", explica Wahida.

"Porque se não lutarmos por nosso futuro hoje, a história do Afeganistão vai se repetir", adverte Hoda.

Os talibãs usaram gás pimenta para dispersar um grupo de mulheres que protestava neste domingo (16), em Cabul, exigindo seu direito ao trabalho e à educação - disseram três manifestantes à AFP.

Desde que retomaram o poder no país à força, em meados de agosto passado, os talibãs impuseram, progressivamente, restrições aos afegãos - em particular às mulheres.

Cerca de 20 mulheres se reuniram na frente da Universidade de Cabul, gritando "Igualdade e justiça!". Nas mãos, levavam cartazes que diziam "Direitos das mulheres, direitos humanos".

Os combatentes talibãs chegaram ao local a bordo de vários veículos, usando o gás para dispersar o grupo, relataram as manifestantes.

O grupo islâmico proibiu as manifestações não autorizadas e, com frequência, dispersa à força os atos pelos direitos das mulheres.

As autoridades não permitiram que muitas mulheres voltassem ao trabalho no serviço público e, em alguns casos, as meninas são rejeitadas nas escolas. Também se proibiu a televisão de transmitir séries, por causa da participação de atrizes.

Quase 30 afegãs protestaram nesta terça-feira (28) em Cabul, capital do Afeganistão, para exigir respeito a seus direitos e o fim dos "assassinatos" de integrantes do antigo governo, mas a manifestação foi rapidamente interrompida pelo Talibã.

"Eu quero dizer ao mundo, falar ao Talibã para parar de matar. Queremos liberdade, queremos justiça, queremos direitos humanos, declarou a manifestante Nayera Koahistani à AFP.

"Pela milésima vez, queremos que este grupo interrompa a máquina criminosa. Ex-militares e ex-funcionários do governo estão diretamente ameaçados", afirmou Laila Basam, outra manifestante.

As jovens, reunidas perto de uma grande mesquita no centro da capital afegã, conseguiram caminhar por centenas de metros aos gritos de "Justiça" antes da interrupção do protesto.

Os combatentes talibãs também anunciaram a detenção por alguns minutos de vários jornalistas que cobriam o protesto e confiscaram suas câmeras - as imagens foram apagadas.

A convocação do protesto, nas redes sociais, citava os "misteriosos assassinatos de jovens, em particular os ex-militares do país".

A ONU e as ONGs Anistia Internacional e Human Rights Watch citam denúncias confiáveis sobre a execução sumária ou desaparecimento forçado de mais de 100 ex-policiais e agentes de inteligência desde que o Talibã retomou o poder em agosto.

Outra manifestação em Cabul nesta terça-feira pediu o respeito aos direitos das mulheres a estudar e trabalhar.

O regime Talibã proibiu os protestos no Afeganistão, exceto nas raras ocasiões em que as demandas estão a seu favor.

Em busca de reconhecimento internacional, o grupo islamita se comprometeu a governar com menos violência que durante seu primeiro regime (1996-2001), mas as mulheres continuam excluídas em grande medida da administração pública e do acesso ao ensino médio.

No domingo, o Talibã anunciou que as mulheres que desejam viajar por longas distâncias devem ser acompanhadas por um homem de sua família.

O regime Talibã anunciou neste domingo (26) que as mulheres que desejam viajar longas distâncias devem estar acompanhadas por um homem de sua família imediata, um novo sinal do endurecimento do regime, apesar de suas promessas iniciais.

A recomendação, divulgada pelo ministério da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício e que circula nas redes sociais, também pede aos motoristas que aceitem mulheres em seus veículos apenas se elas usarem o "véu islâmico".

"As mulheres que viajam mais de 45 milhas (72 km) não podem fazer a viagem se não estiverem acompanhadas por um parente próximo", declarou à AFP o porta-voz do ministério, Sadeq Akif Muhajir, antes de explicar que o acompanhante deve ser um homem.

A diretriz foi divulgada poucas semanas depois de o ministério solicitar aos canais de televisão do país que não exibam "novelas com mulheres", além de exigir que as jornalistas usem o "véu islâmico" diante das câmeras.

O Talibã não explicou o que considera "véu islâmico", se apenas um lenço na cabeça ou se deve cobrir o rosto, pois a maioria das mulheres afegãs usa roupas que cobrem muito mais.

Desde sua chegada ao poder em agosto, os talibãs adotaram várias restrições às mulheres e meninas, apesar das promessas inicias de que o regime seria menos rígido que o anterior (1996-2001).

Em várias províncias, as autoridades locais aceitaram abrir as escolas para as meninas, embora muitas delas ainda não possam frequentar as aulas.

No início de dezembro, um decreto em nome do líder supremo do movimento Talibã pediu ao governo para cumprir os direitos das mulheres, mas este documento não menciona o direito à educação.

Os ativistas dos direitos humanos esperam que os esforços do Talibã para obter o reconhecimento da comunidade internacional e recuperar a ajuda tão necessária para o país, um dos mais pobres do mundo, resulte em concessões do movimento.

Durante seu primeiro governo, os talibãs obrigaram as mulheres a usar a burca. Elas só tinham permissão para sair de casa acompanhadas por um homem e eram impedidas de trabalhar ou estudar.

O chefe supremo dos talibãs pediu nesta sexta-feira (3) em um decreto que o governo "tome medidas sérias para respeitar os direitos das mulheres" no Afeganistão, entre outros contra casamentos forçados, mas sem mencionar o direito de trabalhar ou estudar.

"Ninguém pode obrigar uma mulher a se casar", declarou o mulá Hibatullah Akhundzada ao ordenar aos tribunais, governadores e vários ministérios que lutem contra os casamentos forçados, muito comuns no Afeganistão.

Os talibãs tentam convencer a comunidade internacional para que restabeleça a ajuda financeira ao país, imerso em uma grave crise humanitária mais de quatro meses depois que tomaram o poder.

Sobre o direito das mulheres afegãs, especialmente o acesso à educação e ao trabalho, é uma das condições para que os doadores estrangeiros voltem a oferecer ajuda.

Até agora, os islâmicos só permitiram que algumas funcionárias voltem ao trabalho: as que trabalham em educação e saúde. Também suspenderam as aulas para as adolescentes na maioria das escolas de ensino médio do país, apesar de alegarem que é uma medida temporária.

No decreto, Akhundzada fala mais sobre os casamentos e as viúvas. Pede que não se casem novamente à força e que tenham o direito a uma parte da herança de seu marido.

Os talibãs foram acusados por seus inimigos de casarem as mulheres à força com seus combatentes, acusações que não puderam ser verificadas.

Os casamentos forçados de meninas menores de idade, em troca de dinheiro, levam meses aumentando devido à pobreza.

O mulá Akhundzada também pediu ao ministério de Assuntos Religiosos que anime os "eruditos" a pregar contra a opressão das mulheres.

Desde o retorno dos talibãs ao poder, a economia afegã, que depende em grande parte dos subsídios internacionais, se afundou.

Washington congelou os ativos do banco central afegão e tanto o Banco Mundial quanto o Fundo Monetário Internacional suspenderam as ajudas.

A ONU alertou que 23 milhões de afegãos, de uma população de quase 40 milhões, estarão à beira da fome no inverno.

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